tag:blogger.com,1999:blog-83762301822263698652024-03-05T18:29:36.244-08:00Marcos SimãoSua gentileza me confunde. Coisas de menino ingênuo. Quem sou eu para tê-lo como amigo, antes deveria tê-lo como senhorio. E se não o tenho ainda como mentor nas ciências da sedução, sua inteligência já me obriga a tê-lo como mestre na dissimulação. Sutil e belamente original, do mais leve toque ao mais sutil dos olhares, são palavras ditas no silêncio de um azul profundo. Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.comBlogger56125tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-25070791275343626572011-08-05T17:55:00.001-07:002011-08-05T17:55:42.403-07:00MASCULINIDADE<!--[if gte mso 9]><xml> <o:DocumentProperties> <o:Template>Normal.dotm</o:Template> <o:Revision>0</o:Revision> <o:TotalTime>0</o:TotalTime> <o:Pages>1</o:Pages> <o:Words>603</o:Words> <o:Characters>3442</o:Characters> <o:Company>mvs</o:Company> <o:Lines>28</o:Lines> <o:Paragraphs>6</o:Paragraphs> <o:CharactersWithSpaces>4227</o:CharactersWithSpaces> <o:Version>12.0</o:Version> </o:DocumentProperties> <o:OfficeDocumentSettings> <o:AllowPNG/> </o:OfficeDocumentSettings> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:TrackMoves>false</w:TrackMoves> <w:TrackFormatting/> <w:PunctuationKerning/> <w:DrawingGridHorizontalSpacing>18 pt</w:DrawingGridHorizontalSpacing> <w:DrawingGridVerticalSpacing>18 pt</w:DrawingGridVerticalSpacing> <w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>0</w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery> <w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>0</w:DisplayVerticalDrawingGridEvery> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:DontGrowAutofit/> <w:DontAutofitConstrainedTables/> <w:DontVertAlignInTxbx/> </w:Compatibility> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="276"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--> <!--[if gte mso 10]> <style>
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É uma realidade que insurge questionamentos sobre o vazio sentimental e sobre a superficialidade histórica dos homens. Significa afirmar que são personalidades constituídas de instâncias concorrentes e antagônicas e sobre tensão permanente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 13.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 13.0pt;">Dentre estas tensões destacam-se a <i>anima;</i> a imagem da mulher presente no inconsciente do homem e definidora do lado feminino na personalidade masculina. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">I<span style="mso-bidi-font-style: italic;">mago</span></i> arquétipo, herdado de nossos ancestrais, arraigados no inconsciente coletivo, de todos os indivíduos, que permitem a identificação do homem com a natureza da mulher e vice-versa. O fato é: "não existe homem algum, tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino." Não raro, entretanto, os homens ocultam este traço afetivo de suas vidas, pois entendem tratar-se de características femininas. Pior, este homens acreditam ser uma virtude reprimir tais traços de sua personalidade e ignoram que a repressão desta faceta não é anulada. Ao contrário é acumulada no inconsciente e refletem no consciente de outras formas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 13.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 13.0pt;">Reprimir a anima pode criar a ilusão externa de um homem forte e firme em suas convicções, a ilusão aparente da plena realização. Mas internamente, estes mesmos homens se deparam com uma criança delicada, amedrontada consigo mesma e com os outros, ansiosa para se lançar na busca de uma vida plena de paixão, ternura e amizade. Muitos descobrem tarde demais as conseqüências relacionadas a não aceitação da imago feminina presentes em sua masculinidade. Olhar mais intimamente para a formação do homem contemporâneo implica observar o quão desordenado é a formação de sua personalidade. O menino é moldado em um ambiente de supressão e repressão das fraquezas, não é educado para ser homem, é moldado para provar sua capacidade de não expressar sentimentos e assim provar sua masculinidade. Homens não choram, não são carinhosos e nem dóceis, pois são homens. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 13.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 13.0pt;">Formaram-se, deste modo, muitos homens incompletos, machos, reprodutores, superficiais. Incapazes de ousar demonstrar sensibilidade para com os filhos ou para com um amigo. "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A maioria esmagadora dos homens é incapaz de colocar-se individualmente na alma do outro</i>". Estes meninos, quando adultos, serão incapazes de deixar aflorar sua anima e fatalmente terão problemas no relacionamento tanto com outros homens quanto com as mulheres.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 13.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 13.0pt;">É preciso coragem para enredar no caminho de maturação e da autêntica masculinidade. Steve Bidduph afirma em seu livro, <i>Por que os homens são assim?</i> que "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">se existe um primeiro passo a ser dado pelos homens em direção à cura, provavelmente é começarem a ser mais verdadeiros</i>". Ser verdadeiro implica <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>assumir sua infelicidade na sociedade, aceitar que vivem em um simulacro entre a família, o trabalho e de volta a família. Assumir que isto só perpetuará o sofrimento. Carl Jung afirma que "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">o ponto de maturidade da psique humana está na harmonia das várias instâncias</i>", e que "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">a harmonia entre anima e animus retém o pleno desabrochar da personalidade</i>". É necessário, pois, que o homem se conscientize desta <i>bissexualidade </i>inata, da presença da natureza feminina em si, e assim, possibilitar seu encontro com a verdadeira masculinidade. Para Asa Baber, <i>"o homem natural vive em todo homem. Ele é belo e divino. Tem uma enorme energia fundamental e um grande amor pelo mundo. É tão educador, protetor e criador quanto a figura feminina, mas educa, protege e cria a seu jeito masculino. ... A tarefa do homem é se conhecer melhor, de modo a aumentar sua contribuição para o mundo e a honestidade para consigo" </i></span><span style="font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div><!--EndFragment-->Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-44891213640715739902011-08-02T17:29:00.000-07:002011-08-02T17:29:19.062-07:00Alma serena e casta, que eu persigo...<div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">"Alma serena e casta, que eu persigo</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><br />
</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"> por Vicente de Carvalho</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><br />
</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Com o meu sonho de amor e de pecado,</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Abençoado seja, abençoado</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">O rigor que te salva e é meu castigo.</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><br />
</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Assim desvies sempre do meu lado</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Os teus olhos; nem ouças o que eu digo;</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">E assim possa morrer, morrer comigo</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Este amor criminoso e condenado.</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><br />
</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Sê sempre pura! Eu com denodo enjeito</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Uma ventura obtida com teu dano,</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Bem meu que de teus males fosse feito".</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><br />
</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Assim penso, assim quero, assim me engano...</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Como se não sentisse que em meu peito</div><div style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Pulsa o covarde coração humano.</div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-65630131636439925212011-07-26T16:46:00.001-07:002011-07-26T16:46:54.584-07:00Feitiços do olhar<!--StartFragment--> <br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Olhares cativantes, capazes de despertar santos em transe,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">olhares desferidos pela vontade para desnortear os homens.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Vejam, são olhares que penetram a mais forte das mentes – imagine o poder: <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">fortes o bastante para causar arritmia em calmos e bravos corações;<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Vejam, são olhares vibrantes, ungidos nos reinos sepulcrais,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">são olhares cingidos em signos, sutilmente expressos,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">ainda assim, facilmente apreendidos pelos incrédulos;<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Expressões claras de uma dor, tão cuidadosamente camuflada, <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">mesmo assim, testemunha de uma história tocante, amarga;<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Vejam, são olhares cativantes a revelar um passado doloroso,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">ainda não revelado, onde cada vislumbre descortina <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">a força interna da vida de homens castos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><!--EndFragment-->Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-1815259363565290082011-07-25T16:02:00.000-07:002011-07-26T12:11:56.097-07:00Grande Virilidade<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: 12px;">Marcos Simão</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: 12px;">Gosto de ver os homens como eternas crianças.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">Ilesos ainda de todas as máculas do mundo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">Ungidos pela inocência da infância, cuja vida é apenas uma brincadeira.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">Um espetáculo sereno para um dia sereno.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">Melhor, adoro ainda contemplá-los</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">como almas maduras e menos inocentes,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">muito viajadas na poeirenta estrada da vida,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">orgulhosamente a levar seus pequenos brasões </span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">degenerados, recheados de memoriais de alto padrão.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">Triste experiência do destino, </span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">desde a queda de suas mascaras, frágeis armaduras </span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">a levar, orgulhosamente, suas vidas com suas próprias mãos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">E ainda, que se escondam dentro de suas próprias profundezas,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">cujas feridas foram disseminadas com cuidado, </span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">mesmo assim, espalhadas pelo todo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">Como uma flor madura com conteúdo auto-forjado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">São nobres que resolvem reprovar os deuses</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">e ousam afirmar a eminência do homem</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">acima do nível de felicidade dos brutos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">E mais, eles nos anunciam das alturas,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">para a qual nenhum caminho natural jamais nos guiará,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">e nenhuma luz natural pode iluminar nossos passos,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">Podem apenas refletir distantes raios de luz que brilham</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 9pt;">dos olhos reticentes de um bravo homem.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-32429365875735759972010-09-27T14:59:00.001-07:002010-09-27T14:59:51.845-07:00Faseologia e Autonomia do Desenvolvimento<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Marcos Simão</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O pensamento de Celso Furtado</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Resumo</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O estruturalismo econômico teve como objetivo principal pôr em evidência a importância dos "parâmetros não-econômi-cos" nos modelos macroeconômicos. A presença de Celso Furtado foi central no debate para o amadurecimento e auge do ciclo ideológico do "desenvolvimento" no Brasil, entendido como a ideologia de superação do subdesenvolvimento, através de uma industrialização planejada e orientada pelo Estado. Os elementos históricos ocorridos na segunda metade da década de 50 ensejaram as mudanças que estariam para ocorrer, nos anos 60, nos rumos do debate econômico - um acirra-mento dos problemas macroeconômicos - crescente visibilidade urbana da hetero-geneidade social, resultante da incapacidade da indústria em absorver a enorme força de trabalho que migrava do campo à cidade. As idéias que permeavam a década de 60 nas obras de Furtado, e, sua contribuição histórica na análise estruturalista do subde-senvolvimento podem ser compreendidas pela noção dada de subdesenvolvimento. Para Furtado, o desenvolvimento, hoje, consiste, essencialmente, em dar curso à capacidade criativa do homem. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O Desenvolvimento<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Ainda que fosse simples, não seria fácil. Pois a idéia de classificar os sistemas econômicos históricos e de definir, a partir dessa classificação, tipos ideais - categorias abstratas - de sistemas econômicos, com base num pequeno número de fenômenos passíveis de expressão quantitativa, mesmo sendo muito antiga, é imaginar que esses tipos ideais são fases pela quais passam necessariamente todas as sociedades em sua evolução. Entretanto, isso é uma forma particular de interpretação da história fundada nas idéias de progresso que permeiam a filosofia européia a partir do Iluminismo.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Partindo do estruturalismo cepalino de Raúl Prebich, Celso Furtado introduziu "história", cujo alicerce que pode ser chamado de "método-histórico-estrutural", construído a partir dos anos 40, é o da análise do subdesenvolvimento econômico, num trabalho dividido em quatro níveis da análise econômica, ou seja, o "teórico", o "histórico", o da análise "aplicada" aos processos e tendências correntes e o da "formulação" de política econômica. Em um segundo momento, incorpora a sua obra a partir das décadas de 50 e 60 (início de sua experiência na SUDENE) os níveis sócio-econômico e sócio-político. Já em 60 insere considerações sobre a cultura - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dialética do Desenvolvimento, </i>1964. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Criatividade e Dependência,</i> 1978. e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cultura e Desenvolvimento em tempos de Crise, </i>1984. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 42.55pt 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">"O desafio que temos diante de nós é simplesmente este: como modificar o conjunto de forças que estão dividindo este pais em dois, marcado pela pior das desigualdades que é a que distancia o pauperismo da abundância? Como modificar o curso do processo histórico que está sovacando a unidade deste grande país, ao mesmo tempo que permite a formação, dentro de suas fronteiras, de uma área que poderá vir a constituir um problema para todo o Hemisfério? Como evitar que o grande esforço que o país já realiza no Nordeste continue a ser frustrado em seus objetivos últimos por aquelas forças que traumatizam o desenvolvimento da região" </span></span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 42.55pt 0pt; text-align: right;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Furtado, Celso. 1959 - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Discurso de posse do cargo de superintendente da SU</i>DENE</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O que se entende por pensamento "estruturalista" latino americano em economia não tem relação direta com a escola estruturalista francesa, cuja orientação geral tem sido privilegiar o eixo das sincronias na análise social e estabelecer uma "sintaxe" das disparidades nas organizações sociais. O estruturalismo econômico (escola do pensamento surgida na primeira metade dos anos cinqüenta entre economistas latino-americanos) teve como objetivo principal pôr em evidência a importância dos "parâmetros não-econômicos" dos modelos macroeconômicos. Como o comportamento das variáveis econômicas depende em grande medida desses parâmetros, e a natureza dos mesmos pode modificar-se significativamente em fases de rápida mudança social, ou quando se amplia o horizonte temporal da análise, os mesmos devem ser objeto de meticuloso estudo. Essa observação é particularmente pertinente com respeito a sistemas econômicos heterogêneos, social e tecnologicamente, como é o caso das economias subdesenvolvidas. Em certo sentido, o trabalho desses economistas aproxima-se do daqueles outros preocupados em dinamizar os modelos econômicos. Em um e em outro casos, tem-se em vista transformar constantes em variáveis, o que permite alcançar um nível mais alto de generalidade no esforço de teorização. Considerando o problema sob outro aspecto, os estruturalistas retomaram a tradição do pensamento marxista, na medida em que este último colocou em primeiro plano a análise das estruturas socais como meio<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>para compreender o comportamento das variáveis econômicas.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A presença de Celso Furtado foi central no debate que corresponde ao amadurecimento e auge do ciclo ideológico do "desenvolvimento" no Brasil, entendido como a ideologia de superação do subdesenvolvimento, através de uma industrialização planejada e orientada pelo Estado. O ciclo desenvolvimentista de <metricconverter productid="1945 a" w:st="on">1945 a</metricconverter> 1955 amadureceu em dois sentidos; primeiro, através da difusão das idéias desenvolvimentistas por intermédio da multiplicação de documentos de governo, periódicos, livros, artigos de jornal etc., segundo, no sentido de amadurecimento analítico. Como exemplo o vanguardismo desenvolvimentista de Roberto Simonsen, no célebre debate de 1944 com o líder neoliberal Eugênio Gudin, por mais que atraísse as pessoas, não havia encontrado no plano analítico, melhor defesa para o desenvolvimento. Disputa que favoreceu ao desenvolvimentismo cepalino a partir de 1949. O bastão dessas idéias vangardistas passou para as mãos de Celso Furtado com a morte de Simonsen. Ironicamente Celso Furtado já vinha operando na difusão das idéias cepalinas os anos anteriores, quando então Furtado passaria a ser a grande referência desenvolvimentista no Brasil.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Durante seus primeiros anos na CEPAL, Furtado desenvolveu um intenso trabalho, além de participação na elaboração do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Economic Survey of Latin America</i>, dirigiu e elaborou partes do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Estudio Preliminar Sobre <personname productid="La T←cnica" w:st="on">La Técnica</personname> de Programación del Desarrollo Econômico</i> e foi o primeiro presidente da sociedade civil (Clube dos Economistas) e quem elaborou uma nova Revista <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Económica Brasileira</i>, a qual tentaria promover idéias independentes da linha que regia as publicações da Fundação Getúlio Vargas, nesse momento sob o controle da ortodoxia econômica de Eugênio Gudin e Octávio Bulhões. Em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A economia...(1954)</i>, muito da teorização e da primeira reflexão sobre o crescimento e a industrialização em relação ao Brasil e produto de sua estada da CEPAL, Furtado afirma que o Brasil já havia assumido no passado políticas relativamente heterodoxas de defesa do capital nacional, época em que a era da "ideologia desenvolvimentista" já estava personificada. Essa obra não foi muito bem recebida pela CEPAL, cuja atitude foi elaborar regras de publicação para os autores que ali trabalhavam.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Os elementos históricos ocorridos no transcurso da segunda metade da década de 50 ensejaram as mudanças que estariam para ocorrer nos anos 60 nos rumos do debate econômico - um acirramento dos problemas macroeconômicos, crescente visibilidade urbana da heterogeneidade social, resultante da incapacidade da indústria em absorver a enorme força de trabalho que migrava do campo à cidade.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Para compreender o contexto em que se desenvolveram os discursos sobre o desenvolvimento, é fundamental levar em consideração a conjuntura brasileira nessa época. Lembremos que, sem o apoio decidido de Getúlio Vargas, a CEPAL não poderia ter sido construída, devido à veemência (Mallorquin, C., op. cit.) com que o governo estadunidense se opunha. O Brasil talvez representasse a nação latino-americana mais pura naquilo que foi denominado "o projeto nacional de desenvolvimento". A "industrialização" foi sempre um anseio primordial nas idéias de Getúlio Vargas. É óbvio, então, a eminente participação do "Estado" na configuração do processo de desenvolvimento brasileiro.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">No Brasil, o discurso relativo ao "progresso" via a industrialização, antecipou sobremaneira as discussões em relação a outras nações. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a criação da CEPAL,</span><a href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=8376230182226369865#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1]</span></span></span></span></a><span style="font-family: Arial;"> surgiram de condições para se repensar o "desenvolvimento nacional". </span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 42.55pt 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">"É no campo econômico, entretanto, que a Lei da SUDENE encerra elementos inovadores substanciais. Temos avançado muito, em nosso país, no sentido da formação de uma consciência nova das funções do Estado. Em poucas partes do mundo, a concepção novecentista do Estado gendarme foi tão superada como entre nós. Temos plena consciência de que o desenvolvimento é um grande parte, a resultante de uma ação estatal bem concebida." </span></span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 42.55pt 0pt; text-align: right;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Furtado, Celso. 1959 - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Discurso de posse do cargo de superintendente da </i>SUDENE</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Em que pese as diferenças de tom - os textos anteriores a 1964 são mais esperançosos - os elementos de continuidade na obra de Furtado são muito superiores aos de ruptura. O diagnóstico central a toda a década de 60, era o de que a industrialização não estava eliminando a heterogeneidade e a dependência, mas, apenas alterando a forma como essas características passavam a se expressar. O que ocorre a partir de 1964 é a introdução de dois componentes analíticos; o significado de empresas multinacionais para o comportamento da economia e a questão distributiva.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">As idéias que permeavam o período da década de 60 nas obras de Furtado e a sua contribuição às noções de desenvolvimento e a dimensão histórica na análise estruturalista do subdesenvolvimento podem ser compreendidas pela noção dada de subdesenvolvimento. Entendido-se desenvolvimento como sendo uma das linhas históricas de projeção do capitalismo industrial cêntrico em nível global e a do subdesenvolvimento como sendo um "processo histórico autônomo", que tende a se perpetuar e que não pode ser considerado uma simples etapa de desenvolvimento econômico pela qual passa todos os países.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A grande contribuição está nas estratégias de desenvolvimento. Até Furtado, o desenvolvimento era uma evolução que algumas sociedades conseguiam, outras não. Furtado mostrou que o desenvolvimento não era uma evolução, era uma opção. Resultado de políticas que exigiam rupturas. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Diversos aspectos das idéias básicas sobre o desenvolvimento e o estabelecimento de uma conexão explícita com a cultura, foram analisados por Celso Furtado já nos idos de 1964, mas foi quando de sua estada em Cambridge que essa temática tornou-se preferencial em seu trabalho, do qual resultou o livro "Criatividades e dependência na civilização industrial", publicado em 1978. As grandes questões tratadas nessa obra são retomadas, no livro "Cultura e Desenvolvimento em época de crise" de 1984, ambos precisam e aprofundam um conjunto de idéias básicas sobre desenvolvimento e cultura.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 42.55pt 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">O problema político essencial para o intelectual - destaca M. Foucault - não é criticar os conteúdos ideológicos que estariam ligados à ciência ou fazer de tal modo que sua prática esteja acompanhada de uma ideologia justa. É saber se é possível construir uma nova política da verdade. O problema não é "mudar a consciência" das pessoas ou o que têm na cabeça, mas o regime político, econômico, institucional da produção da verdade.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 42.55pt 0pt; text-align: justify;"><span lang="ES-AR" style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-AR; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">"Verdad y poder", Microfísica do poder, Madrid, <personname productid="La Piqueta" w:st="on">La Piqueta</personname>, Madrid, 1980, subrayados míos, p.189</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Faz-se necessário, ainda, aprofundar os conhecimentos na desafortunada associação das idéias de Celso Furtado com as do próprio Prebrich, bem como, e não menos importante, é decifrar e conhecer os códigos que dominaram a recepção de suas idéias. Tudo isso leva à conclusão de que as ciências sociais latino-americanas parecem desconhecer sua grande dívida com o economista brasileiro. Sua herança é incomensurável e deve ser resgata do esquecimento para (re)construir as verdades deste mundo. Furtado, como intelectual comprometido com a transformação das relações sociais reinantes, não foi alheio a esta problemática: deixou-nos como legado um "regime da verdade" sobre a idéia do subdesenvolvimento e as possíveis vias para sua superação.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Um novo Horizonte: Cultura e Desenvolvimento</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Reproduzindo um trecho de um texto publicado pela "Revista da Cepal" em abril de 2000, revista da escola de pensamento que Furtado, há 52 anos, ajudava a construir. "A globalização opera em benefício dos que estão na vanguarda tecnológica e exploram os desníveis do desenvolvimento entre países. Os países com grande potencial de recursos naturais e acentuadas disparidades sociais, o caso do Brasil, correm o risco de desagregar-se ou deslocar-se a regimes autoritários. Para escapar dessa disjuntiva, há que voltar à idéia do projeto nacional, recuperando para o mercado interno o centro dinâmico da economia. A maior dificuldade reside em reverter o processo da concentração de renda, o que só poderá fazer-se mediante uma grande mobilização social. Em poucas palavras, podemos afirmar que o Brasil só sobreviverá como nação se se transformar numa sociedade mais justa que conserva a sua independência política". O texto é bastante representativo da sua posição, e que ao mesmo tempo pré-anuncia uma temática que talvez venha a ser central nesta década. A via brasileira do desenvolvimento não tem que ser uma "terceira via", tem que ser uma via própria, resultado de um projeto nacional derivado das especificidades do país.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Colocando à parte os esforços para definir cultura, Celso Furtado entende cultura como sendo um sistema, um conjunto cujas partes que guardam certo grau de coerência entre si. Entende que esse sistema constitutivo da cultura tende à mudança, estando sujeito à continuas mutações que, geralmente, supõem o enriquecimento; por vezes, um enriquecimento cultural rápido e considerável. Para Furtado, o desenvolvimento se aplica a esse sistema. O desenvolvimento, em outras palavras, diz respeito à cultura, globalmente considerada. Consiste, essencialmente em dar curso à capacidade criativa do homem. Há, para Furtado, dois processos distintos de criatividade. De um, derivam inovações no âmbito daquilo que se denomina "cultura material", representada ou definida pelo dueto progresso técnico/acumulação - entenda-se que o termo inovação não está empregado em seu sentido usual. Do outro, derivam inovações que se dão no âmbito da "cultura não-material", entendida de forma sintética como o patrimônio de idéias e valores que uma sociedade vai construindo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 42.55pt 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">(...) Temos o dever de nos interrogar sobre as raízes dos problemas que afligem o povo e repudiam posições doutrinárias fundadas num reducionismo econômico. Como ignorar que os germes da crise atual já corroíam nosso organismo social na fase de rápido crescimento das forças produtivas do País? Não terá sido o nosso um desses casos de mau desenvolvimento que hoje preocupam os estudiosos da matéria? (...) Impõem-se formular a política de desenvolvimento a partir de uma explicação dos fins substantivos que almejamos alcançar, e não com base na lógica dos meios imposta pelo processo de acumulação comandado pelas empresas transnacionais. A superação do impasse com que nos confrontamos requer que a política de desenvolvimento conduza a uma crescente homogeneização de nossa sociedade e abra espaço à realização das potencialidades de nossa cultura.(...)</span></span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 42.55pt 0pt; text-align: right;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Furtado, Celso. Discurso pronunciado por ocasião da comemoração dos seus 80 anos de idade e pelos 40 anos de criação da SUDENE. junho de 2000.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">É importante insistir brevemente sobre esses dois aspectos da cultura. A criatividade e a inovação nas quais a cultura se expressa, permitem a geração de excedentes econômicos adicionais, que possibilitam a ampliação e a renovação do horizonte de opções disponível aos membros de uma comunidade. Para Furtado, a inovação ou invenção no âmbito da "cultura não-material" - por ser a que amplia o universo de idéias e valores - é a que abre caminhos para a realização das potencialidades latentes do próprio homem, ou seja, a sua auto-identificação através de atividades como a reflexão filosófica, a meditação mítica, a criação artística ou a investigação científica, ainda que a inovação no âmbito material seja fundamental para que essas opções sejam realizáveis. Nas palavras de Furtado, "comecemos por indagar sobre as relações existentes entre a cultura como sistema de valores e o processo de acumulação que está na fase da expansão das forças produtivas. Trata-se de contrastar a lógica dos fins, que rege a cultura, com a dos meios, razão instrumental inerente à acumulação puramente econômica"</span><a href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=8376230182226369865#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[2]</span></span></span></span></a><span style="font-family: Arial;">. "A rigor, pode-se falar em desenvolvimento quando a capacidade criativa do homem se dirige ao descobrimento de si mesmo, empenhando-se em enriquecer seu universo de valores. Efetiva-se o desenvolvimento quando a acumulação conduz à criação de valores que se difundem em importantes segmentos da coletividade"</span><a href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=8376230182226369865#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[3]</span></span></span></span></a><span style="font-family: Arial;">.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Furtado acredita que "se admitirmos que nosso objetivo estratégico é conciliar uma taxa de crescimento econômico elevada com absorção do desemprego e desconcentração da renda, temos de reconhecer que a orientação dos investimentos não pode subordinar-se à racionalidade das empresas transnacionais" e que, "devemos partir do conceito de rentabilidade social, a fim de que sejam levados em conta os valores substantivos que exprimem os interesses da coletividade em seu conjunto. Somente uma sociedade apoiada numa economia desenvolvida com elevado grau de homogeneidade social pode confiar na racionalidade dos mercados para orientar seus investimentos estratégicos".</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Furtado - ao relacionar o exposto à prática - observa que os conflitos sociais e as atividades políticas surgidas nos grandes centros foram elementos chaves para o impulsionamento das transformações estruturais necessárias à continuidade da acumulação. Por exemplo, a elevação do nível e da massa de salários se dá em decorrência de transformações e impulsos sócio-políticos, e não em virtude de mecanismos puros de mercado. Da mesma forma, a orientação da tecnologia não é alheia às sucessivas instâncias de confrontação que essas transformações e impulsos geram.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Considerações finais</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Para vencer o subdesenvolvimento, segundo Celso Furtado, faz-se necessário romper com determinadas estruturas e, consequentemente, romper com certos conceitos arraigados na história. O desenvolvimento dos países de terceiro mundo somente ocorrerá quando essa ruptura acontecer na prática e não com a mudança de fase, evolução do subdesenvolvimento ao desenvolvimento. Furtado argumenta que "o desenvolvimento é uma opção". para que ele ocorra, a cultura tem papel essencial, pois será ela quem determinará o tipo de desenvolvimento que almejado por uma sociedade.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Os padrões tecnológicos e hábitos de consumo dos países centrais ou desenvolvidos não podem e nem devem servir de referência aos países subdesenvolvidos, muito embora, esta tenha sido a grande estratégia destes países quando se referem aos países subdesenvolvidos. A contribuição de Furtado, nesse sentido, é o que se poderia considerar como uma ruptura com os conceitos faseológicos do desenvolvimento, ou seja, o desenvolvimento não deve ser uma terceira via para<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>os países subdesenvolvidos, deve sim, ter uma via própria cuja economia será o instrumento para o desenvolvimento cultural. Desenvolvimento esse entendido como objetivo final de uma sociedade.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br clear="all" style="page-break-before: always;" /></span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Bibliografia</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Furtado</span></b><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;">, Celso. (1954), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Economia Brasileira </i>- Rio de Janeiro - Ed. A Noite, 1954.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">______, Celso. (1959) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">(fragmentos do) Discurso pronunciado pelo economista Celso Furtado, ao tomar posse do cardo de Superintendente da Sudene</i>- Recife, 1959.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">______, Celso. (1959) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Formação econômica do Brasil </i>- São Paulo - Companhia Editora Nacional, 1959.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">______, Celso. (1959), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Desenvolvimento e Subdesenvolvimento </i>- Rio de Janeiro - Fundo de Cultura, 1959.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">______, Celso. (1978), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Criatividade e Dependência, </i>Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1978.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">______, Celso. (1983) ,<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Brasil Pós-Milagre </i>- Rio de Janeiro - Paz e Terra, 1983.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">______, Celso. (1984), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cultura e Desenvolvimento em época de crise </i>- Rio de Janeiro - Paz e Terra, 1984.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">______, Celso. (1989), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Fantasia Desfeita </i>- Rio de Janeiro - Paz e Terra, 1989.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">______, Celso. (2000) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Teoria Política do Desenvolvimento econômico - </i>São Paulo. Paz e Terra, 2000.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;">GTDN </span></b><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;">(1959), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste, </i>Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1959</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Mantenga</span></b><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;">, Guido<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, A economia política brasileira, op. cit; </i>Limoeiro Cardoso<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, La ideologia dominante</i>, Sigo, XXI, México, 1976, </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Cardoso</span></b><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;">, Fernando<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, Ideologias de la burguesia industrial em sociedades dependientes</i>, Sigo XXI, México, 1967.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Bielschowsky</span></b><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;">, R. (Org), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cinqüenta anos de pensamento na CEPAL</i>, Rio de Janeiro, Record, 2000.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Sachs,</span></b><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> Ignacy e Formiga, Marcos. coord. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Celso Furtado a Sudene e o Futuro do Nordeste</i>, Seminário Internacional, Recife, SUDENE, 2000.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm 0pt 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;"><br />
</div><div style="mso-element: footnote-list;"><br clear="all" /><span style="font-family: Arial;"><hr align="left" size="1" width="33%" /></span><div id="ftn1" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><a href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=8376230182226369865#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 8pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1]</span></span></span></span></span></a><span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Arial;"> Guido Mantenga, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A economia política brasileira, op. cit; </i>Limoeiro Cardoso<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, La ideologia dominante, </i>Sigo, XXI, México, 1976, e Fernando Cardoso, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ideologias de la burguesia industrial em sociedades dependientes, </i>Sigo XXI, México, 1967.</span></span></div></div><div id="ftn2" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><a href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=8376230182226369865#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 8pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[2]</span></span></span></span></span></a><span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Arial;"> Furtado, Celso. Seminário Internacional. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Celso Furtado a Sudene e o Futuro do Nordeste, </i>SUDENE, junho de 2000<i style="mso-bidi-font-style: normal;">.</i></span></span></div></div><div id="ftn3" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><a href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=8376230182226369865#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 8pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[3]</span></span></span></span></span></a><span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Arial;"> Furtado, Celso. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cultura e Desenvolvimento em época de crise</i>. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1984 pp 106 e 107.</span></span></div></div></div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-72458167675977116702010-09-27T14:57:00.003-07:002010-09-27T14:57:32.014-07:00Tudo Era de Um Branco sem Máculas<div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: right;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Marcos Simão</span></span></i></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">As premissas que seguiram as linhas dos troncos e das galhas e das galhadas das árvores deram a lugar em 1912 às linhas derivadas da estrutura do espaço no Cubismo analítico. A abstração em grande medida, origem na forma lisa e chapada do Cubismo Sintético, uma modalidade completamente estranha a Mondrian. Imagina-se a primeira vista que ele deva ter desaprovado o fato de Picasso e Braque terem evoluindo com lógica estranha por quatro anos das paisagens de Estaque e de Horta para luminosidade dispersa do período hermético, e de repente deram uma volta para a arbitrariedade. Sabe-se que ele desaprovou o fato de que, alcançando um nível do sublime da abstração da natureza, usaram a colagem<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, </i>deixaram a realidade - em toda sua banalidade e toda subjugação do tempo para traz - um recurso à nostalgia e o materialismo. É evidente que não poderia aceitar nenhum forma de compilação como uma solução. A forma montada do Cubismo Sintético derivou-se finalmente da forma separada lisa de Gaudin. A fidelidade de Mondrian pertenceu ao Impressionismo e a Seurat, a seus interesses de traduzir uma sensação em um encadeado de pinceladas. As pinceladas de Mondrian Neo-impressionista de 1908-10 eram alongadas nas linhas curtas das marinhas e das fachadas de 1914-15 que eram por sua vez alongados nas linhas que estendem dum lado ao outro da tela e aparentemente além.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Um Mondrian não consiste de retângulos azuis, vermelhos, amarelos e brancos. Eles são concebidos - como limpas e inteminaveis telas. Em termos de linhas, linhas que se podem mover com a força de uma intensa tempestade ou como a delicadeza de um gato. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f"><stroke joinstyle="miter"></stroke><formulas><f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0"></f><f eqn="sum @0 1 0"></f><f eqn="sum 0 0 @1"></f><f eqn="prod @2 1 2"></f><f eqn="prod @3 21600 pixelWidth"></f><f eqn="prod @3 21600 pixelHeight"></f><f eqn="sum @0 0 1"></f><f eqn="prod @6 1 2"></f><f eqn="prod @7 21600 pixelWidth"></f><f eqn="sum @8 21600 0"></f><f eqn="prod @7 21600 pixelHeight"></f><f eqn="sum @10 21600 0"></f></formulas><path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f"></path><lock aspectratio="t" v:ext="edit"></lock></shapetype><shape alt="" id="_x0000_s1026" style="height: 225.3pt; left: 0px; margin-left: 268.9pt; margin-top: 11.45pt; position: absolute; text-align: left; width: 225.3pt; z-index: 1;" type="#_x0000_t75"><span style="font-family: Arial;"><imagedata o:href="http://www.artchive.com/artchive/m/mondrian/mondrian_composition_a.jpg" src="file:///C:\DOCUME~1\MARCOS~1\CONFIG~1\Temp\msohtml1\01\clip_image001.jpg"></imagedata><wrap type="square"></wrap></span></shape><span style="font-family: Arial;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mondrian queria o infinito, e a forma é finita. </span>Uma linha reta se estende infinitamente e o espaço aberto entre duas linhas paralelas é rigorosamente fixo e igualmente se estende infinitamente. A abstração de<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mondrian<span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> é a mais compacta e imaginável harmonia pictorial,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a mais auto-suficiente superfície pintada (além de ser tão íntima quanto um interior holandês). Ao mesmo tempo que rompe com seus limites de modo que pareça um fragmento de um cosmos maior ou de modo que, começando por um tipo do retorno ao espaço que governa além de seus próprios limites, ele adquire uma segunda ilusão, a da escala, por que as distâncias entre pontos na tela parecem mensuráveis em milhas. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O positivo e o negativo são as causas de toda a ação... O positivos e o negativos rompem com a unidade, eles são a causa de todo a infelicidade. A união do positivo e do negativo é a felicidade. A unidade palpável da flor ou da torre solitária, sujeitas ao tempo e as mudanças, teve que liberar a unidade subliminal de um equilíbrio vívido.</span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Nos início do século XX muitos artistas tentaram várias maneiras abstratas de representar a realidade. Mondrian foi além deles. Em suas composições finais evitou toda a sugestão de reproduzir o mundo material. Ao contrário usando linhas pretas horizontais e verticais que os blocos do esboço de branco, vermelho puro, azul ou amarelo, ele expressou sua concepção da harmonia e do equilíbrio finais. Mondrian nasceu em 27 março de 1872 em Amersfoort, nos Países Baixos. Estudou na Academia de Amsterdã de <metricconverter productid="1892 a" w:st="on">1892 a</metricconverter> 1895 começando então suas próprias pinturas. A maioria de seus primeiros trabalhos eram paisagens. Em 1909 começou uma série das pinturas de árvores em que desenvolveu um estilo cada vez mais abstrato. Mudou-se para Paris em 1912 onde foi influenciado pelos pintores cubistas. Durante a primeira guerra mundial, Mondrian pintou nos Países Baixos. Lá ajudou De Stijl, uma revista, de artes que influenciou a pintura, a arquitetura, e o design europeus. Começou também a formular suas próprias teorias estéticas. Seu estilo, e seus princípios artísticos subjacentes, chamou o neoplasticismo. As pinturas mais recentes, que datam de 1920 até sua morte, têm títulos simples, tais como "Composição em Vermelho, Amarelo e Azul" pintado em 1926, e "Composição em Branco, em Preto e em Vermelho" (1936).</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Mondrian viveu em Paris de <metricconverter productid="1919 a" w:st="on">1919 a</metricconverter> 1938. Mudou-se para Londres em 1938 e partiu para New York em 1940. Seus trabalhos foram admirados por outros artistas, mas não venderam. Sua última pintura, chamada ‘Victory Boogie Woogie’', era ainda liberal quando morreu <personname productid="em New York City" w:st="on">em New York City</personname> primeiro de fevereiro de 1944. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Abstração pura</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A forma e as cores tiveram sempre sua própria força emocional: os projetos em antigas bacias, em vestimentas, e em mobiliários são abstratos, como são as páginas inteiras de manuscritos medievais. Mas, a pintura ocidental nunca teve antes o prazer de formas como esta, na cor feita independente da natureza, feito seriamente porque um assunto direcionado para o pintor. A abstração transformou-se num veículo perfeito para que os artistas explorassem e universalizasse idéias e sensações. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Diversos artistas reivindicaram ser os primeiros a pintar um retrato abstrato, assim como quando os primeiros fotógrafos reivindicaram sobre quem tinha inventado a câmara. Para a arte abstrata, a distinção é dada com frequência a Wassily Kandinsky, mas certamente o artista Russo, Kasimir Malevich, está também entre os primeiros. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O estilo tardio de Kandinsky teve uma tendência geométrica e a Abstração Suprematista aconteceu na maior parte em torno do quadrado, mas o verdadeiro artista da geometria foi Mondrian. Ele parece ser o artista abstrato absoluto, a pesar de suas primeiras paisagens e suas naturezas mortas serem relativamente realistas. </span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><shape alt="" id="_x0000_s1027" style="height: 176.75pt; left: 0px; margin-left: 255.1pt; margin-top: 12.5pt; position: absolute; text-align: left; width: 241pt; z-index: 2;" type="#_x0000_t75"><imagedata o:href="http://www.artchive.com/artchive/m/mondrian/mondrian_gray_tree.jpg" src="file:///C:\DOCUME~1\MARCOS~1\CONFIG~1\Temp\msohtml1\01\clip_image003.jpg"></imagedata><wrap type="square"></wrap></shape><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">The Grey Tree (1912) um meio caminho para uma representação abstrata para seu trabalho geométrico, contudo ele têm também um pé no mundo real da vida e da morte. The Grey Tree é uma arte realista no ponto para decolar para a abstração: retirando-se o título e nós tem uma abstração; adicione o título e nós temos uma árvore cinzenta. Reivindicou ter pintado estes retratos da necessidade fazer uma vida, tendo, contudo, uma frágil delicadeza preciosa e rara. Mondrian procurou uma arte de máxima retitude: seu maior desejo era alcançar a pureza pessoal, para desprezar tudo que satisfaz o a emoção e que entra na simples dividade. Isso pode soar tedioso, mas ele compôs com incerteza lírica o contrapeso que fez da sua arte tão pura e purificadora como esperou. Em outras palavras, Mondrian eleminou as linhas curvas, resíduo do que considerava confusão de espírito procedente do barroco. As retas verticais e horizontais deviam ser o único meio estilístico permitido ao Neoplasticismo, evitando toda a limbrança da pincelada emocional; a cor plana, compacta, pura, devia ser a lei indiscutível.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt 3.6pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Mondrian impôs rigorosas restrições a si mesmo, usando somente cores preliminares, preto e branco, e formas fortemente delimitadas. Suas teorias e sua arte são um defesa triunfante da austeridade. Diamond Painting in Red, Yellow, and Blue (1921-25) parecem ser vazios de espaços tridimensionais, mas é de fato uma pintura imensamente dinâmica. A forma é densa e com grande tensão cromática. As espessuras variando das beiras pretas contêm-nas no contrapeso perfeito. Integram-se continuamente enquanto nós prestamos atenção, mantendo nos interessados constantemente. Nós percebemos que esta é uma visão da maneira que as coisas como elas pretendiam ser, mas nunca são. