sexta-feira, 5 de agosto de 2011

MASCULINIDADE

É histórico na cultura  popular a imagem de homens que divergem de sua masculinidade. Ninguém os ensinou a ser verdadeiramente homens. Crescem e vivem de uma aparente integridade e assim moldam sua personalidade. São meros desconhecidos a forjar uma imagem de si mesmos. Imagem, não rara, associada a uma figura masculina perfeita, dedicada ao trabalho, a mulher e aos filhos, que nunca perde, são eternos vencedores. Uma máquina perfeitamente ajustada. Inevitavelmente, esta postura implica repressão à tudo que represente empecilho à sua ascese social, incluindo o seu lado sentimental de afetividade e sensibilidade. É uma realidade que insurge questionamentos sobre o vazio sentimental e sobre a superficialidade histórica dos homens. Significa afirmar que são personalidades constituídas de instâncias concorrentes e antagônicas e sobre tensão permanente.
Dentre estas tensões destacam-se a anima; a imagem da mulher presente no inconsciente do homem e definidora do lado feminino na personalidade masculina. Imago arquétipo, herdado de nossos ancestrais, arraigados no inconsciente coletivo, de todos os indivíduos, que permitem a identificação do homem com a natureza da mulher e vice-versa. O fato é: "não existe homem algum, tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino." Não raro, entretanto, os homens ocultam este traço afetivo de suas vidas, pois entendem tratar-se de características femininas. Pior, este homens acreditam ser uma virtude reprimir tais traços de sua personalidade e ignoram que a repressão desta faceta não é anulada. Ao contrário é acumulada no inconsciente e refletem no consciente de outras formas.
Reprimir a anima pode criar a ilusão externa de um homem forte e firme em suas convicções, a ilusão aparente da plena realização. Mas internamente, estes mesmos homens se deparam com uma criança delicada, amedrontada consigo mesma e com os outros, ansiosa para se lançar na busca de uma vida plena de paixão, ternura e amizade. Muitos descobrem tarde demais as conseqüências relacionadas a não aceitação da imago feminina presentes em sua masculinidade. Olhar mais intimamente para a formação do homem contemporâneo implica observar o quão desordenado é a formação de sua personalidade. O menino é moldado em um ambiente de supressão e repressão das fraquezas, não é educado para ser homem, é moldado para provar sua capacidade de não expressar sentimentos e assim provar sua masculinidade. Homens não choram, não são carinhosos e nem dóceis, pois são homens.
Formaram-se, deste modo, muitos homens incompletos, machos, reprodutores, superficiais. Incapazes de ousar demonstrar sensibilidade para com os filhos ou para com um amigo. "A maioria esmagadora dos homens é incapaz de colocar-se individualmente na alma do outro". Estes meninos, quando adultos, serão incapazes de deixar aflorar sua anima e fatalmente terão problemas no relacionamento tanto com outros homens quanto com as mulheres.
É preciso coragem para enredar no caminho de maturação e da autêntica masculinidade. Steve Bidduph afirma em seu livro, Por que os homens são assim? que "se existe um primeiro passo a ser dado pelos homens em direção à cura, provavelmente é começarem a ser mais verdadeiros". Ser verdadeiro implica  assumir sua infelicidade na sociedade, aceitar que vivem em um simulacro entre a família, o trabalho e de volta a família. Assumir que isto só perpetuará o sofrimento. Carl Jung afirma que "o ponto de maturidade da psique humana está na harmonia das várias instâncias", e que "a harmonia entre anima e animus retém o pleno desabrochar da personalidade". É necessário, pois, que o homem se conscientize desta bissexualidade inata, da presença da natureza feminina em si, e assim, possibilitar seu encontro com a verdadeira masculinidade. Para Asa Baber, "o homem natural vive em todo homem. Ele é belo e divino. Tem uma enorme energia fundamental e um grande amor pelo mundo. É tão educador, protetor e criador quanto a figura feminina, mas educa, protege e cria a seu jeito masculino. ... A tarefa do homem é se conhecer melhor, de modo a aumentar sua contribuição para o mundo e a honestidade para consigo" 

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Alma serena e casta, que eu persigo...

"Alma serena e casta, que eu persigo

                               por Vicente de Carvalho

Com o meu sonho de amor e de pecado,
Abençoado seja, abençoado
O rigor que te salva e é meu castigo.

Assim desvies sempre do meu lado
Os teus olhos; nem ouças o que eu digo;
E assim possa morrer, morrer comigo
Este amor criminoso e condenado.

Sê sempre pura! Eu com denodo enjeito
Uma ventura obtida com teu dano,
Bem meu que de teus males fosse feito".

Assim penso, assim quero, assim me engano...
Como se não sentisse que em meu peito
Pulsa o covarde coração humano.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Feitiços do olhar


Olhares cativantes, capazes de despertar santos em transe,
olhares desferidos pela vontade para desnortear os homens.

Vejam, são olhares que penetram a mais forte das mentes – imagine o poder:
fortes o bastante para causar arritmia em calmos e bravos corações;

Vejam, são olhares vibrantes, ungidos nos reinos sepulcrais,
são olhares cingidos em signos, sutilmente expressos,
ainda assim, facilmente apreendidos pelos incrédulos;

Expressões claras de uma dor, tão cuidadosamente camuflada,
mesmo assim, testemunha de uma história tocante, amarga;

Vejam, são olhares cativantes a revelar um passado doloroso,
ainda não revelado, onde cada vislumbre descortina
a força interna da vida de homens castos.



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Grande Virilidade

Marcos Simão

Gosto de ver os homens como eternas crianças.
Ilesos ainda de todas as máculas do mundo.
Ungidos pela inocência da infância, cuja vida é apenas uma brincadeira.
Um espetáculo sereno para um dia sereno.

Melhor, adoro ainda contemplá-los
como almas maduras e menos inocentes,
muito viajadas na poeirenta estrada da vida,
orgulhosamente a levar seus pequenos brasões
degenerados, recheados de memoriais de alto padrão.

Triste experiência do destino,
desde a queda de suas mascaras, frágeis armaduras
a levar, orgulhosamente, suas vidas com suas próprias mãos.

E ainda, que se escondam dentro de suas próprias profundezas,
cujas feridas foram disseminadas com cuidado,
mesmo assim, espalhadas pelo todo.
Como uma flor madura com conteúdo auto-forjado.

São nobres que resolvem reprovar os deuses
e ousam afirmar a eminência do homem
acima do nível de felicidade dos brutos.

E mais, eles nos anunciam das alturas,
para a qual nenhum caminho natural jamais nos guiará,
e nenhuma luz natural pode iluminar nossos passos,

Podem apenas refletir distantes raios de luz que brilham
dos olhos reticentes de um bravo homem.