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-3217942279401228462010-09-27T14:56:00.000-07:002010-09-27T14:56:00.587-07:00Nossa Diversidade Criadora<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">(Relatório da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento)</span></span></i></b></div><div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-AR" style="mso-ansi-language: ES-AR;"><span style="font-family: Arial;">(Javier Pérez de Cuéllar, Papirus,1997)</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Cultura e Desenvolvimento</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;">Duas visões do Desenvolvimento </span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Com a intenção de limitar a desconcertante gama de significações acerca dos conceitos de Cultura e Desenvolvimento, duas foram as perspectivas utilizadas na visão de desenvolvimento. A primeira, o desenvolvimento é um processo de crescimento econômico, uma expansão rápida e duradoura da produção, da produtividade e da renda <i style="mso-bidi-font-style: normal;">per capta</i>, às vezes matizada pela repartição eqüitativa dos benefícios do crescimento. A segunda, o desenvolvimento humano como um processo que fortalece e amplia a liberdade efetiva de um povo em busca da realização dos objetivos por ele valorizados, enfatizando a ampliação das capacidades e das possibilidades dos povos e o alargamento das opções de indivíduos, de grupos e de culturas distintas. Vale ressaltar que essa acepção não denotam o simples incremento da produção material.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">A cultura pode ser vista, então, como um instrumento ou como um fim desejável em si mesmo. Para o que trata da acepção de desenvolvimento apenas como crescimento econômico o papel da cultura é puramente instrumental na promoção do crescimento acelerado ou como um obstáculo a ele. Neste caso o crescimento econômico é considerado como algo que tem valor próprio e seus instrumentos são tidos como meios para alcança-lo. Por outro lado, questiona-se se o crescimento econômico é um mero instrumento sem condições de disputar com os aspectos culturais uma posição fundamental para a existência humana. É importante considerar que, no geral, as pessoas apreciam os bens e serviços econômicos, o que as permite viver livremente e segundo seus valores de desejos, mas por outro lodo a própria apreciação desses bens e serviços ou do reconhecimento desses valores e desejos é, em última instância um dado cultural. Eis que surge importantes questões: É a cultura um aspecto ou um instrumento do desenvolvimento entendido como crescimento econômico? Ou, é a cultura a finalidade do desenvolvimento, compreendido na acepção de florescimento da existência humana em todas as suas formas, já que a economia faz parte da própria cultura de um povo.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Para compreender este duplo papel da cultura e sua aplicação, não somente no contexto de crescimento econômico, mas também na conservação do meio ambiente, natural ou construído, bem como na preservação dos valores da família, na proteção das instituições civis da sociedade, etc a cultura deve ser apreendida de maneira mais fundamental: não como instrumental de outros fins, mas como a base social desses próprios fins. Em outras palavras, para compreender a "dimensão cultural do desenvolvimento" é necessário apreender os dois papeis da cultura.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;">Cultura e Desenvolvimento</span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">O objetivo último do desenvolvimento humano e um dos seus mais importantes instrumentos e meios é, então, o indivíduo. Porém esse não é uma ilha ou átomo isolado, as pessoas trabalham juntas, cooperam, competem, interagindo de diversas formas. A cultura é justamente o que as<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>conecta e define como elas se relacionam com os meios natural e construído, e como expressam suas atitudes e suas opiniões, tornando possível o desenvolvimento de cada indivíduo. Pode-se, assim, entender desenvolvimento humano e crescimento econômico como partes ou aspectos da própria cultura de um povo. Não há sentido, assim, relacionar cultura e desenvolvimento como conceitos separados e estanques. A Cultura deve ser entendida então como o a finalidade última do desenvolvimento, definido como "florescimento da existência humana em seu conjunto e em todas as suas formas".</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Entretanto, essa definição de Cultura é rejeitada e seu significado reduzido ao de "estilo de coexistência" e de desenvolvimento como sendo "a ampliação das possibilidades, oportunidade e opções" e a ligação entre Cultura e Desenvolvimento passa a referir-se ao estudo das várias formas de coexistência que interferem na ampliação das opções abertas ao homem. A Cultura de não é estática ou imutável, ao contrário, é um fluxo constante que influencia e é influenciada por outras, refletindo sua história, seus costumes suas instituições e atitudes, conflitos, etc. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Assim, a noção de "Desenvolvimento Culturalmente sustentável", deve ser empreendido com grande preocupação, visto que a Cultura não pode restringir-se a um papel de instrumento que "sustenta" outro objetivo ou excluir a possibilidade de seu crescimento ou evolução. Pois a Cultura é uma fonte permanente de progresso e de criatividade. Superar o papel instrumental da cultura e reconhecer ser papel construtivo, constitutivo e criativo é pensar o desenvolvimento em termos que englobe o crescimento Cultural.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">A maioria dos países são constituídos pela multiplicidade Cultural, gerando benefícios ou conflitos. Os governos não podem determinar a cultura de um povo, são na verdade determinados, pelo menos em parte, pela Cultura desse povo, mas podem influenciá-la positiva ou negativamente e, por conseqüência, modificar as vias do desenvolvimento. O princípio é o respeito, que vai além da tolerância, significa uma atitude positiva diante a diversidade cultural. O jogo nesse caso é de poder, pois a hegemonia Cultural baseia-se na exclusão de grupos subordinados e em argumentos pseudocientíficos invocados para justificar o domínio sobre os outros. "Uma política baseada no respeito mútuo apoia-se largamente na racionalidade científica.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Como, então, substituir o ódio pelo respeito em um mundo familiarizado com a "purificação étnica", o fanatismo religioso e o preconceito racial e social? A resposta pode residir na liberdade cultural, se esta for um dos pilares sobre os quais se assenta o Estado. Esta liberdade é diferente das outras formas de liberdade, não podendo ser comparadas. Primeiro, enquanto grande parte das liberdades são individuais a liberdade Cultural é coletiva. O que não implica a conivência com a corrupção de direitos coletivos, a exemplo das sociedades de castas ou dos grupos de pressão que neguem qualquer tipo de liberdade individual.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Segundo a correta interpretação da liberdade cultural garante a liberdade a liberdade um seu conjunto, não apenas a coletividade, mas também o indivíduo. A liberdade cultural, nesse caso, constitui uma proteção adicional para a liberdade individual.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Terceiro ao proteger modos alternativos de vida, de que trata os fundamentos do Desenvolvimento Humano, a liberdade individual incentiva a criatividade, a experiência e a diversidade, ao mesmo tempo que torna as sociedades inovadoras dinâmicas e duradouras. Por fim, a liberdade é a espinha dorsal da cultura, em particular a liberdade de decidir ao que dar valor e que modos de vida buscar, de definir nossas próprias necessidades fundamentais, o que tem sido ameaçado por pressões globais e pela negligência mundial.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;">Cultura Global fragmentada.</span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Não menos importante que a expansão dos processos econômicos e sua interdependência internacional aplicada ao comércio, ao investimento externo, ao fluxo monetário e às migrações populacionais, a de expansão internacional os processos de natureza cultural estão se tornando globais. As atitudes dos jovens de Ladakh a Lisboa, da China ao Peru, enfim nos quatro cantos do mundo estão semelhantes, seja no uso do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">jeans</i>, no penteado, nos mesmos gostos para música, nos hábitos alimentares ou em relação à sexualidade, ao divórcio e ao aborto. Também romperam as fronteiras e tornaram-se crimes globais o trafico de drogas, o abuso e a violência sexuais, a fraude e a corrupção.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Contribuições culturais nesse processo de mundialização cultural não são prerrogativa de um só país, elas vêem dos quatro cantos do mundo e exercem grande pressão para penetrar outras culturas, à exemplo da cultura popular mundial na música, no cinema, na televisão, na moda. O perigo, entretanto, reside dessa expansão da cultura de massa popular, onde o tamanho e a escala dos meios de comunicação ditam o conteúdo a ser divulgado, muitas vezes em detrimento dos desejos e dos interesses das minorias, afetando assim não só o interesse das elites, mas dos homens e mulheres comuns. A diferença deve residir na diversidade e a oportunidade para que uma ampla gama de vozes possa ser ouvida no público mundial. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Porém, "a impressão de uniformidade global é ilusória". A mundialização é, em si, uma processo desigual e assimétrico: não reduz as incertezas, as inseguranças e a entropia do sistema mundial. No mundo pós-guerra-fria, a consciência dessa realidade tem gerado algumas reações contra os padrões uniformizados de informação e de consumo que são muitas vezes mal aceitos, principalmente na Europa Central e Oriental. Os povos voltam-se para a cultura como um meio de autodeterminação e de mobilização, e reafirmam seus valores culturais locais. Assim como os mais pobres, onde seus valores culturais são muitas vezes o único bem que eles possuem, sua identidade, continuidade e sentido de vida. <br />
É, uma reação contra os efeitos alienantes da moderna tecnologia de larga escala e da distribuição desigual dos benefícios da industrialização, e, uma preocupação como a perda de identidade, do sentido de comunidade e dos valores pessoais advindos do desenvolvimento.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">O caráter dinâmico e evolutivo da Cultura e seu papel de indenidade provocam conflitos, pois muitos grupos desejam retornar as suas tradições antigas ou mesmo mantê-las na forma de um retorno ao tribalismo, ao passo que muitas pessoas desejam participar da "modernidade" dentro de suas próprias tradições. Assim, alguns aspectos tradicionais merecem ser preservados integralmente, na medido em que podem, como outros, ter um papel instrumental no processo de desenvolvimento econômico. Outros aspectos evoluirão para adaptar-se ao mundo em evolução e outros serão implantados de fora. Tradição pode significar às vezes estagnação, opressão, inércia, privilégios e práticas cruéis; modernização, por seu turno, pode significar alienação, anomia, exclusão e perda de identidade e do sentido de comunidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><br />
<table border="1" cellpadding="0" cellspacing="0" class="MsoNormalTable" style="border-bottom: medium none; border-collapse: collapse; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; margin: auto auto auto 3.5pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-insideh: .5pt solid windowtext; mso-border-insidev: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; mso-table-layout-alt: fixed;"><tbody>
<tr style="mso-yfti-lastrow: yes;"><td style="background-color: transparent; border-bottom: windowtext 1pt solid; border-left: windowtext 1pt solid; border-right: windowtext 1pt solid; border-top: windowtext 1pt solid; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; padding-bottom: 0cm; padding-left: 3.5pt; padding-right: 3.5pt; padding-top: 0cm; width: 441.65pt;" valign="top" width="589"><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Quando falamos em civilização mundial, o que temos em mente não é um único período histórico nem um único grupo de homens: empregamos o conceito abstrato, ao qual atribuímos um significado moral ou lógico. Moral, se pensarmos em objetivos perseguidos pelas sociedades existentes; lógico, se usarmos a noção para designar os traços comuns encontrados na análise de diferentes culturas. Tanto em um caso como em outro, não podemos fechar os olhos para o fato de que o conceito de civilização mundial é muito esquemático e imperfeito, e que se conteúdo intelectual e emocional é fraco. Tentar avaliar todas as contribuições culturais acumuladas durante vários séculos tão ricos em pensamentos, sofrimentos, esperanças e no trabalho criador de homens e mulheres, tendo como única referência a noção ainda vaga de civilização mundial, seria empobrecê-la sobremaneira, esvaziando-as de seu sangue e nada deixando senão ossos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A verdadeira contribuição de uma cultura consiste não na lista de invenções produzidas por indivíduos, mas na sua originalidade em relação às outras. O sentido de gratidão e de respeito que todo membro de uma determinada cultura ode e deve sentir em relação às outras deve estar baseado na convicção de que as outras culturas de distinguem de sua própria de várias maneiras, mesmo se a verdadeira essência das diferenças lhe escapa, ou a despeito de seus melhores esforços, ele só pode compreendê-las de forma apenas imperfeita.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Portanto, a noção de civilização mundial só pode ser aceita como um tipo de conceito-limite, ou como uma forma esquemática de designar um processo altamente complexo. Não há, nem haverá, uma civilização mundial no sentido absoluto em que esse termo é usado, pois a civilização implica a coexistência de culturas dotadas de um vasto espectro de diversidade; na verdade, a civilização consiste nessa coexistência. Uma civilização mundial poderia, de fato, representar simplesmente uma coalizão de culturas em escala mundial, cada uma das quais preservaria sua própria originalidade.</span></span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: right;"><span style="font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Claude Lévi-Strauss</span></span></div></td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O PATRIMÔNIO CULTURAL A SERVIÇO DO DESENVOLVIMENTO</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;">O patrimônio tangível e o patrimônio intangível.</span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">As riquezas herdadas por nossa geração, e, de nossa responsabilidade na transmissão para as futuras gerações, constituem-se de recursos culturais tangíveis e intangíveis e são essencialmente não renováveis. Trata-se da memória coletiva e de identidade de comunidades de todo o mundo. A proteção desse patrimônio cristalizou-se primeiro nos bens tangíveis (monumentos e sítios históricos), sendo estes os principais beneficiários da noção de preservação do patrimônio. Entretanto o patrimônio intangível não teve a mesma sorte. A idéia de patrimônio em toda parte conforma-se a um único modelo dominado por critérios estéticos e históricos, privilegiam a elite e o masculino; merecem atenção e respeito o monumental em detrimento do simples, o literário em detrimento do oral, o cerimonial em detrimento do cotidiano, o sagrado em vez do profano. Somente por meio da preservação dos elementos intangíveis é possível considerar as culturas autóctones de uma perspectiva histórica.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Há um sentimento dos que consideram o patrimônio cultural e natural, em todos os seus aspectos, não tem sido utilizado e valorizado de forma ampla e efetiva como poderia, nem tem sido gerido com a devida sensibilidade. Embora pareça haver um investimento cada vez maior no "futuro do passado", existe um diferença entre a retórica e a prática, principalmente quando se trata de avaliar o que tem sido efetivamente preservado, e em que estado. Na medida que o conceito de patrimônio amplia-se com novas categorias, numa espécie de inflação, há mais o que preservar a também há mais problemas a serem geridos. A questão que se apresenta tem haver com as possibilidades finitas e trata especificamente de como proceder escolhas e quem decide? Sabendo que o dinheiro e a energia poderiam ser empregados para satisfazer as necessidades básicas das pessoas levanta outras questões: O que deve ser preservado e a quem cabe decidir? Quais serão os critérios? Estarão sendo observados e reconhecidos as necessidades específicas do diversificado patrimônio cultural e natural?</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;">Patrimônio cultural e economia: Vantagens e armadilhas</span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">A preservação histórica, já nos anos 70, foi uma das primeiras áreas culturais a receber recursos financeiros por ser um setor que se justificava economicamente. A reutilização dos centros históricos, após readaptados, freqüentemente como museus, foi considerada eficiente em termos de custo-benefícios. A idéia de "conservação com desenvolvimento", encontrou adesão em todo o mundo e ganhava legitimidade teórica e prática. Porém essa união entre oportunidades econômicas desvinculadas dos sistemas de valores representados pela conservação, não foram muito felizes. A conservação não poderia ser bem-sucedida se as relações entre espaço construído e fatores como a qualidade da infra-estrutura urbana, a propriedade do solo urbano, o crescimento e a densidade demográfica, a disponibilidade de habitações, a saúde e a pobreza urbana não forem levados em consideração.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Uma abordagem de "cima para baixo", um planejamento urbano imposto por estruturas burocráticas, criadas ainda no período colonial, onde a ênfase dessa instituições era sepultar o passado. Em conseqüência, o distanciamento dessas instituições com o povo gerou um hiato até hoje observado. O patrimônio assim, é considerado propriedade do Estado e não do povo. Os recursos escassos do estado relegam, então, esses patrimônios ao quase esquecimento, apresentado diversos estados de conservação, quando não são invadidos por populações "sem-teto" ou comerciantes irregulares. Já os patrimônios não tombados freqüentemente vão a ruína total.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">O pós independência e o flagelo do paradigma modernista na arquitetura e no urbanismo conduziu a demolição de trechos inteiros das cidades pré-coloniais. O recife não foi exceção.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Nem o sentimento nacional, tampouco a iniciativa privada aproximaram-se da idéia de patrimônio histórico como fonte de identidade, em contrário, o hiato fora acentuado.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Abordagens populares sobre o assunto têm gerado experiências de desenvolvimento comunitário e melhoria da qualidade de vida em níveis economicamente realistas e tecnicamente apropriados. Novas instituições têm auxiliado as comunidades locais a gerir a conservação cultural. O retorno mais durável do investimento não tem sido financeiro e sim educacional e social. O custo preservação de patrimônio histórico em áreas de grande pobreza enfrenta dificuldades de justificação orçamentária. Nesse aspecto está sendo de grande importância o papel das organizações não governamentais, muitas vezes melhor sucedidas na captação de recursos externos.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">O turismo, no seu turno, está se tornando rapidamente a maior industria mundial, e é no patrimônio cultural que ele encontra grande parte de sua força vital. A simbiose desses conceitos conduz ao surgimento da conhecida "industria do patrimônio, o que gera certa preocupação pela possibilidade do patrimônio cultural vir a se tornar um bem a serviço do turismo, degradando-o e dilapidando-o. Muitos já são os casos de efeitos catastróficos na conservação e ao tecido social e ambiental de vários sítios em função do número excessivo de turistas.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;">A identificação e a interpretação.</span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">A reavaliação do que se define hoje como patrimônio em diferentes culturas, em termos de seu uso, de proteção e de manutenção, faz-se urgentemente necessário, visto que nenhum quadro conceitual pode ser aplicado a todas as diferentes condições locais, bem como, não existe nenhum método científico que se apoie na experiência existente e nos novos conhecimentos adquiridos para conservar e restaurar patrimônios geoculturais distintos. O simples fato, por exemplo, de definir uma construção dotada de patrimônio histórico ou cultural, implica coloca-la uma pouco à parte da vida cotidiana que se apresenta no palco do ambiente construído, porém muito distante da elite, cultural e topograficamente, contribuindo para a decadência do contexto físico e social onde se encontram esses elementos. Em outras palavras a definição de conservação de um patrimônio<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>carece de uma identificação apropriada de suas arquitetura com base na família estilística a qual pertence, e do manuseio sensível dos elementos dentro de seu quadro.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">A identificação e a interpretação do patrimônio passa, então por, por uma série de intermediários entre o Estado e o público e incluem universidades e institutos de pesquisa capazes de fornecer conhecimento científico e compreensão do significado do patrimônio. A igreja também é peça importante nessa identificação, pois é parte de um culto vivo, e a consciência da dimensão religiosa é necessária para que o apoio social seja adequadamente<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mobilizado. Esse conhecimento é necessário para que o objeto não seja desviado do seu contexto, o que levaria a uma compreensão incompleta do objeto. O tangível somente pode ser interpretado pelo intangível, entretanto a retórica e a prática internacionais tem limitado o patrimônio a dimensão tangível. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">De fato, nos<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>atos políticos de evocação aberta as complexidades das provas culturais tendem a concentrar-se exclusivamente em objetos altamente simbólicos em detrimento de formas populares de expressão cultural ou da verdade histórica, condensando e simplificando de forma radical a realidade. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Talvez esses símbolos só sejam importantes se as ideologias políticas forem utilizadas para causas justas como instrumento de libertação da opressão, em vez de serem, como são, freqüentemente utilizados para resgatar direitos legítimos para uns, e negá-los a outros.</span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Arial;">---------------------------------------////////////////////----------------------------------------</span></div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-75948284633023935402010-09-27T14:54:00.001-07:002010-09-27T14:54:08.031-07:00Consumo dos espaços históricos. Bairro do Recife x Pelourinho<div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;"><em><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Natália Vieira, Pernambuco</span></span></em></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Depois de uma busca desenfreada por símbolos de modernidade, parece ocorrer uma espécie de pânico pela falta de memória das cidades. Além disso, não se pode ignorar a presença marcante da Indústria Turística, hoje celebrada como a grande solução para os nossos problemas econômicos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Cidades inteiras vêm se transformando com o objetivo de atrair turistas, levando a uma sensação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">estranhamento</i> dos antigos moradores ao transformar tudo <personname productid="em espet£culo. O" w:st="on">em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">espetáculo.</i> O</personname> turista passa a ser um espectador passivo, quase sempre tratado como mero consumidor. Os pacotes turísticos são uma evidência disto ao controlar e delimitar todas as ações do turista, que acaba não percebendo a identidade do lugar.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Assim, na competitividade entre cidades característica do mundo globalizado, a História passa a ser mercadoria de alto valor, procurada por ávidos consumidores de "cultura". A conseqüência disto nem sempre é a preservação da memória, mas a criação de locais pretensamente históricos como revitalizações que transformam centros históricos em "shoppings a céu aberto", ou seja, parques temáticos que fazem de nossas cidades verdadeiras <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Disneylândias</i>.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">O marketing realizado pelos estados e municípios utiliza-se de ferramentas como a estética urbana e a identidade cultural local para auxiliar na venda do seu<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> produto</i>: a cidade. Vendendo ao país inteiro através da mídia a idéia do "progresso" e "modernidade", os governantes conseguem aumentar sua popularidade e obtêm importantes dividendos políticos, sem atacar de frente as mais urgentes questões sociais. A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">maquiagem</i> parece funcionar melhor.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">É preciso, então, buscar uma efetiva preservação da memória, não se permitindo a transformação de lugares da cidade em "não-lugares" que poderiam estar em qualquer parte do mundo. O que caracteriza um lugar são suas bases regionais, sua população e a relação com o restante da cidade A dificuldade está em conseguir a real preservação dentro deste contexto.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Experiências como a revitalização do Bairro do Recife demonstram grandes avanços. Infelizmente, exemplos como a recuperação do Pelourinho vêm tendo muito mais espaço na mídia, que o apresenta como modelo a ser seguido. O que se observa é um bem sucedido marketing político, pois os comentários constantemente publicados sobre o Pelourinho são, em sua maioria, superficiais e carentes de postura crítica. Não se comenta, por exemplo, sobre a expulsão "disfarçada" da população local a custos baixíssimos. Estudos acadêmicos também já provaram que o alardeado "sucesso turístico extraordinário" é muito mais folclore do que realidade.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">O caso do Bairro do Recife demonstra uma nova postura frente à história sem negar a necessidade de dar valor de mercado ao espaço. No Bairro do Recife, o processo é lento e gradual, possuindo maiores condições de sustentabilidade. Ao lado dos 2,7 milhões de reais investidos pela prefeitura, a iniciativa privada investiu 2,8 milhões, entre 1994 e 1996, demonstrando uma forte parceria. À medida que diversos atores se envolvem no processo, ninguém tem interesse que o projeto dê para trás.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">No Pelourinho o processo é unilateral e até hoje mantido às custas dos cofres do Estado, que financia inclusive a programação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">shows</i> nos diversos palcos armados. Já que tudo que acontece lá é conseqüência de um investimento alto e permanente do Estado, a situação é artificial e será mantida enquanto o Estado puder financiá-la.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Atualmente, o Bairro do Recife é um dos lugares da cidade mais freqüentados à noite. É certo que faltam atividades que lhe dêem mais vida durante o dia, apesar de já existirem escritórios, bancos, livraria, cursos... Para não se tornar uma obra de fachada, como parece ser o caso do Pelourinho, o projeto do Bairro do Recife deve se concentrar em problemas substanciais como o estímulo ao uso residencial e o tratamento do pólo Pilar, área de maiores problemas sociais do Bairro e que, exatamente por isso, deve ser priorizada. Sendo assim, a revitalização do Bairro do Recife encontra-se em um ponto crucial, a partir do qual pode tanto confirmar sua opção pelo bem-estar da cidade quanto render-se às forças do mercado, continuando a investir apenas nas áreas de retorno imediato.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">É inegável que os espaços necessitam de valor de uso para que sejam conservados, mas estes usos e esta vida não podem ser artificiais. Muitos estudos críticos alertam para a falta de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">vida de verdade</i> da nossa sociedade, mas grande parte da população é seduzida por este processo de construção de cenários sem perceber a superficialidade disso tudo. Entre teoria e prática também existe uma longa distância; mesmo depois de perceber essa artificialidade, quem está disposto a se arriscar na vida de verdade, a não ser quem não tem a opção de participar da vida artificial?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt;">Natália Miranda Vieira</span></b><span style="font-size: 10pt;"> - arquiteta formada pela UFPE, atualmente matriculada no Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da UFBA, estando em fase de elaboração da dissertação de mestrado intitulada "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O lugar da história e da memória na cidade contemporânea - estudo de caso comparado: revitalização do Bairro do Recife x revitalização do Pelourinho" </i></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-3903523261653581392010-09-27T14:53:00.001-07:002010-09-27T14:53:47.835-07:00Consumo dos espaços históricos. Bairro do Recife x Pelourinho<div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;"><em><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Natália Vieira, Pernambuco</span></span></em></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Depois de uma busca desenfreada por símbolos de modernidade, parece ocorrer uma espécie de pânico pela falta de memória das cidades. Além disso, não se pode ignorar a presença marcante da Indústria Turística, hoje celebrada como a grande solução para os nossos problemas econômicos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Cidades inteiras vêm se transformando com o objetivo de atrair turistas, levando a uma sensação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">estranhamento</i> dos antigos moradores ao transformar tudo <personname productid="em espet£culo. O" w:st="on">em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">espetáculo.</i> O</personname> turista passa a ser um espectador passivo, quase sempre tratado como mero consumidor. Os pacotes turísticos são uma evidência disto ao controlar e delimitar todas as ações do turista, que acaba não percebendo a identidade do lugar.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Assim, na competitividade entre cidades característica do mundo globalizado, a História passa a ser mercadoria de alto valor, procurada por ávidos consumidores de "cultura". A conseqüência disto nem sempre é a preservação da memória, mas a criação de locais pretensamente históricos como revitalizações que transformam centros históricos em "shoppings a céu aberto", ou seja, parques temáticos que fazem de nossas cidades verdadeiras <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Disneylândias</i>.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">O marketing realizado pelos estados e municípios utiliza-se de ferramentas como a estética urbana e a identidade cultural local para auxiliar na venda do seu<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> produto</i>: a cidade. Vendendo ao país inteiro através da mídia a idéia do "progresso" e "modernidade", os governantes conseguem aumentar sua popularidade e obtêm importantes dividendos políticos, sem atacar de frente as mais urgentes questões sociais. A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">maquiagem</i> parece funcionar melhor.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">É preciso, então, buscar uma efetiva preservação da memória, não se permitindo a transformação de lugares da cidade em "não-lugares" que poderiam estar em qualquer parte do mundo. O que caracteriza um lugar são suas bases regionais, sua população e a relação com o restante da cidade A dificuldade está em conseguir a real preservação dentro deste contexto.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Experiências como a revitalização do Bairro do Recife demonstram grandes avanços. Infelizmente, exemplos como a recuperação do Pelourinho vêm tendo muito mais espaço na mídia, que o apresenta como modelo a ser seguido. O que se observa é um bem sucedido marketing político, pois os comentários constantemente publicados sobre o Pelourinho são, em sua maioria, superficiais e carentes de postura crítica. Não se comenta, por exemplo, sobre a expulsão "disfarçada" da população local a custos baixíssimos. Estudos acadêmicos também já provaram que o alardeado "sucesso turístico extraordinário" é muito mais folclore do que realidade.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">O caso do Bairro do Recife demonstra uma nova postura frente à história sem negar a necessidade de dar valor de mercado ao espaço. No Bairro do Recife, o processo é lento e gradual, possuindo maiores condições de sustentabilidade. Ao lado dos 2,7 milhões de reais investidos pela prefeitura, a iniciativa privada investiu 2,8 milhões, entre 1994 e 1996, demonstrando uma forte parceria. À medida que diversos atores se envolvem no processo, ninguém tem interesse que o projeto dê para trás.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">No Pelourinho o processo é unilateral e até hoje mantido às custas dos cofres do Estado, que financia inclusive a programação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">shows</i> nos diversos palcos armados. Já que tudo que acontece lá é conseqüência de um investimento alto e permanente do Estado, a situação é artificial e será mantida enquanto o Estado puder financiá-la.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Atualmente, o Bairro do Recife é um dos lugares da cidade mais freqüentados à noite. É certo que faltam atividades que lhe dêem mais vida durante o dia, apesar de já existirem escritórios, bancos, livraria, cursos... Para não se tornar uma obra de fachada, como parece ser o caso do Pelourinho, o projeto do Bairro do Recife deve se concentrar em problemas substanciais como o estímulo ao uso residencial e o tratamento do pólo Pilar, área de maiores problemas sociais do Bairro e que, exatamente por isso, deve ser priorizada. Sendo assim, a revitalização do Bairro do Recife encontra-se em um ponto crucial, a partir do qual pode tanto confirmar sua opção pelo bem-estar da cidade quanto render-se às forças do mercado, continuando a investir apenas nas áreas de retorno imediato.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">É inegável que os espaços necessitam de valor de uso para que sejam conservados, mas estes usos e esta vida não podem ser artificiais. Muitos estudos críticos alertam para a falta de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">vida de verdade</i> da nossa sociedade, mas grande parte da população é seduzida por este processo de construção de cenários sem perceber a superficialidade disso tudo. Entre teoria e prática também existe uma longa distância; mesmo depois de perceber essa artificialidade, quem está disposto a se arriscar na vida de verdade, a não ser quem não tem a opção de participar da vida artificial?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt;">Natália Miranda Vieira</span></b><span style="font-size: 10pt;"> - arquiteta formada pela UFPE, atualmente matriculada no Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da UFBA, estando em fase de elaboração da dissertação de mestrado intitulada "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O lugar da história e da memória na cidade contemporânea - estudo de caso comparado: revitalização do Bairro do Recife x revitalização do Pelourinho" </i></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-10542693207074345792010-09-27T14:51:00.003-07:002010-09-27T14:51:42.570-07:00Condição Pós Moderna<h3 style="margin: 6pt 0cm; text-align: right;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-style: normal;">(David Harvey)</span><em> Por: Marcos Vinicius Simão</em></span></span></h3><div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: right;"><br />
</div><h1 style="margin: 6pt 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: small;">Resenha</span></h1><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Parte II – A transformação político-econômica do capitalismo do final do século XX</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Introdução</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Transformações e sinais de modificações radicais no processos de trabalho, hábitos de consumo, configurações geográficas e geopolíticas, poderes de práticas do Estado. Estas modificações de conceitos, marcam a transição do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">regime de acumulação</i> e no modo de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">regulamentação social e política</i> a ele associado e descreve a estabilização da alocação do produto líquido entre consumo e acumulação, implicando alguma correspondência entre a transformação tanto das condições de produção como das condições de reprodução de assalariados. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Materializa o regime de acumulação, formando normas, hábitos, leis, redes de regulamentação etc. Estas regras tomam nome de modo de regulamentação.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Divididos em duas áreas de dificuldades num sistema econômico capitalista a serem negociadas com sucesso para que o sistema permaneça viável. Sendo a primeira a fixação de preço e a segunda o emprego da força de trabalho e garantia da adição do valor na produção.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A fixação de preço, controlados pelos produtores que coordena as decisões de produção de acordo com as necessidades do consumidor, o que não garante a um crescimento estável do capitalismo, sendo necessário regulamentações e intervenções do Estado para compensar a falhas do mercado (dados a meio ambiente e social).</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">As pressões exercidas pelo estado e outras instituições<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(religiosas, políticas, patronais e culturais) e outras de domínio do mercado pelas grandes corporações afetam de forma vital a dinâmica do capitalismo. Podendo ser diretas (imposição de salários e preços) ou indiretas (propaganda subliminar e incorporação de novos conceitos de necessidade e desejos básicos da vida).</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A segunda arena de dificuldades concerne a conversão da capacidade das pessoas de realizarem um trabalho num processo produtivo que possam ser apropriados pelos capitalistas. Todo trabalho requer concentração, autodisciplina, familiarização com o processo de transformação de matéria prima em produto acabado. Entretanto, o trabalho assalariado põe boa parte do conhecimento e processo decisório a parte do controle das pessoas que de fato executam o trabalho, envolvendo sempre alguma mistura de repressão, familiarização, cooptação e cooperação advindas da educação, treinamento, persuasão e mobilização de certos sentimentos sociais que, estão imbuídos de conceitos como a ética do trabalho, lealdade aos companheiros, orgulho local e nacional - propensões psicológicas – a busca da identidade através do trabalho, etc. Todos claramente presentes na formação das ideologias dominantes cultivadas pelos vários setores do aparelho do Estado, meios de comunicação de massa, instituições religiosas e educacionais.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Aqui o “modos de regulamentação” trata os problemas da força do trabalho para propósitos da acumulação do capital, que vai de <metricconverter productid="1945 a" w:st="on">1945 a</metricconverter> 1973, formado por um conjunto de práticas de controle do trabalho, tecnologias, hábitos de consumo e configurações de poder político-econômico que pode ser chamado de fordismo-keynesiano. A partir de 1973 os novos sistemas de produção e marketing, caracterizados por processos de trabalho e mercados mais flexíveis, de mobilidade geográfica e de rápidas mudanças práticas de consumo marcam um período de rápidas mudanças de fluidez e incertezas. No entanto não está claro que os novos sistemas garantam um novo regime de acumulação nem se o renascimento do empreendimento e do neoconservadorismo, associado a virada cultural para o pós-modernismo, garanta o título de um novo modo de regulamentação.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Não se pode confundir mudanças efêmeras com mudanças profundas, mas há fortes sinais de mudanças nas práticas político-econômicas da atualidade e as do período de expansão do pós-guerra, suficientes para justificas a hipótese de uma passagem do fordismo para o que poderia ser chamado de regime de acumulação flexível.</span></span></div><h2 style="margin: 6pt 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">O fordismo </span></h2><div class="MsoBodyText" style="margin: 6pt 0cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">Distingui do taylorismo, que, descrevia como a produtividade do trabalho podia ser radicalmente aumentada através da decomposição de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organização de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento, pela reconhecimento explícito a produção de massa significava consumo de massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma uma nova sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista. Ford acreditava que o novo tipo de sociedade poderia ser construído simplesmente com a aplicação adequada ao poder corporativo. Dar aos trabalhadores renda e tempo de lazer suficientes para que consumissem os produtos produzidos em massa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Porém para que estes conceitos fossem aceitos era necessário romper; primeiro com as relações de classe no mundo capitalista que dificilmente aceitariam um sistema de produção que se apoiavam tanto na familiarização do trabalhador com longas horas de trabalho puramente rotinizado, exigindo pouco das habilidades manuais tradicionais e concedendo um controle quase inexistente ao trabalhador sobre o projeto, o ritmo e a organização do processo produtivo; segundo, foi necessário conceber um novo modo de regulamentação para atender aos requisitos da produção fordista. Foi preciso o cheque da depressão selvagem e do quase-colapso do capitalismo na década de 30 para que as sociedades capitalistas chagassem a alguma nova concepção da forma e do uso dos poderes do Estado. Este último só foi resolvido<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>depois de 1945, levando o fordismo a maturidade como regime de acumulação plenamente acabado e distintivo, permanecendo assim, mais ou menos intacto até 1973.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Para compreender este período, iniciado no pós-guerra e transição ocorrida a partir de 1973, é necessário saber como o fordismo se associou ao keynesianismo para levar o capitalismo a um surto de expansões internacionalistas que atraiu para sua rede inúmeras nações descolonizadas.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A ascensão das industrias baseadas em tecnologias amadurecidas se tornaram os propulsores do crescimento econômico, concentrando-se numa série de regiões de grande produção da economia mundial. Outra coluna estava na reconstrução patrocinada pelo Estado de economias devastadas pela guerra. Coordenados por centros financeiros interligados, tendo como ápice da hierarquia os Estados Unidos e Nova Iorque, regiões chave da economia mundial não comunista que buscavam dominar o mercado mundial de massa crescentemente homogêneo com seus produtos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O estado teve de assumir novos papéis e construir novos poderes institucionais; o capital corporativo teve de se ajustar para seguir com mais suavidade a trilha da lucratividade segura; o trabalho organizado teve de assumir novos papéis e funções relativos ao desempenho nos mercados de trabalho e nos processos de produção. O equilíbrio de poder que prevalecia entre o trabalho organizado, o grande capital corporativo e a nação-Estado, e que formou a base de poder da expansão de pós-guerra, não foi alcançado por acaso. A derrota dos movimentos operários radicais que ressurgiram no período pós-guerra<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>imediato, por exemplo, preparou o terreno político para os tipos de controle do trabalho e de compromisso que possibilitaram o fordismo.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Mas há registros de súbitas irrupções de descontentamento, mesmo entre os trabalhadores afluentes, para sugerir que isso pode ser mais uma adaptação superficial do que uma reformulação total das atitudes dos trabalhadores com respeito à produção em linha de montagem. O problema perpétuo do trabalho rotinizado.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O fordismo do pós-guerra tem de ser visto menos como um mero sistema de produção em massa do que como um modo de vida total. Produção em massa significa padronização do produto e consumo de massa. O fordismo também se apoiou na, e contribuiu para a, estética do modernismo.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Assim a expansão internacional do fordismo ocorreu numa conjuntura particular<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de regulamentação político-econômico mundial e uma configuração geo-política em que os Estados Unidos dominavam por meio de um sistema bem distinto de alianças militares e relação de poder.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Nem todos, entretanto, eram atingidos pelos benefícios do fordismo, havendo sinais abundantes de insatisfação. As desigualdades geravam movimentos que giravam em torno da maneira pela qual a raça, o gênero e a origem étnica costumavam determinar quem tinha ou não acesso ao emprego privilegiado. Acrescenta-se a isso todos os insatisfeitos do Terceiro Mundo, com um processo de modernização que prometia desenvolvimento, emancipação das necessidades e plena integração ao fordismo, mas que, na prática, promovia a destruição de culturas locais, muita opressão e numerosas formas de domínio capitalista em troca de ganhos insignificantes no padrão de vida e de serviços públicos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A despeito de todos os descontentamentos e de todas as tensões manifestas, o regime permaneceu estável até mais ou menos 1973, quando então a aguda recessão daquele ano abalou o quadro e um rápido processo de transição do modelo de acumulação teve início, apesar de, ainda, não ser bem entendido.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Do fordismo à Acumulação Flexível</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Já nos meados da década de 60 haviam indícios de problemas sérios no fordismo. A recuperação da Europa e Japão demandava mercados externos, visto a saturação interna, num período em que o sucesso da racionalização fordista deslocava um número cada vez maior de trabalhadores da manufatura. O problema fiscal dos USA solapara o papel do dólar. A formação do eurodólar, a contração do crédito no período 1966-1997 eram sinais da redução do poder norte-americano de regulamentação do sistema financeiro internacional. Época em que as políticas de substituição de importações em muitos países de Terceiro Mundo geraram uma onda de industrialização fordista competitiva em ambientes inteiramente novos, nos quais o contrato social com o trabalho era fracamente respeitado ou inexistente.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O período de <metricconverter productid="1965 a" w:st="on">1965 a</metricconverter> 1973 tornou evidente a incapacidade do fordismo e do keynesianismo de conter as contradições inerentes ao capitalismo. Dificuldades apreendidas por uma palavra: rigidez. Rigidez dos investimentos de capital fixo de larga escala e de longo prazo em sistemas de produção de massa que impediam muita flexibilidade de planejamento e presumiam crescimento estável em mercados de consumo invariantes. Rigidez na alocação e nos contratos de trabalho o que explica as ondas de greve e os problemas trabalhistas do período 1968-1972. Rigidez dos compromissos do Estado foi se intensificando à medida<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que programas de assistência<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>aumentavam sob pressão para manter a legitimidade<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>num momento<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>em que a rigidez na produção restringia expansão da base fiscal para gastos públicos. O único instrumento de resposta flexível estava<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>na política monetária, na capacidade de imprimir moeda para manter a economia estável. Começou assim a onda inflacionária que acabaria por afundar a expansão do pós-guerra.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A profunda recessão de 1973, exacerbada pelo choque do petróleo, evidentemente, retirou o mundo capitalista do sufocante estado de estagflação e pôs em movimento<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>um conjunto de processos que solaparam o compromisso fordista, representando o primeiro ímpeto da passagem para um regime de acumulação inteiramente novo, associado com um sistema de regulamentação política e social bem distinta. Trata-se da acumulação flexível. Marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo e apoiada na flexibilidade dos processos de trabalho, nos processos de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando um vasto movimento de emprego no chamado setor de serviços, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O aumento do poder de flexibilidade permite aos empregadores exercer maior pressão de controle do trabalho sobre uma força de trabalho já enfraquecida por dois surtos de deflação. A acumulação flexível parece implicar níveis relativamente altos de desemprego “estrutural”, rápida destruição e reconstrução de habilidades, ganhos modestos de salários reais e o retrocesso do poder sindical – uma das colunas políticas do regime fordista. Mais importante é a aparente redução do emprego regular em favor do crescente uso do trabalho em tempo parcial, temporário ou subcontratação.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">As transformações no mercado de trabalho trouxe mudanças de igual importância na organização industrial, a subcontratação permitiu o surgimento de oportunidades para a formação de pequenos negócios, e em alguns casos, permite que sistemas mais antigos de trabalho doméstico, artesanal, familiar e paternalista revivam e floresçam, mas agora como peças centrais, e não apêndices de sistemas produtivos, porém, representando coisas diferentes em diferentes lugares.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Campo perigoso, com efeito, uma das grandes vantagens do uso dessas formas antigas de processo de trabalho e de produção pequeno-capitalista é o solapamento da organização da classe trabalhadora e a a transformação da base objetiva da luta de classes. Nelas, a consciência de classe já não deriva da clara relação de classe entre capital e trabalho, passando para um terreno muito mais confuso dos conflitos interfamiliares e das lutas pelo poder num sistema de parentesco ou semelhantes a um clã que contenha relações sociais hierarquicamente ordenadas.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Estas novas formas organizadas de produção, entretanto, colocaram em risco os negócios de organização tradicional, espalhando uma onda de quebradeira que ameaçou até as instituições mais poderosas. É a economia de escopo derrotando a economia de escala. Entretanto, o incremento da capacidade de dispersão geográfica de produção em pequena escala e de busca de mercados de perfil específico não levou necessariamente a diminuição do poder corporativo na medida em que as corporações bem organizadas tem evidentes vantagens competitivas sobre os pequenos negócios.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Num dos extremos da escala de negócios, a acumulação flexível levou a maciças fusões e diversificações corporativas. Muitos dos empregados das 500 maiores companhias norte-americanas hoje trabalham em linhas de atividades sem relação alguma com alinha primária de negócios com que a sua empresa esta identificada. O mais interessante<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>na situação atual é a forma como o capitalismo está se tornando cada vez mais organizado através da dispersão, da mobilidade geográfica e das respostas flexíveis nos mercados de trabalho, nos processos de trabalho e nos mercados de consumo, tudo isto acompanhado por pesadas doses de inovações tecnológicas, de produto institucional.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O acesso ao conhecimento científico e técnico sempre teve importância na luta competitiva; mas, também aqui, podemos ver uma renovação de interesse e de ênfase, já que, num mundo de rápidas mudanças de gostos e necessidades e de sistemas de produção flexíveis, o conhecimento da última técnica, do mais novo produto, da mais recente descoberta científica, implica a possibilidade de alcançar uma importante vantagem competitiva.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A desregulamentação do sistema financeiro, admitido explicitamente pela primeira vez pelo Relatório da Comissão Hunt norte-americana, veio como condição de sobrevivência e expansão do sistema econômico capitalista, após o trauma de 1973. Por volta de 1986, abrangeu todos os centros financeiros do mundo num sistema integrado, coordenado pela telecomunicações instantâneas introduzindo o tempo futuro no tempo presente.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Teorizando a transição</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A transição do fordismo para a acumulação flexível evocou sérias dificuldades para as teorias de todas as espécies mas há o consenso de que alguma coisa significativa mudou no modo de funcionamento do capitalismo a partir de mais ou menos 1970. Algumas visões das mudanças examinadas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>enfatiza os elementos positivos<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e liberatórios do novo empreendimentismo Halal (1986), outro acentua as relações de poder e a política com relação à economia e à cultura Lash e Urry (1987), o terceiro fornece mais detalhes sobre transformações no campo da tecnologia e do processo de trabalho, ao mesmo tempo que avalia como o regime de acumulação e suas modalidades de regulamentação se transformaram Swyngedouw (1986). Todos dão relevo as diferenças não às continuidades e a oposição é usada apenas como artifício didático. Contudo a acumulação flexível, continua a ser uma forma de capitalismo, podendo-se assim, esperar que algumas proposições básicas se mantenham. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O capitalismo é orientado para o crescimento. Pouco importa as conseqüências sociais, políticas, geopolíticas ou ecológicas, na medida em que a virtude é que o crescimento é tanto inevitável como bom. A crise é definida, em conseqüência, como falta de crescimento.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O crescimento se apoia na exploração do trabalho vivo na produção. O crescimento sempre se baseia na diferença ente o que o trabalho obtém e aquilo que cria. O capitalismo está fundado numa relação de classe entre capital e trabalho. Como o controle do trabalho +e essencial para o lucro capitalista, a dinâmica da luta de classes pelo controle do trabalho e pelo salário de mercado é fundamental para a trajetória do desenvolvimento capitalista.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O capitalismo é, por necessidade, tecnológica e organizacionalmente dinâmico. A mudança organizacional e tecnológica também tem papel-chave na modificação da dinâmica da luta de classe, no domínio dos mercados de trabalho e do controle do trabalho. Se o controle do trabalho é essencial para a produção de lucros e se torna uma questão mais ampla do ponto de vista do modo de regulamentação, a inovação organizacional e tecnológica no sistema regulatório se torna crucial para a perpetuação do capitalismo. Deriva em parte dessa necessidade a ideologia de que o “progresso” é tanto inevitável como bom.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Marx demostrou que estas três condições necessárias do modo capitalista de produção era inconsistente e contraditório e propenso a crises de superacumulação, definida como a condição de poder existir, ao mesmo tempo, capital ocioso e trabalho ocioso sem nenhum modo aparente de se unir estes recursos para o atingimento de tarefas socialmente úteis. A superacumulação é, então, uma tendência que nunca pode ser eliminada do capitalismo.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Heroicamente a vida e a política burguesa expressa que devem ser feitas escolhas para que a ordem social não se transforme em caos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Desvalorização de mercadorias, de capacidade produtiva, do valor do dinheiro. Em termos simples, desvalorização significa a “baixa” ou “cancelamento” do valor de estoques excedentes de bens ou a erosão inflacionária do poder do dinheiro. A força de trabalho também pode ser desvalorizada e até destruída.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O controle macroeconômico, por meio da institucionalização de algum sistema de regulação, pode conter o problema da superacumulação, talvez por um considerável período de tempo. Mas foi necessário uma grande crise de superacumulação para ligar a produção fordista a um modo keynesiano de regulamentação estatal antes de se poder garantir alguma espécie de crescimento macroeconômico estendido e equilibrado.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A absorção da superacumulação por intermédio<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>do deslocamento temporal e espacial oferece um terreno mais rico e duradouro, mas também muito mais problemático. O deslocamento temporal envolve seja um desvio de recursos da necessidades atuais para a exploração de usos futuros, seja uma aceleração do tempo de giro para que a aceleração de um dado ano absorva a capacidade excedente do ano anterior. O deslocamento espacial compreende a absorção pela expansão geográfica do capital e do trabalho excedente. Os deslocamentos tempo-espaciais têm um duplo poder no tocante à absorção do problema da superacumulação, particularmente na medida em que a formação do capital fictício é essencial ao deslocamento temporal e espacial. Emprestar dinheiro a América Latina para a construção de infra-estrutura de longo prazo ou para a compre de bens de capital que ajudem a gerar produtos por muitos anos é uma forma típica e forte de absorção da superacumulação.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Foi principalmente com o deslocamento espacial e temporal que o regime fordista de acumulação resolveu o problema da superacumulação no decorrer do longo período de expansão do pós-guerra. A crise do fordismo pode ser, então, interpretada até certo ponto com o esgotamento das opções para lidar com o problema da superacumulação. A solução. A monetarização, disparou-se a inflação, fazendo com que o endividamento perdesse drasticamente seu valor real.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Criou-se novos centros geográficos de acumulação – o sul e o oeste dos EUA,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a Europa e o Japão – seguido de países recém industrializados. A competição espacial aumentou ainda mais, em particular a partir de <metricconverter productid="1973 a" w:st="on">1973 a</metricconverter> medida<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que se esgotava a capacidade de se resolver o problema da superacumulação por meio<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>do deslocamento geográfico.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aqui, a acumulação flexível parece enquadrar-se como uma recombinação simples das duas estratégias de procura de lucro definidas por Marx chamadas de mais-valia absoluta e mais-valia relativa. A primeira apoia-se na extensão da jornada de trabalho com relação ao salário necessário para garantir a reprodução da classe trabalhadora num dado padrão de vida e a segunda apoia-se na mudança organizacional e tecnológica é posta em ação para gerar lucros temporários para firmas inovadoras e lucros mais generalizados com a redução dos custos dos bens que definem o padrão de vida do trabalho.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O desenvolvimento de novas tecnologias gerou excedente de força de trabalho que tornaram o retorno de estratégias absolutas de extração de mais valia mais viável mesmo nos países capitalistas avançados. O inesperado é o modo como as novas tecnologias de produção e as novas formas coordenantes de organização permitiram o retorno dos sistemas de trabalho doméstico, familiar e paternalistas que Marx tendia a supor que sairiam do negócio ou seriam reduzidos a condições de exploração cruel e de esforço desumanizante a ponto de se tornarem intoleráveis sob o capitalismo.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Acumulação Flexível – transformação sólida ou preparo temporário?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Afirmou-se<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>haver uma imensa mudança na aparência superficial do capitalismo a partir de 1973, objeto de alguns debates que parecem originar três posições amplas.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A primeira é a de que as novas tecnologias abrem a possibilidade de uma reconstituição das relações das relações do trabalho e dos sistemas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de produção em bases sociais, econômicas e geográficas inteiramente distintas. Vê um paralelo entre a atual conjuntura e a vigente em meados do século passado, onde o capital de larga escala expulsaram os empreendimentos corporativos de pequena escala que tinham potencial de resolver o problema de organização industrial segundo linhas descentralizadas e democraticamente controladas. Mas há muitas coisas regressivas repressivas nas novas práticas. Este retorno de interesse aos negócios de pequena escala, de trabalho duro e mau pago estão, entretanto, desempenhando papel importante no desenvolvimento econômico do final do século XX.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A segunda vê a idéia da flexibilidade como um ”termo extremamente poderoso que legitima um conjunto de práticas políticas”, mas sem nenhuma fundamentação empírica ou materialista forte nas reais fases de organização do capitalismo do final do século XX. Há contestações dos fatos que sustentam a idéia<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>da flexibilidade nos mercados de trabalho e na organização do trabalho e conclui que a descoberta da força de trabalho flexível é parte de uma ofensiva ideológica que celebra a complacência e a eventualidade, fazendo-as parecer inevitáveis. Acredita-se que quem promove a idéia da flexibilidade contribui conscientemente ou não para um clima de opinião – uma condição ideológica – que enfraquece os movimentos da classe trabalhadora. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Estas críticas introduzem algumas correções importantes no debate. O argumento de que há um agudo perigo de se exagerar a significação das tendências de aumento da flexibilidade e da mobilidade geográfica, deixando-nos cegos para a força que os sistemas fordistas de produção implantados ainda têm, merece cuidadosa consideração. As conseqüências ideológicas a políticas da superacentuação da flexibilidade no sentido estrito das técnicas e de relações de trabalho são sérias o bastante para nos levar a fazer sóbrias e cautelosas avaliações do grau do imperativo da flexibilidade. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A terceira define o sentido no qual o uso a idéia de uma transição do fordismo para a acumulação flexível, situa-se em algum ponto entre esses dois extremos. A atual conjuntura se caracteriza por uma combinação de produção fordista altamente eficiente em alguns setores e regiões e de sistemas de produção mais tradicionais que se apoiam<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>em relações de trabalho “artesanais”, paternalistas ou patriarcais que implicam mecanismos bem distintos de controle do trabalho. A natureza e a composição da classe trabalhadora global também se modificaram, o mesmo ocorrendo com as condições de formação de consciência e de ação política.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Há inclinação de ver a flexibilidade conseguida na produção, nos mercados de trabalho e no consumo antes como um resultado da busca de soluções financeiras para as tendências de crise do capitalismo do que o contrário. Isto implicaria que o sistema financeiro alcançou um grau de autonomia diante da produção real sem precedentes na história do capitalismo, levando este último a uma era de riscos financeiros igualmente inéditos. A inovação nos sistemas financeiros parece ter sido um requisito necessário para superar a rigidez geral, bem como a crise temporal, geográfica e até política peculiar em que o fordismo caiu no final da década de 60.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: justify;"><br />
</div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-35782801001436316692010-09-27T14:49:00.001-07:002010-09-27T14:49:15.286-07:00Aspectos da pobreza em velhos sobrados do centro do recife: aportes para uma discussão<div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: right; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><em><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Vera Borges de Sá</span></em><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Resumo:</span></b><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> Objetiva comparar características da pobreza das habitações coletivas do século XIX, especialmente dos sobrados encortiçados ou casas de cômodo, com aspectos atuais dessas moradias ainda hoje dominantes no centro do Recife. Descreve aspectos sóciodemográficos e o processo de urbanização dos bairros centrais da Recife, os primeiros que deram origem à cidade, mostrando que tem havido uma queda na densidade demográfica daquele espaço. A partir de autores como Gilberto Freyre, Antônio Paulo Rezende e José Antônio Gonsalves de Mello reporta-se à origem do cortiço, ao processo de urbanização holandês em Recife e suas influência no adensamento da população e visibilização das condições de vida dos sobrados. Afirma que a literatura que aborda sobre moradias coletivas no Brasil não produziu um conceito satisfatório sobre o que significa de fato "cortiço". Finalmente, apresenta breves trechos de discursos de moradores de um velho sobrado encortiçado no centro do Recife, sobre as motivações que os levaram a residir nesse tipo de habitação. Baseada na ótica de Milton Santos, defende que a essência do espaço não é a construção e sim o social. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">1. Características dos Bairros do Centro do Recife</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Os bairros centrais do município do Recife, são os locais onde se encontram vários cortiços e casas de cômodo ensobradados. Esses bairros são o de Recife ( mesmo nome da capital), Santo Antônio, São José, Boa Vista, Ilha do Leite, Soledade, Paissandu, Cabanga, Joana Bezerra, Santo Amaro e Coelhos. São os mais antigos da Cidade porque se originaram de um núcleo urbano primitivo no Porto do Recife. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Os bairros de Recife e Santo Antônio, formam o locus embrionário da expansão da cidade acontecida entre a segunda metade do século XVI e a primeira do século XVII. Até pouco antes da invasão holandesa acontecer, em 1630, o estabelecimento da moradia era Olinda para o povo da Província de Pernambuco. Instalados em Recife, por razões hipotéticas que são apontadas como, por exemplo, o fato de Olinda não favorecer ações militares pela topografia acidentada de morros e por possuir impedimentos comerciais portuários, ou ainda pela semelhança do Recife com as terras da Holanda, importante a ressaltar é que essa cidade foi sendo ocupada em seus espaços por soldados, colonos, habitantes de Olinda e imigrantes judeus. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">O processo de intervenção holandesa foi determinante na urbanização da parte central do Recife com a construção de pontes e redutos para impedir ataques por terra, além de ação planejada urbanisticamente feita por Pieter Post, encomendada por Maurício de Nassau e executada na Ilha Antônio Vaz ( hoje, bairro de São José). Esse processo de urbanização primeiramente seguiu em direção ao norte do Bairro do Recife, sentido de Olinda nas imediações em que hoje se encontram a Fortaleza do Brum e a Fábrica Pilar; também atravessou o Rio Capibaribe e ocupou parte da Ilha Antônio Vaz, atualmente bairros de Santo Antônio e São José. No governo holandês foram construídos ainda o Forte das Cinco Pontas e a ligação por dique deste forte ao Aterro dos Afogados, cuja área hoje é identificada como Rua Imperial.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">A partir dos holandeses o bairro denominado Recife foi se especializando como centro comercial, onde havia circulação de mercadorias em função da presença do porto e dos judeus comerciantes. Surgem, assim, os sobrados com o comércio localizado no térreo e a moradia nos andares superiores. A especialização do centro em setor de serviços e bancário, cada vez mais vai estimulando os residentes de sobrados a deixarem o centro com local de moradia, o que em parte favorece a deterioração dos imóveis, o aumento dos cortiços e das casas de cômodos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Essa perda de moradores proprietários de residências é algo que se constata no exame da densidade demográfica da Região do Centro que vem se reduzindo nas últimas décadas. Segundo o IBGE , em <metricconverter productid="1980 a" w:st="on">1980 a</metricconverter> população era de 89,7 mil pessoas, em 1991 era 83 mil. na Região do centro como um todo. A taxa de crescimento foi de - 0, 71% ao ano, ao contrário da taxa de + 0,69% registrada para a cidade do Recife que cresceu em população de 1.203 mil habitantes para 1.298 mil em 1991. Quanto aos níveis de renda, as tabulações especiais do censo demográfico do IBGE em 1991, mostram que há contrastes entre a renda média de um indivíduo que mora no bairro da Ilha de Joana Bezerra e a daquele que mora no bairro do Paissandu. Neste bairro, a renda é 11,7 vezes mais do que a renda de um habitante da referida Ilha. A do bairro da Boa Vista é 10 vezes maior que a do bairro da Ilha Joana Bezerra e 5 vezes mais que a renda de um habitante dos Coelhos. Já a população do bairro do Recife possui renda muito baixa, tal qual a dos Coelhos. E a renda do bairro de São José, que até a década de 40 era habitado pela classe média, hoje é um pouco inferior à renda desses últimos bairros. Em resumo, as condições de renda da população residente dos bairros centrais do Recife, podendo-se afirmar que vivem em pobreza relativa.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Do ponto de vista da infra-estrutura, os bairros centrais do Recife possuem condições de saneamento e de encanação das mais antigas por serem os primeiros bairros do Município, sendo privilegiados nesse aspecto. Sobre o abastecimento de água para o Recife é de 92, 99% para seus municípios. Dos 23 mil domicílios registrados em 1991, 17 mil, 73%, tinham acesso a água através da rede geral e com canalização interna. 3 mil tinham acesso a água sem canalização interna e outros 3 mil adotavam outra alternativa. O bairro do Recife, diferentemente dos outros, possui apenas 11% de ligações domiciliares e possui grande parte de seus moradores residindo em prédios antigos encortiçados. O bairro de Santo Antônio possui 43% de seus domicílios com abastecimento de água. Melhores condições de rede geral e canalização interna estão nos bairros da Boa Vista, Cabanga, Ilha do Leite, Soledade e Coelhos para 80% dos domicílios. O sistema de esgotamento sanitário é do tipo tradicional. Somente um terço dos domicílios da cidade do Recife têm seus esgotos coletados. Os bairros do centro em 1991 tinham 56,12% de seus domicílios ligados a rede geral de esgotamento sanitário ou com fossas sépticas. A precariedade está no bairro do Recife que possui apenas 4,6% de domicílios com esgotamento sanitário. Os bairros mais bem servidos de instalações sanitárias são os da Boa Vista, Santo Antônio e Soledade, em torno de 90%. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;">2. O Encortiçamento dos Sobrados no Recife</span></b><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Os cortiços no Recife constituem habitações em que o cotidiano da vida de seus moradores e sua inserção na pobreza urbana continuam sem merecido estudo sociológico. Essa moradia reflete a colonização holandesa no século XVII em Pernambuco na construção de sobrados urbanos que sobrepujaram a casa grande e a senzala da área rural, mas se transformaram <personname productid="em cortios. Segundo Gilberto" w:st="on">em cortiços. Segundo Gilberto</personname> Freyre, os cortiços aparecem com a maior urbanização do País, como sobrados em ruínas, sendo preferidos pelo proletariado estes, aos mocambos, que eram espécies de habitações cobertas com palhas de coqueiro ou palma. A origem do cortiço é atribuída ao Recife holandês. Esse período é considerado por Sérgio Buarque de Holanda e pelo próprio Gilberto Freyre como o primeiro momento do Brasil colonial a sedimentar um processo de urbanização e modernidade na vida de gente da colônia com hábitos agrícolas de influência portuguesa. A presença dos holandeses faz o Recife possuir, naquele momento, preocupações comerciais dominantes sobre às de ordem militar. A urbanização levada adiante pelo período nassoviano muda a paisagem do Recife com suas construções e centralidade no comércio, atraindo trabalhadores de toda espécie e, contando com as condições topográficas que favoreciam comprimir a população crescente em habitações verticalizadas em sua arquitetura. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Segundo José Gonsalves de Mello, o Recife era um simples burgo no século XVII completamente tomado por mangues e alagados. Burgo de marinheiros e de gente ligada ao serviço do porto; triste e sem vida própria para onde até a água tinha de vir de Olinda, quando os holandeses decidiram transformar em núcleo urbano com perfil de modernidade. A população civil do Recife e adjacências na época de Nassau, era de aproximadamente de 5 mil pessoas. Com uma área de <metricconverter productid="100.000 m2" w:st="on">100.000 m2</metricconverter> e uma população, somente no Recife, de 2.700 pessoas e alto índice de densidade demográfica, viveram-se aí problemas de moradia onde a construção de sobrados constituíram-se numa alternativa. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">O historiador Antônio Paulo Rezende ao analisar os aspectos do crescimento e da modernização da cidade do Recife no século XIX e no início do século XX, esclarece que as condições de vida precárias ameaçam a estrutura demográfica das cidades e atingem negativamente o bem-estar da maior parte da população, especialmente os pobres que vivenciam a insalubridade e as doenças. Segundo o Autor, várias cidades no começo de sua industrialização, registraram altos índices de doenças como varíola, febre amarela e tuberculose, que foram acontecimentos praticamente do século XIX na Europa. Sem esquecer ainda o adensamento populacional que vai tornar a questão da saúde pública algo de fundamental importância para a cidade moderna, como no caso de Londres no início do século. O interessante em Recife é que essa cidade já vivenciava tais aspectos desde o século XVII, ao tempo da invasão holandesa quando houve crescimento repentino de sua população numa área bastante restrita. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Habitação, condições de vida e saúde possuem laços estreitos de influencia numa cidade para onde acorrem número crescente de migrantes. As condições de vida da população não favoreciam a implantação de programas de saúde que tinham as pretensões de obter cem porcento de sucesso na tentativa de modernizar a cidade do Recife, a todo custo. José Lins do rego, citado por Rezende ( 1997, p. 48) descreve a moradia de uma pessoa pobre no Recife, narrando que um masseiro, a mulher e quatro filhos dormiam numa tapera cujas paredes eram de caixão e cobertas de zinco, custando a essa família um aluguel de doze mil réis por mês. A água do mangue entrava na casa quando a maré enchia, os maruins mordiam as crianças na dormida pela noite, e os urubus viviam por perto em busca de restos de comida. Os caranguejos eram aquilo que alimentava seus moradores , sendo essa a única vantagem de morar no mangue. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">No sobrado, as condições de higiene no século XIX não eram boas. O problema do destino das "águas servidas" era grave, pois era usual despejá-las de varanda abaixo sobre a cabeça de qualquer um que por ali estivesse passando por baixo do sobrado. Mario Sette , conta-nos que em 1831 uma posição municipal determinava que ninguém derramasse essas águas que não fosse à noite e repetindo um aviso prévio três vezes seguida: Água vai! Água vai! Água vai! Além de ser multado em 4$000 e pagar uma indenização pelos prejuízos causados. Mesmo assim, banhos malcheirosos continuavam a virem dos sobrados. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Mas é no século XIX que os cortiços são percebidos por higienistas e literatos, exatamente pela sua quantidade e forma de vida ali deflagrada. Em 1871, no Rio de Janeiro imperial dados do médico Correia de Azevedo, citado por Gilberto Freyre, chamava atenção para os erros sobre a ventilação e a umidade, estreiteza dos cômodos, etc. Erros coloniais cometidos nas construção das habitações da cidade e que facilitavam a vida subumana , especialmente nos cortiços. A quantidade de Cortiços no Rio de Janeiro em 1869 era de 642 com <metricconverter productid="9.671 quartos" w:st="on">9.671 quartos</metricconverter> habitados por 21.929 pessoas; 13.555 homens e 8.374 mulheres; 16.852 adultos e 5.077 menores. a porcentagem dos cortiços era de3, 10% e a sua população de 9,655 elevando-se em <metricconverter productid="1888 a" w:st="on">1888 a</metricconverter> 3,96% e 11,72%. No Recife os sobrados de três andares tornaram-se comuns desde o século XVII, como um meio das casas continuarem grandes e satisfazerem muitas das necessidades patriarcais sem se espalharem para os lados. em salvador , no Rio de Janeiro , na capital de São Paulo, <personname productid="em Ouro Preto" w:st="on">em Ouro Preto</personname>, os sobrados parecem ter variado entre um e dois andares, alguns indo a três, no Rio de Janeiro raros a quatro ou cinco, na Bahia; no Recife é que chegaram a cinco e até seis andares. Contudo interessa menos a estrutura física desses espaços do que a compreensão do que significam as pessoas que habitam esse território feito de discriminações e de segregação como se aí fosse um outro mundo dentro da cidade. É necessário perceber o espaço como o lugar que interfere diretamente no valor de cada indivíduo. Para Milton Santos, a essência do espaço é social e este não é apenas formado pelas coisas e objetos geográficos, naturais e artificiais, cujo conjunto nos dá a Natureza, é tudo isso , mais a sociedade. (Milton Santos, citado por Rubens de Toledo Júnior). </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Pelas moradias dos principais centros urbanos no Brasil,, do final de século XIX e início do século XX pode-se verificar que são as classes populares aquelas que foram ocupando os espaços irregulares da cidade. Segundo Maria Cristina Cortez Wissenbach os tipos de habitações característicos dessa época eram cortiços, pensões, casarões plurifamiliares que possuíam alta densidade demográfica habitados por uma mistura de tipos sociais e de nacionalidades distintas. A concentração , o viver em conjunto em exíguos espaços , era o elemento mais característico da vida na cidade . </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">No Rio de Janeiro as alternativas de moradia das classes populares eram as habitações coletivas, as casas de cômodos, as estalagens e os cortiços, nas ruas da Cidade Nova, Gamboa, Saúde, Frei Caneca, etc. Nessa cidade assim eram os cortiços: "pequenas casinhas de porta e janela, alinhadas, contornando o pátio, são habitações separadas, tendo a sua sala da frente ornada por imagens de santos e anúncios de cores gritantes , sala onde se recebem visitas, onde se come, onde se engoma, onde se costura, onde se maldiz dos vizinhos, tendo também a sua alcova quente e entaipada , separada da sala por um tabique de madeira , tendo mais um outro quartinho escuro e quente onde o fogão ajuda a consumir o oxigênio, envenenando o ambiente. dorme-se em todos os aposentos". ( Backheuser, citado por Maria Cristina Wissenbach). <personname productid="Em S ̄o Paulo" w:st="on">Em São Paulo</personname>, em 1893, também se encontravam cortiços que ocupavam o interior dos quarteirões. Eram pequenas unidades de 3 pr 4 ou <metricconverter productid="5 metros" w:st="on">5 metros</metricconverter> de tamanho, construídas em torno de um pátio central em que havia a torneira, o banheiro e tanques coletivos. No interior da unidade distinguiam-se a sala e o pequeno espaço para dormir, porém sem ventilação .</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Mas no Rio de Janeiro, <personname productid="Em S ̄o Paulo" w:st="on">em São Paulo</personname> e Recife as populações pobres habitaram também sobrados no início do século XIX. Eram casarões deixados por seus proprietários que foram residir em bairros mais afastados do centro da cidade, longe das epidemias e da desordem urbana. Nesses locais reuniam-se trabalhadores e ociosos, homens e mulheres estigmatizados e excluídos socialmente da possibilidade de desfrutar das condições de bem-estar social e estrutura de emprego, formal digna de reproduzir as condições básicas de sua força de trabalho. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><metricconverter productid="3. A" w:st="on"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;">3. A</span></b></metricconverter><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> Dificuldade de Conceituação. O Sobrado é uma Casa de Cômodo ou um Cortiço?</span></b><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">June Hahner ao analisar a situação dos pobres urbanos no Brasil no período de <metricconverter productid="1870 a" w:st="on">1870 a</metricconverter> 1920, sobretudo <personname productid="Em S ̄o Paulo" w:st="on">em São Paulo</personname> e no Rio de Janeiro, afirma com propriedade que os termos exatos para os diferentes tipos de moradia urbana não são sempre claros ou comparáveis. Essa autora nos oferece um breve panorama sobre as já formuladas caracterizações sobre <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cortiço, casa de cômodo e estalagem.</i></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Baseando-se no Relatório da Associação Imperial Typographica Fluminense de 1863, periódicos da época impressos no rio de Janeiro, Hahner afirma que o termo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cortiço,</i> comum no século XIX, designava conjuntos habitacionais antigos. Eram descritos como sobrados levantados ao redor de um pátio interno apertado, onde ao andar de cima, só se chegava por escadas íngremes. Lá figurava uma varanda sem segurança alguma. Os quartos de dormir eram quentes, pequenos e escuros pela falta de ventilação e onde a família ficava aglomerada.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">As "casas de cômodo" eram considerados piores. Ou seja, eram mansões de vários andares cujos donos haviam se mudado do centro para zonas residenciais mais novas, e foram transformadas em habitações superpovoadas de quartos e cubículos alugados. segundo a Autora, o esforço dos locatários para dividir o espaço o máximo possível fazia com que alguns quartos chegassem a medir <metricconverter productid="0,91 cent■metros" w:st="on">0,91 centímetros</metricconverter> de largura por <metricconverter productid="9,40 cm" w:st="on">9,40 cm</metricconverter> de comprimento entalhados em vãos de escadas, depósitos, corredores, cozinhas e mesmo banheiros, tudo para fazer áreas de dormir. Os quartos recebiam luz e ventilação indiretamente. Cada latrina comunitária era utilizada por dúzias de pessoas e as áreas do banho eram escassas. Famílias ou grupos de indivíduos de ambos os sexos dormiam cozinhavam seu alimento em diminutos fogões a gás ou querosene e lavavam suas roupas tudo no mesmo quarto</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Havia ainda as hospedarias, estalagens, casas de dormidas, hospedarias e hotéis que alugavam camas para dormir e não apenas quartos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">O censo nacional de 1890 e de 1906 considerava o número de pessoas vivendo em habitações coletivas. O de 1890 tomava como habitação coletiva as estalagens, enquanto o de 1906 listava estalagem e moradias coletivas como dois termos distintos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Percebe-se a necessidade de realização de pesquisa empírica sobre os sobrados no Recife que leve em consideração as condições dos moradores. Falta um estudo de como foi realizada a produção do espaço da cidade pelos indivíduos, sobretudo àqueles ligados à pobreza, para que se possa recuperar um pouco do perfil não apenas de uma história distante, mas também recente e cotidiana, bem como trazer à luz as perspectivas geográfica, sociológica e política do ontem e da atualidade. Do contrário, termina-se por realçar o valor histórico ou imobiliário dos casarões, produzindo-se um discurso ideológico em que o espaço aparece sem cidadãos, e os cidadãos continuam a permanecer no silêncio dos sem- espaço, e sem serem tratados como os reais atores da caracterização das moradias coletivas. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;">4. Conhecendo os Moradores de uma Casa de Cômodo Encortiçada num Velho Sobrado do Recife.</span></b><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">A partir do desenvolvimento de pesquisa sociológica sobre cortiços ou as habitações coletivas do centro do Recife, que tem por objetivo identificar as condições da qualidade de vida de seus moradores, observamos, professora e alunos, que o desafio da cidadania se faz presente para cada um dos que moram num velho sobrado sem reparos e vive numa capital utilizando seus parcos recursos com aluguel. O que se passa é que bens e serviços de moradia não se encontram homogeneamente distribuídos no Recife, onde também o espaço vivido foi deixado à mercê do mercado. O lugar interfere diretamente no valor de cada indivíduo, pois cada homem vai valer pelo lugar onde se encontra, já que esse lugar é uma mercadoria. Seu valor como produtor, consumidor , cidadão, depende de sua localização. Isso, independentemente da personalidade, da maior ou menor soma de virtudes que o indivíduo possa ter, ou de qualquer outro tipo de diferença individual. O fato é que as oportunidades não são as mesmas. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Na Rua Velha, localizada no bairro da Boa Vista, pudemos participar do cotidiano de alguns de moradores que vivem numa "casa de cômodo" encortiçada, e que na verdade é um velho sobrado. Além disso, estabelecemos vários contatos com a locatária desse sobrado construído no final do século XIX, tendo ela fornecido informações preciosas sobre as condições legais do imóvel, entre as quais o fato de que há muito tempo o proprietário não paga Imposto Predial nem faz reparos no bem. Este é um prédio de dois andares, com duas varandas laterais. Nele são alugados quartos para pessoas que buscam por ali residir. O aluguel gira em torno de R$ 70,00. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Diferente do século XIX, a densidade demográfica de cada quarto não apresenta uma aglomeração de indivíduos ocupando o mesmo espaço. A média é de três pessoas em cada cômodo que chega a medir aproximadamente <metricconverter productid="8,0 m2" w:st="on">8,0 m<sup>2</sup></metricconverter>. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Os moradores fazem parte de um ambiente segregado no centro da cidade, ao mesmo tempo que excluído socialmente, porque as políticas públicas do urbano não se pronunciam a respeito da melhoria da qualidade de vida desses moradores. Alguns dos habitantes são prostitutas, vendedores ambulantes, às vezes indivíduos que cometeram delitos e hoje trabalham no setor informal, desocupados cujos parentes arcam com suas despesas de moradia, cartomantes, homens sem proteção de aposentadoria, doentes pelo vício do álcool, empregadas domésticas, aposentados com renda mínima, marceneiros, etc. Pessoas que possuem ocupações que ficam próximas àquela moradia. A rotatividade de moradores é alta, apesar de residirem alguns mais antigos que ajudam a locadora do sobrado a "tomar conta dos outros" e do local. Isso significa receber novos inquilinos, telefonar para ela e lhe deixar a par dos últimos acontecimentos, inclusive quando há doentes que não podem se locomover ou problemas com a polícia envolvendo um de seus moradores, durante sua ausência. No sobrado vive-se em alerta, apesar da tranqüilidade, por vezes, estar estampada na aparência.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">As pessoas que moram nesse sobrado são aquelas que possuem parentes na cidade mas não se sentem à vontade dormindo de qualquer modo na casa de outros. Preferem a sua individualidade no sobrado. Morando com a família sentiam-se explorados no dinheiro e pouco recompensados na hora de dormir, de comer, ou pela simples ausência de privacidade . O Sr. Levy de 34 anos, segundo grau completo, por exemplo, é um indivíduo bastante politizado que ali reside e, encontra-se com problemas de saúde por causa do alcoolismo. Trabalha vendendo bombons em shows de artistas no Recife. Indagado sobre os motivos que o levaram a ir residir ali ele afirmou sobre a importância de possuir um lugar seu, onde pudesse dormir sossegado. Eis um pouco de seu discurso:</span></span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 36pt 5pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">"Antes de vir morar aqui vivia na casa da minha tia em Águas Compridas. Trabalhava mas dormia pior do que um cachorro: no terraço. Os vizinhos davam conselhos dizendo que o dinheiro que eu ganhava dava muito bem pra morar só. Aí eu tive um destino. Ela só vivia me xingando, queria me botar para fora. Tinha um primo que tomava cachaça e não trabalhava. Era eu somente para trabalhar, para manter oito bocas. Ainda chegava à noite para jantar não tinha jantar para mim . Aí eu passava a noite trabalhando porque o show terminava às 4 da manhã. eu chegava em casa às 5 horas. Aí já não dormia mais. Depois, enchia um tonel de 140 latas, subindo escadaria, passando a noite todinha cansado. (...) Eu gosto daqui né? Oxente, é melhor mil vezes. pelo menos aqui eu chego a hora que quero, vou trabalhar o dia que eu quero. ë meu canto, né?" </span></i><span style="font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">As razões apresentadas por outro locatário o Sr. José, 66 anos, doméstico aposentado e atualmente exercendo o ofício de cartomante, para ter ido morar num sobrado tipo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">casa de cômodo</i>, também não são diferentes. Sem moradia, narrando que nunca teve uma casa apenas sua e, que vivia "na casa dos outros", explica que preferiu alugar um quarto no velho sobrado a morar acompanhado com outras pessoas num lugar violento. A convivência das classes populares com a violência é algo sentido, como ausência de tranqüilidade e de qualidade de vida. Morar num sobrado parece também imprimir mais <i style="mso-bidi-font-style: normal;">status, </i>ainda que não possua uma companhia no mesmo cômodo. </span></span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 36pt 5pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">" Quando fiz minha aposentadoria eu vivia pela casa dos outros, nunca tive minha casa, vivia pela casa dos outros até conseguir minha aposentadoria. Agora, arranjei quartos em vários bairros mas não quis não, por causa da violência que está muito grande. A gente sozinho não pode morar. Aí eu arranjei este quarto e ainda estou aqui."</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Também, a clássica motivação de morar próximo ao trabalho aqui surge no discurso do Sr. Paulo Sérgio, 28 anos, serralheiro que cursou até a sexta série do Ensino Fundamental. A dificuldade em morar longe e ter de gastar dinheiro com passagens é sua razão principal. </span></span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 36pt 5pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">"Eu morava na Mustardinha ( bairro popular do Recife). Mas preferi morar aqui porque é perto do trabalho. Eu pegava ônibus e lá ficava ruim. " </span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Importante aspecto a ser considerado é o que cada morador consegue comprar com o dinheiro que lhe sobra após pagamento do aluguel do quarto. O Sr. Levy, por exemplo, tem uma despesa com alimentação que custa mais que o aluguel. </span></span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 36pt 5pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">" Eu tenho despesa aí embaixo no barzinho que eu almoço e à noite janto. A pensão é 20,00 por semana com mais r$ 15, 35 que eu gasto durante a semana, sai por mês uns R$ 140,00, né? Tá bom, né? Eu gasto mais é com alimentação porque tem almoço e jantar" .</span></i><span style="font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Outros aspectos são incluídos na despesa tais como compra de remédio, alimentação, mas tudo muito comedido, como esclarece Sr. Israel de Souza Silva, 33 anos, pedreiro e eletricista autônomo que cursou até a quarta série do Ensino Fundamental. Afirma que consegue comprar:</span></span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 36pt 5pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">" Remédio e alimentação. Daqui a um pouquinho a gente vai no Bompreço (rede de Supermercado local) fazer as compras de passar um mês, não. A gente só faz uma compra porque aqui a gente não pode, aqui tem esse problema de Ter rato. Se tem roedor, a gente não pode estocar alimentação." </span></i><span style="font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">De maneira geral, a vida nos sobrados encortiçados tem as suas variantes em relação ao século XIX, sobretudo no que se refere à preferência por morar sozinho. A questão da autonomia sobre a própria vida, o medo de ir morar numa favela pelos níveis de violência ali presente são colocados como justificativas para a preferência da habitação nos velhos casarões, sem cuidados de manutenção. A pesquisa empírica com dados primários é a melhor forma de especificar quais são de fato hoje as condições de vida da população aí residente. Não se pode afirmar que o sobrado seja uma habitação coletiva sem risco de violência. Se julgamos apenas pelos depoimentos de alguns moradores, assim parece ser. Os moradores relativizam a compreensão da violência presente no sobrado como ameaça constante, pois esta é considerada em menor grau que a existente em bairros periféricos. Não raro, a polícia "inspeciona" os aposentos do casarão e, se não for impedida pela locadora de entrar, ocorre de invadir a propriedade em busca de algum achado de seu interesse. Mesmo assim, os moradores julgam que essa violência esporádica, pode ser evitada se se vive sem desagradar " as autoridades", constituindo assim algo menor .</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Existe a valoração de considerar esse espaço coletivo como uma moradia unicamente sua e, conseqüentemente como propriedade privada. Essa é uma face da vida dos velhos sobrados encortiçados no Recife: individualizar o que em essência é coletivo e suscetível às vicissitudes do exterior pela precariedade da habitação, bem como pelo desrespeito à cidadania dos indivíduos que ali estão rotulados, estigmatizados e segregados socialmente. É um aspecto já observado por Michelel Perrot ao descrever as formas de moradia das classes populares urbanas na França do século XIX. A esse respeito ela afirma que o sentido de liberdade é começar a poder escolher o que é seu, mas, a originalidade desses moradores está em que a sua rede familiar não se circunscreve num espaço fechado. Eis o texto: </span></span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 36pt 5pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">"A originalidade das classes populares urbanas está em sua rede familiar não se inscrever nem na imobilidade da terra nem no fechamento de um interior. Entretanto o duplo desejo de um lugar e um espaço para si se afirma com força crescente na segunda metade do século XIX. Ser livre é, para começar, poder escolher seu domicílio." </span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">As redes de solidariedade possivelmente mostram como os moradores das habitações coletivas passam a considerar seus vizinhos de cômodo como espécies de parentes de sua família, com os quais podem contar nas horas de dificuldade em que cada um passa individualmente. O conceito de família diferencia-se daquele de um ambiente burguês plenamente privado, o que merece cuidadosa e criativa investigação sociológica .</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">BIBLIOGRAFIA</span></span></b></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 54pt 5pt; text-align: justify; text-indent: -54pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">ANDRADE, Júlia. O espaço sem cidadão e um cidadão sem espaço. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (org.) . Ensaios de geografia contemporânea: Miltons Santos, obra revisitada. São Paulo: Hucitec, 1996. p.p. 141 - 145.</span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 54pt 5pt; text-align: justify; text-indent: -54pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: a continuação de Casa Grande & Senzala. 9 ed.Rio de Janeiro: Record, 1996. </span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 54pt 5pt; text-align: justify; text-indent: -54pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">HAHNER, June E. Pobreza e política: os pobres urbanos no Brasil - 1870/ 1920. </span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 54pt 5pt; text-align: justify; text-indent: -54pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras: 1995.</span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 54pt 5pt; text-align: justify; text-indent: -54pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">MELLO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos Flamnegos. 3 ed. Recife: Massangana, 1987.</span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 54pt 5pt; text-align: justify; text-indent: -54pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">PERROT, Michelle. Maneiras de morar. In: PERROT, Michelle (org). História da vida privada, 4: Da Revolução Francesa à Primeira Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. p.p. 307-323. </span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 54pt 5pt; text-align: justify; text-indent: -54pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">REZENDE, Antônio Paulo. (Des) Encantos Modernos: histórias da cidade do Recife na Década de 20. Recife: FUNDARPE, 1997.</span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 54pt 5pt; text-align: justify; text-indent: -54pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">SETTE, Mário. Arruar: história pitoresca do Recife antigo. 2 ed. Rio de Janeiro: Livraria e Casa do Estudante, 1952.</span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 54pt 5pt; text-align: justify; text-indent: -54pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">TOLEDO JÚNIOR, Rubens de. O espaço como instância social: a base para uma geografia nova. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri. (org.). Ensaios de geografia contemporânea: Milton Santos, obra revisitada. São Paulo: Hucitec, 1996. p.p 149-159.</span></div><div class="Blockquote" style="margin: 12pt 54pt 5pt; text-align: justify; text-indent: -54pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Da escravidão à liberdade: dimensões de uma privacidade possível. In: SEVCENKO, Nicolau ( org.). História da Vida Privada, 3: República :da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. </span></div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-52778140100235573652010-09-27T14:46:00.001-07:002010-09-27T14:46:58.197-07:00O sítio (Formação geológica)<h1 style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: right;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; font-weight: normal;"><em>Marcelo Mesel</em></span></h1><div class="MsoBodyText" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Rios escorrendo para uma baía calma numa região de clima tropical úmido, cercada de morros, protegida dos humores das ondas oceânicas por longas paredes erigidas calmamente pelo tempo a partir de grãos de areia e carcaças de moluscos, os arrecifes. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Os grãos de terra, barro e húmus, arrastados permanentemente por suas águas enfeitiçadas a procura do mar, terminavam sua longa viagem ao Oeste desta baía, aos pés dos morros, dando origem a um solo de aluvião, argiloso, o massapê; já na sua posição mais oriental, mais perto dos arrecifes, depositavam-se sedimentos de origem marinha, formando uma extensa, estreita e contínua língua de terra. Ligada ao continente ao Norte, avançando em direção ao Sul, paralela aos arrecifes. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">De grão em grão a baía se encheu de croas. As croas se tornaram ilhas, enquanto outras croas afloravam. As ilhas, nutridas pelos grãos, que não paravam de chegar à baía, trazidos pela compulsão dos rios e das marés, cresciam e se uniam a outras. As sementes, trazidas do interior pelos rios, ou de outras praias pelo mar, que ora encontrava passagens pelas paredes calcáreas, ora as transpunham com ajuda da força da lua, buscavam cegamente se fixar nas ilhas, croas, ou no fundo da baía, para realizarem seu sonho genético. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Quase todas, por diversos motivos, tinham seus sonhos frustados. Mas algumas, sejam levadas pelas mãos do acaso ou do destino, encontraram condições propícias para desabrochar e foram povoando aquele deserto de água e terra. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">As gramíneas e ciperáceas mais afeitas ao solo firme tomaram conta das terras afloradas, enquanto outras se enfiavam nos solos alagados, sedentas de água salobra, dando origem a uma vegetação peculiar, denominada mangue. A fartura de alimentos produzidos alí pela decomposição das suas folhas nas águas, suas águas rasas e quentes, e áreas protegidas das correntes que impedem que animais predadores se aproximem, fazem do mangue um lugar propício para a reprodução de peixes, crustáceos e moluscos, que, misturados à sua fauna própria, tornam os mangues um dos ecossistemas de maior produtividade do planeta. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">São caranguejos, siris, chiés, aratus, unhas de velho, ostras, camarões, pitus, agulhas, camurins, tainhas, carapebas, bagres, moréias e outros. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Enquanto isto, o processo evolutivo produzia o Homosapiens, que, encontrando condições favoráveis, dispersava-se por todos continentes, tendo os rios como ponto de apoio, com suas águas doces cheias de peixes, moluscos e crutáceos, tão necessários para matar a sede e a fome. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Os que aí chegaram e habitaram por muitos séculos, viviam da caça, pesca e coleta de frutos, utilizando arcos, flechas, lanças, redes e puçás, e encontravam-se ainda na Idade da Pedra Polida por volta de 1500. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Autodenominavam-se de Caétes, chamavam estes rios de "Rios das Capivaras" (Capibaribe) e "Rios das Arraias" (Beberibe), que eram tão limpos que as índias pariam nas suas águas, protegidas pelas bençãos de Iara, sua divindade protetora. Foi neste cenário que se construiu uma cidade, metade roubada ao mar, metade à imaginação, no dizer do poeta Carlos Pena Filho. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><a href="" name="_Hlt483740552"></a><a href="http://www.blogger.com/fotos/foto3.html"><span style="mso-bookmark: _Hlt483740552;"><span style="color: windowtext; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="font-family: Arial;">Recife dos N<span style="mso-bookmark: _Hlt483740547;">a</span>vios,</span></span></span></a><a href="" name="_Hlt483740547"></a><span style="mso-bookmark: _Hlt483740552;"></span><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">onde tudo começou</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 5pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O primeiro registro histórico do Bairro do Recife data de 12 de março de 1537, quando o então donatário da capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, recebeu a carta de doação da Coroa Portuguesa: o chamado Foral de Olinda. Na carta, o lugar era citado como um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ancoradouro de navios</i>, onde mais tarde um lugarejo daria origem à futura capital de Pernambuco. O nome do bairro e da cidade se referia aos recifes de arenito, formação rochosa marinha presente em toda costa pernambucana . Na frente do bairro, os recifes chegam a formar um porto natural. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 5pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O Foral de Olinda serve para dar uma idéia de como era a paisagem da época. Na escritura, lavrada em 24 de abril 1593, Duarte Coelho faz boas referências geográficas.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> "...todos os mangues em redor desta vila, que estão ao longo do rio Beberibe para baixo, e para cima até onde tiver terra de arvoredo, e os do rio dos Cedros e Ilha do Porto dos Navios. Os varadouros que estão dentro do Recife dos Navios e os que estiverem pelo rio arriba dos Cedros e do Beberibe, e todos outros varadouros que se achar ao redor da vila e terreno dela, será para serviço seu e do seu povo".</i> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 5pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">No documento, o lugarejo é chamado de Recife dos Navios, nome que comprova a escolha do porto natural. Até esta denominação se firmar, a região também foi conhecida como Porto de Santelmo, Arrecife de São Miguel e povoado do Corpo Santo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 5pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A cidade ganha impulso quando, em 1630, os holandeses, pela Companhia das Índias Ocidentais, resolvem ocupar a região Nordeste do Brasil. Incendeiam a então capital da província, Olinda, e tornam o Recife ponto de escoamento das novas matérias-primas da colônia portuguesa. O conde Maurício de Nassau chega à cidade para comandar a Companhia da Índias e utiliza o conhecimento dos flamengos em pontes e aterramentos para dar nova paisagem ao Recife dos Navios, um istmo. Foi ele que realizou o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">primeiro plano urbanístico do Brasil.</i> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 5pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O transporte entre o Recife com as ilhas de Santo Antônio e o continente era cobrado e feito por balsa. O custo do uso da balsa chega a triplicar em três anos. Nassau programa a construção de uma ponte e inaugura com uma grande festa, em 28 de fevereiro de <metricconverter productid="1644, a" w:st="on">1644, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">a</i></metricconverter><i style="mso-bidi-font-style: normal;"> primeira ponte do Brasil.</i> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 5pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Em 1654, os holandeses são expulsos do Brasil e no Bairro do Recife se contabilizam 300 prédios. São casas térreas, sobrados com um ou dois andares, mirantes, a Igreja do Corpo Santo, o Palácio do Governo, a Alfândega, cadeia, provedoria, Casa da Câmara, a Sinagoga dos Judeus e armazéns. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 5pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Na rua, que viria se chamar de Rua do Bom Jesus, foi construída a primeira sinagoga das Américas. A rua sempre foi importante para o lugarejo, pois era passagem para Olinda. Por causa do templo, foi conhecida como Rua dos Judeus. Por causa da Inquisição, Rua da Cruz, e depois Rua dos Mercadores. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O Bairro do Recife impressionou, anos depois, em agosto de 1836, o cientista Charles Darwin: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">"A cidade foi construída sobre bancos de areia estreitos e baixos, separados uns dos outros por canais rasos de água salgada".</i> Novamente é o porto natural e sua formação rochosa o que desperta grande interesse.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> "Duvido de que em todo o mundo haja outra estrutura natural que apresente aspecto tão artificial (...) vários quilômetros em absoluta linha reta paralela à costa e pouco distante desta (...) como um quebra-mar construído pela mão dos cíclopes".</i></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">"Era o Recife do Arsenal, da Alfândega, dos guindastes, das senzalas, da Rua do Bom Jesus, da Cruz do Patrão, dos sobrados de azulejos, de três, quatro e até mais andares" (Pinto, E. - 1940- pp10-11) </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A primeira reforma do Porto faz ferver o Bairro</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Bairro do Recife sempre teve o seu destino estreitamente ligado ao porto. Quando havia queda no escoamento de mercadorias, chegavam a reboque o desemprego e a decadência. Somente no início do século 19 que o porto e, consequentemente, o Bairro do Recife receberam a atenção merecida. A vinda da família real para o país e a abertura dos portos brasileiros ao comércio estrangeiro repercutiram profundamente na cidade. A entrada de capital britânico revigorou a economia local, forçando a modernização do porto do Recife, por onde escoava grande parte da cana-de-açúcar e do algodão. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A Revolução Industrial trouxe o emprego do ferro nos navios, o que aumentou o comprimento e a sua capacidade de carga, exigindo mais dos serviços portuários e dos ancoradouros. Os primeiros projetos para reforma do porto do Recife começaram a ser elaborados em 1815. Mas os trabalhos só iniciaram no ano de 1909. Nesta época, o bairro estava em plena efervescência econômica. Ele concentrava o comércio exportador e importador, as finanças nacionais e estrangeiras, os serviços públicos básicos (como transportes ferroviário e marítimo), além das comunicações. O bairro começou a inchar, abrigando cerca de 13 mil pessoas distribuídas em 1.180 casas e sobrados. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A conexão imediata entre o Bairro do Recife e o restante da cidade era feita pelo bairro de Santo Antônio, que abrigava o Palácio do Governo, o Tesouro do Estado, o Quartel da Cavalaria, o Fórum, o Teatro Santa Isabel, a Biblioteca Estadual, o Gabinete Português de Leitura e as redações dos jornais da época. Durante o século 19, o bairro reunia a parte mais pobre da cidade (pescadores, artesãos, caixeiros, trabalhadores portuários), enquanto a elite se concentrava em áreas como Boa Vista e Benfica. Com a reforma, que teve início nas primeiras décadas deste século, a situação mudou. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O Recife sofreu a sua primeira reforma urbana. Todo núcleo original foi demolido para dar lugar a um traçado influenciado pelo urbanismo francês do século 19. Foram alargadas ruas, como a Marquês de Olinda, e criadas outras, a exemplo da Avenida Rio Branco. Nesta época também foram elaborados planos de saneamento para o bairro e iniciadas algumas obras. A reforma, no entanto, não levou em consideração a conservação do patrimônio histórico. Prédios foram destruídos, como a capela do Corpo Santo (construída pelos portugueses no século 16) e os arcos da Conceição e Santo Antônio, que davam passagem para a Ponte Maurício de Nassau, a primeira do país. Dos 1.180 prédios do bairro, 205 foram demolidos. Houve desapropriações e os antigos moradores formaram uma população marginalizada, ocupando os prédios em ruínas ou erguendo barracos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">"A Praça Rio Branco faz lembrar Hamburgo. Quem diria que deste lado do Atlântico, o viajante pudesse topar com um espetáculo como este, típico de uma grande cidade européia" (Castro, 1937 - pp.11-16). </span></span></div><h2 style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="color: windowtext; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">A cidade ganha ares europeus</span></span></h2><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Embora tenha ignorado as conseqüências sociais e históricas, a reforma concedeu ao bairro um aspecto urbanístico e estético que o igualou a cidades da Europa. A área ficou valorizada por alguns anos, atraindo uma boa parte da elite, grandes negociantes de companhias financeiras e seguradoras que pretendiam transformar os sobrados em prédios residenciais e comerciais, como era de hábito nas cidades européias na época. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Antes da reforma, cada prédio possuía um comércio no térreo e os outros andares eram habitados pela família do comerciante. Com a modernização, os prédios se inspiraram no sistema habitacional parisiense, com várias famílias habitando os andares e o comércio funcionando no térreo. Na época, não era hábito local viver em apartamentos, o que acabou contribuindo para o desinteresse das famílias em residir no Bairro do Recife. Não foi só isso. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A chegada de um maior número de embarcações aumentou o número de marinheiros e prostitutas circulando pelo bairro. A sujeira causada pela movimentação de cargas também afetou o interesse das famílias de boa renda. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Depois da Segunda Grande Guerra, os prédios que tinham sido reformados e não foram vendidos, começaram a ser alugados para comerciantes, caixeiros viajantes e prostitutas. Todos usufruíam das habitações sem levar em conta a conservação do prédio. Contraditoriamente, a ocupação dos imóveis por essas atividades manteve a integridade da arquitetura do bairro. Somente em 1987 foi traçado um novo plano para revitalizado do lugar. </span></span></div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-80042438580803591042010-09-27T14:45:00.001-07:002010-09-27T14:45:21.325-07:00A Democracia na América – Leis e Costumes<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Alexis Tocqueville, Nobre Aristocrata francês do início do século XIX, imbuído pelos conflitos da Nobreza e da Monarquia e pela forças revolucionárias então vigentes do pós revolução francesa, infiltra-se no sistema penitenciário americano com o objetivo de entender as correlações de Leis, Costumes e Democracia, diferentes nos dois continentes, não somente pelas diferenças geográficas e históricas entre o Novo e o Velho Mundo, mas também por entender que “na América, têm-se idéias e paixões democráticas; na França, temos ainda paixões e idéias revolucionárias”.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Acodem-nos naturalmente as palavras de Sainte-Beuve: “Ele começou a pensar antes de haver aprendido o que quer que fosse”. Retomando a mesma idéia sob outra forma, pode-se dizer que ele oferece o exemplo-limite de um intelectual que nunca “aprendeu” senão no âmbito daquilo que previamente pensara, o que lhe dá ao mesmo tempo uma excepcional estreiteza e uma excepcional profundidade: nada é registrado ao acaso, pelo mero prazer de saber. Sem falar nos ganhos de tempo e energia. (...) Resta compreender por quê, o que nos obriga a refazer a montante a história dos seus “pensamentos”. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Se o “sistema” se constitui tão cedo, parecem-me que é porque é edificado, mesmo na sua parte explicativa, sobre um alicerce de ordem não intelectual, mas puramente existencial. Alexis Tocqueville se interroga inicialmente sobre a importância da leis e dos costumes na manutenção da democracia americana, por oposição ao que ele chama de “causas materiais”, isto é, as particularidades do Novo Mundo e seus privilégios no que concerne à relação do homem com o espaço. Está diante de um problema clássico – talvez central – das ciências sociais, que consiste em isolar o papel e a influência de uma variável ou de um conjunto limitado de variáveis sobre um processo de conjunto. Prova disso é que procura como ponto de comparação um país fora da América, portanto privado dos benefícios geográficos que lhe são inseparáveis e provido, em compensação, de leis e costumes comparáveis: mas não o encontra. Conclui daí que, na falta de objeto de comparação, “só se pode arriscar opiniões”. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Tocqueville não abandona seu conceito de Democracia à luz das diferenças entre as três raças que compunham a sociedade americana de então, mesmo se tratando de uma incompatibilidade com a democracia reinante na União. Mas incompatíveis em sentidos distintos. Os índios formam uma sociedade particular, fechada em si mesma, cujas regras, opiniões e costumes “selvagens” traduzem menos uma origem da humanidade, como se acreditava no século XVIII, do que um tipo de organização social que ignorava a agricultura e a sedentarização. Os negros, escravos, são uma não-sociedae, uma vez que a servidão e por definição uma pura relação de força, e não um vínculo “social”; mas o princípio da escravidão compromete a existência da sociedade livre que a instaurou e que, por havê-la instaurado e perpetuado, encontra-se minada desde o interior. Os índios podem ser e serão destruídos pela lei, como uma sociedade situada fora dela. Os negros existem, pelo contrario, em função de uma instituição da democracia americana, contraditória consigo mesma, mas por ele desejada: são ao mesmo tempo indispensáveis e inassimiláveis, necessários e destruidores do pacto social de base. A América igualitária incorporou um princípio inconfessável e nocivo; e, se esse paradoxo é perigoso para a sua própria existência, é porque destrói ainda mais a sociedade democrática branca do que a população dos escravos negros. Há em filigrana na </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="font-family: Arial;">Democracia uma teoria da produção das desigualdades simbólicas pela igualdade, causa da inquietude e da inveja que são os sentimentos característicos das democracias. </span></span></div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-50356103062253722602010-08-11T15:48:00.001-07:002010-08-11T15:48:17.422-07:00As Razões do Iluminismo<h2 align="right" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Marcos Simão</span></span></i></h2><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><strong><span style="font-family: Arial;">Introdução</span></strong></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O discurso de Rouanet trata de diferentes aspectos entre as interações da cultura e sociedade. Ensaios sobre as facetas da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">crise cultural</i> manifestada; contra a RAZÃO, A MODERNIDADE e A ILUSTRAÇÃO, numa cronologia histórica e o resgate crítico do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Conceito de Razão</i> do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Projeto de modernidade</i> e do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Legado da Ilustração.</i></span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A Crise da Razão</span></b><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Desta vez a razão é repudiada por estar comprometida com o poder e não por negar as realidades transcendentais (Pátria, Religião e família), Por outro lado o novo irracionalismo crítica e considera este relacionamento Razão/Poder hostil a vida e como principal agente de repressão e não o órgão da liberdade </span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O autor entende que somente a razão é crítica e sustenta que o irracionalismo somente mudou de face mas não de natureza. Porém admite que o novo irracionalismo tem em seu núcleo algo de verdadeiro. O conceito de razão necessita ser revisto. Principalmente porque após de: Marx e Freud, não se admite a razão soberana, livre de condicionamentos materiais e psíquicos; Weber, não se ignora as diferenças entre a Razão substantiva (capaz de pensar fins e valores) e a Razão instrumental (esgotamento de competências, dos meios aos fins); Adorno, escamoteamento da Razão repressiva – A astúcia imemorial (Poder) o do Projeto de dominação da natureza e sobre o homem e Foucault, entrelaçamento do saber e do poder.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Racionalismo novo e nova razão. Razão, capaz de crítica e autocrítica. Sendo que:</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A Crítica reconhece sua competência para lidar com o mundo normativo desafiando assim o Positivismo que a condenava ao mundo dos fatos e submete-se ao reino dos valores e avalia a maior ou menor racionalidade das normas. Denuncia a desrazão num modelo fornecido por Marx, mostrando a presença da razão oficial e de uma relação de poder infiltrada e decifra o desejo nos interstício do discurso manifestado por Freud.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A Autocrítica reconhece a sua vulnerabilidade ao irracional, proveniente da falsa consciência (incapacidade socialmente condicionada de conhecer) e Reconhece o irracional sedimentado no inconsciente e sua tentativa contínua de sabotar a objetividade do pensamento.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O autor então vale-se do argumento de que “a verdadeira razão é consciente dos seus limites, percebe o espaço irracional em que se move e pode, portanto, libertar-se do irracional”, discursando sobre Erasmo – Iluminista (Razão louca x razão sábia) a Habermas (Razão negativa e Razão comunicativa). Sendo que está ultima somente foi possível com o advento do modernismo.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Argumenta que para Habermas houve uma ruptura uma mudança de Paradigma – A razão cognitiva e o abandono da relação sujeito-objeto. A racionalidade adere-se aos procedimentos de um processo e ao entendimento último em três contextos distintos de mundo: o de objetivo das coisas; o de social das normas; e o de subjetivo das vivências e emoções. Trata-o como um conceito processual de razão – validadas num processo argumentativo sem deformações ou resultantes da falsa consciência.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A Modernidade e a Racionalidade comunicativa, segundo discorre o autor tornou possível a emancipação do homem do julgo da tradição e da autoridade pela força do melhor argumento na tríplice dimensão da verdade: Mundo objetivo; Mundo Social; Mundo Subjetivo</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A modernidade e sua esfera sistêmica abrangendo a do Estado e a da economia, gerou outro processo de racionalização, regida pela razão instrumental de proposição weberiana. Porém, impôs aos indivíduos uma coordenação automática, produzindo uma crescente perda de liberdade. Mas o mundo vivido continua reivindicar. A intersubjetividade comunicativa continua vigorosa, e enquanto ela não desaparecer, não desaparecerá a razão. </span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Baseado no pensamento crítico de Foucault e Adorno o autor afirma que Habermas acredita fundar o Racionalismo novo com o conceito de razão comunicativa. Critica a repressão social advinda da ação instrumental das esferas sistêmicas (weberianas) sem julgar a extinção da razão crítica (Adorno) pois a Razão vive nas estruturas da intersubjetividade lingüística (Argumentar é criticar) e nem afirmar que são mascaras do poder (Foulcault). Está razão monológica evadiu-se início da modernidade.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Para Rouanet o caso brasileiro do irracionalismo, erradicado na esfera sistêmica – a razão do Estado e a razão econômica – durante os 20 anos do regime autoritário, não sendo possível contestá-lo senão contestando a própria Razão.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Findo o bloqueio a sociedade civil, falta a vontade de conduzir a argumentação, pois a razão havia se identificado com o poder deposto e este irracionalismo provoca uma sensação confusa de pesadelo pois parecia novo, após um período de latência (Freud – amnésia parcial), retomando teorias não evoluídas e com realidades diferentes as dos anos 60, não havendo a sofisticação teórica com que haviam sido abordadas na origem, transformando-se pela recordação<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>imperfeita, numa tese empirista ingênua e antidialética. Repetimos velhos protótipos na ilusão triunfal de estarmos desbravando novos continentes.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-family: Arial;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A crise da modernidade</span></b><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Adorno prega morte da Modernidade, seu atestado de óbito, a pós-modernidade, enterrando a rigidez cadavérica do modernismo. A modernidade econômica, política e cultural estão mortas. A ciência moderna legitimava-se no discurso Iluminista da emancipação pela revolução do saber e a pós-modernidade pela paralogia (silogismo não intencional), permeando todos os gêneros estéticos.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O autor (Rouanet) então questiona a denominação (auticassificatória ou designada pelos críticos e teóricos) da pós-modernidade. Entende Rouanet que o termo sugere uma ruptura com a modernidade e seus conceitos, o que o autor acredita não haver ocorrido. Primeiro porque o capitalismo pelo ponto de vista do autor já nasceu pós-moderno, imanente da própria lógica do sistema, e na política, entende não haver surgido novos atores ou movimentos, e sim realização de tendências básicas do liberalismo moderno.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A posição epistemológica sobre o pós-modernismo, baseia-se, segundo o autor, num mal-entendido fundamental. Mostra como a relação ambígua entre os temos não representa a ruptura e por essa perspectiva, identifica-a como neomodernista.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A crise da Ilustração.</span></span></b></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Para representar o conceito de ilustração o autor sugere reservar o termo apenas para a corrente de idéias surgidas no século XVIII. e desvincula a Iluminismo de qualquer época em específico, ou seja transcendente à própria história e argumenta que se o Iluminismo ainda existe hoje, ele não possui identidade conceitual própria, mas partindo do conceito da Ilustração, se confronta com ela, critica-a, salva-a em seus momentos positivos e considera-se madura a partir da autoconsciência. Retifica e atualiza o legado da Ilustração.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Partindo desse princípio, afirma existir ainda hoje pensadores iluministas, que, mesmo não se considerando assim, prossegue no trabalho do Iluminismo, argumentando que a crítica Iluminista assume, assim, a perspectiva conceituada como neomoderna, não idealizando nem rejeitando a modernidade, mas sempre que necessário utiliza-se das grandes teorias desenvolvidas pela própria modernidade.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Foucault e a Modernidade</span></span></b></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Na expectativa de convencer sobre sua teoria o autor percorre o discurso de Foucault com a nítida intenção de desqualifica-lo como pensador pós-modernista e argumenta que não encontra provas da pós-modernidade (fundamentada na atitude com reação a modernidade cultural). Rouanet por fim faz uma inquisição sobre onde estão as provas do divisor de águas entre o modernismo e o pós-modernismo. (No Iluminismo? Na denúncia da ciência?, da razão? na recusa do progresso? etc.), tudo isto para justificar o conceito de neomodernismo, base de sua teoria.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Conclusão</span></span></b></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 0pt;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A critica à modernidade e pós-modernidade a partir da crítica e da razão, parece carecer de fundamentações que não sejam excludentes, ou seja, atribuir o rótulo de modernistas, iluministas aos pensadores do pós-modernismo para justificar argumentos de um conceito neomodernista e propor um resgate crítico do conceito de razão, do projeto de modernidade e da “Ilustração”, tem qualquer coisa de (para usar palavras do próprio autor) paralogia.</span></span></div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-70517400015040771582010-08-11T15:47:00.005-07:002010-08-11T15:47:44.317-07:00A hipótese de pós-modernidade de Lyotard<div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: right;"><span style="color: black; font-size: 10pt;"><span style="font-family: Arial;">Walter José Maria Filho</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12pt;">A Condição Pós-Moderna</span></i><span style="font-size: 12pt;"> fez do francês Jean-François Lyotard uma celebridade no panorama estreito da filosofia atual. Obra analisada, atacada e estudada apaixonadamente tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, fez do seu autor um pensador incontornável, referência importante quando o assunto é o “pós-moderno”: um conceito complexo, obscuro e controvertido. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12pt;">A Condição Pós-Moderna</span></i><span style="font-size: 12pt;"> foi lançado na França em 1979 pela Les Éditions Minuit, a mesma legendária editora de Gilles Deleuze, Pierre Clastres, Jacques Derrida, e Georges Bataille, time que causa calafrios na mentalidade norte-americana, ciosa da sua curta tradição filosófica. No Brasil a obra apareceu apenas em 1986 , traduzida com o título impreciso de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Pós-Moderno</i>, que foi mantido até a quarta edição. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Arial;">Nesta quinta edição a editora José Olímpio dá à obra um tratamento digno de sua importância. Além da correção do título, foi adicionado um pósfácio escrito pelo escritor e crítico Silviano Santiago, que, juntamente com o bom prefácio de Wilmar do Valle Barbosa e as orelhas escritas por Ítalo Moriconi, dá ao leitor uma boa base para a compreensão do livro. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Arial;">Esses textos esclarecem o contexto histórico do livro e a importância de seu autor para o pensamento contemporâneo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Arial;">Ser atual e contemporâneo parece ter sido uma das grandes preocupações do eclético Lyotard ao longo dos seus 73 anos de vida (ele morreu em abril de 98). </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Arial;">Nos anos 60, o autor participou das correntes revolucionárias e libertárias do pensamento francês, fazendo parte do grupo de redatores da revista <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Socialismo e Barbárie</i> ao lado de Claude Leford e C. Castoriadis. Nos anos 70, Lyotard dirige seu pensamento no sentido de investigar a relação entre Marx e Freud. Dessa época são as obras <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dérive à partir de Marx et Freud</i> (73) e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Économie Libidinale</i> (74). Nelas o filósofo radicaliza seus pontos de vista, mostrando o que há de passional na economia política e o que há de político na paixão. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Arial;">Lyotard é influenciado por Georges Bataille, Gilles Deleuze e Pierre Klossovsky – filósofos-literatos e livre-pensadores, defensores do desejo contra a solidez dos sistemas filosóficos rígidos –, grupo do qual passa a fazer parte e que dá a ele bússolas de orientação para o seu pensamento. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12pt;">A Condição Pós-Moderna</span></i><span style="font-size: 12pt;"> marca uma mudança metodológica ou uma troca de paradigma, já que o seu autor saí aparentemente do âmbito do pensamento francês na linha Foucault e Deleuze (por exemplo), para entrar de cabeça na área do pragmatismo americano e da filosofia da linguagem que se encaminha na linha de Wittgenstein. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Arial;">O tema do livro é também a mudança de paradigma filosófico, motivada pelos novos tempos, já que parte da hipótese (ele usa esta palavra) de que o saber muda de estatuto à medida em que “as sociedades entram na idade pós-industrial e as culturas na idade pós-moderna”. (pag.3) </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Arial;">Lyotard parte da constatação de que o discurso do saber científico sofre uma grande e irresistível mudança graças à informática e a tudo que se relaciona a ela. O que afeta principalmente a transmissão dos conhecimentos científicos e a pesquisa. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Arial;">Paralelo a isto, corre o fato de que a eterna importância da ciência na disputa pelo poder entre os países tecnologicamente avançados faz também do saber científico uma mera mercadoria. Esta é a condição pós-moderna. Condição pós-moderna que pede, segundo Lyotard, uma filosofia bem mais de acordo com esta nova era, reduzindo a atividade filosófica ao trabalho rotineiro de legitimar a ciência. É um processo que faz com que um determinado enunciado seja considerado científico por uma comunidade de cientistas, no qual a decisão entre o verdadeiro e o falso passa pela discussão entre os indivíduos . Ele afasta as iniciativas filosóficas do passado que legitimavam a ciência através de metadiscursos, que refletiam, por exemplo, sobre o Espírito Absoluto (Hegel) e emancipação do sujeito (Escola de Frankfurt) . </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Arial;">Legitimação <personname productid="em A Condi ̄o P�s-Moderna" w:st="on">em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Condição Pós-Moderna</i></personname> é o abandono destes metadiscursos, que transcendem as relações sociais, e o discurso científico, em prol do vínculo social . O que não significa legitimação através do consenso como quer Jürgen Habermas em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Teoria do Agir Comunicativo</i>. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Arial;">Lyotard recusa este caminho, pois a posição habermasiana vê a sociedade como um todo unificado e sistematizado, onde as regras consensuais são iguais para todos. Ele vê a sociedade adotando o conceito de jogo de linguagem do segundo Wittgenstein, como um espaço entrópico onde convivem vários e diversos jogos de linguagem, determinantes para o vínculo social entre os homens. Eles dão conta da riqueza das práticas discursivas e pragmáticas da linguagem, sendo a informática e a arte um exemplo entre elas. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Arial;">Esta posição faz com que o autor seja visto quase como um anarquista por alguns americanos, que se esforçam muito para entender seu pensamento, em certos momentos ligado ainda sutilmente às idéias da dupla Deleuze e Guattari de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mille Plateaux</i>. Mas, por outro lado, Lyotard emerge no mesmo horizonte onde se movimentam pensadores como Richard Rorty, Jürgen Habermas e um vasto elenco que adota cacoetes neopragmáticos, usando expressões como: consenso, jogos de linguagem, pragmática científica, legitimação e critérios de validade. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12pt;">A Condição Pós-Moderna</span></i><span style="font-size: 12pt;"> colocou Jean-François Lyotard no centro das atenções, por ser primeiramente um livro que aponta para várias direções, tentando enquadrar a Filosofia na irremediável novidade dos tempos atuais, cheios de mudanças e acontecimentos desconcertantes, ao mesmo tempo em se abre para a polêmica, a discussão e o diálogo. Com isso, cumpre perfeitamente a função que o seu autor traçou para ele. </span></span></div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-82652685037791637992010-08-11T15:47:00.001-07:002010-08-11T15:47:14.072-07:00A aventura da modernidade<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Marshall Bermann reabriu o debate sobre a questão da modernidade em um obra que provocou polêmica nos meios intelectuais. Tomando como pressuposto um conjunto de transformações econômico-sociais pertinentes à emergência do sistema capitalista a que chama de modernização Berman busca resgatar a modernidade como experiência vital e histórica utilizando-se do pensamento de autores que classifica como modernistas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Berman surpreenderia a modernidade em tais pensadores pela constância de determinados princípios básicos, tais como o impulso criador/inovador, a percepção da totalidade e o princípio dialético, pelo qual se experimentaria a sensação de ganho e de perda, de fascínio e de repúdio diante das transformações que se desencadeiam <personname productid="em turbilh ̄o. A" w:st="on">em turbilhão. A</personname> riqueza do pensamento de Berman remonta à retomada de autores como Marx, Baudelaire, Benjamin, ou, ainda, dos escritores russos do século XIX, como Gogol e Dostoiévski.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Centralizando sua crítica na precariedade da dimensão espaço-temporal da análise de Berman (e na falta de historicidade do conceito de modernidade), como na radical discordância da idéia de revolução subjacente, Perry Anderson ressalta que o capitalismo é descontínuo no seu processo de realização ao longo do tempo e que mesmo no século XIX ele não se encontra difundido de maneira uniforme. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Dessa forma, ao identificar a modernidade como experiência histórica desde o século XIX, Berman estaria usando um conceito deslocado de sua temporalidade histórica. Da mesma forma, ao visualizar a modernidade dentro de um período tão dilatado, Berman incorreria também num tipo de análise não classista. O resultado final é uma crítica cabal ao próprio marxismo, uma vez que sua visão, na opinião de Anderson, seria não-histórica, não-classista, não-dialética e não-revolucionária.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A resposta de Berman prende-se mais às discussões teóricas da crítica de Anderson do que às dúvidas históricas assinaladas. Assim, Berman sustenta que as respostas não são encontráveis na teoria pronta, mas sim nas condições concretas objetivas do cotidiano; da mesma forma, a revolução coletiva passa pela pessoal e os "sinais pela rua" apontam as mudanças, mas para quem está aberto para percebê-Ias. Restaria, contudo, a discussão central da não-historicidade e da ausência de dimensão classista do conceito. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Remontando à obra de Berman, não parece que ele "descole" o conceito das condições históricas objetivas que lhe dão suporte (a saber, o processo de formação e afirmação do capitalismo). É evidente, contudo, que Berman não centraliza sua análise neste processo de transformações econômico-sociais (a modernização) ou na ação classista da burguesia, mas os toma como pressupostos do seu ponto central de análise, que é o resgate da modernidade como experiência vital no pensamento de autores modernistas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Argumentando ainda a favor da historicidade do conceito, pode-se perceber que a maior parte dos autores citados por Berman como portadores de modernidade são do século XIX, o que sem dúvida remete a este recorte temporal como o epicentro do fenômeno. Nesse sentido, é possível fazer confluir, dentro de um mesmo processo de desenvolvimento capitalista, a emergência do sistema de fábrica como forma acabada e vitoriosa e a modernidade como experiência histórica e vital.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Tomando a modernidade como vivência e traduzida em formas de ação, sentir e pensar, considera-se ser o sistema de fábrica o núcleo central que proporcionou todas estas transformações. Ele seria como o "coração" do capitalismo, ao passo que a modernidade compareceria como a expressão da "alma" daquele processo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O que, contudo, se considera como fundamental na análise de Berman é justamente o aspecto dialético da vivência da modernidade: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">[..] ser moderno é viver uma vida de paradoxo e contradição [.:] é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, tudo que é sólido desmancha no ar</i>"' </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Este processo desencadeado com o chamado "turbilhão de mudanças", que acompanharia o capitalismo desde o seu surgimento, atingiria no século XIX um ponto clímax, dando aos indivíduos a sensação de viver em dois mundos, um que se insinua e se impõe com rapidez e um que, aparentemente sólido, é superado rapidamente pelo novo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Na posição de Berman, a contradição estaria presente na base deste mundo moderno revolucionado pelo sistema capitalista <personname productid="em constru ̄o. N ̄o" w:st="on">em construção. Não</personname> se trata apenas de restaurar a dialética como motor da história, mas sim de resgatar a dialética como postura vital dos indivíduos diante das transformações em cadeia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Crê-se ser justamente esta identificação de uma postura de atração-repúdio, celebração-combate, fascínio-temor os elementos que fazem Berman retomar a leitura de Marx, Baudelaire e Benjamin. Com aguda percepção, Berman surpreende em pensadores do século XIX esta atitude de desejo de mudança mesclada com a nostalgia de um mundo que se desagregava, perante a espiral do progresso e o impacto da técnica: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">[...] sentiram a modernidade como um todo, um momento em que apenas uma pequena parte do mundo era verdadeiramente moderna</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Em Marx, Berman identificaria a postura-símbolo da modernidade, uma vez que o maior crítico da burguesia experimentaria ao mesmo tempo uma admiração pelas forças que o capitalismo era capaz de desencadear. Se, por um lado, a ordem burguesa, no seu afã de destruir barreiras, daria margem ao desenvolvimento de tendências críticas ao próprio sistema, por outro lado o capitalismo seria capaz de auferir forças de suas próprias crises internas. Qual fênix em contínuo renascer das próprias cinzas, este fenômeno seria para Marx um instrumento de tensão entre a sua capacidade crítica e o seu sonho mais radical, configurando aquela postura que Gramsci definiria como o conflito entre "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">o pessimismo do intelecto e o otimismo da vontade</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Trata-se, sem dúvida, de uma outra leitura de Marx, mas que, a rigor, não se opõe ao Marx que disseca e desvela os mecanismos da dominação burguesa e do sistema de fábrica. Crítica e repúdio, mas também admiração, magia e fascínio pelo vigor de um sistema em construção.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Postura similar poderia ser encontrada em Baudelaire, que oscila entre a celebração da burguesia como classe e a denúncia do caráter arrasador do processo técnico trazido pela modernidade. Assim, Baudelaire tem momentos nos quais legitima a propriedade, como fonte de poder e sinônimo de força, consagrando o direito de mando da burguesia como justo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">No seu texto sobre o "Salão de 1846", dedicado aos burgueses, Baudelaire afirmava: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vós sois a maioria numerosa e inteligente; portanto vós sois a força que é a justiça</i>”. "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Uns sábios, outros proprietários; um dia radioso virá em que os sábios serão proprietários, e os proprietários sábios. Então vosso poderio será completo, e ninguém protestará contra ele. Esperando esta harmonia suprema, é justo que aqueles que não são senão proprietários aspirem a tornar-se sábios; porque a ciência é um gozo não menor que a propriedade</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Flui do texto o indicativo de que o saber e a cultura devem ter o apoio, o mecenato e a predileção da classe burguesa, complementos necessários a uma situação de predomínio sobre a sociedade que se apoiava sobre a riqueza. A ambigüidade, contudo, permanece uma constante <personname productid="em Baudelaire. Ora" w:st="on">em Baudelaire. Ora</personname> o poema das Flores do Mal aparece como o porta-voz da burguesia, como no já citado caso do Salão de 1846, ora se volta contra ela. Tome-se o caso da figura do dandy, que ocupa um lugar central na sua obra. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Ao inverso da burguesia, este não tem uma função claramente assinalada. O dandy é um diletante, um vagabundo, um boêmio, que não procura atingir outro fim senão o de celebrar por tudo e sempre a glorificação das aparências, da beleza e das sensações. Note-se a dialética que preside a personagem: é antieconômico e, como tal, antiburguês; não faz nada, tal como o antigo aristocrata, mas ao mesmo tempo é a imagem de um homem revoltado por excelência.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Tal como o artista, é produto de sua época, mas contra ela se volta, na busca de um ideal estético livre da mercantilização da vida. Por outro lado, esta mesma ordem burguesa, que fora capaz de desencadear um surto de desenvolvimento tecnológico que dotara o mundo de novos inventos, é encarada pelo escritor como catastrófica e destruidora da verdadeira arte e do belo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Para Baudelaire, o progresso, sendo o domínio progressivo da matéria pelo homem, era, ao mesmo tempo, uma invenção da filosofia do seu tempo: "[...] i<i style="mso-bidi-font-style: normal;">déia grotesca que floresceu sobre o terreno da fatuidade moderna, desincumbiu cada um do seu dever; livrou toda a alma de sua responsabilidade, libertou a vontade de todos os laços que lhe impunham o amor ao belo</i>" .</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Para o senso comum do homem francês, o progresso era o vapor, a eletricidade e o gás, numa evidência da superioridade industrial que lhe fazia perder a noção das diferenças que caracterizam os fenômenos do mundo físico e do mundo moral, do material e do espiritual. Nesse sentido, ao caracterizar o progresso como "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">moderna lanterna que jogava sombra sobre todos os objetos do conhecimento</i>", intuía que nesta idéia mestra dos novos tempos se encontrava um elemento velador da realidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Extrapolando seu domínio da ordem material para a ordem da imaginação, o progresso cegava e obliterava os sentidos e o senso crítico. Mesmo admitindo que, na ordem material, se procedia um progresso incontestável, Baudelaire se perguntava qual a garantia do progresso para o amanhã, em que o futuro se apresentava como uma conquista assegurada, por meio de uma série indeterminada quanto a seus fins: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">[...] o progresso indefinido não será sua mais engenhosa e sua mais cruel tortura; se, procedendo por uma opiniática negação de si mesmo, ele não será um modo de suicídio incessantemente renovado e se, fechado no círculo de fogo da lógica divina, ela não se assemelharia ao escorpião que se volta contra si mesmo com a sua terrível cauda, este eterno 'desideratum' que faz seu eterno desesper</i>o".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Resgata-se, portanto, em Baudelaire, assim como em Marx, uma atitude de ambigüidade, perante a evidência do triunfo burguês e o reconhecimento de sua capacidade transformadora da natureza e da relação entre os homens, por um lado, e as conseqüências deste processo, por outro. O alastramento do capitalismo, tendo por arauto a figura da máquina, materialização do progresso, do avanço da técnica e do engenho humano, instalaria na sociedade a crescente fascinação pelo novo, pela recente descoberta, pelo invento atraente, pelo engenho fantástico, insuspeitado até então pelos homens de outras épocas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O século XIX foi, por excelência, um momento de transformação em múltipla escala. A população aumentara, as cidades cresceram e colocaram aos governantes toda uma sorte de exigências, desde a reordenação espacial, redesenhando as ambiências, até o cumprimento dos serviços públicos demandados pelo "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">viver em cidades</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Produtos novos e máquinas desconhecidas atestavam que a ciência aplicada à tecnologia era capaz de tudo ou, pelo menos, quase tudo. O valor dominante era o do progresso, caro às elites que dele faziam o esteio de uma visão de mundo triunfante e otimista e tem por corolário a confiança no homem, no indivíduo autor e motor das mudanças que cada um pode constatar na sua proximidade imediata tais como a implementação, depois a extensão da rede da estrada de ferro que são percebidas como as benfeitorias às quais o 'trabalho' ou a 'instrução' poderão permitir de participar plenamente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O indivíduo tem então um papel a desempenhar na história coletiva, a do progresso da humanidade. Esta noção de progresso é desenvolvida com a idéia de um mundo melhor para todos. Entretanto, no quadro das transformações capitalistas também se geraram as condições miseráveis de existência e trabalho dos operários fabris e deram margem a movimentos associativos e de resistência da classe trabalhadora. Pensadores como Proudhon, Fourier e Marx opunham ao individualismo uma visão do social que solidificava o sentimento classista dos subalternos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Em suma, a homogeneização do mundo, pretendida pelo capitalismo, tinha um verso e um reverso, que daria aos contemporâneos a sensação aludida por Berman da espiral de transformação, da postura vital de atração e repúdio, do "isto" e do "aquilo". Neste contexto, a modernidade, como sentimento, sensação, postura estética e mentalidade, traduz-se pela noção de exigência: é preciso "ser do seu tempo", "acompanhar o ritmo da história", "captar a mudança e mudar com ela", como ação e pensamento.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Como diria Baudelaire: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">a modernidade é o transitório, o fugitivo, o contingente; a metade da arte, da qual a outra metade é o eterno e o imutável</i>". Ou seja, o sistema de fábrica era capaz de, com velocidade crescente, oferecer à sociedade a última moda e a mais recente mercadoria que, contudo, já estava ameaçada de ser suplantada a cada instante pelo novo fruto da aplicação da ciência à tecnologia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">As coisas deixavam assim de ter a sua perenidade, a sua permanência, para que se privilegiasse o efêmero e o transitório. Não é por acaso, pois, que Baudelaire opusesse à modernidade-mudança uma visão da arte como o eterno e o imutável. Talvez por ser espectador e ator da "vida moderna" que ele buscou captar, Baudelaire enfatiza nesta afirmação a modernidade como o transitório, na qual se evocam os componentes mais característicos do seu tempo: a moda, a novidade, o progresso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Há, contudo, uma outra leitura do mesmo Baudelaire, na qual ele focaliza a modernidade como um todo, sendo o eterno e o transitório seus dois componentes. Nesta outra definição, Baudelaire estaria resgatando a historicidade do conceito, que supõe a faculdade de passar de uma época a outra e de ser reconhecido como tal. Assim, a modernidade não seria só o novo, a curta temporal idade de uma época naquilo que ela tivesse de mais passageiro, como a moda.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Dessa maneira, Baudelaire apontaria para a modernidade como o "sentido da vida presente", que se renova e se historiciza em cada contexto, em cada sujeito, em cada objeto. Mais ainda, dilataria a modernidade para além da sua época, como aquilo que toca mais ao sujeito no seu tempo. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Neste ponto, há uma ambivalência no tocante à concepção do tempo e aos padrões clássicos da Antigüidade na sua confrontação com o novo e o moderno. De certa forma, o presente dos homens até então estivera sempre reorientado pelo passado, tanto no que diz respeito a uma concepção de história edificante ou mesmo da vida quanto a uma eterna e inevitável comparação com a produção artística da Antigüidade, considerada insuperável.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Com a modernidade, o presente, até aí carregado de todo o passado, se volta para o futuro. Esta sensibilidade nova para o futuro; sustentada pela idéia do progresso, arrasta uma consciência alargada sobre o tempo. Em contrapartida, o passado não estando mais fixado nem limitado numa tradição dada, o artista vai procurar vieses além da antigüidade ou do classicismo. [...] <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O tempo da modernidade é o presente, distinto do passado e do futuro, e simultaneamente portador dos dois. Esta nova concepção do tempo conduz o homem a conferir um valor específico à época na qual ele vive</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Não se pode, contudo, pensar que a Antigüidade pudesse estar esquecida ao longo do século XIX. Pelo contrário, ela sempre esteve presente e viva e, embora na busca de inspiração e padrões novos, adequados aos também novos tempos, Baudelaire almejava para a modernidade um status de arte antiga. Ou seja, mesmo na sua busca de superação, é ainda o padrão clássico o que prevalece como cânone.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Retomemos, contudo, o fio da meada. As transformações socioeconômicas traz idas pelo sistema de fábrica têm a sua contrapartida ou a sua outra face na modernidade, traduzida em experiências, sensações vitais e mentalidades, que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se configuraram de modo especial no século XIX. Uma destas manifestações da modernidade surpreendida nos pensadores do século passado é a atitude de ambigüidade, assinalada, como se viu, em Marx e Baudelaire.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A mesma percepção teria Benjamin, o notável pensador canhestro, que foi, se não insuperável, pelo menos brilhante no resgate de tais questões. Como refere Berman, "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">mesmo a mente crítica e lúcida do marxista se vê afetada pelo charme da sociedade burguesa</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Diante da fascinante Paris, Benjamin desvela as tramas da dominação do capital, mas "não tem pressa" de ser salvo. Segundo Flávio Kothe, Benjamin: "[...} <i style="mso-bidi-font-style: normal;">adianta a caracterização da 'modernidade' pela relação que soube estabelecer, no processo de industrialização capitalista, entre desenvolvimento urbano, técnicas de reprodução e produção literária</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Mantendo ele próprio uma atitude ambivalente para com a sociedade burguesa, Benjamin, ao se debruçar sobre Baudelaire, resgata neste autor uma postura similar: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Amaldiçoa o progresso, abomina a indústria do século atual e, mesmo assim, compraz-se na atmosfera toda especial que esta indústria tem acarretado para a nossa vida de hoj</i>e".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Indo mais além na análise da ambivalência de Baudelaire, Benjamin aponta para o tema da multidão, caro aos escritores do século XIX. Para Engels e para Poe, a massa tem algo de ameaçador, mas em Baudelaire exerce uma sensação ora de repúdio, ora de atração. Ele é, ao mesmo tempo, cúmplice deste indivíduo sem rosto e sem nome e dele também busca diferenciar-se, recusando a massificação.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Foi interrogando-se sobre os conceitos baudelairianos que Benjamin articulou e amadureceu os seus, indo mais longe no seu processo de reflexão sobre a realidade. Na Paris do Segundo Império, época de Baudelaire, Benjamin procurou desvendar o processo mediante o qual se construiu o mundo material e o "espírito" do século XIX.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O crescimento da indústria, pela própria dinâmica da sua acumulação, obriga-se a aperfeiçoar constantemente os métodos produtivos, criando novas tecnologias e pondo à disposição dos consumidores nova gama de mercadorias. A concorrência capitalista que se instala é, ela própria, um poderoso estímulo na superação do novo pelo mais novo ainda, da técnica em uso por aquela que se intenta produzir.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Benjamin, todavia, não só fica na constatação do progresso naquilo que ele aparenta ser ou na forma tal como se mostra melhor qualidade, maior quantidade, maior rapidez, mas vai ao âmago daquilo que ele oculta. Não se trata apenas de colocar ao consumo das populações que se aglomeram nas cidades grande variedade de mercadorias, mas do processo mediante o qual palavras, pessoas e processos se tornam eles próprios mercadorias.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O sentido é, aqui, mais uma vez aquele empregado por Marx, fetichista e alienador, pelo qual as coisas passam a exprimir algo que não é explícito, ou se travestem de umá aparência que encobre uma essência. Daí, o recurso de Benjamin ao processo de pensar a realidade por meio de alegorias, imagens condicionadas pelo fetiche da mercadoria. Ora, o procedimento de pensar por meio de alegorias é dado quando se recorre a uma imagem sabendo que ela tem um outro significado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A alegoria é, pois, a representação concreta de uma idéia abstrata, ou ainda o processo de "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">exposição de um pensamento sob forma figurada em que se representa algo para indicar outra coisa</i>". Segundo Benjamin, é a mercantilização da vida trazida pelo capitalismo de uma forma total e globalizante que faz com que as coisas sejam apreendidas na sua aparência, quando a essência, ou o processo real que Ihes dá nascimento, é encoberta.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Segundo Rouanet: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A intenção de Benjamin era derivar do fetichismo das mercadorias todas as 'fantasmagorias' do século XIX: a da própria mercadoria, cujo valor de troca esconde seu valor de uso; a do processo capitalista em seu conjunto, em que as criações humanas assumem uma objetividade espectral em relação a seus criadores; a da cultura, cuja autonomia aparente apagou os traços de sua gênese, e a das formas de percepção espaço-temporal as fantasmagorias do tempo, ilustradas pelo jogador e pelo colecionadol; ou as do espaço, ilustrada pelos flâneurs</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Inspirado, pois, no conceito do fetichismo da mercadoria, Benjamin recorre às alegorias imagens de representação simbólica do real que assumem forma fantasmagórica da realidade. Ou seja, ainda citando Rouanet, "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">a fantasmagoria não é uma forma de apreensão do real, mas o próprio rea</i>l". Ou seja, é a mercantilização capitalista que produz a assimilação da fantasmagoria à própria vivência dos indivíduos, que não apenas sentem e sonham as fantasmagorias como realidade, mas as convertem na sua própria realidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Dessa forma, entende-se que tanto a aparência quanto a essência ou o inexprimível são partes integrantes da mesma realidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Na sua obra inacabada <i style="mso-bidi-font-style: normal;">As</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Passagens</i> Walter Benjamin pretenderia realizar uma arqueologia da superestrutura cultural do século XIX, tendo como categoria central de análise o conceito marxista do fetichismo da mercadoria. Benjamin, todavia, foi introduzido neste conceito pela obra de Lukács, particularmente nas partes referentes à reificação e à consciência de classe.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Lukács havia retraduzido, em linguagem filosófica, a análise econômica que Marx fizera do fetichismo da mercadoria, e Benjamin pretendeu fazer o mesmo com a cultura na fase do capitalismo triunfante. Foi justamente este aspecto de autonomia que a mercadoria adquiriu em relação ao seu produtor e ao seu comprador o que mais seduziu Benjamin na análise de Marx sobre o modo de produção capitalista. Como refere Tiedmann, interpretando Benjamin: "O<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> destino da cultura do século XIX residia precisamente neste caráter de mercadoria que, segundo Walter Benjamin, se manifestaria nos bens culturais como fantasmagoria</i>”.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A mercadoria, ela mesma, é uma fantasmagoria,quer dizer, uma ilusão, um engano, na medida em que o valor de troca ou forma-valor recobre o valor de uso; o processo de produção capitalista em geral é uma fantasmagoria na medida em que ele aparece como um poder natural dos homens que asseguram a sua realização. Aquilo que as fantasmagorias culturais exprimem, segundo Walter Benjamin, quer dizer, a ambigüidade que se liga às relações e às produções sociais desta época, define o mundo econômico do capitalismo em Marx. É uma ambigüidade que aparece muito claramente com as máquinas que ampliam a exploração em lugar de aliviar a sorte dos homens.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Dessa forma, Benjamin pensa o século XX valendo-se do espetáculo oferecido por Paris naquilo que a modernização tem de mais concreto as passagens, os panoramas, as exposições, as remodelações urbanas, as exposições universais, as novas técnicas e inventos , mas também daquilo que se encontra encoberto e não dito: a dominação do capital sobre o trabalho, os silêncios produzidos na história pela ordem burguesa, as relações sociais subjacentes ao sistema de fábrica, a expulsão dos pobres dos centros das cidades, a defesa da propriedade em nome da ordem, o progresso do capital entendido como o progresso do social, etc., etc.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Nesse sentido, em sua proposta de fabricação-ocultação da realidade, o sistema produz as suas utopias, por meio das quais uma época é capaz de pensar i o seu futuro. Se o progresso foi uma utopia que embalou os sonhos do século XIX, os novos inventos, fruto da aplicação da ciência à tecnologia, adquiriram aos olhos da multidão o status de fantasmagorias, surgidas no mundo moderno para encantar a humanidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">As "passagens", particularmente, representariam para Benjamin a própria alegoria do século XIX no seu mais puro espírito burguês: galerias cobertas de ferro e vidro, povoadas de lojas, "ruas inteiras" para o transeunte ver as novidades e ser visto, elas se apresentam como uma sociedade burguesa em miniatura, tal como ela gostaria de ser admirada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O que aparece e se revela é o mundo da circulação, do comércio, da troca; o que se oculta e se retrai para a sombra é o espaço da produção onde, no "silêncio" da fábrica, se realiza a exploração do trabalho pelo capital. Ora, a função da fantasmagoria-fetiche é a transfiguração da realidade, daí o seu caráter ilusório.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Há, contudo, uma ambivalência no julgamento de Benjamin a respeito destas ilusões e imagens enganadoras que a sociedade burguesa se fabrica. "De um lado, é certo que Benjamin sublima na fantasmagoria sua função de transfiguração e de engodo. Mas, de outro lado, ele Ihes encontra igualmente e ao mesmo tempo aspectos positivos: elas são também imagens sonhos da coletividade, elas encerram as demandas utópicas daquelas que as desenvolvem. De certa forma, cada época produz os seus sonhos, mas é na sociedade dominada pelas relações capitalistas e, portanto, pela mercantilização da vida que a dimensão onírica assumiria um papel preponderante.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A história seria, sem dúvida alguma, realizada pelos homens, mas sem plano ou consciência, como se fosse num sonho, em virtude da fetichização. Portanto, as fantasmagorias, categorias benjaminianas que se equivalem ao fetiche da mercadoria de Marx, como imagens produzidas socialmente, funcionam como imagens de desejo coletivo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Este inconsciente coletivo corresponderia a um correlato, na ordem da imaginação, da reificação no sistema de mercadorias. Nesse sentido, ao analisar a construção do imaginário social do século XIX, há que registrar, para além da dimensão racional ou intencional do engodo e da ocultação fetichizada do processo real vivido, uma outra dimensão: a da projeção do desejo coletivo, das utopias proporcionadas pela própria vivência dos indivíduos na sociedade burguesa <personname productid="em constru ̄o. O" w:st="on">em construção. O</personname> "efeito-maravilha" da máquina e dos novos inventos leva as pessoas a construírem seus sonhos sobre a realidade, tendo por base aquilo que se quer, que se gostaria que acontecesse e que se espera que um dia possa tornar-se real.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Esta forma de pensar, servindo-se das fantasmagorias, provém de uma percepção mítica do mundo. Refere Rolfjanz que, por uma amarga ironia, o século XIX, herdeiro do século das luzes, da razão e da ciência, que revelou o crescente domínio do homem sobre a natureza, favoreceu e reabilitou formas de representações míticas sobre a realidade. Entende o autor que o pensamento mítico não informa concretamente senão sobre a superfície das coisas e constrói uma interpretação fatalista e inexorável da realidade, como, por exemplo, com as idéias sobre o progresso ou sobre o "eterno retorno", de Nietzsche.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Se o caminho do progresso é a trilha fadada a percorrer por uma humanidade arrastada pelo turbilhão do capitalismo, o mito do "eterno retorno", ou a experiência da "eterna repetição", é recordado por Benjamin pela figura do trabalhador na usina. Condenado a repetir mecanicamente os mesmos gestos e a nunca ver a tarefa encerrada (uma vez que a produção é contínua e o trabalho parcelado, distanciando o operário do produto final), sua personagem é comparada à de Sísifo, também ele condenado a uma tarefa inglória e destinada a não ter fim.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Se tal associação mítica já fora colocada por Engels, a novidade de Benjamin constitui em supor uma similitude entre a situação das classes altas e a das baixas classes sociais. Nessa medida, "[...] <i style="mso-bidi-font-style: normal;">a experiência da 'eterna repetição' [...] não fica restrita ao único domínio do trabalho do proletariado. Ela marca igualmente a burguesia e com ela o 'dandy' e o 'flâneur</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Trata-se, sem dúvida, de uma correlação original, estabelecendo que a monotonia do trabalho na usina é comparável ao enfado trazido pela ociosidade. Dessa forma, o sentimento de vazio da existência e o aborrecimento com uma vida sem perspectivas, verdadeira "epidemia" observada na sociedade européia da segunda metade do século XIX, fariam suas vítimas nos dois extremos sociais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Entende-se que esta percepção benjaminiana de correlacionar os dois pólos da vida social como pacientes de um mesmo processo advém da sua concepção da realidade, vista como um todo global, interligado e, fundamentalmente, perpassado pela idéia-mestra da fantasmagoria encarado sob uma perspectiva dialética. Por outro lado, com o mito da eterna repetição, Benjamin retoma Baudelaire por meio da dialética do novo e do eternamente igual.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">É ainda Rouanet que, com propriedade, explica esta ambigüidade: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">sua fonte é a mercadoria-fetiche, no duplo sentido de que os artigos produzidos em massa são infinitamente idênticos e de que o seu substrato, o valor de troca, é um agente de homogeneização que permite a infinita intercambialidade dos valores equivalentes, por mais diferentes que sejam os seus valores de uso</i>" .</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Benjamin via justamente no acelerado envelhecimento das invenções e novidades brotadas do capitalismo a marca da modernidade. A moda, condenada a se renovar sem cessar, figura como o eterno retorno do novo ao ponto de ser: igualmente, a paródia desta novidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Neste sentido, contribui Fabrizio Desideri: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mas o fundo contra o qual palpita o novo e o fundo do sempre-igual: o tempo vazio onde se constitui a dominação fetichista da forma-mercadoria como espectralidade: auto-envelopante que captura todas as formas do desenho metropolitano. A máscara deste espectro é a fantasmagoria. A modernidade, dominada pela fantasmagoria, tem a imagem do sonho: sua aparência histórica significa aparência onírica</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">No seu intento de realizar uma arqueologia da modernidade valendo-se da análise do século XIX, Benjamin se propõe a desvelar o mundo das imagens da burguesia. É claro que essa aguda percepção de conseguir ver o sempre-igual como ilusório e resgatar o novo dos escombros do tempo passado não é tarefa para o comum dos mortais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Decifrar o mundo burguês implica desvelar a ex-nominação burguesa. Remontando a Barthes, a burguesia se define como a classe social que não quer ser nomeada como tal. Ou seja, como fato econômico, o capital ou o capitalismo são atores explícitos responsáveis pelo progresso e pela sociedade do bem-estar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Já como fenômeno ideológico, ela não se assume como classe e passa do real à sua representação. Ao universalizar os seus valores para a nação, para a coletividade, a burguesia se ex-nomina e se encobre na "socialização" imposta. Como já foi visto, a coletividade sonha, e ao sonhar acredita como real a imagem que lhe é posta diante dos olhos pelo sistema. A tarefa de despertar compete ao historiador materialista que, apoiado na dialética, é capaz de desfazer o charme do sonho e fazer a humanidade despertar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A idéia-mestra do progresso, que atravessa o século e oferece aos homens de sua época a crença de que o futuro é uma conquista assegurada, é desta forma posta em discussão por Benjamin, despida do seu caráter mágico de ilusão e revelada em sua ambigüidade. Pensando de forma alegórica, é o vento do progresso que obriga o "anjo da história" a andar voltado para a frente, quando ela tende a voltar-se para trás, resgatando do passado outras propostas, vencidas e não reveladas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Trata-se, sem dúvida, de uma nova dimensão do tempo que Benjamin inaugura, postulando "escovar a história a contrapelo", segundo a perspectiva dos I vencidos. Mas, ao fazê-loredimindo assim do passado "aquilo que não foi" em razão das forças da dominação, Benjamin desvela os mecanismos do : poder do capital. A fábrica coloca na sociedade não apenas mercadorias produzidas pelo progresso técnico, mas elabora imagens de sonho e desejo que adquirem força de realidade. Dessa forma, Benjamin, de forma alegórica, remonta ao Angelus Novus de Klee para confiar esta missão de decifrar imagens e sonhos ao materialista, histórico, capaz de desvelar a essência da ilusória imutabilidade das aparências.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Da mesma forma, Rouanet coloca nos artistas mais representativos do século<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>XIX a capacidade de reconhecer "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">a natureza alegórica da realidade enquanto condicionada pelo fetiche da mercadoria</i>". Uma coisa, contudo, é resgatar o senso crítico presente nas mentes iluminadas dos pensadores que, de uma forma dialética, perceberam as transformações materiais e as social idades do seu tempo e cujo pensamento chegou até nós. Outra é perceber que, de forma acrítica e não consciente, aquele turbilhão de mudanças influiu nos atores sociais anônimos do processo sob a forma de senso comum, de representações mentais e de um imaginário social. Dessa forma, a modernidade do século XIX, tal como eclodiu como percepção aguda por intermédio de seus pensadores mais representativos, ocorreu também como vivência socializada pelo homem comum, que foi portador também destas ambigüidades, perplexidades e percepção de mudança.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Um ponto merece ainda ser ressaltado nas análises de Benjamin sobre a modernidade. No seu "Exposé de 1939" sobre a Paris do século XIX, Benjamin afirma que "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Entretanto, este brilho e este esplendor do qual se cercava assim a socieI dade produtora de mercadorias e o sentimento ilusório de sua segurança não estão ao abrigo das ameaças</i>". Benjamin tinha em mente tanto a débâcledo Segundo Império quanto a Comuna de Paris, com o que desfaz a aparente estabilidade da sociedade burguesa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Nesta medida, Philippe Ivernel distingue dois fios na narrativa de Benjamin nas "Passages": a Paris da burguesia, da moda, da fantasmagoria, das forças míticas da mercadoria, e a Paris das revoltas e das revoluções, "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">que põe a história na hora da política tanto quanto a política na hora da história</i>". </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Este elemento de tensão, presente nas polarizações da riqueza e da pobreza e que já consta da obra de Baudelaire, é o elemento que precisa ser revelado e ser trazido à tona pelo historiador que à semelhança do trapeiro, vai recolhendo fragmentos e cacos do passado. Para Benjamin, não há mais diferença entre este "despertar" produzido pelo historiador e a ação política. A esta altura da análise, o leitor estará se perguntando se a modernidade se resumiria à interpretação ou à leitura que lhe deu Benjamin.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Certamente não. Neste ponto, poderia ser agregada ao princípio dialético presente na experiência histórica da modernidade a idéia da racional idade ocidental. Remontando a Max Weber, mas sobretudo a Hegel, Habermas acentua a íntima relação entre modernidade e racionalidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Na sua análise sobre o fenômeno da modernidade, Habermas distingue uma dimensão cultural, marcada pela dessacralização das visões do mundo tradicionais, e uma dimensão social, identificada por complexos de ação autonomizados (o Estado e a economia), que escapam crescentemente ao controle consciente dos indivíduos através de mecanismos anônimos e transindividuais (processo de burocratização). Embora empenhado em estabelecer uma teoria crítica sobre a sociedade, Habermas não sucumbe ao peso da identificação castradora da modernidade social sobre a modernidade cultural. Acredita na possibilidade de uma racionalidade comunicativa que, vinculando o mundo objetivo dos fatos, o mundo social das normas e o mundo subjetivo dos sentimentos, restaura as potencialidades libertadoras da modernidade como experiência histórica não acabada ou falida. Nesse sentido a modernidade é marcada pela consciência da aceleração do presente e a expectativa da heterogeneidade do futuro, o que aproxima as suas idéias às noções já levantadas de uma expectativa de mudança e sensação individual e coletiva de viver num mundo em transformação.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Por outro lado, sob uma outra perspectiva, Habermas também pensa o moderno como uma nova temporalidade, marcada pelo primado da razão, ao admitir que a modernidade "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">não pode nem quer tomar seus critérios de orientação de modelos de outras épocas, tendo de extrair sua normatividade de si mesma</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Na aventura da modernidade e os contraditórios caminhos do progresso, a modernidade tem sido tratada por vários autores, que lhe atribuíram diferentes tempos e sentidos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Para Heidegger, ela teria iniciado com Descartes, na sua busca de um saber totalizante, absoluto; para Habermas, com Kant; para Sartre, com a geração literária de 1850. Em relação às artes, o seu início teria sido o Romantismo, como apontou Baudelaire, os impressionistas das décadas de 70 e 89, ou ainda ela teria seu ponto de partida no início do novo século, com as Demoiselles d'Avignon, de Picasso. Múltipla, polifacetada, contraditória, descontínua, como experiência vital, ela pressupõe mais de um olhar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Resguardado o direito de opção e de busca de articulação entre as dimensões culturais com as condições concretas de existência, o fio condutor desta análise é o que situa a modernidade na senda da constituição do capitalismo. Assim, a base teórica desta análise é a que vai de Marx a Benjamin, ou, em outras palavras, a que trabalha com a fetichização do mundo e a transfiguração alegórica da realidade. A produção de um imaginário coletivo, traduzido em idéias-imagens da sociedade global, pode ter ou não correspondência com o que se poderia chamar de verdade social, uma vez que ele comporta utopias e, em condições capitalistas da existência, liga-se ao princípio de mercantilização da vida.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Este processo tende a configurar-se de forma sensível no século XIX, tomando-se: por base a Europa Ocidental, no momento em que triunfava o sistema de fábrica como a forma histórica mais adequada à realização da mais-valia, da elevação da produtividade, da consolidação, da dominação burguesa, do adestramento operário à disciplina do trabalho. E ainda o advento do capitalismo o elemento que possibilita o desenvolvimento do pensamento racional que, por sua vez, é responsável também pelo avanço da ciência e de sua aplicação à técnica. Nesse contexto, a modernidade é um fenômeno do domínio da cultura, da expressão do pensamento, das sensações, das mentalidades e da ideologia. Sua base nascedoura é a transformação burguesa do mundo, que dá margem a um novo sentir e agir. Neste mundo dominado pela fantasmagoria, o espetáculo da modernidade armaria o próprio palco para demonstrar a exemplaridade do sistema: as exposições universais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt;"><br />
</div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-67042987436913324962010-08-11T15:46:00.001-07:002010-08-11T15:46:08.449-07:00Sociedade em Rede<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A Revolução da Tecnologia da Informação, que revolução? No final do século XX estamos vivemos um intervalo cuja característica é a transformação de nossa "cultura material" pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organizou em torno da tecnologia da informação. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O processo de transformação tecnológica expandiu-se exponencialmente em razão de sua capacidade de criar uma interface entre campos tecnológicos mediante uma linguagem digital comum na qual a informação é gerada, armazenada, recuperada, processada e transmitida. Vivemos em um mundo que se tornou digital. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Esse é um evento histórico da mesma importância da revolução industrial do século XVIII induzindo um padrão de descontinuidade nas bases materiais da economia, sociedade e cultura. Diferentemente de qualquer outra revolução, o cerne da transformação que estamos vivendo na revolução atual refere-se às tecnologias da informação, processamento e comunicação. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para geração de conhecimentos e de dispositivos e de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativa entre a inovação e seu uso. Os usos das novas tecnologias de telecomunicações nas duas últimas décadas passaram por três estágios distintos: a automação de tarefas, as experiências de usos e a reconfiguração das aplicações. Nos dois primeiros estágios, o progresso da inovação tecnológica baseou-se em aprender usando. No terceiro estágio, os usuários aprenderam à tecnologia fazendo, o que acabou resultando na reconfiguração das redes e na descoberta de novas aplicações. O ciclo de realimentação entre a introdução de uma nova tecnologia, seus usos e seus desenvolvimentos em novos domínios torna-se muito mais rápido ao novo paradigma tecnológico. Consequentemente, a difusão da tecnologia amplifica seu poder de forma infinita, “à medida que os usuários apropriam-se dela e a redefinem”. Dessa forma, os usuários podem assumir o controle da tecnologia como no caso da Internet. Pela primeira vez na história, a mente humana é uma forca direta de produção, não apenas um elemento decisivo no sistema produtivo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">As novas tecnologias da informação difundiram-se pelo globo com a velocidade da luz em menos de duas décadas, entre meados dos anos 70 e 90, por meio de uma lógica que é a característica dessa revolução tecnológica: a aplicação imediata no próprio desenvolvimento da tecnologia gerada, conectando o mundo através da tecnologia da informação. Na verdade, há grandes áreas do mundo e consideráveis segmentos da população que estão desconectados do novo sistema tecnológico. As áreas desconectadas são cultural e espacialmente descontínuas. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A seqüência histórica da Revolução da Tecnologia da Informação. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A breve, porem intensa, historia da revolução da tecnologia da informação foi contada tantas vezes nos últimos anos que é desnecessário relata-la completamente. Todavia, é útil para analise nos lembrarmos dos principais eixos da transformação tecnológica em geração/processamento/transmissão da informação, colocando-os na seqüência que se deslocou rumo à formação de um novo paradigma sociotécnico. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Macromudancas da microengenharia: eletrônica e informação. Foi durante a Segunda Guerra Mundial e no período seguinte que se deram as principais descobertas tecnológicas em eletrônica, o primeiro computador programável e o transistor, fonte da microeletrônica, o verdadeiro cerne da revolução da tecnologia da informação no século XX. Porem defende-se que só na década de 70 as novas tecnologias da informação difundiram-se amplamente, acelerando seu desenvolvimento sinérgico e convergindo em um novo paradigma. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O divisor tecnológico dos anos 70. Esse sistema tecnológico, em que estivemos totalmente imersos nos anos 90, surgiu nos anos 70. As descobertas básicas nas tecnologias da informação têm algo de essencial em comum: embora baseadas principalmente nos conhecimentos já existentes e desenvolvidas como uma extensão das tecnologias mais importantes, essas tecnologias representaram um salto qualitativo na difusão maciça da tecnologia em aplicações comerciais e civis, devido a sua acessibilidade e custo cada vez menor, com qualidade cada vez maior. Podemos dizer q a Revolução da Tecnologia da Informação propriamente dita nasceu na década de 70, principalmente se nela incluirmos o surgimento e a difusão paralela da engenharia genética mais ou menos nas mesmas datas e locais. A tecnologias da vida, no inicio da década de <metricconverter productid="70, a" w:st="on">70, a</metricconverter> combinação genética e a recombinação do DNA, base tecnológica da engenharia genética, possibilitaram a aplicação de conhecimentos cumulativos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Daí para frente, houve uma corrida para a abertura de empresas comerciais. Entretanto, dificuldades científicas, problemas técnicos e obstáculos legais, oriundos de justificadas preocupações éticas e de segurança, retardaram a louvada revolução biotecnológica durante a década de 80. Um considerável valor em investimentos de capital de risco foi perdido e algumas das empresas mais inovadoras foram absorvidas por gigantes farmacêuticos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Porém, no final da década de 80 e durante os anos 90, um grande impulso científico e uma nova geração de cientistas ousados e empreendedores revitalizaram a biotecnologia com um enfoque decisivo em engenharia genética, a tecnologia da vida verdadeiramente revolucionaria nesse campo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Devido a sua especificidade científica e social, a difusão da engenharia genética progrediu de forma mais lenta que a eletrônica entre as décadas de 70 e90. Mas, nos anos 90, mercados mais abertos e maiores recursos educacionais e de pesquisas em todo o mundo estão acelerando a revolução biotecnológica. Todas as indicações apontam para uma explosão de aplicações na virada do milênio, que desencadeará um debate fundamental na fronteira, atualmente obscura, entre a natureza e a sociedade. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O contexto social e a dinâmica da transformação tecnológica. Os caminhos seguidos pela indústria, economia e tecnologia são, apesar de relacionados, lentos e de interação descompassada. A emergência de um novo sistema tecnológico na década de 70 deve ser atribuída à dinâmica autônoma da descoberta e difusão tecnológica, inclusive aos efeitos sinérgicos entre todas as várias principais tecnologias. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O forte impulso tecnológico dos anos 60 promovido pelo setor militar preparou a tecnologia norte-americana para o grande avanço. A primeira Revolução em. Tecnologia da Informação concentrou-se nos Estados Unidos, e até certo ponto, na. Califórnia nos anos 70, baseando-se nos progressos alcançados nas duas décadas anteriores e sob a influencia de vários fatores institucionais, econômicos e culturais. Mas não se originou de qualquer necessidade preestabelecida Foi mais o resultado de indução tecnológica que de determinação pessoal. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Ate certo ponto, a disponibilidade de novas tecnologias constituídas como um sistema na década de 70 foi uma base fundamental para o processo de reestruturação socioeconômica dos anos 80. E a utilização dessas tecnologias na década de 80 condicionou, em grande parte, seus usos e trajetórias na década de90. O surgimento da sociedade em rede não pode ser entendido sem a interação entre essas duas tendências relativamente autônomas: o desenvolvimento de novas tecnologias da informação e a tentativa da antiga sociedade de reaparelhar-se com o uso do poder da tecnologia para servir a tecnologia do poder. Sem necessidade de render-se ao relativismo histórico, pode-se dizer que a Revolução da Tecnologia da Informação dependeu cultural, histórica e espacialmente de um conjunto de circunstâncias muito especificas cujas características determinaram sua futura evolução. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Modelos, atores e locais da Revolução da Tecnologia da Informação. Se a primeira Revolução Industrial foi britânica, a primeira Revolução da Tecnologia da Informação foi norte-americana, com tendência californiana. Nos dois casos, cientistas e industriais de outros países tiveram um papel muito importante tanto na descoberta como na difusão das novas tecnologias. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A França e a Alemanha foram fontes importantes de talentos e aplicações da Revolução Industrial. As descobertas cientificas originadas na Inglaterra, França, Alemanha e Itália constituíram a base das novas tecnologias de eletrônica e biologia, A capacidade das empresas japonesas foi decisiva para a melhoria do processo de fabricação com base em eletrônica e para a penetração das tecnologias da informação na vida cotidiana mundial. O setor como um todo evoluiu rumo à interpenetração, alianças estratégicas e formação de redes entre empresas de diferentes países. As empresas, instituições e inovadores norte americanos não só participaram do inicio da revolução da década de 70 como também continuaram a representar um papel de liderança na sua expansão, posição que provavelmente se sustentara ao entrarmos no século XXI. Mas, sem duvida, testemunharemos uma presença cada vez maior de empresas japonesas, chinesas, indianas e coreanas, assim como contribuições significativas da Europa em biotecnologia e telecomunicações. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O desenvolvimento da Revolução da Tecnologia da Informação contribuiu para a formação dos meios de inovação onde as descobertas e as aplicações interagiam e eram testadas em um repetido processo de tentativa e erro: aprendia-se fazendo. Esses ambientes exigiam concentração espacial de centros de pesquisa, instituições de educação superior, empresas de tecnologia avançada, uma rede auxiliar de fornecedores, provendo bens e serviços e redes de empresas com capital de risco para financiar novos empreendimentos. Uma vez que um meio esteja consolidado, como o Vale do Silício na década de 70, ele tende a gerar sua própria dinâmica e atrair conhecimentos, investimentos e talentos de todas as partes do mundo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Será que esse padrão social, cultural e espacial de inovação pode ser estendido para o mundo inteiro? Nossas conclusões confirmam o papel decisivo desempenhado pelos meios de inovação no desenvolvimento da Revolução da Tecnologia da Informação: concentração de conhecimentos científicos/tecnológicos, instituições, empresas e mão de obra qualificada são as forjas da inovação da Era da Informação. Porém, esses meios não precisam reproduzir o padrão cultural, espacial, institucional e espacial do Vale do Silício ou de outros centros norte-americanos de inovação tecnológica, como o sul da Califórnia, Boston, Seattle ou Austin. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Foi o Estado, e não o empreendedor de inovações em garagens, que iniciou a Revolução da Tecnologia da Informação tanto nos EUA como em todo o mundo. Porém, sem esses empresários inovadores, como os que deram inicio ao Vale do Silício ou aos clones de PCs em Taiwan, a Revolução da Tecnologia da Informação teria adquirido características muito diferentes e é improvável que tivesse evoluído para a forma de dispositivos tecnológicos flexíveis e descentralizados que estão se difundindo por todas as esferas da atividade humana. Na realidade, é mediante essa interface entre os programas de macro pesquisa e grandes mercados desenvolvidos pelos governos, por um lado, e a inovação descentralizada estimulada por uma cultura de criatividade tecnológica e por modelos de sucesso pessoais rápidos, por outro, que as novas tecnologias da informação prosperam. No processo, essas tecnologias agruparam-se em torno de redes de empresas, organizações e instituições para formar um novo paradigma sócio técnico. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O paradigma da tecnologia da informação. A primeira característica do novo paradigma é que a informação é sua matéria prima: são tecnologias para agir sobre a informação, não apenas informação para agir sobre a tecnologia, como foi o caso das revoluções tecnológicas anteriores. O segundo aspecto refere-se à penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias. Como a informação é uma parte integral de toda atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e coletiva são diretamente moldados (embora, com certeza, não determinados) pelo novo meio tecnológico. A terceira característica refere-se à lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações, usando essas novas tecnologias da informação. Em quarto lugar, referente aos sistemas de redes, mas sendo um aspecto claramente distinto, o paradigma da tecnologia da informação é baseado na flexibilidade. Não apenas os processos são reversíveis, nas organizações e instituições podem ser modificadas, e ate mesmo fundamentalmente alterada, pela reorganização de seus componentes. Uma quinta característica dessa revolução tecnológica é a crescente convergência de tecnologias especificas para um sistema altamente integrado, no qual trajetórias tecnológicas antigas ficam literalmente impossíveis de se distinguir em separado. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A dimensão social da Revolução da Tecnologia da Informação parece destinada a cumprir a lei sobre a relação entre a tecnologia e a sociedade proposta de algum tempo atrás por Melvin Kranzberg: "A primeira lei de Kranzberg diz: A tecnologia não é nem boa, nem ruim, e também não é neutra." É uma força que provavelmente está, mais do que nunca, sob o atual paradigma tecnológico que penetra no âmago da vida e da mente. Mas seu verdadeiro uso na esfera da adição social consciente e complexa matriz de interação entre as forcas tecnológicas liberadas por nossa espécie e a espécie em si não questões mais de investigação que de destino. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A economia e o processo de globalização introduziram uma nova economia, informacional e global, surgiu nas duas últimas décadas. É informacional, porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes nessa economia dependem basicamente da sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente à informação baseada em conhecimentos. É global porque as principais atividades produtivas estão organizadas em escala global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre agentes econômicos. É informacional e global porque a produtividade é gerada e a concorrência é feita em uma rede global de interação. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Produtividade, competitividade e a economia informal o enigma da produtividade. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Foi por meio do aumento da produção por unidade de insumo no tempo que a raça humana conseguiu comandar as forças da Natureza. Os caminhos específicos do aumento da produtividade definem a estrutura e a dinâmica de um determinado sistema econômico. Se houver uma nova economia informacional, deveremos identificar as fontes de produtividade que distinguem essa economia. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O aumento da produção por hora de trabalho não era resultado de adição de mão-de-obra e apenas ligeiramente de adição de capital, mas vinha de outra fonte, expressa como um residual estatístico em sua equação da função de produção. Economistas, sociólogos e historiadores econômicos não hesitaram em interpretar o "residual" como sendo correspondente a transformações tecnológicas. Nas elaborações mais precisas, "ciência e tecnologia" eram compreendidas em sentido amplo: a tecnologia voltada para o gerenciamento foi considerada tão importante quanto o gerenciamento da tecnologia. Afirmar que a produtividade gera crescimento econômico e que ela é uma função da transformação tecnológica equivale a dizer que as características da sociedade são os fatores cruciais subjacentes ao crescimento econômico, por seu impacto na inovação tecnológica. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A produtividade baseada em conhecimentos é específica da economia informacional?Demonstrou-se o papel fundamental desempenhado pela tecnologia no crescimento da economia, via aumento da produtividade, durante toda a história e especialmente na era industrial. A hipótese do papel decisivo da tecnologia como fonte da produtividade nas economias avançadas também parece conseguir abranger a maior parte da experiência passada de crescimento econômico, permeando diferentes tradições intelectuais em teoria econômica. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Houve uma proporção significativa da desaceleração da produtividade, que é resultado da crescente inadequação de estatísticas econômicas ao captarem os movimentos da nova economia informacional, exatamente devido ao amplo escopo de suas transformações sob o impacto da tecnologia da informação e das mudanças organizacionais conexas. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Pode ser que a produtividade não esteja desaparecendo, e sim aumentando por vias parcialmente obscuras em círculos <personname productid="em expans ̄o. A" w:st="on">em expansão. A</personname> tecnologia e o gerenciamento da tecnologia poderiam estar se difundindo a partir da produção da tecnologia da informação, telecomunicações e serviços financeiros, alcançando em grande parte a atividade industrial e depois os serviços empresariais. Mas o quadro ainda é confuso, pois no momento os dados são insuficientes para estabelecer uma tendência. Estes podem servir de base para a compreensão da economia informacional, mas não conseguem informar a história real. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Informacionalismo e capitalismo, produtividade e lucratividade a longo prazo, a produtividade é a fonte da riqueza das nações. E a tecnologia é o principal fator que induz a produtividade. Mas esta não é um objeto <personname productid="em si. E" w:st="on">em si. E</personname> o investimento em tecnologia também não é feito por causa da inovação tecnológica. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Empresas e nações são os verdadeiros agentes do crescimento econômico. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Comportam-se em um determinado contexto histórico, conforme as regras de um sistema econômico. Assim, as empresas estão motivadas não pela produtividade, e sim pela lucratividade. E as instituições políticas estarão voltadas para a maximização da competitividade de suas economias, A lucratividade e a competitividade são os verdadeiros determinantes da inovação tecnológica e do crescimento da produtividade. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O processo de globalização realimenta o crescimento da produtividade, visto que as empresas melhoram seu desempenho quando encaram maior concorrência mundial. A via que conecta a tecnologia da informação, as mudanças organizacionais e o crescimento da produtividade passam pela concorrência global. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Foi desse modo que a busca da lucratividade pelas empresas e a mobilização das nações a favor da competitividade induziram arranjos variáveis na nova equação histórica entre a tecnologia e a produtividade. No processo, foi criada e moldada uma nova economia global que pode ser considerada o traço mais típico e importante do capitalismo informacional. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A repolitização do capitalismo informacional os interesses políticos específicos do Estado ficam diretamente ligados ao destino da concorrência econômica das empresas. A nova forma de intervenção estatal na economia une a competitividade, a produtividade e a tecnologia. Apolítica e a produtividade ficam interligadas, tornando-se instrumentos fundamentais para a competitividade. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Por causa da interdependência e abertura da economia internacional, os Estados devem empenhar-se em promover o desenvolvimento de estratégias em nome de seu empresariado. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A economia informacional global é uma economia muito politizada, e a grande concorrência de mercado em escala global ocorre sob condições de comércio administrado. A nova economia, baseada em reestruturação sócio-econômica e revolução tecnológica será moldada, até certo ponto, de acordo com os processos políticos desenvolvidos no e pelo Estado. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A economia global: gênese, estrutura e dinâmica uma economia global é uma economia com capacidade de funcionar como uma unidade em tempo real, em escala planetária. No final do século XX a economia mundial conseguiu tornar-se verdadeiramente global com base na nova infra-estrutura, propiciada pelas tecnologias da informação e comunicação. Essa globalidade envolve os principais processos e elementos do sistema econômico. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">As novas tecnologias permitem que o capital seja transportado de um lado para o outro entre economias em curtíssimo prazo, de forma que o capital está interconectado em todo o mundo. Os fluxos de capital tornam-se globais, e ao mesmo tempo, cada vez mais autônomos vis-à-vis o desempenho real das economias. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A mais importante transformação subjacente ao surgimento da economia global diz respeito ao gerenciamento da produção e distribuição e ao próprio processo produtivo. O que é fundamental nessa estrutura industrial é que ela está disseminada pelos territórios em todo o globo e sua geometria muda constantemente no todo e em cada unidade individual. O mais importante elemento para uma estratégia administrativa bem sucedida é posicionar a empresa na rede, de modo a ganhar vantagem competitiva para sua posição relativa. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A mais nova divisão internacional do trabalho a economia global resultante da produção e concorrência com base informacional caracteriza-se por sua interdependência, assimetria, regionalização, crescente diversificação dentro de cada região, inclusão seletiva, segmentação excludente e, em conseqüência de todos esses fatores, por uma geometria extraordinariamente variável que tende a desintegrar a geografia econômica e histórica. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A arquitetura e a geometria da economia informacional/global a estrutura dessa economia caracteriza-se pela combinação de uma estrutura permanente e uma geometria variável. A arquitetura da economia global apresenta um mundo assimétrico interdependente, organizado em trono de três regiões econômicas principais (Europa, América do Norte e região do Pacífico asiático) e cada vez mais polarizado ao longo de um eixo de oposição , entre as áreas prósperas produtivas e ricas em informação e as áreas empobrecidas, sem valor econômico, e atingidas pela exclusão social. A interligação dos processos econômicos entre as três regiões torna seu destino praticamente inseparável. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A mais nova divisão internacional do trabalho está disposta em quatro posições diferentes na economia informacional/global: produtores de alto valor com base no trabalho informacional; produtores de grande volume baseado no trabalho demais baixo custo; produtores de matérias-primas que se baseiam em recursos naturais; e os produtores redundantes, reduzidos ao trabalho desvalorizado. A questão crucial é que essas posições diferentes não coincidem com países. São organizadas em redes e fluxos, utilizando a infra-estrutura tecnológica da economia informacional. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A posição da divisão internacional do trabalho depende das características de sua mão-de-obra e de sua inserção na economia global. A mais nova divisão internacional do trabalho está organizada com base em trabalho e tecnologia, mas é implementada e modificada por governos e empreendedores. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A empresa em rede: A cultura, As instituições, E as organizações de economia informal a economia informal é caracterizada por cultura instituições especificas, onde tal cultura necessária para o desenvolvimento e constituição de um sistema econômico é realizada nas lógicas organizacionais, de acordo com o conceito de Nicole Biggart: "... por lógicas organizacionais, refiro-me a um principio legitimador elaborado em uma série de praticas sociais derivativas. Em outras palavras, lógicas organizacionais são as bases ide acionais para as relações das autoridades institucionalizadas.” Minha tese então parte do principio que a economia informacional surge do desenvolvimento de uma lógica organizacional e da atual transformação tecnológica. A respeito disso podemos citar a trajetória do industrialismo para o informacionalismo na reestruturação econômica dos anos 80, causada pela crise de lucratividade do processo de acumulação de capital da década de 70. Como principais pontos dessa reestruturação: divisão na organização da produção e dos mercados na economia global;as transformações organizacionais interagiram com a difusão da tecnologia de informação, mesmo sendo independentes uma da outra;Essas transformações organizacionais visavam lidar com a incerteza causada pelas velozes mudanças no ambiente econômico, institucional, tecnológico da empresa;Introdução do modelo de "produção enxuta", visando economizar mão-de-obra, eliminar tarefas e suprimir camadas administrativas, mediante automação. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Muitas foram às transformações organizacionais, cada uma seguindo uma certa tendência que ao todo deram impulso para a reestruturação do capitalismo vigente nos anos 70. Uma das principais tendências da evolução organizacional foi à passagem da produção em massa; norteada pela integração vertical, seguido da divisão social e técnica de trabalho; para a produção flexível a qual se adequava melhor a imprevisível demanda do mercado, qualitativa ou quantitativa, ou ainda as transformações tecnológicas e as diversificações dos mercados. Portanto essa flexibilidade na produção traz consigo a idéia de adequação ao mercado (flexibilidade do produto) e transformação tecnológica (flexibilidade do processo). </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Como Segunda tendência a ser estudada, temos vigente aumento do poder econômico das pequenas e médias empresas, bem compatíveis com o processo de produção flexível. Mesmo estando ainda sob o controle tecnológico e financeiro das grandes empresas estão dando essas ultimas o dinamismo necessário na nova conjuntura econômica global. A terceira tendência diz respeito aos novos métodos de gerenciamento empresarial, o "toyotismo" , adaptado à economia global e à produção flexível. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Suas bases são: sistema de fornecimento "Kan-Kan" (just in time), no qual os estoques são eliminados ou reduzidos substancialmente no exato momento da solicitação e com características especificas do comprador;controle de qualidade total ao longo do processo produtivo;envolvimento dos trabalhadores no processo produtivo;mão-de-obra multifuncional, sem especialização em uma única função;prêmios por trabalho e poucos símbolos de status na vida da empresa. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Dessa forma caracterizamos o "toyotismo" como um sistema de gerenciamento que mais reduz as incertezas do que estimula a adaptabilidade, um "pós-fordismo” baseado nos "5 zeros" (zero defeitos de peças, zero danos nas maquinas, estoque zero, danos zero e burocracia zero). </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Citaremos também a formação de redes entre pequenas empresas com gerenciamento das grandes empresas e as alianças entre empresas de grande porte em relação aparte do mercado. Sendo essas duas tendências resultado da interação entre as mudanças organizacionais e a tecnologia da informação (digitalização das telecomunicações, transmissão em banda larga e melhoria nos computadores em rede), uma mistura que gerou a "empresa em rede", que processa e gera informações para melhor adaptação para o mercado mundial. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Sabendo que a organização econômica baseia-se na cultura, história e nas instituições; a economia fundada na "empresa em rede" encaixa-se como "uma luva” nos moldes asiáticos ao ponto de distinguirmos três tipos de rede no leste asiático:a rede japonesa: grandes empresas que são donas umas das outras, onde as empresas principais são dirigidas por administradores;a rede coreana baseada nas "zaibatsus" japonesas, onde as empresas são controladas por uma holding financiada por bancos e companhias trading governamentais, pertencentes a uma pessoa ou família;a rede chinesa: empresas familiares, rede de empresas de diversos setores onde o lema é "família cresce empresa cresce” A diferença básica entre esses modelos de empresas em rede esta fundamentalmente no papel do Estado na economia. Por exemplo: no Japão o Estado foi responsável pelo inicio da industrialização (zaibatsus de origem feudal) e hoje da um suporte a essa indústria através da facilitação de empréstimos bancários, política de apoio fiscal e acordos internacionais, sendo o Japão o grande influenciador de Coréia e Taiwan; já na China o Estado sempre teve um papel inconstante, onde ora requisitava a indústria ora impelia á elas rigorosos impostos, dando pouco incentivos às indústrias e fazendo essas últimas voltarem separa as famílias, apesar de muitos progressos atuais serem devidos a planos econômicos governamentais. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Mas até que ponto as empresas em rede modificaram a economia global, e as multinacionais? A resposta é simples, hoje as multinacionais fugiram do seu antigo modelo vertical, e apresentam-se ou como a principal dentre outras empresas em rede, ou formam alianças de cooperação entre elas, o que mesmo assim não mais lhe dão o titulo de centro da economia global, pois o mercado voltou a ser imprevisível movido por estratégias e descobertas redirecionadas por redes globais de informação. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Portanto podemos definir que o atual estágio do capitalismo é definido por alterações causadas pelo informacionalismo, surgido a partir das mesmas necessidades que norteiam até hoje a vida do capitalismo: espírito empresarial de acumulação, e o constante apelo ao consumismo, e tudo isso acompanhado pela evolução tecnológica, seja nas telecomunicações ou nos softwares; concorrência global de mercado, grau de intervenção estatal; características das 3 ultimas que regem o coração da atual economia mundial, "“ empresa em rede “4 - A transformação do trabalho e do mercado de trabalho: trabalhadores ativos na rede, desempregados e trabalhadores com jornada flexível”. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A evolução histórica da estrutura ocupacional e do emprego nos paises capitalistas avançados o G7 De <metricconverter productid="1920 A" w:st="on">1920 A</metricconverter> 2005. Para o autor em qualquer processo de transição histórica, uma das expressões de mudança e a transformação da estrutura ocupacional, ou seja, a transformação das categorias ocupacionais e do emprego. O próprio pos-industrialismo detecta o aparecimento de uma nova estrutura social a partir da mudança de produtos para serviços, pelo surgimento de profissões administrativas e especializadas, pelo fim do emprego rural e industrial e pelo aumento do conteúdo de informação no trabalho das economias mais avançadas. Porem para o autor o problema e que essas formulações trazem uma espécie de lei natural das economias e sociedades que devem seguir um único caminho na trajetória da modernidade lideradas pela sociedade norte-americana. O autor traz uma abordagem diferente já que ele enxerga uma variação histórica de modelos de mercado de trabalho segundo as instituições, a cultura e os ambientes políticos específicos de cada pais. Para isto ele examinou a evolução do mercado de trabalho dos paises do G-7 entre 1920e 1990. Todos eles estão num estagio avançado de transição a sociedade informacional logo podem ser vistos com o surgimento de novos modelos de mercado de trabalho; ao mesmo tempo possui cultura e sistemas institucionais muito diferentes o que nos permite, segundo o autor, verificar a dita variação histórica. A partir desta analise o autor conduz a sua pesquisa no sentido demonstrar que outras sociedades em outros níveis de desenvolvimento não necessariamente teriam que seguir a trajetória dos países do G-7. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O pos-industrialismo, a economia de serviços e a sociedade informacional o autor analisa e faz ressalvas a três afirmações da teoria clássica do posindustrialismo: (a) A fonte de produtividade reside na geração de conhecimento mediante o processamento de informação (b) a atividade econômica mudaria de produção de bens pra prestação de serviços. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Quanto mais avançada a economia, mais seu mercado de trabalho e sua produção seriam concentrados em serviços. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">(c) A nova economia aumentaria sobremaneira a importância de profissões com grande conteúdo de informação: Administrativas, especializadas e técnicas. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Para o autor a distinção entre as economias dentro do processo histórico deve ser visto não como a distinção entre uma economia industrial e uma pós-industrial, mas entre duas formas de produção industrial, rural e de serviços baseadas <personname productid="em conhecimentos. Em" w:st="on">em conhecimentos. Em</personname> outras palavras o conhecimento sempre foi e será imprescindível na evolução das economias o que acontece e que o seu uso em diferentes épocas gera diferentes processos econômicos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Já a segunda afirmação (b), o autor rebate com o fato de que muitos serviços dependem de conexão direta com a indústria e também com a importância da atividade industrial no PNB dos países ricos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Alem disso pra ele o conceito de serviços e ambíguo se não errôneo já que este conceito abarca tudo o que não é agricultura, mineração, construção, empresas de serviços publico ou indústria. Alem do que muitos processos cruciais da era da informação não permitem a distinção entre "bens" e "serviços agregados" como, por exemplo, softwares, agropecuária com base em biotecnologia dentre outros. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O terceiro prognostico pós-industrialista requer segundo o livro alguma restrição na medida em que simultâneo a esta tendência há também o crescimento das profissões em serviços mais simples e menos qualificados, profissões que teriam um crescimento mais lento, mas continuo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Para Manuel Castells e preciso se fazer um exame mais aprofundado no conteúdo real destas classificações antes de caracterizar o nosso futuro como uma república da elite instruída. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">No entanto o argumento mais importante contra esta versão simplista do pos-industrialismo e a critica a suposição de que as três características examinadas se unem na evolução histórica e que essa evolução leva a um modelo único da sociedade informacional. E preciso separar o que pertence à estrutura da sociedade informacional daquilo que é especifico a trajetória histórica de determinado pais. Trabalhando nesta direção o autor compila diversos dados do setor de serviços dos paises ricos na tentativa de diferenciá-los. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A transformação na estrutura do emprego - 1920-70 e 1970-90De 1920-70 e 1970-90 podemos ter uma distinção analítica entre os dois períodos durante o primeiro período as sociedades em exame tornaram-se pós-rurais, enquanto no segundo período elas tornaram-se pós-industriais. Ou seja, houve queda do emprego rural no primeiro caso e queda do emprego industrial no segundo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Em seguida o autor faz uma analise na evolução histórica do setor de serviços nesses paises do G-7, essencial pra entendermos todo este processo. Serviços relacionados à produção: São considerados estratégicos dentro da nova economia fornecem informação e suporte para o aumento da produção, portanto, sua expansão devera seguir de mãos dadas com o aumento da sofisticação e produtividade da economia. E de fato nos dois períodos (1920-70 e 1970-90), observamos uma expansão significativa do emprego nestas atividades em todos os paises considerados. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Serviços sociais: Além de caracterizar as sociedades pós-industriais representa entre 1/5 e ¼ do total de empregos dos paises do G-7. Mas a sua expansão esta mais relacionada ao impacto dos movimentos sociais do que ao advento do pos-industrialismo, principalmente nos anos 60. No geral, podemos dizer que, embora o alto nível de expansão do emprego em serviços sociais seja uma característica de todas as sociedades avançadas, o ritmo dessa expansão parece depender mais diretamente da relação entre o Estado e a sociedade do que do estágio de desenvolvimento da economia. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Serviços de distribuição: combinam transportes e comunicações – atividades relacionadas de todas as economias avançadas - com o comercio no atacado e a varejo, atividades supostamente típicas do setor de serviços das sociedades menos industrializadas. Igualmente ao serviços sociais, os serviços de distribuição representam entre 1/5 e ¼ do total de empregos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Serviços pessoais: Ao enfocar os empregos ligados a "bares, restaurantes e similares", encontramos uma expansão significativa desses postos de trabalho nos últimos vinte anos. A principal observação a ser feita sobre o mercado de trabalho do setor de serviços pessoais e que esses empregos não estão desaparecendo nas economias avançadas. Portanto, e possível afirmar que as mudanças da estrutura social/econômica dizem respeito mais ao tipo de serviços e ao tipo de emprego do que as atividades em si. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Em resumo, para Manuel Castells, o que acontece com o pos-industrialismo e uma diversidade cada vez maior de atividades que torna obsoletas as categorias de emprego. Mas não parece que grande produtividade, estabilidade social e competitividade internacional estejam diretamente associadas ao mais alto nível de emprego em serviços ou processamento de informação. Desse modo, quando as sociedades decretam o fim do emprego industrial ao invés da modernização das industrias, não e porque necessariamente são mais avançadas, mas porque seguem políticas e estratégias específicas baseadas em seu pano de fundo cultural, social e político. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A nova estrutura ocupacional, o autor ressalta alguns pontos importantes da nova estrutura ocupacional dentre eles a diversidade do emprego, dentro deste fator uma ressalva importante e a variação da proporção da mão-de-obra semi qualificada no setor de serviços principalmente nos EUA, Canadá e na Alemanha, bem menor no Japão, Franca e Itália, países que de certa forma preservam mais as atividades tradicionais como a rural e comercial. Isso se deve ao fato do modelo norte-americano caminhar para o informacionalismo mediante a substituição das antigas profissões pelas novas. O modelo japonês também caminha para o informacionalismo, mas segue uma rota diferente: aumenta o número de novas profissões, mas as antigas são redefinidas; já os países europeus seguem um misto das duas tendências. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Por falar em tendência uma, certamente, aponta para o aumento do peso relativo das profissões mais claramente informacionais (administradores, profissionais especializados e técnicos), bem como das profissões ligadas a serviços de escritório em geral (inclusive funcionários administrativos e de vendas). </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Tendo primeiro falado da diversidade, Manuel Castells também aponta uma outra tendência que é a maior presença de conteúdo informacional na estrutura ocupacional das sociedades avançadas, apesar de seus sistemas culturais/sociais. Dessa forma o perfil profissional das sociedades informacionais, de acordo com sua emergência histórica, será muito mais diverso que o imaginado pela visão seminaturalista das teorias pós-industrialistas, direcionadas por um etnocentrismo norte-americano que não representa toda a experiência dos Estados Unidos. O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o século XXIO autor analisou os EUA e o Japão em termos de suas projeções de emprego e para os EUA a estrutura futura do mercado de trabalho combina intimamente com o projeto original da sociedade informacional: o emprego rural está sendo eliminado pouco a pouco, o emprego industrial continuara a declinar, embora em ritmo mais lento, sendo reduzido aos elementos principais da categoria de artífices e trabalhadores do setor de engenharia. A maior parte do impacto da produção industrial sobre o emprego será transferida aos serviços voltados para a indústria. Os serviços relacionados à produção, bem como à saúde e educação lideram o crescimento do emprego em termos percentuais, também se tornando cada vez mais importantes em termos de números absolutos; os empregos dos setores varejista e de serviços continuam a engrossar as fileiras de atividades de baixa qualificação na nova economia. Já no caso do Japão, projeta-se um aumento impressionante no setor de serviços, revelando o crescente papel das atividades que fazem uso intensivo de informação na economia japonesa. Os dados também parecem indicar o aumento crescente da profissionalização dos trabalhadores de nível médio e a especialização das tarefas relativas ao processamento da informação e a geração de conhecimentos. Pelas projeções as categorias de operadores e artífices declinarão, mas ainda representarão mais de ¼ da forca de trabalho em 2005. Dessa forma as projeções do mercado de trabalho nos EUA e no Japão parecem continuaras tendências observadas para o período de 1970-90. São nitidamente duas diferentes estruturas ocupacionais e do emprego correspondentes a duas sociedades que podem ser igualmente rotuladas de informacionais, mas com crescimentos bem distintos no crescimento da produtividade, na competitividade econômica e na coesão social. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Em termos gerais, a hipótese genérica de trajetos diversos para o paradigma informacional dentro de um padrão comum de mercado de trabalho parece ser confirmada pelo teste restrito das projeções apresentadas. Há uma forca de trabalho global? Para o autor embora o capital flua com liberdade, o mesmo não acontece com a força de trabalho mesmo havendo um mercado globalizado isto de deve muitas vezes a fatores como xenofobia, cultura, política, dentre outros aspectos. Afirma ainda que no ano de 1993, por exemplo, apenas 1, 5% da força de trabalho global atuaram fora de seu país que deste total, metade estava na África subsaariana e no Oriente Médio. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Segundo o livro, há de fato, um mercado global para uma fração minúscula da força de trabalho composta por profissionais com a mais alta especialização. No texto o autor apresenta diversos dados em diferentes paises e épocas mostrando que embora haja problemas de imigração em diversos paises ricos, não significa que exista uma globalização da forca de trabalho. Contudo, afirma o autor, há uma tendência histórica para acrescente interdependência da forca de trabalho em escala global por intermédio de três mecanismos: emprego global nas empresas multinacionais; impactos da concorrência tanto no Norte quanto no Sul;. e os efeitos dessa concorrência global e do novo método de gerenciamento flexível sobre a força de trabalho de cada pais. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Em cada caso o papel exercido pela tecnologia da informação e o meio indispensável para as conexões entre os diferentes segmentos da força de trabalho nas fronteiras nacionais. Em cada um dos casos acima o autor traça as conseqüências sobre a mão-de-obra global dos investimentos de multinacionais e de capital em outros países. Assim, embora não haja um mercado de trabalho global unificado, há na verdade, interdependência global da forca de trabalho na economia informacional. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O processo de trabalho no paradigma informacional na década de 90. Vários fatores aceleraram a transformação do processo de trabalho: a tecnologia da computação e suas aplicações, progredindo a passos gigantescos, tornaram-se cada vez mais dispendiosas e melhores, com isso possibilitando sua aquisição e utilização em larga escala; a concorrência global promoveu uma corrida tecnológica e administrativa entre as empresas em todo o mundo; as organizações evoluíram e adotaram novas formas quase sempre baseadas em flexibilidade e atuação em redes; os administradores e seus consultores finalmente entenderam o potencial da nova tecnologia e como usa-la, embora, com muita frequência, restrinjam esse potencial dentro dos limites do antigo conjunto de objetivos organizacionais(como aumento a curto prazo de lucros calculados em base trimestral). Assim, o livro afirma que no novo paradigma informacional de trabalho e mão-de-obra não é um modelo simples, mas uma colcha confusa, tecida pela iteração histórica entre transformação tecnológica, política das relações industriais e ação social conflituosa. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Os efeitos da tecnologia da informação sobre o mercado de trabalho: rumo a uma sociedade sem empregos? O autor começa questionando a possibilidade de a difusão da tecnologia da informação em fabricas, escritórios e serviços estarem substituindo trabalhadores por maquinas. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Durante o capítulo ele mostra diversas pesquisas relatando esta situação, no caso específico do setor automobilístico no Brasil, não foram encontrados efeitos da tecnologia da informação sob o nível de emprego. Já nos EUA, Japão e Sudeste Asiático as pesquisas mostraram a destruição de empregos e a criação de milhares de outros tendo um saldo positivo; enquanto que na União Européia a tendência não seja tão positiva assim, os efeitos variam de país pra país. No Reino Unido, por exemplo, o efeito é desprezível. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Em resumo como tendência geral, não há relação estrutural sistemática entre a difusão das tecnologias da informação e a evolução dos níveis de emprego na economia como um todo. Empregos estão sendo extintos e novos empregos estão sendo criados, mas a relação quantitativa entre as perdas e os ganhos varia entre empresas, indústrias, setores, regiões e países em função da competitividade, estratégias empresariais, políticas governamentais, ambientes institucionais e posição relativa na economia global. Manuel Castells conclui que o resultado específico da interação entre a tecnologia da informação e o emprego depende amplamente de fatores macroeconômicos, estratégias econômicas e contextos sociopolíticos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O trabalho e a divisão informacional: trabalhadores de jornada flexível às novas tecnologias da informação possibilitaram, ao mesmo tempo, a descentralização das tarefas e sua coordenação em uma rede interativa de comunicação em tempo real, seja entre continentes, seja entre os andares de um mesmo edifício. O surgimento dos métodos de produção enxuta segue de mãos dadas com as práticas empresariais reinantes de subcontratação, terceirização, estabelecimento de negócio no exterior, consultoria, redução do quadro funcional e produção sob encomenda. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">É neste contexto que o autor vê a atual divisão internacional do trabalho, contexto em que as instituições e organizações sociais de trabalho parecem desempenhar um papel mais importante, (apesar de não parecer), que a tecnologia na causação da criação ou destruição do emprego. O autor mostra dados de países do G-7 onde aponta pra uma maior flexibilidade no atual cenário informacional, flexibilidade em termos de jornada de trabalho, crescimento do trabalho autônomo, mobilidade geográfica, situação profissional, segurança contratual e desempenho de tarefas. E chega a uma conclusão importante que de modo geral há uma transformação do trabalho, dos trabalhadores e das organizações de nossas sociedades e que certamente a forma tradicional de trabalho com base em emprego de horário integral, projetos profissionais bem delineados e um padrão de carreira ao longo da vida estão sendo extintos de forma lenta, mas indiscutível. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A tecnologia da informação e a reestruturação das relações capital trabalho: dualismo social ou sociedades fragmentadas? O autor faz uma introdução dizendo que o crescimento dos investimentos globais não parece ser o causador destruidor de empregos no Norte, ao mesmo tempo em que contribui para a criação de milhões de empregos nos países recém industrializados. Todavia, o processo de transição histórica para uma sociedade informacional e uma economia global é caracterizada pela deterioração generalizada das condições de trabalho e de vida para os trabalhadores. Essa deterioração assume formas diferentes nos diferentes contextos: aumento do desemprego estrutural na Europa; queda dos salários reais; aumento da desigualdade, a instabilidade no emprego nos Estados Unidos; subemprego e maior concentração de força de trabalho no Japão; "informalização" e desvalorização da mão-de-obra urbana recém-incorporada nos países em desenvolvimento; e crescente marginalização da força de trabalho rural nas economias subdesenvolvidas e estagnadas. Para Castells essas tendências são resultado da reestruturação atual das relações capital-trabalho, com a ajuda das poderosas ferramentas oferecidas pelas novas tecnologias da informação e facilitadas por uma nova forma organizacional: a empresa em rede. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">E estas mesmas tendências apontam para uma maior desigualdade social onde ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres assim estamos vivendo numa sociedade dualizada com uma grande camada superior e também uma grande camada inferior, crescendo em ambas as extremidades da estrutura ocupacional, portanto encolhendo no meio, em ritmo e proporção que dependem da posição de cada país na divisão do trabalho e de seu clima político. Mas, sem dúvida nenhuma - conclui o autor -, o trabalho informacional desencadeou um processo mais fundamental: a desagregação do trabalho, introduzindo a sociedade em rede. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A cultura da virtualidade real: a integração da comunicação eletrônica, o fim da audiência de massa e o surgimento de redes interativas. O autor compara a importância do surgimento do alfabeto com o surgimento de um supertexto e uma Metalinguagem onde pela primeira vez na historia, integra no mesmo sistema as modalidades escrita, oral e audiovisual de comunicação humana. A chamada Infovia. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O autor se propõe a analisar as conseqüências em nossas culturas que essa realidade virtual pode trazer. Da galáxia de Gutenberg a galáxia de McLuhan: o surgimento da cultura da mídia de massa, o autor começa se perguntando de o porquê de a televisão ter tido uma aceitação tão grande a ponto de tudo girar em torno dela, e ai utiliza teorias de vários estudiosos como McLuhan segundo o qual a televisão criou uma nova Galáxia de comunicação. Para o autor a lei do mínimo esforço parece ser plausível pra explicar o motivo de tanta aceitação por parte da televisão, ou seja, as pessoas diante da tv não precisam pensarem pra assimilar o que ela transmite. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O impacto social da televisão funciona no modo binário: estar ou não estar. Desde que uma mensagem esteja na televisão, ela poderá ser modificada, transformada ou mesmo subvertida. Mas em uma sociedade organizada em torno da grande mídia, a existência de mensagens fora da mídia fica restrita a redes interpessoais, portanto desaparecendo do inconsciente coletivo. Ainda para o autor, a mídia e um sistema de feedbacks: a mídia e a expressão de nossa cultura, e nossa cultura funciona principalmente por intermédio dos materiais propiciados pela mídia. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A nova mídia e a diversificação da audiência de massa, o autor traça a evolução da mídia principalmente a televisão no decorrer dos anos 80 e 90 e diz que em resumo a nova mídia determina uma audiência segmentada, diferenciada que, embora maciça em termos de números, já não e uma audiência de massa em termos de simultaneidade e uniformidade da mensagem recebida. Devido à multiplicidade de mensagens e fontes, a própria audiência torna-se seletiva. A concorrência fez com que a televisão se tornasse mais comercializada do que nunca e cada vez mais oligopolista no âmbito global. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Comunicação mediada por computadores, controle institucional, redes sociais e comunidades virtuais. O autor compara o surgimento da internet com a minitel. A internet: iniciativa norte-americana de âmbito mundial contando no seus primórdios com o apoio militar americano, com empresas de informática financiadas pelo governo americano, a internet liga uma infinidade de topologias de redes diferentes, já na Minitel que consiste num sistema francês liga centros de servidores através de simples terminais, e que ate agora nunca ultrapassou os limites do território francês. Trata-se de um sistema organizado que possui uma estrutura homogênea tanto do ponto de vista tarifário e lucros como do ponto de vista da redes de computadores. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A analise comparativa do desenvolvimento desses dois sistemas em relação a seus ambientes sociais e institucionais ajuda a elucidar as características do sistema de comunicação interativo emergente. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A historia do Minitel Castells diz o porquê do Minitel ter feito tanto sucesso. Atrás do sucesso do Minitel havia duas razoes fundamentais: a primeira era o comprometimento do governo francês com o experimento. A segunda era a simplicidade de uso e a objetividade do sistema de faturamento bem-organizado que o tornaram acessível e confiável ao cidadão comum. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Os serviços oferecidos pelo Minitel eram os mesmos que estavam disponíveis na comunicação telefônica tradicional: lista telefônica, previsões do tempo, informações e reservas de transportes, compra antecipada de entradas para eventos culturais e de entretenimento etc. A partir dai começaram a surgir milhares de anúncios publicitários no Minitel. Depois feio as linhas eróticas usados no minitel o que vez o mercado crescer bastante. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Depois de toda essa evolução o sistema começa a cair devido às limitações naturais como meio de comunicação. Sob o aspecto tecnológico o Minitel contava com uma tecnologia de transmissão e vídeo muito antiga, cuja revisão poria um fim a seu apelo básico como um dispositivo eletrônico gratuito. Alem disso não se baseava em computadores pessoais, mas em terminais burros, dessa forma limitando substancialmente a capacidade autônoma de processamento de informação. Sob o aspecto institucional, sua arquitetura, organizada em torno de uma hierarquia de redes de servidores, com pouca capacidade de comunicação horizontal, era muito inflexível para uma sociedade culturalmente sofisticada como a francesa, visto que havia novas esferas de comunicações alem da Minitel. A solução obvia adotada pelo sistema francês foi oferecer a opção paga de ligar-se a internet em âmbito mundial. Com isso, o Minitel ficou dividido internamente entre um serviço de burocrático de informação, um sistema de serviços empresariais em rede e uma entrada subsidiaria para o vasto sistema de comunicação da constelação da internet. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A constelação da Internet Manuel Castells começa o tópico falando do crescimento acelerado da internet desde a sua concepção ate os dias de hoje podendo chegar algum dia a marca de 600milhoes de usuários conectados em todo o mundo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Fala da criação e desenvolvimento da internet que no começo tinha funções exclusivamente militares e com o tempo foi tendo utilizações das mais diversas chegando ao ponto tal qual a conhecemos hoje <personname productid="em dia. Cita" w:st="on">em dia. Cita</personname> ainda diversas etapas da grande teia mundial, passando pela MILNET, ARPANET e finalmente a INTERNET. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Com a criação do UNIX e a conseqüente adaptação do protocolo TCP/IP a este sistema, os computadores puderam não apenas comunicar, mas também codificar e decodificar pacotes de dados que viajavam em alta velocidade pela rede da internet. O autor enumera ainda os produtos tecnológicos oriundos nessa nova cultura que ele chama de contracultura como o surgimento do modem, correio eletrônico e por ai vai! Vale a pena ressaltar a contribuição dada por muitos e muitos pesquisadores e estudantes universitários de universidades americanas e européias. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A sociedade interativa o autor tenta traçar o perfil do internauta com base em pesquisas feitas nos Estados Unidos e Europa e segundo estas pesquisas o usuários são pessoas bem instruídas e de maior poder aquisitivo dos paises mais instruídos e mais ricos e, frequentemente nas áreas metropolitanas e maiores e mais sofisticadas. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Embora a internet pareça ser menos penetrante do que a grande mídia, tudo tem leva a crer que a sua expansão se dará rapidamente e não só na elite como em todas as classes sociais. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">E importante ressaltar o uso da internet tanto em atividades relacionadas ao trabalho como a questões pessoais como consultas a banco, televendas, dentro outros fins. Castells analisa ainda o impacto que essas mudanças trazem para a nossa cultura como o fato da pessoa se sentir mais a vontade mandando um e-mail anônimo do que conversar pessoalmente com uma pessoa. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A grande fusão: a multimídia como ambiente simbólico Multimídia, estende o âmbito da comunicação eletrônica para todo o domínio da vida: de casa a trabalho, de escolas a hospitais, de entretenimento a viagens. Ressalta a corrida que os paises ricos tiveram em meados da década de 90 no sentido de modernizarem-se no aspecto de novas tecnologias relacionadas a conteúdos multimídia, mas a grande resposta mesmo veio da iniciativa privada que impulsionou o desenvolvimento de novas tecnologias e permitiu que o seu acesso fosse se multiplicando. Para o autor não se trata de dizer se um sistema multimídia vai ser analisado ou não (será), mas quando, como e sob quais condições nos diferentes paises, porque o significado cultural do sistema será profundamente modificado pelas características do momento e pela forma da trajetória tecnológica. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Finalmente, talvez a característica mais importante da multimídia seja que ela capta em seu domínio a maioria das expressões culturais em toda a sua diversidade. Seu advento e equivalente ao fim da separação e ate da distinção entre mídia audiovisual e mídia impressa, cultura popular e cultura erudita, entretenimento e informação, educação e persuasão. Todas as expressões culturais, da pior a melhor, da mais elitista a mais popular, vem juntas nesse universo digital que liga em um supertexto histórico gigantesco, as manifestações, passadas e futuras da mente comunicativa. Com isso, elas constroem um novo ambiente simbólico. Fazem da virtualidade nossa realidade. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A cultura da virtualidade real, o autor usa ate da definição do dicionário das palavras real e virtual pra mostrar que na verdade não existe muita diferença entre real e virtual e a influencia de um sobre o outro e um verdadeiro binômio tal que a televisão e a nossa realidade. O que caracteriza o novo sistema de comunicação, baseado na integração em rede digitalizada de múltiplos modos de comunicação, e sua capacidade de inclusão e abrangência de todas as expressões culturais. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O novo sistema de comunicação transforma radicalmente o espaço e o tempo, as dimensões fundamentais da vida humana. Localidades ficam despojadas de seu sentido cultural, histórico e geográfico e reitegram-se em redes funcionais ou em colagens de imagens, ocasionando um espaço de fluxos que substitui o espaço de lugares. O tempo e apagado no novo sistema de comunicação já que passado, presente e futuro podem ser programados para interagir entre si na mesma mensagem. O espaço de fluxos e o tempo intemporal são as bases principais de uma nova cultura, que transcende e inclui a diversidade dos sistemas de representação historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, onde o faz-de-conta vai se tornando realidade. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">6O espaço de fluxos Introdução Espaço e Tempo são as principais dimensões materiais da vida humana. Vamos analisar o espaço e o tempo não sob o aspecto físico, mas o significado social do espaço e do tempo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Serviços avançados, fluxos da informação e a cidade global. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Serviços avançados são finanças, seguros, bens imobiliários, consultorias, relações publicas, marketing, segurança, coleta de informações, gerenciamento de sistemas de informação, P&D, inovação cientifica dentre outros. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Os estudos mostram uma concentração e ao mesmo tempo uma dispersão de serviços avançados pelo globo. Esses serviços têm contribuído substancialmente para o aumento do PNB da maioria dos paises, e estão localizados em toda a geografia do planeta e dentre dos paises localizados em áreas nodais. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A cidade global e um processo que conecta serviços avançados, centros produtores e mercados em uma rede global com intensidade diferente e em diferente escala, dependendo da relativa importância das atividades localizadas em cada área vis-à-vis a rede global. Em todos os pais a arquitetura de formação de redes reproduz-se em centros locais e regionais, de forma que o sistema todo fique interconectado em âmbito global. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O autor analisa o fluxo de capital e de serviços avançados por diversas regiões e paises, mostrando como tem ocorrido essa descentralização, concluindo então que a dita cidade global não se trata de um lugar mas um processo. Um processo por meio do qual os centros produtivos e de consumo de serviços avançados e suas sociedades auxiliares locais estão conectados em uma rede global embora, ao mesmo tempo, diminuam a importância das conexões com suas hinterlandias, com base em fluxos de informação. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O novo espaço industrial, o autor relata a organização do novo espaço industrial com o advento da indústria de alta tecnologia. Esse espaço caracteriza-se pela capacidade organizacional e tecnológica de separar o processo produtivo em diferentes localizações, ao mesmo tempo em que reintegra sua unidade por meio de conexões de telecomunicações e da flexibilidade e precisão resultante da microeletrônica na fabricação de componentes, desta forma podemos apontar o seguinte aspecto: P&D, inovação e fabricação de protótipos foram concentrados em centros industriais altamente inovadores. Fabricação qualificada em filiais geralmente do mesmo país. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Montagem semi-qualificada em larga escala e testes em áreas de paises subdesenvolvidos e que de preferência ofereçam baixo custo de mão-de-obra e vantagens como pouca cobrança relacionada ao meio ambiente por exemplo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Adequação de centros pós-vendas em diversas partes do globo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">No geral as empresas americanas foram as pioneiras neste tipo de organização espacial, logo depois seguida pela Europa e Japão apesar das ressalvas e diferenças entre estes últimos e os EUA. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O cotidiano do domicilio eletrônico: o fim das cidades?Manuel Catells faz uma analise do impacto do desenvolvimento da comunicação eletrônica e dos sistemas de informação no trabalho cotidiano das pessoas e de acordo com diversas pesquisas recentes fica constatado que será nítido o aumento de teletrabalho mas sob uma forma mais especifica que seria o trabalho do escritório convencional sendo complementado pelo trabalho em casa. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Mas como esta nova ordem afetará as cidades? Dados dispersos parecem indicar que os problemas de transporte, em vez de melhorar, piorara o porque o aumento das atividades e a compressão temporal possibilitados pela nova organização em rede transforma-se em maior concentração de mercados em certas áreas e em maior mobilidade física de uma forca de trabalho, antes confinada a seus locais de trabalho durante o expediente. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Desta forma a comunicação mediada por computadores esta se difundindo pelo mundo todo, embora apresente uma geografia extremamente irregular, assim, alguns segmentos das sociedades de todo o globo, invariavelmente concentrados nos estratos superiores das sociedades, interagem entre si, reforçando a dimensão global do espaço de fluxos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Cada vez mais as pessoas trabalham e administram serviços de suas casas; a"centralidade da casa" e uma tendência importante da nova sociedade. Porem não significa que o fim da cidade, pois locais de trabalho, escolas, hospitais, escolas, complexos médicos, postos de atendimento ao consumidor, áreas recreativas, ruas comerciais, shopping centers, estádios de esportes continuarão a existir. E as pessoas deslocar-se-ao entre todos estes lugares na medida em que possuem mais tempo disponível e cada vez mais com mobilidade crescente. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Contudo não há duvida de que o layout da forma urbana passa por grande transformação. Mas esta transformação não segue um padrão único, universal:apresenta variação considerável que depende das características dos contextos históricos, territoriais e institucionais. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A transformação da forma urbana: a cidade informacional. Assim como a cidade industrial não foi uma copia de Manchester, a cidade informacional não será uma copia do Vale do Silício, apesar disso algumas características transculturais predominam entre as cidades, o autor defende que a cidade informacional não e uma forma, mas um processo, um processo caracterizado pelo predomínio estrutural do espaço de fluxos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A ultima fronteira suburbana dos Estados Unidos o autor faz um relato de como tem surgido cidades bastantes peculiares nos Estados Unidos devido a era da informação são cidades com: muito espaço pra aluguel de escritórios, tenha mais empregos do que dormitórios, seja percebido pela população como um lugar, não parecesse com uma cidade trinta anos atrás. E o que Joel Garreau captou em áreas ao redor de Boston, Nova York, Detroit, Atlanta, Phoenix, Texas sul da Califórnia e chamou de Edge City. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O charme das cidades européias traça as diferenças entre o espaço das cidades européias das americanas de maneira geral a primeira se mostra mais conservadora em relação a mudanças apresentando um centro urbano que conserva a sua historia, por outro lado têm surgido novas áreas de uma população mais jovem que não consegue dinheiro pra entrar mo espaço mais urbano e acabam vivendo em periferias bem diferentes das americanas e verdade. O subúrbio europeu por incrível que pareça ainda representa o local tanto da produção industrial tradicional como das novas indústrias de alta tecnologia. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O fator decisivo dos novos processos urbanos, na Europa e em outros lugares, e o fato de o espaço urbano ser cada vez mais diferenciado em termos sociais, embora esteja funcionalmente interrelacionando alem da proximidade física. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Urbanização do terceiro milênio: megacidades. Megacidades são aglomerações populacionais de mais de 10milhoes de habitantes sendo em numero de 13 (classificação da ONU em 1993) sendo que 4 tem projeções de ultrapassar 20 milhões em 2010. Mas alem de tamanho elas possuem algumas características de qualidades definidoras como: são os nos da economia global, e concentram funções superiores direcionais, produtivas, e administrativas de todo o planeta; o controle da mídia, a verdadeira política do poder; e a capacidade simbólica de criar e difundir mensagens. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">As megacidades concentram o que há de melhor e de pior tanto temos pessoas importantes para o sistema como pessoas que querem justamente aproveitar a notoriedade dessas megacidades pra mostrar a condição de abandono em que se encontram. No entanto, o que e mais significativo sobre as megacidades e que elas estão conectadas externamente a redes globais e a segmentos de seus paises embora internamente desconectadas das populações locais. E esta característica distinta de estarem física e socialmente conectadas com o globo e desconectadas do local que torna as megacidades uma nova forma urbana. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">As megacidades são os pontos nodais de conexão as redes globais. Portanto, o futuro da humanidade e do pais de cada megacidade depende fundamentalmente da evolução e gerenciamento dessas áreas. As megacidades são os pontos nodais e os centros de poder da nova forma/processo espacial da era da informação: o espaço de fluxos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A teoria social de espaço e a teoria do espaço de fluxos Espaço e a expressão da sociedade. Uma vez que nossas sociedades estão passando por transformações estruturais, e razoável sugerir que atualmente estão surgindo novas formas e processos espaciais. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Do ponto de vista da teoria social, espaço e o suporte material de praticas sociais de tempo compartilhado. O autor define ainda espaço de fluxos como sendo a organização material das praticas sociais de tempo compartilhado que funcionam por meio de fluxo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Este e um capítulo bastante teórico senão confuso e de não fácil assimilação, para o autor o espaço de fluxos pode ser descrito pela combinação de três camadas que juntas constituem o espaço de fluxos são elas: A primeira camada e constituída por um circuito de impulsos eletrônicos. A segunda e constituída por seus nos(centros de importantes funções estratégicas) e centros de comunicação. A terceira e ultima refere-se à organização espacial das elites gerenciais dominantes (e não das classes) que exercem as funções direcionais segundo as quais este espaço e articulado. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">A arquitetura do fim da historia se o espaço de fluxo realmente for à forma espacial predominante da sociedade em rede, nos próximos anos a arquitetura ;e o design provavelmente serão redefinidos em sua forma, função, processo e valor. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O autor analisa a arquitetura sob o ponto de vista do espaço de fluxos e chega e mostra alguns casos particulares onde esta relação esta muito minimamente ligada como a restauração de uma estação de metro na Espanha ou a construção de um aeroporto também neste pais onde passageiros tem a impressão de estarem sozinhos dada o design do local sozinhos quer dizer: nas mãos unicamente da companhia aérea. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">7O limiar do eterno: Tempo intemporal o tempo passou no contexto histórico, desde um simples marcador de datas comemorativas ou simbolizador de tipos no horóscopo babilônico, para o principal motivador da alta produtividade, já que cada segundo perdido pode custar milhões no mercado global. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">É comum observarmos hoje que programas cada vez mais sofisticado comandam as tomadas de decisões econômicas, sendo alinhadas com fusos horários diferentes para possibilitarem em tempo real, seja qual for à parte do mundo, o ganho da empresa. Nesse contexto é que a "empresa em rede" vivência o tempo não como uma maneira cronológica de produção em massa, mas sim como algo a ser processado e utilizado como termômetro de suas inovações. Exemplos: o ajuste das empresas às novas necessidades do mercado em um curto intervalo de tempo; a contratação de profissionais cada vez mais flexíveis, ou seja, capazes de direcionar bem suas horas de trabalho, e ainda a diminuição no tempo de serviço dos funcionários, bem como a contratação de mais mão-de-obra para distribuição das horas de produção diária. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">O aspecto do ritmo biológico ou ciclo biológico foi quebrado pela "“ sociedade em rede “" que desde já muda a fisionomia do meio em que vive; seja fazendo mudar o tempo de serviço, criando uma nova camada da terceira idade contendo velhos não só cronologicamente, mas pessoas ditas impossibilitadas de se flexibilizarem em relação ao mercado; transformando a reprodução como algo possível em qualquer idade, mediante as modernas técnicas de fertilização; ou ainda pelo grande avanço da medicina, tentando colocar a morte como algo controlável e distante, uma luta baseada na prevenção e na esperança. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">No ponto de vista das guerras, conforme os aparatos bélicos foram evoluindo com armas nucleares e demais meios de destruição em massa, mais difícil se tornou o confronto armado entre as nações desenvolvidas que passaram a ver as guerras do seguinte ponto de vista: menor numero possível de mortos, utilização somente de um exército profissional, um conflito rápido, longe dos olhos da mídia e com o menor gasto possível. Para a sociedade informacional que visa o lucro, as guerras a muito deixaram de ser lucrativas, a não ser quando as potências exploro conflitos menores, dentro de nações menos desenvolvidas, funcionando agora como fornecedores, sem perdas humanas e com muitos ganhos financeiros. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Portanto desde as transações de capitais realizadas em segundos, indeterminado ciclo de vida, busca da eternidade pela negação à morte até guerras instantâneas, são todos fatos que acabam por caracterizar a "sociedade em rede” como a responsável pela mistura do tempo, através da simultaneidade de fatos e a intemporalidade da informação. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Conclusão: A sociedade em rede como tendência histórica, as funções e os processos dominantes na era da informação estão cada vez mais organizados em torno de redes. Redes constituem a nova morfologia social de nossa sociedade e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Tudo isso porque elas são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetos de desempenho). </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: inherit;">Nesse contexto é que a rede é um instrumento apropriado para a economia capitalista voltada para a inovação, globalização e concentração descentralizada; para o trabalho, trabalhadores e empresas voltadas para a flexibilidade e adaptabilidade; para uma cultura de descontrução e reconstrução contínuas; para uma política destinada ao processamento instantâneo de novos valores e humores públicos; e para uma organização social que vise à suplantação do espaço e invalidação do tempo. </span></span></div><span style="font-family: inherit;"></span>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-87371326013323638632010-07-22T07:53:00.000-07:002010-07-22T07:53:42.095-07:00Entre a História, a Política e a Narração<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: left; text-indent: 2cm;"><b><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">HANNAH ARENDT:</span></span></b></div><div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 12pt 42.55pt 0pt 0cm; text-align: right; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 9.5pt;">por: André Luiz de Souza Filgueira</span><sup><span style="font-size: 9pt;">* </span></sup></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">A política </span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 45pt 0pt 2cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 9.5pt;">É com palavras e atos que nos inserimos no mundo humano; e esta inserção é como um segundo nascimento, no qual confirmamos e assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento físico original</span><sup><span style="font-size: 9pt;">1</span></sup><span style="font-size: 9.5pt;"> </span></span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 12pt 42.55pt 0pt 0cm; text-align: right; text-indent: 2cm;"><i><span style="font-size: 9.5pt;"><span style="font-family: Arial;">Hannah Arendt </span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">A questão que nos leva a refletir sobre os possíveis nexos existentes entre as três categorias (história, narração e política) que irão conduzir este texto, está situada em torno do acontecimento, ou nos termos de Arendt, no rastro do <i>novo</i></span><sup><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-style: italic;">2</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">. Assim, tomemos como referência às próprias palavras da autora: “o próprio pensamento emerge de incidentes da experiência viva e a eles deve permanecer ligado, já que são os únicos marcos por onde obter orientação”</span><sup><span style="font-size: 9pt;">3</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">Desta forma, pergunta-se, que experiências históricas são essas a que Arendt dedicou parte de sua vida para pensá-las, a ponto de estas experiências provocarem uma ruptura com a tradição do pensamento ocidental? Essas experiências históricas, referenciadas pela autora, são o totalitarismo e, portanto Arendt nos chama atenção para um importante detalhe deste feito humano: “(...) o fio da tradição foi rompido. Ora, o que rompe com a história não é um acontecimento de pensamento, mas uma experiência histórica e antropológica, e esta rotura tornou-se patente, caiu no domínio público”.</span><sup><span style="font-size: 9pt;">4 </span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">Daí a ênfase de Arendt recair na não separação entre a atividade do pensar e os eventos históricos, porque estes são os únicos marcos pelos quais podemos obter orientação, em meio a uma situação que não se sabe ao certo o que fazer, como por exemplo, o totalitarismo do século XX. Assim, uma das principais conseqüências trazidas por essa ruptura foi, justamente, à quebra do elo que existia entre a tradição de pensamento, que outrora ligava o passado e o presente. Por esse aspecto, o passado, que antes, iluminava o presente, a ponto de fornecer elementos usuais de compreensão dos fatos oriundos da ação dos homens, que por sua vez, subsidiava a atividade do pensar, foi anulado, em face ao fenômeno da ruptura, no século XX. Deixando, deste modo, os homens a vagar na escuridão</span><sup><span style="font-size: 9pt;">5</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">. Isso porque a tradição de pensamento, que trazia consigo todo o registro da ação humana, através do passado, foi assolada pelo espectro do terror, que sucumbiu com o elo que unia o passado e o presente. Deixando, assim, os homens a deriva no mundo. Portanto, essa é a primeira faceta trazida pelo <i>novo </i>à história, qual seja a quebra do fio entre o passado e o presente, que antes, orientava os indivíduos pelo caminhar no mundo. A <i>priori</i>, o <i>novo</i>, manifestado no século passado, veio sob a égide do mal, trazendo conseqüências catastróficas ao mundo, pois dizimou diversas minorias, dentre elas judeus, homossexuais e negros; extraiu a cidadania destes grupos, a ponto de transformá-los em seres supérfluos</span><sup><span style="font-size: 9pt;">6</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">, sem lei, sem direitos, sem liberdade política, enfim, como nos diz o antropólogo polonês Zygmunt Bauman, os grupos “fora da lei” – que não se enquadravam nas leis do totalitarismo –, foram transformados em “lixo humano”</span><sup><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-style: italic;">7</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">Por este aspecto, a esfera pública, hoje em declínio, era concebida, no passado, como sendo um local privilegiado, pois nele se manifestava a ação ou a liberdade humana</span><sup><span style="font-size: 9pt;">8</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">, ficando para nós, homens e mulheres da contemporaneidade, a lembrança capturada por Arendt. Nas palavras da autora: “A <i>polis </i>grega foi outrora precisamente a ‘forma de governo’ que proporcionou aos homens um espaço para aparecimento onde pudessem agir – uma espécie de anfiteatro onde a liberdade podia aparecer”,</span><sup><span style="font-size: 9pt;">9 </span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">pois os homens inseridos neste campo estão abertos às virtudes cívicas (ao diálogo, à compreensão mútua e à persuasão) que possuem como horizonte, as pautas de interesse da coletividade que prima pelo bem comum.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">Esse registro, tal como o fizemos –, qual seja o de resgatar o momento histórico político em que a ação política foi desenvolvida, é uma tarefa emergencial tendo em vista que; no tempo presente, a política, apresentasse com uma configuração tenebrosa em face a inserção do novo na história –, na esteira do pensamento de arendtiano, essa lembrança deve ser feita se, o que se quer, é de fato, encarar o espaço público como sendo o local destinado à aparição ao mundo, onde, as ações, nele desenvolvidas, possam ser transmitidas para a posteridade, tendo como horizonte o bem comum. Deste modo, às gerações futuras contemplaram um outro sentido da vida – a vida imortal – que é somente experimentado na esfera pública. Sobre esse aspecto (história e imortalidade), veremos, a seguir, o que os caminhos que as reflexões de Hannah Arendt aponta </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">A história<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 45pt 0pt 2cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 9.5pt;">A responsabilidade pelo mundo é também responsabilidade pela história, pela historicidade do mundo comum</span><sup><span style="font-size: 9pt;">10</span></sup><span style="font-size: 9.5pt;"> </span></span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 12pt 42.55pt 0pt 0cm; text-align: right; text-indent: 2cm;"><i><span style="font-size: 9.5pt;"><span style="font-family: Arial;">Anne-Marie Roviello </span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">Em seu artigo: “O conceito de história – antigo e moderno”, publicado na obra <i>Entre o passado e futuro</i>, que reúne uma coletânea de textos, dedicada a temas diversos, como por exemplo, educação, cultura, história, política, entre outros, Arendt, inicia a caracterização da história também tendo como pressuposto o mundo antigo. Deste modo, <i>a priori</i>, suas considerações se assentaram em duas questões: mortalidade e imortalidade </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">Tendo em vista que homens e mulheres são seres mortais, posto que nasceram em um mundo que existia antes deles e que continuará a existir ao término do ciclo de vida de cada um, a humanidade anseia pela imortalidade</span><sup><span style="font-size: 9pt;">11</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">. Esta ânsia advém da vontade em se fazer eterno, mesmo estando ciente de que homens e mulheres são mortais. É nesta perspectiva, de atingir a imortalidade, que a humanidade lança mão do uso dos elementos imortais, oriundos da natureza, ou seja, do mundo, para assegurar a sua imortalidade </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">Com efeito, conforme pontua Arendt, </span><span style="font-size: 9.5pt;"></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 45pt 0pt 2cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 9.5pt;">No início da História Ocidental, a distinção entre a mortalidade dos homens e a imortalidade da natureza, entre as coisas feitas pelo homem e as coisas que existem por si mesmas,era o pressuposto tácito da Historiografia. Todas as coisas que devem sua existência aos homens, tais como obras, feitos e palavras, são perecíveis, como contaminadas com a mortalidade de seus autores. Contudo, se os mortais conseguissem dotar suas obras, feitos e palavras, de alguma permanência, e impedir sua perecibilidade, então essas coisas ao menos em certa medida entrariam no mundo da eternidade e aí estariam em casa, e os próprios mortais encontrariam seu lugar no cosmo, onde todas as coisas são imortais, exceto os homens.</span><sup><span style="font-size: 9pt;">12 </span></sup></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">Destarte, é cabível uma indagação: qual é a contribuição que Arendt traz sobre mortalidade e imortalidade, possibilitando, assim, pensarmos o objeto de estudo da história, bem como o ofício do historiador? Para Arendt, o objeto de estudo do historiador é o fato singular, pois, ele, consegue romper com toda cadeia de fatos edificada por homens e mulheres e que, até então, permanecia <personname productid="em vigor. Mas" w:st="on">em vigor. Mas</personname> esse processo é rompido através da corrente subterrânea da história que, por intermédio da natalidade</span><sup><span style="font-size: 9pt;">13</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">, traz consigo a possibilidade de experimentação de algo novo que, até então, não havia ocorrido antes. Esse desconhecido é a possibilidade de realização de novos feitos, os quais revelam o seu esgarçamento em face ao processo anterior. Segundo Arendt, </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 45pt 0pt 2cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 9.5pt;">O que para nós é difícil perceber é que os grandes feitos e obras de que são capazes os mortais, e que constituem o tema da narrativa histórica, não são vistos como parte, quer de uma totalidade ou de um processo abrangente; ao contrário, a ênfase recai sempre em situações únicas e rasgos isolados</span><sup><span style="font-size: 9pt;">14</span></sup><span style="font-size: 9.5pt;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">Contudo, se o objeto de estudo do historiador é a identificação do novo, posto que, desta forma, ele estará garantindo a imortalidade do homem no mundo por meio do resgate de suas ações empreendidas no espaço público, já engolfadas na história, então, logo se conclui que o ofício do historiador é a captação do evento singular, para garantir a imortalidade. Por isso, Arendt convida o historiador a se deter – quando este estiver envolvido com as interpretações das ações humanas, ou seja, com a atividade investigativa </span><span style="font-size: 9.5pt;"></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">60 dos fatos - ao dado singular dentro da história, tendo como horizonte a política. Isto porque, a ação humana, exercida livremente nos espaços públicos, corrobora a imortalização dos grandes feitos humanos </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">Assim, Arendt, inspirada em Heródoto, consagrado pela historiografia ocidental como sendo <i>pater historiae</i>, conclui como sendo atribuições do historiador: </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 45pt 0pt 2cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 9.5pt;">[...] preservar aquilo que deve sua existência aos homens, [...] para que o tempo não o oblitere, e prestar aos extraordinários e gloriosos feitos de gregos e bárbaros louvor suficiente para assegurar-lhes evocação pela posteridade, fazendo assim sua glória brilhar através dos séculos.</span><sup><span style="font-size: 9pt;">15 </span></sup></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">Inspirada nas proposições históricas levantadas por Walter Benjamim</span><sup><span style="font-size: 9pt;">16</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">, ela argumenta que o historiador deve ficar atento ao <i>novo</i></span><sup><span style="font-size: 9pt;">17</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">. Porque ele, no momento de sua aparição à humanidade, traz à luz o que estivera, até então, oculto aos olhos dos homens, o que, simplesmente, era considerado como passado. Contudo, esse passado que era dado como algo encoberto se faz presente, e o presente, propriamente dito, passa a assumir a posição de passado, até que surja, novamente, algo novo para que o presente, que passou a ser visto como passado, possa reaparecer. Assim, Arendt, se pronuncia dizendo que, </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 45pt 0pt 2cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 9.5pt;">O novo é o domínio do historiador que, ao contrário do cientista natural preocupado com os acontecimentos sempre recorrentes, lida com eventos que sempre ocorrem somente uma vez. O que o evento iluminador revela é um começo no passado que até então estivera oculto; aos olhos do historiador, o evento iluminador só pode aparecer como um final para esse recém-descoberto início. Só quando, na história futura, um novo evento ocorre, é que esse “final” irá revelar-se como um início aos olhos dos futuros historiadores. E os olhos do historiador representam somente o olhar cientificamente treinado da compreensão humana; só podemos <i>compreender</i></span><sup><span style="font-size: 9pt;">18</span></sup><i><span style="font-size: 6.5pt;"> </span></i><span style="font-size: 9.5pt;">um evento como o final e a culminação de tudo o que aconteceu antes, como “preenchimento dos tempos”; somente é que cabalmente avançamos com relação ao conjunto transformado de circunstâncias que o evento criou, isto é, tratamos esse evento como um começo. </span><sup><span style="font-size: 9pt;">19 </span></sup></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">É por esse particularismo, inerente ao exame dos fatos históricos, que Arendt pode ser, de fato, considerada como uma <i>storyteller</i>. Mas, o que seria, afinal, um <i>storyteller </i>e qual a ligação e o peso que essa nomeação pode acarretar de significativo ao pensamento da autora, que por sua vez, pode contribuir ao ofício do historiador? As linhas que se seguem procuram apontar na direção destas inquirições </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">A narração </span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 45pt 0pt 2cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 9.5pt;">(...) todos os desgostos e tristezas são suportáveis se deles se faz um conto, ou se o contamos</span><sup><span style="font-size: 9pt;">20</span></sup><span style="font-size: 9.5pt;"> </span></span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 12pt 42.55pt 0pt 0cm; text-align: right; text-indent: 2cm;"><i><span style="font-size: 9.5pt;"><span style="font-family: Arial;">Isak Dinesen </span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">É interessante notar o seguinte aspecto no pensamento arendtiano, mesmo diante de uma situação em que parece que a humanidade está situada em um caos absoluto, o caminho indicado pela autora, para inspirar as pessoas a refletirem sobre as alternativas a serem tomadas, mesmo perante o esgarçamento da tradição filosófica, é a via do <i>storyteller</i> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">É neste aspecto que se faz evidente a importância da narração como categoria interpretativa à luz do pensamento arendtiano. Segundo Felício, trata-se de: </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 45pt 0pt 2cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 9.5pt;">Narrar a experiência, ao contrário de escrever uma história do totalitarismo. No lugar de afirmar, então, em <i>Origens</i>, que o totalitarismo podia ser explicado à luz da história, o que Arendt fez foi analisar em termos históricos os elementos que se cristalizaram neste acontecimento que, em seus termos, “é o acontecimento central de nosso mundo”</span><sup><span style="font-size: 9pt;">21</span></sup><span style="font-size: 9.5pt;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">Por este viés, o foco central desta empreitada de Arendt consiste em narrar o fenômeno totalitário, a partir do suposto de que ele é o fator que é tributário à ação humana, desenvolvida no espaço público. E essa é, portanto, a via em que se vincula a corrente narracional, que, por sua vez, trata-se de uma metodologia epistemológica emoldurada por Arendt – que por sua vez, possuí suas marcas vinculadas ao legado do filósofo alemão Walter Benjamin –, já que a teórica política não pôde contar com o auxílio da tradição filosófica Ocidental e posto, ainda, que esta havia sido esfacelada frente ao imperativo totalitário. Se o caminho encontrado por Arendt – através do método narracional (<i>storyteller</i>) – deita suas raízes no espaço público, para rever a situação em que a humanidade viu-se situada, diante do mal, então, a reversão deste dado – o de neutralizar o fenômeno do terror – também está locada no espaço público. Por essa via, qual seja, a de recontar a história do totalitarismo, a partir da narração, é que Hannah Arendt é entendida como sendo uma narradora. E o exercício da função do narrador, encarado aqui, aos moldes das reflexões de Walter Benjamin é: “(...) retirar da experiência o que ele conta: sua própria experiência ou a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiência dos seus ouvintes.”</span><sup><span style="font-size: 9pt;">22 </span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">Por isso, o principal objetivo de Arendt, ao recontar a história do totalitarismo é o de: “(...) recuperar aqueles tesouros políticos não tematizados filosoficamente, aqueles fragmentos preciosos e preteridos que, hoje, restariam ocultos por entre os destroços da tradição (...)”</span><sup><span style="font-size: 9pt;">23</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">. É por este caminho que a pensadora não descarta a via da busca de alternativas de fuga, dos <i>tempos sombrios</i>, tendo como ponto de partida à situação caótica do tempo presente. Porque, ela vislumbra, nessa circunstância, a possibilidade de reconciliação com o passado esquecido, em que tal esquecimento é atribuído à ruptura da tradição ocidental de pensamento, que foi consolidada a partir do totalitarismo. Há de se ressaltar que Arendt não estava interessada em captar o cerne que elevou o totalitarismo ao poder, para que pudesse assim compreendê-lo, mas, antes, ao ser adepta ao estilo narrativo benjaminiano, o que a inquietava no totalitarismo e que fez com ela recuasse à narração era porque, </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 45pt 0pt 2cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 9.5pt;">A narração não está interessada em transmitir o “puro em si” da coisa narrada como uma informação ou um relatório. Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso.</span><sup><span style="font-size: 9pt;">24 </span></sup></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">Destarte, o rumo que orientou a teoria de Hannah Arendt pode ser visto a partir do mapeamento das situações em que o <i>novo </i>se manifesta. Esse diagnóstico é engendrado pelo historiador e pelo romancista e muito pode oferecer os lampejos da política, à humanidade, no instante em que o novo veio à tona. Porquanto, ao chamar atenção à ação política, entendida aqui, como sendo intercambiável com a liberdade, de acordo com a teoria de Hannah Arendt, a pensadora estava convicta de que somente o retorno ao passado, poderia garantir a recuperação dos fragmentos políticos, a partir do suposto de que historiadores e romancistas, através da narrativa, poderiam autorizar os homens à ação. “A função política do narrador de estórias (<i>storyteller</i>), seja ele “historiador ou romancista”, é a de provocar uma “catarse” que libere os homens para a ação e para o juízo”</span><sup><span style="font-size: 9pt;">25</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">É nesse horizonte, que Arendt recua ao filósofo Walter Benjamin, para dizer que, os romancistas e os historiadores, são de fato, “pescadores de pérolas”, porque eles se detêm à função de apanhar os estilhaços do passado, rompido com quebra do vínculo da tradição </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">Entretanto, esse caminho, indicado pela autora, só é possível se o pensarmos</span><sup><span style="font-size: 9pt;">26 </span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">pelo viés do acontecimento. “A história é constituída por acontecimentos, ou seja, por aquilo que interrompe processos, sendo propriamente o imprevisível, o indedutível”</span><sup><span style="font-size: 9pt;">27</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">Considerações finais </span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 11.5pt;">A maneira encontrada por Arendt para encarar o advento do mal, no século XX, mediante a ruptura que houve com a tradição de pensamento, e assim compreendê-lo, é o contar “estórias”. Segundo, Aguiar, para além de uma perspectiva de visualização de Arendt como sendo uma contadora de “estórias”, a autora pode ser entendida como “(...) uma <i>storyteller </i>do mundo contemporâneo. Em todos os seus escritos, é possível perceber que ela está perseguindo uma luz que ilumine o que o homem está fazendo na atualidade, o que pretende com as suas instituições e seus modos de vida”</span><sup><span style="font-size: 9pt;">28</span></sup><span style="font-size: 11.5pt;">. Essa é a outra face que o evento singular/<i>novo </i>pode manifestar à humanidade visto sob o ângulo da esperança, que pode ser creditada à ação política, e a ela, a expectativa de algo <i>novo </i>acontecer. Pois, afinal, a lembrança de Arendt, que nos fica, sobre o agir humano, desenvolvido no espaço público, - recuperada no mundo antigo - respaldado pela liberdade de ação, calcada na compreensão mútua e na persuasão, é o de que: somente a ação humana é capaz de feitos imensuráveis </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">Sob este âmbito temos uma dupla face da ação. De um lado, como foi acenada, a ação, vista aqui sob a égide da imprevisibilidade, foi capaz de promover, no século passado, algo inédito na história, a ascensão ao poder feita pelo totalitarismo (que carimbou a introdução da violência na política). Mas, por outro lado, também entendido sob a espreita do acontecimento/<i>novo</i>, a ação política, foi capaz, outrora, de lançar raios de luzes à humanidade e evidenciar que a política é, por excelência, o antídoto para combater a outra face maléfica do <i>novo</i>. Um exemplo disso, que muito inspirou Arendt a pensar a existência da política, em nosso tempo, são os sistemas de conselhos, porque através dele os homens “recuperaram” o gosto pela ação. E também, por meio desses conselhos, foram desencadeadas outras manifestações, genuinamente, de forte cunho político, tal como no passado havia, um exemplo disso foram as Revoluções Modernas. Sobre o sistema de conselhos Arendt nos diz, </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 45pt 0pt 2cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 9.5pt;">Organização espontânea de sistemas de conselho ocorreu em todas as revoluções: na Revolução Francesa, com Jefferson na Revolução Americana, na Comuna de Paris, nas revoluções russas, no despertar das revoluções na Alemanha e Áustria, no fim da Primeira Guerra Mundial e finalmente na Revolução Húngara</span><sup><span style="font-size: 9pt;">29 </span></sup></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">Esse foi, então, o propósito deste texto, o de apontar a dimensão da história, da política e da narração, tendo como pressuposto o <i>novo </i>ou o acontecimento singular na história da humanidade, para de fato, possamos resgatá-lo, nos <i>tempos sombrios</i> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">_____________________________________________________________</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">Notas:</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">* <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Graduado em história, UCG, membro do GED (Grupo de Estudos da Democracia), ligado à rede FAPEG </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">1 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">ARENDT, Hannah. <i>A condição humana</i>, p. 189 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">2 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Grifo nosso </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">3 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">ARENDT <i>apud </i>FELÍCIO. <i>HANNAH ARENDT: história e acontecimento</i>, p. 01 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">4 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">ARENDT <i>apud </i>AMIEL. <i>HANNAH ARENDT: Política e acontecimento</i>, p. 08 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">5 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Sobre esse assunto, considerando o suposto de Tocqueville ele nos diz: “(...) como o passado já não ilumina o futuro, o espírito avança nas trevas” (TOCQUEVILLE <i>apud </i>AMIEL, 1996, p. 09) </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">6 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Uma análise mais detida sobre o regime totalitário como sendo o provedor da superfluidade humana, conferir em: CORREIA, Adriano. Os campos de concentração e a fabricação da superfluidade. In.: <i>Fragmentos de Cultura</i>, 2003, p. 201-216 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">7 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Essa expressão é recorrente na obra do antropólogo intitulada de: <i>Vidas desperdiçadas</i>, Rio de Janeiro. Ed <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Jorge Zahar, 2005 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">8 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Arendt contempla a liberdade e a política como termos intercambiáveis, tendo em vista que a existência de uma prescrevia a outra. “A liberdade como fato demonstrável e a política coincidem e são relacionadas uma à outra como dois lados da mesma matéria”. (ARENDT, 2002, p. 195) </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">9 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Idem. <i>Entre o passado e o futuro</i>, p. 201 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">10 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">ROVIELLO, Anne-Marie. <i>Senso comum e modernidade <personname productid="em Hannah Arendt" w:st="on">em Hannah Arendt</personname></i>, p. 71 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">11 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Tomando de empréstimo as palavras de Arendt, sobre a imortalidade, entendemos que: “Imortalidade é o que a natureza possui sem esforço e sem assistência de ninguém, e imortalidade é, pois, o que os mortais precisam tentar alcançar se desejam sobreviver ao mundo em que nasceram, se desejam sobreviver às coisas que nos circundam e em que cuja companhia foram admitidos por curto tempo.” (ARENDT, 2002, p. 78)<sup> </sup></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">12 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Idem. <i>Ibidem</i>, p. 72 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">13 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">A natalidade é um assunto que Arendt concede grande primazia, porque, somente por ela, a autora vê a chance de realização da história e da política. Porque ao pensarmos em natalidade, logo de imediato, vem a tona um outro termo correlato, a singularidade. “Isso, do ponto de vista geral e essencial, é a singularidade que distingue cada ser humano de todos os demais, a qualidade em virtude da qual ele não é apenas um forasteiro no mundo, mas alguma coisa que jamais este aí antes.” (ARENDT, 2002, p. 239) </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">14 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Idem. <i>Ibidem</i>, p. 72</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">15<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Idem. Ibidem, p. 70 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">16 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">As teses de W. Benjamim, sobre a história, foram publicadas no livro <i>Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política</i>. Ed. Brasiliense, 1994. Vale a pena salientar que, após a morte de Benjamin, Arendt esteve com a posse de parte do seu espólio </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">17 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Grifo nosso </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">18 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Grifos da autora </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">19 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">ARENDT, Hannah. <i>A dignidade da política</i>, p. 49 e 50</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">20 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Isak Dinesen <i>apud </i>Kristeva. In.: <i>O GÊNIO FEMININO: A vida, a loucura, as palavras</i>, p. 91 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">21<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">FELÍCIO, Carmelita Brito de Freitas. <i>HANNAH ARENDT: História e acontecimento</i>, p. 01 e02 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">22 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">BENJAMIN. Walter. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In.: <i>Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura</i>/Walter Benjamin, p. 201 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">23 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">DUARTE, André. HANNAH ARENDT ENTRE HEIDEGGER E BENJAMIN: A crítica da tradição e a recuperação da origem política. In.: <i>HANNAH ARENDT: Diálogos, reflexões, memórias</i>, p. 78 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">24 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">BENJAMIN. Walter. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In.: <i>Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura</i>/Walter Benjamin, p. 205 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">25 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">ARENDT <i>apud </i>DUARTE. <i>O PENSAMENTO A SOMBRA DA RUPTURA: política e filosofia <personname productid="em Hannah Arendt" w:st="on">em Hannah Arendt</personname></i>, p. 270 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">26 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">Ao longo destas considerações viemos afirmando, enfaticamente, que a Arendt clama a humanidade para o pensar. Mas, sumariamente, o que significa o pensar à teórica? Ela nos diz que trata-se de: “Pensar com a mentalidade alargada significa treinar a própria imaginação para sair em visita” (ARENDT <i>apud </i>AGUIAR, 2001, p. 225) </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">27 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">AMIEL, Anne. <i>HANNAH ARENDT: Política e acontecimento</i>, p. 49 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">28 <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">AGUIAR, Odílio Alves. Pensamento e narração <personname productid="em Hannah Arendt. In.:" w:st="on">em Hannah Arendt. In.:</personname> <i>Hannah Arendt: diálogos, reflexões e memórias</i>, p. 218 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><sup><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9pt;">29</span></sup><span style="font-size: 9pt;"><span style="font-family: Arial;"> <span style="mso-tab-count: 1;"> </span>ARENDT <i>apud </i>FELÍCIO. <i>A PAIXÃO PELA LIBERDADE: um horizonte para pensar a Democracia e a República <personname productid="em Hannah Arendt" w:st="on">em Hannah Arendt</personname></i>, p. 06 </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">_____________________________________________________________</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 2pt 0cm 0pt 14.2pt; tab-stops: 14.2pt; text-indent: -14.2pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify;"><b><span style="font-size: 11.5pt;"><span style="font-family: Arial;">Referências Bibliográficas:</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">AGUIAR, Odílio Alves. Pensamento e narração <personname productid="em Hannah Arendt. In" w:st="on">em Hannah Arendt. In</personname>: MORAES e BIGNOTTO (orgs.) <i>Hannah Arendt: diálogos, memórias, reflexões</i>. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2003 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">ARENDT, Hannah. <i>A dignidade da política: ensaios e conferências</i>. Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará, 1993 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial;"><i>_______</i>.<i>A condição humana</i>. Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária, 2003 </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">ARENDT, Hannah. <i>Responsabilidade e julgamento</i>. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 2004 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">65 _______. <i>Entre o passado e o futuro</i>. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2002 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">AMIEL, Anne. <i>HANNAH ARENDT: política e acontecimento</i>. Lisboa: Ed. Instituo Piaget, 1996 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">BAUMAN, Zygmunt. <i>Vidas desperdiçadas</i>. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2005 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">BENJAMIN, Walter. <i>Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política</i>. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">CORREIA, Adriano. Os campos de concentração de concentração e a fabricação da superfluidade. In.: <i>Revista Fragmentos de Cultura</i>. Goiânia, Ed. UCG, 2003 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial;">DUARTE, André. <i>O pensamento a sombra da ruptura – política e filosofia <personname productid="em Hannah Arendt. São" w:st="on">em Hannah Arendt<span style="font-style: normal;">. São</span></personname><span style="font-style: normal;"> Paulo: Ed. Paz e Terra, 2000 </span></i></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">________. Hannah Arendt entre Heidegger e Benjamin: a crítica da tradição e a recuperação da origem da política. In: MORAES e BIGNOTTO (orgs.) <i>Hannah Arendt: diálogos, reflexões e memórias</i>. Belo Horizonte: UFMG, 2003 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">FELÍCIO, Carmelita Brito de Freitas. <i>Hannah Arendt: história e acontecimento</i>. V Colóquio: Filosofia, Literatura e História. Mesa-redonda: Filosofia & História (27/04/2005). (mimeo) </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial;">________. <i>A PAIXÃO PELA LIBERDADE: um horizonte para pensar a Democracia e a República <personname productid="em Hannah Arendt. II" w:st="on">em Hannah Arendt<span style="font-style: normal;">. II</span></personname><span style="font-style: normal;"> Seminário: Problemas do Estado Democrático Contempoâneo – O futuro da democracia – Homenagem especial à Hannah Arendt e Aléxis de Tocqueville. (09/2005). (mimeo) </span></i></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">KRISTEVA, J. <i>O gênio feminino - Hannah Arendt</i>. Rio de Janeiro: Rocco, 2007 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">RONIELLO, Anne-Marie. <i>Senso comum e modernidade <personname productid="em Hannah Arendt" w:st="on">em Hannah Arendt</personname></i> </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 3pt 0cm 0pt 2cm; text-align: justify; text-indent: -2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">Lisboa: Ed. Instituto Piaget, 1987 </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><br />
</div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-72059578651690635402010-07-13T10:01:00.000-07:002010-07-13T10:01:36.972-07:00Ancorar e dormir ou alçar velas?<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span> <div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Navegar é alcançar um porto seguro após velejar por águas revoltas ou por águas calmas. Nos portos os homens se encontram e se cada um estiver carregando um pão, podem trocar os pães, mas cada homem sai com apenas um. Entretanto, se dois homens se encontram e cada um carrega uma idéia, também podem trocar as idéias, e cada um volta a velejar com duas.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Chegar e partir são, assim, comuns aos veleiros como também à vida. Alçamos as velas e nos lançamos ao desconhecido com a certeza que não estamos aqui para ficarmos inertes, pois o próximo porto nos aguarda cheios de novidades e nos traz à vida o sentido de pertencimento. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A sexualidade como as velas, quando neurotizada ou presas, podem trazer o estranhamento e o sentimento de não-pertencimento. As velas devem sempre ser alçadas, em contrário a impotência, imaturidade sexual e o não-controle do orgasmo perante a vida tornam-se presentes, e tenha certeza, o são, mais freqüentes do que imaginamos.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Um homem invisível não troca informações nem reconhece com facilidade seus pares e aprende, equivocadamente, que alçar velas é uma doença ao acreditar e incorporar aos seus sentimentos o senso comum dos portos estéreis. Sofre, então, um terrível quadro de baixa auto-estima, pois acredita que merece sofrer em silêncio, isolado, sem apoio, sem amigos.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Precisamos, pois, elaborar um discurso que exprima nossas idéias, que fortaleça nossa auto-estima. Afinal, alçar velas é apenas umas das inúmeras formas de expressão da afetividade humana. Se esse é o nosso porto, devemos desfrutá-lo da melhor maneira possível, sem nenhum estranhamento.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nunca é demais refletir sobre os estereótipos solidamente arraigados na cultura, incorporados até na bagagem intelectual de homens mais esclarecidos, e sobre a criação de uma espécie de modelo clássico na identificação dos apaixonados pelas velas e que retrata, com variações que não invalidam a concepção original do porto seguro, o perfil do velejador assumidamente livre. Estes, no caso dos homens, seriam diferenciados pelo modo de pensar, de olhar, de se comunicar etc.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A manutenção da condição de velejadores livres, quer por alegada aversão ideológica ao compromisso, quer por suposta dificuldade de ordem cultural para contraí-lo, é uma crendice em descompasso com a realidade universal. Hoje, a maioria, a esmagadora maioria dos velejadores livres é comprometida e têm filhos, numa proporção estimada de quatro para cada grupo de cinco que adotam uma das inúmeras formas de expressão da afetividade humana alternativa. Fato suficiente para não excluir do texto a relação velejador-livre/compromisso. A própria história humana, aliás, incumbe-se de estabelecer esta relação.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Assim, um homem que desenvolve uma expressão de afetividade com outro homem não sacrifica necessariamente sua masculinidade, desde que desempenhe seu papel ativo e culturalmente entendido com maestria e masculinindade durante a relação afetiva e se comporte como um homem dentro da sociedade. Em contrário torna-se sujeito da mais severa estigmatização da sociedade. Não perca, portanto, seu espírito de velejador livre.</span></div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-20982535208277321532010-07-03T07:26:00.001-07:002010-07-03T07:26:59.567-07:00Os saberes sobre a cidade: tempos de crise?<h2 style="line-height: 140%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: right; text-indent: 2cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 140%;"><span style="font-family: Arial;">Marcos Simão</span></span></i></h2><div class="MsoBodyText" style="line-height: 140%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="line-height: 140%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Crise, este é o mote do texto que tem como intuito colocar em discussão a necessidade urgente de se pensar o novo e escutar os profissionais que produzem idéias ligadas à sociedade, por um lado, e às rivalidades intelectuais, por outro. Crise urbana como conseqüência de uma crise econômica e crise de crescimento, abrindo portas para que os especialistas da cidade e do território usem o termo para enunciar a urgência de uma questão urbana.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 140%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="line-height: 140%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O conhecimento ponteia essa eventual crise que povoa a comunidade de produtores e de representações científicas, e, sua real existência encerra o drama assegurado pelo termo “crise” e sua relação entre saber e poder.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O paradigma das ciências sociais e especificamente da ciência da cidade se edificaram no estreito elo entre o discurso científico e o progresso social, os saberes sobre a cidade e um projeto progressista. O rompimento desse elo representa a dissolução de toda a base da construção do saber. Trata-se de decifrar, então, a ordem escondida sob a desordem urbana e romper com que se chama de curso natural das coisas. É instigante<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>observar a construção enfática de relações entre ciência urbana e um projeto de ordem espacial, e sua dimensões com a ordem produtiva e a ordem política, culminado pela questão sobre o que nos resta hoje. Será o fim das energias utópicas? Acredito que não.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 140%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="line-height: 140%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Estatísticas sanitárias, a epidemiologia, a criminologia ambientalista, observações sistemáticas dos cortiços e dos seus habitantes foram o pontos de partida parciais para o a emergência do conhecimento global sobre a cidade, marcando o origem das ciência das cidades. Assim a “desordem é a imagem invertida de uma ordem escondida, ainda potencial, e que a ciência urbana é uma política experimental devem tornar real”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Este é concepção pode ser corroborada pelo argumento de que “até para reconhecer o que é anormal, e mais ainda para remediá-lo, nós devemos conhecer alguma coisa do curso normal da evolução” <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lewis Munford</i> - 1905.</span></span></div><div class="MsoBodyText" style="line-height: 140%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="line-height: 140%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Forjar categorias descrição e de análise permite representar a realidade atual em sua relação necessária com aquilo que sequer que ela se torne e este elo íntimo entre momento cognitivo e momento prático e constitutivo das ciências das cidades. “Esses momentos dependem da história social da produção, das representações científicas e, em particular, da história do próprio mundo da ciência em si e de suas relações com a sociedade”. O paradigma da ciência urbana apoia-se em argumentos como os que de a cidade pode se tornar num fator de progresso, funcionando como um organismo ou sistema onde o bom funcionamento dos elementos depende do bom relacionamento dos conjuntos e ainda apoia-se sobre o método experimental: é arte e ao mesmo tempo que ciência.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 140%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="line-height: 140%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A ordem urbana e a ordem produtiva ligam a cidade à conceitos metafóricos da cidade-fábrica superpostas à metáforas do organismo urbano, principalmente após a segunda guerra mundial. A cidade, que deu origem ao indivíduo e às instituições políticas moderna, torna-se também o lugar emblemático da dissolução do elo social. Elaboração científica de um pânico social, essas representações são amplamente difundidas entre a burguesia. Recriar o elo social sobre novas bases, torna-se o programa dos cientistas social e das cidades. O direito ao voto, e a ordem política, a criação dos bairros populares, fazem surgir o cidadão. Organizar a comunidade pela base, o objetivo de uma outra corrente das ciências da cidade. Espera-se assim de uma mudança urbana e da ciência que a orienta um progresso de ordem política.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 140%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="line-height: 140%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A ciência urbana, por um lado, reivindica enunciar os saberes produzidos por procedimentos de objetivação do método científico, distintos dos saberes com finalidade prática e, por outro a institucionalização universitária, mais precisamente se afirmar com a legitimidade e a especificidade da “ciência pura”. É talvez em conjunturas onde esse reconhecimento social tornou-se problemático que aparece uma crise de projetos, acompanhada de uma crise de saberes. Assim nasce o urbanismo moderno, a ciência e o planejamento regional e o planejamento estratégico. Fazendo as ciências das cidade candidatas naturais a administrar, aliadas à políticas e políticos preconizadores naturais da despolitização, fornecendo a esses um vocabulário suscetível de cimentar a unidade nacional. As ciências urbanas conhecem, então, um rápido desenvolvimento. Tornam-se ciências do Estado. Porta voz dos que se calam, o pesquisador pretende ser somente o eco fiel da realidade, e dela fornecer uma interpretação especificamente científica. Enfim, as ciências da cidade apóiam-se sobre um relação privilegiada e ambígua com o poder e a política o que a faz perder muito da sua legitimidade.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 140%;"><span style="font-family: Arial;">Á árdua mas não menos instigante, a discussão coloca em cheque os saberes da cidade no campo das idéias e na formação do conhecimento com um enredo histórico dessa construção. O grande mérito foi justamente reconhecer que é necessário retomar a produção do conhecimento em outras bases que não seja àquela vinculada ao sistema de produção ou de poder político. Obviamente estas são variáveis importantes na produção das ciências das cidades, mas não podem ser referência na construção das idéias, ou seja reconhece-las como peças-chave na construção do conhecimento científico sobre a cidade, mas sem o vínculo ambíguo e perigoso que configurou sua trajetória. Recuso-me, entretanto, a apregoar e acreditar no fim das energias utópicas, aquelas capazes de anarquizar para poder reconstruir e sempre buscando observar o desordenado e o desconhecido para conhecer a lógica do ordenado e conhecido.</span></span></div><div style="text-align: justify;"></div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-2031736212575625272010-07-03T07:16:00.000-07:002010-07-03T07:18:07.143-07:00Entre o passado e o futuro<div align="left" class="Sub-TtuloCientfico" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: left; text-indent: 2cm;"><span style="mso-font-kerning: 0pt;"><em><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial;">O Conceito de História - Antigo e Moderno </span></span></em></span></div><div align="right" class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: right; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 130%;"><em><span style="font-family: Arial;">Hannah Arendt </span></em></span></b></div><div align="right" class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: right; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 130%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">por: Marcos Simão</span></span></i></b></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">I - História e Natureza</span></span></i></b></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">A consciência da mortalidade dos homens e a tarefa da História, nascida então por Heródoto, considerando que as coisas da natureza sejam improváveis de ignorância e esquecimento, uma vez que existem para sempre e não necessitam da existência do homem para serem recordadas. Assim a vida individual do homem distingui-se de todas as outras coisas, secciona transversalmente os movimentos circulares da vida biológica. O homem e sua obra, o homem mortal e a obra do homem imortal. Entretanto os grandes feitos e obras de que são capazes os mortais e eu constituem o tema da narrativa histórica, não são vistos como parte, quer de um totalidade ou de um processo, ao contrário, recai sempre em situações únicas e rasgos isolados.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">Na antigüidade tardia especulações acerca da natureza da história e de seu processo teriam de ser circulares, construídos à partir da vida biológica. O homem não deixaria de ser mortal, mas a sua obra passaria a sê-lo, fazendo com que os termos de Poesia e Historiografia perdessem o significado primitivo da grandeza dos mortais como distinto da dos deuses e da natureza. </span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">Com Heródoto as palavras e ações do homem tornaram-se o conteúdo da História e esta uma categoria da existência humana. Em outras palavras a "estória" de uma vida fora do próprio objeto, para todos verem e ouvirem. </span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">O paradoxo e o aspecto trágico da cultura grega residia em que tudo era visto como pano de fundo das coisas que existem para sempre. Assim a grandeza humana era compreendida como residindo nas palavras e feitos. Um paradoxo poético e não filosófico. fazendo que com que os feitos e palavras perdurassem não somente além do momento do discurso ou da ação, mas além da vida mortal de seu agente. Haviam então descoberto, na atividade do próprio pensamento, uma capacidade para libertar-se de toda a esfera dos assuntos humanos.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">Usando a História, os homens se tornariam através dos feitos e palavras quase igual a natureza. Grande era o que merecera imortalidade, preocupação essa que baseia-se no conceito de Natureza e História cujo o denominador comum era a própria imortalidade. </span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">O conceito Moderno de História não é menos ligado ao moderno conceito de Natureza. Hoje os cientistas naturais admitem que ao observar o experimento, se torna uma de suas condições, introduzindo assim, um fator subjetivo nos processos objetivos da natureza. A antiga polêmica, portanto, entre a "subjetividade" da Historiografia e a "objetividade" da Física perdeu grande parte de sua relevância.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">A objetividade, estreitamente ligadas a não-interferência e a não-discriminação constituem ainda o ponto curioso e embaraçador acerca das Ciências Históricas. Diferentes das Ciências Naturais cujos os padrões científicos culminavam na "extinção do eu". O problema da objetividade científica devia-se à auto-incompreensão histórica e a confusão filosófica em tão larga escala que se tornou difícil reconhecer o verdadeiro problema em jogo. </span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">A imparcialidade, que significa livre de julgamento objetivo, mostrou, a partir de Homero, a possibilidade de compreender o mundo do ponto de vista do outro, a ver o mesmo em aspectos vem diferentes e, freqüentemente opostos.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">A moderna idéia de História foi fortemente estimulada pala dúvida da época moderna acerca da realidade de um mundo exterior dado "objetivamente" à percepção humana como objeto imutado e imutável, ou seja a busca da verdade e do conhecimento, segundo Descartes, não pode confiar nem na evidência dada dos sentidos, nem na "verdade inata" na mente, nem tampouco na "luz interior da razão", justificado pela perda de confiança na capacidade reveladora da verdade dos sentidos, compreendida sempre como conseqüência da atemorizadora simplicidade da relação do homem para com o mundo. A conseqüência foi, após a ascensão das Ciências Naturais, diante da infidedignidade da sensação e da resultante insuficiência da mera observação, voltou-se em direção ao experimento ou na sua versão mais inofensiva, o empirismo inglês.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">A Ciência moderna nasceu quando a atenção deslocou-se da busca do "que" para a investigação do "como", ou seja, que eu conheça uma coisa sempre que compreenda como ela veio a existir, ao mesmo tempo a ênfase deslocou-se do interesse nas coisas para o interesse <personname productid="em processos. Assim" w:st="on">em processos. Assim</personname>, a História na época moderna tornou-se um processo feito pelo homem, o único processo global cuja existência se deveu exclusivamente à raça humana.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">A tecnologia como área de interseção entre Ciências Naturais e Históricas. As Ciências Sociais tornou-se para a História o que a tecnologia fora para a Física, em outras palavras, podem utilizar-se de experimentos de uma forma mais grosseira e menos segura do que as Ciências Naturais, porém o método é o mesmo. A conexão está no conceito de processo, não nos interessando por entidades singulares ou ocorrências individuais e suas causas distintas e específicas. O processo representa para a Historiografia moderna o que a imortalidade significou para a História na Antigüidade, como resultado inevitável da ação humana.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><br />
</div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">II - História e Imortalidade Terrena</span></span></i></b></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">O conceito moderno de processo, compreende de mesma forma a história e a natureza, onde nada é significativo em si ou por si mesmo. Processos invisíveis engolfam todas as coisas tangíveis ou entidades individuais. O conceito de processo implica assim, a dissociação do concreto e do geral, a coisa ou evento singulares e o significado universal. O processo, que tone por si só significativo e que quer que porventura carregue consigo. Adquiriu assim um monopólio de universalidade e significação. Assim para os gregos e romanos, a lição de cada evento, feito ou ocorrência revela-se em e por si mesma, não excluindo, seja a causalidade, seja o contexto. Causalidade e contexto eram vistos sobre o próprio evento, mas não eram considerados detentores de uma existência independente. A noção atual de História confete a seqüência temporal uma importância e dignidade que ela jamais tivera antes, herdada da tradição hebraico-cristã.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">Para o cristão e para o romano, a importância de eventos seculares está no fato de possuírem o caráter de exemplos que provavelmente se repetirão de modo que a ação possa seguir certos modelos padronizados. Surgindo a cronologia a partir do nascimento de cristo, proporcionando uma dupla infinitude do passado e do futuro, eliminando as noções de princípio e fim, e uma potencial imortalidade terrena.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">A consciência da época moderna sobre a noção de história atingiu se clímax na filosofia de Hegel, onde a verdade reside e se revela no próprio processo temporal, na tentativa de transpor o golfo que separa uma cultura religiosa do mundo secular. Entendendo secularização, assim, simplesmente como a separação de religião e política. Admitindo-se, em outras palavras, a existência de um reino independente de idéias puras. O problema da política então readquiriu a relevância para existência dos homens que lhes faltava desde a idade média, ou seja, o fundamento de um organismo político era dado pela necessidade de vencer a imortalidade da vida humana e a futilidade dos feitos humanos.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">Dentro dos limites do dilema tradicional, atribuindo a imortalidade ou à vida ou ao mundo, imortalizar nó pode ser significativo se não houver garantia nenhuma de vida futura. A época moderna descobre assim, na imortalidade potencial da espécie humana, o conteúdo do nosso conceito de História, estabelecido pala dúplice infinitude do processo histórico, onde a noção de um fim é virtualmente inconcebível.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><br />
</div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">III. História e Política</span></span></i></b></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">Na época moderna, o moderno conceito de história tornou-se útil para dar às questões políticas um significado.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">O conceito de história de Marx está ligado ao conceito de Vico _ “história é feita pelos homens”. Assim, a autora coloca que a importância deste conceito era teórico, pois nenhum daqueles que o utilizaram aplicou este conceito diretamente à ação. A verdade era revelada ao vislumbre contemplativo de historiador. </span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">Marx combinaria noções de história com filosofias políticas, onde os “designos superiores” poderiam se tornar fins intencionais de uma ação política. Para Marx a liberdade é o fim da ação humana, o produto final de um processo de fabricação.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">Se é possível fazer história com um fim, a história se transforma em um objeto de um processo de fabricação, onde consequentemente haverá um fim para a história.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">Já para Kant, a idéia da história como um processo sugere serem os homens em suas ações conduzidos por algo que eles não têm consciência, “o ardil da natureza”, que foi o mesmo que Hegel denominou mais tarde de “a astúcia da razão “Refutadas as questões Kantianas e Hegelianas de compreensão do significado do processo histórico, no modernismo mais recente os homens parecem provar qualquer hipótese que decidam adotar.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 130%;"><span style="font-family: Arial;">Nos estudos desenvolvidos pela autora sobre o totalitarismo, o fenômeno totalitário já parte do princípio que tudo é possível e que a ação pode ser baseada em qualquer hipótese.</span></span></div><div class="MsoBodyText2" style="line-height: 130%; margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><br />
</div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-29402728156664243002010-07-03T07:10:00.000-07:002010-07-03T07:13:33.972-07:00Competição on competition<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: right; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"><em>Michael Porter 1999</em></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: right; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"></span><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: x-small;"><em>por: Marcos Simão</em></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Competitividade das localidades</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O esforço criativo humano é o produto que impulsiona a prosperidade de uma localidade, diferentemente da insistência dos economistas clássicos, ela não advêm dos dotes naturais<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de uma pais, de sua força de trabalho, de sua taxa de juros ou do valor de sua moeda. A importância de uma localidade aumenta na medida que seus esforços são direcionados para a criação e assimilação do conhecimento, gerado e sustentado em um processo estritamente localizado, em outras palavras, "são as diferenças nos valores locais, a cultura, as estruturas econômicas, as instituições e a história que contribuem para o êxito competitivo local." (Porter, 1999)</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Estas diferenças locais, que proporcionam a sua competitividade não pode ser compreendida pelo conjunto de sua economia, pois não há localidade competitiva em todos os setores. As vantagens competitivas, em geral, se concentram em segmentos setoriais específicos, onde a geração da vantagem é baseada na qualidade, nas características e na inovação dos produtos e serviços. Mais ainda, partem da premissa de que a competição é dinâmica e evolutiva. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Outro aspecto que determina a competitividade local reside no próprio mercado local e no nível de exigência desta demanda doméstica que pressiona por elevados padrões de produtos e serviços e instiga a melhoria e a inovação a se expandirem para segmentos mais elevados. As necessidades muito rigorosas resultam dos valores e circunstâncias locais e podem moldar as tendências do mercado global, em outras palavras, as necessidades locais podem antecipar ou mesmo moldar, representando constantes "indicadores preliminares" das necessidades de outras localidades.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Um terceiro determinante na vantagem competitiva local é a presença de setores correlatos e de apoio também competitivos, que vão muito além do simples acesso aos componentes e máquinas, residem principalmente no apoio em termos de inovação e melhoria, sobretudo em estreitos relacionamentos de trabalho. Aproveitando-se das linhas de comunicação mais curtas, do rápido e constante fluxo de informação e do constante intercâmbio de idéias e inovação, estes setores têm a oportunidade de influenciar o esforço técnico entre si e são capazes de servir como campo de testes para os trabalhadores de P&D, acelerando o ritmo da inovação.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Desta forma a inovação e a tecnologia pode ser vista como a força motriz do desenvolvimento pela vantagem competitiva local, realinhando os seus modos de gestão rumo à uma melhora da qualidade de vida dos cidadãos. A presença do Estado que constituiu a base de um desenvolvimento, que já foi novo, e, tornou-se obsoleto, principalmente em uma sociedade baseada no conhecimento, na alta produtividade e na tecnologia de ponta, requer uma responsabilidade social inequívoca de todos os atores sociais. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Resta-nos ainda alguns questionamentos inevitáveis:</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Quais são os atores e fatores que levam ao desenvolvimento, ao mesmo tempo que conserva nossos valores culturais e tradições mais marcante? Qual é a nossa responsabilidade histórica com as novas gerações? A resposta que parece obvia requer muito trabalho e estudo. Legar-lhes a certeza de que não somos fadados ao fracasso, mas destinados do sucesso de cada um e de todos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Para ser sustentado e sustentável, um projeto que vislumbre a conservação e o desenvolvimento terá de buscar otimização conjunta nos campos setoriais e regionais, fluindo no tempo. Como foi argumentado acima, em uma economia com crescente globalização, paradoxalmente, muitas das vantagens competitivas residem crescentemente, em aspectos locais – conhecimento, relacionamentos e motivações que os concorrentes, a distância, não podem alcançar.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Um novo paradigma traça as novas perspectivas de se alcançar um nível superior de desenvolvimento, que na era da informação e do conhecimento se caracteriza, entre outros, por fatores que envolvem uma constante e rápida revolução tecnológica, disputa por talentos, maior rivalidade entre empresas e uma nova forma de atuação dos governos, ao mesmo tempo pela conservação do Patrimônio Histórico e Cultural locais. Esse novo paradigma inclui ainda fatores de origem microeconômico</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial;">. Esses fatores enfatizam o conceito de vantagem competitiva, os quais avançam para além das fronteiras do empreendimento, surgindo o conceito de "aglomerados" ou "clusters".</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A cooperação entre entidades ou empreendimentos que formam uma mesma cadeia de valor e gravitam em torno dela pode gerar uma dinâmica com muitos vencedores. Universidades capacitadas e alinhadas com as necessidades da comunidade econômica local educam melhor as pessoas que irão trabalhar nos centros de pesquisa e desenvolvimento das empresas, levando inovações aos produtos e fazendo aumentar sua competitividade. Esses ciclos ocorrem nos mais diversos pontos ao longo das cadeias de valor das mais variadas atividades.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Três são os fatores para a manutenção das vantagens competitivas.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 3cm; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 3.0cm; text-align: justify; text-indent: -1cm;"><span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">primeira, é da fonte específica da vantagem que pode ser de natureza inferior (mão-de-obra, matérias primas, etc.) ou de natureza superior (mais duráveis – tecnologias de processo e diferenciação baseada em produtos ou serviços)</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 3cm; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 3.0cm; text-align: justify; text-indent: -1cm;"><span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">segunda, e da fonte distinta da vantagem, ou seja se o empreendimento depende apenas de uma ou de numerosas vantagens, o que reforça a posição do mercado e da competição.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 3cm; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 3.0cm; text-align: justify; text-indent: -1cm;"><span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">terceira, manutenção da vantagem, aprimoramento constante de todos os processos produtivos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O que se observa é que a presença de empreendimentos na mesma cadeia de valor cria potencial para gerar e aumentar a competitividade e o valor das atividades ali desenvolvidas, contribuindo de forma decisiva para o aumento da competitividade local e para a consolidação do processo de criação de valor para um grupo de empreendimentos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Enfim, o que é Aglomerado ou Cluster</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Pode ser definido como um conjunto de empresas ou empreendimentos que interagem, gerando e capturando sinergias com potencial de atingir crescimento contínuo superior ao de um simples aglomerado econômico. Nele os empreendimentos estão geograficamente próximos e pertencem a uma cadeia de valor de uma atividade. Neles são considerados os aspectos setoriais e regionais, apoiados nas vantagens competitivas e no conceito amplo de competitividade, respectivamente. Neste caso a noção de Aglomerado tem sido utilizada para avaliação da competitividade de uma dada região e a identificação de áreas em que a ação governamental pode melhorar o ambiente regional para os negócios.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O conceito de Aglomerado, entendido por Porter, representa uma nova maneira de pensar as economias nacionais, estaduais e urbanas e aponta para os novos papéis das empresas, dos governos e de outras instituições que se esforçam para aumentar a competitividade (Porte, M , 1999).</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Os objetivos de um Aglomerado são principalmente aprimorar e ampliar as relações comerciais de uma cadeia de valor, localizada em uma mesma área geográfica, promovendo as interações de marcado e a transferência de tecnologias e informações, assim como envolvimento em P&D de soluções abrangentes para determinado ramo de atividade e o incremento da capacidade de seus membros de encontrar soluções inovadores para seus problemas.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Antecedentes Históricos e Intelectuais da Teoria dos Aglomerados</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Há muito tempo os aglomerados são parte da paisagem econômica, datando de séculos as concentrações geográficas de atividades e empresas em determinados setores. Mas o papel desses aglomerados era mais limitado. No entanto, sua produtividade e amplitude aumentou com a evolução da competição e a maior complexidade das economias modernas. A globalização, junto com a crescente intensidade do conhecimento, exerceu um enorme impacto sobre o papel dos aglomerados na competição.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Os antecedentes intelectuais dos aglomerados remontam, pelo menos a Alfred Marshall, que inclui um capítulo fascinante sobre as externalidades das localizações industriais especializadas em Principles of Economics (publicado em 1890). Ao longo dos primeiros cinqüenta anos deste século, a geografia econômica era um campo consagrado, com ampla literatura. Mais recentemente, os retornos crescentes começaram a desempenhar um papel central nas novas teorias do crescimento e do comércio internacional, aumentando o interesse pela geografia econômica.</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[2]</span></span></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Também na literatura gerencial, o foco na geografia ou nas localizações tem sido mínimo. Nas raras abordagens, a consideração da geografia em geral se reduz a disparidades culturais e de outras natureza a serem levadas em conta nos negócios envolvendo vários países. A localização corporativa tem sido tratada como uma sub-especialidade estreita da gestão operacional. Ademais, a recente preocupação com a globalização criou a tendência de encarar a localização como algo de importância secundária e decrescente.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Vários trabalhos publicados, sob certos aspectos, reconheceram e lançaram alguma luz sobre o fenômeno dos aglomerados; inclusive os que versam sobre pólos de crescimento e elos para a frente e para trás </span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[3]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial;">, economias das aglomerações</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[4]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial;">, geografia econômica</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[5]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial;">, economia urbana e regional</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[6]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial;">, sistemas de inovação nacional</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[7]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial;">, ciência regional</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[8]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial;">, distritos industriais</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[9]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial;">, e redes sociais</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[10]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial;">.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A literatura sobre economia urbana e ciência regional focaliza as economias das aglomerações urbanas generalizadas em termos de infra-estrutura, tecnologia das comunicações, acesso aos insumos, base industrial diversificada e disponibilidade de mercados em áreas urbanas concentradas. Esses tipos de economias, que são independentes das modalidades de empresas e aglomerados existentes, parecem revestir-se de maior importância nos países <personname productid="em desenvolvimento. No" w:st="on">em desenvolvimento. No</personname> entanto, no todo, as economias das aglomerações urbanas generalizadas talvez estejam diminuindo de importância, à medida que a abertura comercial e a queda nos custos dos transportes e das comunicações possibilitam acesso mais fácil aos insumos e aos mercados e na proporção em que mais localidades e países desenvolvem infra-estrutura comparáveis</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[11]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial;">.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Outros estudos tratam das concepções geográficas de empresas atuantes em determinados campos, que poderiam ser vistas como casos especiais de aglomerados. Os distritos industriais de estilo italiano, reunindo empresas de peque e médio porte e dominando a economia local, são predominantes em certos tipos de setores. Em outras áreas, a regra é a mistura de grandes empresas nacionais, grandes empresas estrangeiras e um conjunto de pequenas empresas.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Alguns aglomerados giram em torno de pesquisas universitárias, ao passo que outros mal se aproveitam dos recursos das instituições tecnológicas formais. Os aglomerados se constituem tanto nos setores tradicionais como nos de alta tecnologia, nos de fabricação e nos de serviços. Na realidade, eles geralmente aglutinam alta tecnologia, baixa tecnologia, fabricação e serviços. Algumas regiões abrigam um único aglomerado dominante, enquanto outras contêm vários. Os aglomerados vicejam nos países em desenvolvimento e nas economias avançadas, embora a falta de profundidade dos aglomerados nas economias emergentes seja um típico obstáculo ao desenvolvimento.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Estudos anteriores contribuíram para a nossa compreensão a respeito das influências dos aglomerados na competição. A literatura sobre as economias da aglomeração salienta a minimização dos custos dos insumos, sua especialização, viabilizada pela amplitude do mercado local, e as vantagens da localização perto dos mercados. A literatura sobre o desenvolvimento econômico focaliza a indução da demanda e da oferta, certamente um elemento da formação dos aglomerados. A implicação normativa do conceito de elos para a frente e para trás, contudo, enfatiza a necessidade de desenvolver setores que mantenham vínculo com muitos outros. A teoria dos aglomerados, ao contrário, defende o aproveitamento das concentrações emergentes de empresas, como ponto de partida, e o estímulo ao desenvolvimento dos campos com os elos mais fortes entre os aglomerados ou com os maiores "extravasamentos" dentro de cada um deles.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Em geral, a maioria das teorias do passado tratam de aspectos específicos dos aglomerados ou se restringem a certos tipos de aglomerados. Muitos argumentos a respeito das aglomerações tradicionais que justifiquem a existência dos aglomerados foram ceifados pela globalização das fontes de abastecimento e dos mercados compradores. No entanto, a economia moderna, baseada no conhecimento, confere uma função muito mais substanciosa aos aglomerados.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Só agora seu papel mais amplo na competição passa a ser objeto de amplo reconhecimento. A compreensão desse papel exige a inserção dos aglomerados numa teoria mais ampla e dinâmica da competição, que abranja tanto o custo como a diferenciação, tanto a eficiência estática como a melhoria contínua e a inovação, e que reconheça um mundo de mercados globais de fatores e de produtos. Algumas das mais importantes economias das aglomerações representam eficiências dinâmicas e não estáticas e giram em torno da inovação e da velocidade do aprendizado. Os aglomerados exercem um papel mais complexo e integral na economia moderna do que se admitia anteriormente.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Assim, os aglomerados se constituem uma importante forma multi-organizacional, uma influência central sobre a competição e uma característica preeminente das economias de mercado. Sua situação em determinada economia proporciona importantes insigths sobre o seu potencial e sobre as limitações de crescimento futuro. O papel dos aglomerados na competição levanta importantes questões para as empresas, governos e outras instituições.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Outros conceito de Aglomerados.</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">“Concentrações geográficas de organizações e instituições de um certo setor, abrangendo uma rede de atividades inter-relacionadas e outras entidades importantes para a competitividade.(...) Muitos Aglomerados incluem instituições governamentais e outras como universidades, institutos de normas técnicas, celeiros de idéias, empresas de treinamento e as associações comerciais que provêm treinamento, educação, informação, pesquisa e suporte técnico especializado.”(Porter, 1998)</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">“(...) A essência do desenvolvimento de Aglomerados é a criação de capacidades produtivas especializadas dentro de regiões para a promoção de seu desenvolvimento econômico, ambiental e social. (Haddad, 1999)</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">“É um Grupo econômico constituído por empresas instaladas em uma determinada região, líderes em seus ramos, apoiado por outras que fornecem produtos e serviços, ambas sustentadas por organizações que oferecem profissionais qualificados, tecnologias de ponta, recursos financeiros, ambiente propício para os negócios e infra-estrutura física. (...) assegura certas formas de ações em comum e incrementa a freqüência e o impacto das interações (Vilela, 1999)</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Um Aglomerado como “novo paradigma de desenvolvimento” justifica novas formas de intervenção. Os conceitos de vantagens competitivas dinâmicas e Aglomerados são novas formas de aproximar as sinergias, as externalidades e fracassos de mercado para construir novas formas de intervenção. Assim, Qual a importância dos ambiente em que se encontram? Como melhorar o ambiente para fortalecer a competitividade das empresas?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Na teoria das vantagens competitivas das empresas, o objeto de cada empresa é criar valor. A empresa é uma sucessão de atividades que geram valor. Cada atividade e os vínculos entre elas resultam na força competitiva do conjunto.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Mas o que determina a capacidade de inovar das empresas? Parte por elas mesmas, mas parte resultante de sua interação com outras empresas, como competidores, usuários, institutos tecnológicos, etc. refletida pelas diferenças nos valores locais, a cultura, as estruturas econômicas, as instituições e a história. Pode-se perceber que muitas empresas de liderança mundial provêm de um mesmo país ou cidade. Esta observação conduz a hipótese de que deve haver algo nessas concentrações, no interior de cada empresa, ou pelo menos em seu entorno que estimula a inovação e suporta o êxito competitivo do conjunto. Esse “algo” pode ser definido como os enlaces de um sistema de valor. A cadeia de valor de um empreendimento faz parte de uma corrente maior de atividades, de um sistema de valor. Assim, a competitividade das empresas depende de sua capacidade de inovar, o que, por sua vez, depende das relações com seu entorno.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">O desempenho econômico favorável não se dá de forma isolada em indivíduos e empresas. A informação e conhecimento codificado pode ser divulgado ao redor do mundo, mas o conhecimento tácito (saber como) não o é. Elementos cruciais do conhecimento seguem sendo específicos e tácitos, inseridos em organizações, pessoas e localidades.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Resumindo, inovação existe em função da proximidade, na medida em que ela aumenta a pressão (de competidores e de consumidores) e melhora a capacidade de resposta. Esta última tem componentes estáticos (melhora a gestão dos enlaces em um sistema de valor) e dinâmicos (estimula o conhecimento tácito, via aprendizagem por interação).</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Assim, a capacidade de inovação e a proximidade geográfica são variáveis endógenas, faltando uma teoria social para ativar o desenvolvimento. O conceito de eficiência coletiva analisa a ação coletiva para resolver problemas comuns ou para impulsionar maior eficiência do conjunto. O enfoque de eficiência coletiva permite entender os esforços intencionais como algo benéfico para o desenvolvimento, o que, contrasta como a economia neoclássica de interpretar a cooperação entre empresas como algo que impede o funcionamento das forças de mercado e, portanto, é nocivo para o desenvolvimento.</span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimAoQCqZ2Mfw0QzBG27SO3qLwQ2QNYKyU-Y3d0kGyB8MHLiPGC_HUWTsv_uLcY4KlvBihCgEVUxB7WupC4wGFCEPXbr9Oc6CTrzkh8akiux1cz6mjpixy0VTFEjS3fGIucYPW7QmxS5Kox/s1600/competi%C3%A7%C3%A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="287" rw="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimAoQCqZ2Mfw0QzBG27SO3qLwQ2QNYKyU-Y3d0kGyB8MHLiPGC_HUWTsv_uLcY4KlvBihCgEVUxB7WupC4wGFCEPXbr9Oc6CTrzkh8akiux1cz6mjpixy0VTFEjS3fGIucYPW7QmxS5Kox/s400/competi%C3%A7%C3%A3o.jpg" width="400" /></a></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">A figura acima mostra como os insumos de fatores abrangem os ativos tangíveis (como infra-estrutura física), a informação, o sistema legal e os institutos universitários de pesquisa a que recorrem as empresas na atuação competitiva,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>estabelece um modelo dos efeitos da localização na competição com base em quatro influências inter-relacionadas.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Competitividade dos Centros das Cidades</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">As agruras dos centros das cidades, geralmente a parte mais antiga e decadente de uma cidade - caracterizada sobretudo por comunidades de baixa renda, com alta densidade demográfica, composta principalmente por grupos minoritários - constitui uma das questões mais desafiadoras nas cidade. A falta de empreendimentos e de empregos nas áreas urbanas desfavorecidas alimenta, não somente um ciclo de pobreza, mas igualmente problemas sociais como drogas e criminalidade ao mesmo tempo que contribui para a deterioração do patrimônio ali existente. O debate sobre as possíveis formas de interferência nestes espaços torna-se cada vez mais acirrado, no entanto os esforços das últimas décadas para revitalizar os centros das cidades redundaram em fracasso, não obstante aos investimento de recursos serem substanciais.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Uma base econômica sustentável estabelecida pela oportunidade de emprego, e pela criação de riqueza, cujo modelo não trate os centros como ilhas isoladas da economia circundante e sujeita a leis exclusivas de competição e comprometa a criação de empreendimentos economicamente viáveis. É imperativo reconhecer que a revitalização deste sítios exige abordagens radicalmente diferentes. A pergunta que se segue é inevitável. Como criar condições para a proliferação e crescimento dos empreendimentos nos centros das cidades e das oportunidades de empregos nas adjacências para os residentes locais. Segundo Porter, é possível criar uma base econômica sustentável nos centros das cidades, através de iniciativas e de investimentos privados, com base no auto-interesse econômico e na genuína vantagens competitiva e não pelos incentivos artificiais, da caridade ou de injunções governamentais.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Assim, a atividade econômica nos centros das cidades e adjacências lançará raízes se desfrutar de uma vantagem competitiva e ocupar um nicho de difícil reprodução em outros lugares. A vantagem competitiva de uma localidade geralmente não emerge em empresas isoladas, mas em aglomerados - em outras palavras, em empresas que atuam no mesmo setor ou que, do contrário, se interligam através de clientes, fornecedores de relacionamentos semelhantes. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Se as localidades e os eventos históricos dão origem ao aglomerados, são este que impulsionam o desenvolvimento, criam novas capacidades, novos empreendimentos e novos setores. Para reconhecer a relevância desta teoria em áreas menores como os centros antigos das cidades é preciso primeiro identificar suas vantagens competitivas e a maneira como seus empreendimentos são capazes de forjar conexões com as economias circundantes urbanas e regionais.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">As Verdadeiras Vantagens dos Centros das Cidades</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Primeiramente faz-se necessário romper com a percepção imprópria de os centros das cidades desfrutam de duas vantagens principais: os imóveis e a mão-de-obra de baixo custo, pois em contrário, tendem a ser mais elevados que nos subúrbios ou zonas rurais. Em contrário, somente atributos exclusivos destes sítios sustentam empreendimentos viáveis. Para a identificação desses atributos é necessário as principais vantagens dos centros das cidades, tais como, Localização Estratégica, Demanda do Mercado Local, Integração com os Aglomerados Regionais e Recursos Humanos. Obviamente outros atributos poderão ser identificados, particularmente quando estas áreas centrais também são áreas de interesse histórico e cultural como é o caso do Bairro do Recife e adjacências. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">As Desvantagens Reais dos Centros das Cidades</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Os obstáculos a serem enfrentados são maiores que os situados em outras localidades. Muitos destes obstáculos são infringidos desnecessariamente pelo governo. Embora haja, além de terrenos, uma quantidade significativa de edificações nestes sítios, boa parte deles não é utilizável do ponto de vista econômico ou empresarial sem um considerável investimento de recuperação, conservação e adaptação de usos. Não muito distante, aparecem os custos de construção e/ou recuperação, significativamente maiores que nos subúrbios. Custos estes, ligados muitas vezes relacionados a ônus e atrasos relacionados a logística, negociações com grupos comunitários e com as rigorosas posturas urbanas: restrições de zoneamento, especificações arquitetônicas, imposições governamentais e dos institutos de patrimônio históricos, etc. Ainda mais danoso que os custos regulamentários é a incerteza que o processo acarreta para os investidores potenciais.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt -0.05pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial;">Fatores outros, como a segurança, infra-estrutura, qualificação dos empregados, etc. acarretam fortes obstáculos ao desenvolvimento urbano dos centros das cidades. Mas há ainda isolamento dos empresários para com as comunidades locais.</span></span></div><div style="mso-element: footnote-list;"><br />
<span style="font-family: Arial;"></span><br />
<hr align="left" size="1" width="33%" /><br />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"> capacidade de inovação em processos e produtos ou na forma de atuação no mercado</span></div></div><div id="ftn2" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt 7.1pt; text-indent: -7.1pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[2]</span></span></span></span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial;"> Krugman, 1991A, 1991B.</span></span></span></div></div><div id="ftn3" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt 7.1pt; text-indent: -7.1pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[3]</span></span></span></span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial;"> Hirschman, 1958.</span></span></span></div></div><div id="ftn4" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt 7.1pt; text-indent: -7.1pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[4]</span></span></span></span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial;"> Weber, 1929; Lösh 1954; Harris, 1954; Isard, 1956; Loud and Dicken, 1977; Goldstein e Grongerg, 1984; Rivera Batiz, 1988; McCann, 1995B; Ciccone e Hall, 1996 e Fujita e Thisse, 1996.</span></span></span></div></div><div id="ftn5" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt 7.1pt; text-indent: -7.1pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[5]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"> Stoper e Salais, 1997A, 1997B; Stoper, 1997; Amin eThrift, 1992; e trabalhos de Stoper, Gertler, Mair, Swyngedouw e Cox em Cox,1993.</span></div></div><div id="ftn6" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt 7.1pt; text-indent: -7.1pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[6]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"> Scott, 1991; Glaeser, Kallal, Scheinkman e Shlifer, 1992; Glaeser 1994; Handerson, 1994; Glaeser, Scheinkman e Shlifer, 1995; Henderson, Kuncoro e Turner, 1995 e Henderson 1996, são exemplos interessantes.</span></div></div><div id="ftn7" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt 7.1pt; text-indent: -7.1pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[7]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"> Bengt-Åke, 1992; Dosi, Gianetti e Toninelli, 1992; Nelson, 1993 e Cimoli e Dosi, 1995.</span></div></div><div id="ftn8" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt 7.1pt; text-indent: -7.1pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[8]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"> Giarrantini, 1994 e Markusen 1995A.</span></div></div><div id="ftn9" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt 7.1pt; text-indent: -7.1pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[9]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"> Inclui trabalhos de Piore e Sabel, 1984; Becattini, 1987; Pyke, Becattine e Sengenberger, 1990; Pyke e Sengenberger, 1992 e Harrison, 1992.</span></div></div><div id="ftn10" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt 7.1pt; text-indent: -7.1pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[10]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"> Burt, 1977; Granovetter, 1985; Henton, Melvine e Walesh, 1997; Nohria, 1992; Perrow, 1992; Putnam, Leonerdi e Nanetti, 1993; Fukyama, 1995 e Harrison e Weiss, 1998.</span></div></div><div id="ftn11" style="mso-element: footnote;"><div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt 7.1pt; text-indent: -7.1pt;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[11]</span></span></span></span><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"> Harrison, Kelley e Grant (1996) desenvolveram um teste criativo da importância relativa das economias do setor e da urbanização na difusão da inovação em atividades de usinagem de metal, e constataram que os efeitos da urbanização são mais significativos. No entanto, reconhecem que o teste não é, de modo algum, definitivo. Isto porque, entre outras razões, consideraram uma inovação de ampla aplicação (versus especializada) numa área sem grande concentração geográfica. Na realidade, a metalurgia não constitui, em si, um aglomerado, mas parte de outro aglomerado.</span></div></div></div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-37853397164888604512010-07-03T06:40:00.001-07:002010-07-03T06:45:31.220-07:00A casa brasileira<div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: right; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Marcos Simão</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Trata de um pequeno ensaio sobre a casa brasileira, a relação com seus moradores e estilos de vida em períodos diferenciados na história, com ênfase na relação dos espaços e seus usos e na forma como a vida cotidiana influenciava na concepção desses espaços de moradia) </span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><strong><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A casa brasileira na segunda metade do século XIX:<a href="http://www.blogger.com/" name="BM1"></a></span></strong></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="mso-bookmark: BM1;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A</span></span><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> casa da cidade não era um lugar atraente: as cocheiras e as cavalariças ficavam no primeiro andar, enquanto que a sala de visitas, as alcovas e a cozinha ficavam no segundo. Não raro existia uma pequena área ou pátio ocupando o espaço entre a cocheira e a cavalariça, e esse espaço separava, no segundo andar, a cozinha da sala de jantar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Há, entretanto, diferentes classes sociais no Brasil, como em qualquer outro país, assim descrição de uma casa não pode servir para das outras classes. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A gravura junto representa uma das mais velhas residências de cidade no Rio, o acesso à escada se dá por uma grande porta pela qual a carruagem entra barulhentamente, nos dias de festa e dias santos. À noite é fechada com grades de ferro, das dimensões das que são usadas nas prisões. Todos os seus ferrolhos, trancas, fechaduras, ou outro qualquer gênero de ferragem, parecem ter sido trazidos da seção pompeana do museu Bourbônico de Nápoles. As paredes, compostas de blocos de pedras, cimentados por argamassa comum, são tão espessas como as de uma fortaleza.<a href="http://www.blogger.com/" name="BM2"></a></span></div><span style="mso-bookmark: BM2;"></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O mobiliário da sala de visitas varia em preço, de acordo com o estilo adotado; mas, o que se pode sempre esperar encontrar é um sofá forrado de palhinha, a um canto da sala e três ou quatro cadeiras arrumadas em filas rigorosamente paralelas, estendendo-se de cada uma das pontas do sofá até o meio da sala. Em sociedade, é próprio as senhoras ocuparem o sofá, e os cavalheiros as cadeiras.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">As residências urbanas, nas velhas cidades, pareceram-me excessivamente tristes, porém o mesmo não pode ser dito das novas residências urbanas, das lindas "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">vilas</i>" suburbanas, cercadas por jardins, cobertos de folhagens, muitas flores e frutos pendentes. Alguns trechos de Santa Teresa, Laranjeiras, Botafogo, Catumbi, Engenho Velho, Praia Grande e São Domingos, não podem ser ultrapassados na beleza e pitoresco de suas casas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><strong><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Cheiro composto de sexo, de urina, de pé, de sovaco, de barata, de mofo...</span></strong></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A arquitetura brasileira urbana da primeira metade do século XIX praticamente manteve o mesmo programa, das formas de morar dos séculos XVII e XVIII.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Morada inteira ou meia morada, constituíam os dois tipos básicos de casas. Filas contínuas de casas, situadas no alinhamento das ruas, retângulos conjugados, uma sala na frente outra atrás, unidos por um longo corredor com quartos só de um lado ou dos dois. Portas voltadas para esse corredor e para as salas. Janelas laterais, nunca. Janelas, só as da frente da casa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Esquema simples de reproduzir, que atravessou todo período colonial. Paredes grossas, telhados de duas águas e alcovas, camarinhas ou quartos, que sem ventilação nem luz, eram escuros e mofados, lugar onde "dormia-se com as portas e janelas da casa trancadas... de modo que o quarto de dormir impregnava-se de um cheiro composto de sexo, de urina, de pé, de sovaco, de barata, de mofo... Quando a inhaca era maior queimavam-se ervas cheirosas dentro dos quartos".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Dois outros espaços eram também apontados como os mais insalubres das casas: as cozinhas e os desvãos das escadas. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">As cozinhas das casas térreas eram locais funestos, por causa da fumaça que produziam. Já nos sobrados de vários andares, 4 até <metricconverter productid="6, a" w:st="on">6, a</metricconverter> cozinha ficava no último andar, justamente para evitar a fumaceira permanente. Observando uma planta em corte/perfil de um sobrado, vê-se a ocupação dos seus andares. Pode parecer estranho que em um tempo onde não havia água encanada, a cozinha estivesse no último andar. Mas isso não era problema, porque havia o escravo, para cima e para baixo, a carregar lenha, água, lixo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Como também não havia banheiro dentro de casa, usavam-se os Tigres, os grandes barris onde se colocavam todo o cocô e o xixi produzido pelos moradores, nos penicos. Esses Tigres eram em geral postos embaixo das escadas, a "perfumar" o ambiente. Só à noite era permitido que fossem retirados das casas e seu conteúdo era jogado nos quintais, nos rios, no mar. Havia também as "casinhas", local onde se faziam as necessidades, mas ficavam afastadas da casa, nos quintais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O banho era tomado em gamelas ou tinas de madeira, com água das cacimbas que existiam nos quintais de algumas casas, ou água comprada na porta aos aguadeiros.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Não só dentro de casa, mas na própria cidade havia grandes problemas com relação à salubridade. O lixo, por exemplo, foi sempre um caso mal resolvido. Os bichos, porcos, cabras, cavalos, bois, andavam soltos pelas ruas, a sujá-las continuamente. E pior, a maioria das ruas não tinham, calçamento, e tudo virava lamaçal, principalmente em dias de chuva. Sujeira e mau cheiro. Ruas intransitáveis. As barras dos vestidos das mulheres sempre sujas. Até as águas caíam de vez, do telhado das casas, diretamente nas ruas, piorando a situação.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Pouco a pouco, porém, com as Legislações Urbanas e as Posturas Municipais, que determinavam padrões construtivos e normas para melhorar a vida nas cidades, é que as coisas foram se transformando. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Bichos soltos nas ruas passaram a ser proibidos a, a água do telhado tinha que descer até o chão por uma calha e passar a ser escoada para uma canaleta no meio fio. Mas tudo isso foi ocorrendo muito vagarosamente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Somava-se aos problemas internos de higiene das moradias urbanas, a forma incivilizada com que os habitantes se comportavam com relação ao espaço público: nas ruas se despejavam também os restos domésticos, do bicho morto, às águas servidas, do retraço de lenha dos fogões ao conteúdo dos penicos, e as ruas continuavam emporcalhadas e intransitáveis.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><strong><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Peculiaridade das Casas do Recife no Século XIX</span></strong></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Muitas das casas de Pernambuco são construídas em estilo desconhecido em outras localidades do Brasil. A descrição de uma dessas casas serve de amostra do referido estilo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Tinha seis andares. O primeiro, ou andar térreo, denominava-se armazém, e, à noite, era ocupado pelos empregados do sexo masculino; o segundo serve de instalação para o escritório, etc.; o terceiro e o quarto contém as salas de visita e os quartos de dormir; o quinto, as salas de refeição, e o sexto a cozinha. Os leitores habituados com os assuntos domésticos perceberão a vantagem especial de se ter a cozinha localizada no sótão pela tendência que têm para subir a fumaça e as diversas emanações produzidas pelas operações culinárias. Há no entanto uma desvantagem inseparável desse dispositivo, que é a necessidade de se tranportar várias coisas pesadas subindo tantas escadas. A água, por exemplo, que na falta de qualquer mecanismo que a possa elevar, tem que ser carregada na cabeça dos pretos. Qualquer um compreenderá que um pequeno descuido, no equilíbrio das vasilhas d’água assim transportadas, expõe as partes inferiores da casa ao perigo de serem inundadas. Dominando o sexto andar e constituindo, de certa forma o sétimo, existe um esplêndido observatório, de onde se pode contemplar o alto do céu em todas as direções.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A vista desse observatório é ampla e interessante ao extremo. É o melhor lugar donde um estrangeiro pode observar para ter uma correta impressão da situação e das redondezas da cidade. Seus olhos, de um posto de observação tão alto, não deixarão de dirigir-se com o maior interesse para a ampla baía de Pernambuco, estendendo-se, com moderada e regular curvatura da costa, entre o promontório de Olinda e o cabo de Santo Agostinho, trinta milhas abaixo. Essa baía é geralmente adornada de numerosas jangadas, que, com suas largas velas latinas, não fazem um medíocre efeito. Além do comércio do próprio porto, surgem no alto mar navios vindos de distantes pontos, quer do norte quer do sul. Não há porto de mais fácil acesso. Um navio, proveniente do Oceano Índico ou do Pacífico, ou de regresso à pátria, dirigindo-se para os Estados Unidos ou para a Europa, pode, com um simples desvio de sua rota principal, entrar no porto de Pernambuco. Pode alcançar o ancoradouro do Lameirão, ou porto externo, e entrar em comunicação com a terra, quer para obter notícias e avisos quer reabastecimento, e continuar a sua viagem à vontade, sem precisar sujeitar-se às exigências portuárias. Isso é de grande conveniência para os baleeiros e mercadores dos mares do sul. Para descarregar ou receber água, os navios devem entrar no interior do recife e conformar-se com os costumeiros regulamentos dos portos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Os navios de guerra raramente se demoram aqui. Nenhum de grande tonelagem pode transpor a barra, e os que o podem vêem-se obrigados – provavelmente por causa do perigo de acidentes quando estão muito próximos da cidade – a depositar na fortaleza a sua pólvora. Poucos comandantes se mostram desejosos de sofrer uma tal obrigação, e também o seu ancoradouro no Lameirão não pode oferecer garantias de tranqüilidade e segurança. Os fortes ventos e as pesadas ondas do oceano são freqüentemente suficientes para romper os mais resistentes cabos. São razões bastantes para que Pernambuco não seja uma preferida estação naval quer para o Brasil quer para as demais nações. O ancoradouro comercial está inteiramente sob as vistas do nosso observatório, porém muito próximo e densamente acumulado de embarcações para constituir um imponente conjunto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><strong><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">As grandes reformas nas moradias</span></strong></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A mentalidade, a idéia de deixar entrar a luz, correr o vento e o ar, foi resultado das grandes reformas urbano-sanitárias realizadas na Europa, no final do século XIX, cujo objetivo era dar às cidades grandes espaços salubres, em substituição aos cortiços medievais que existiam nas principais delas, que as tornava, cidades doentes. O mais famoso engenheiro que influenciou com suas ações os processos de urbanismo no mundo inteiro, chamava-se Haussmann. Ele praticamente demoliu meia Paris, deixando os monumentos e cortando a cidade com largas e monumentais avenidas, copiadas depois em todos os lugares.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">E as casas brasileiras já no início do século XX, sofreram também influência de toda essa nova mentalidade que espalhava-se pelo mundo, onde a questão sanitária era vista com especial cuidado para permitir a própria sobrevivência.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O lote urbano passou a ter casas geminadas de um lado só e mais tarde soltas dos dois lados. A casa recuou e passou a ter jardim. O porão passou a ser um elemento essencial delas, mesmo nas casas térreas, quando não eram afastadas do paramento das ruas, visando proteger o interior do olhar dos transeuntes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Com a escassez e depois com a abolição dos escravos, mudaram também os padrões arquitetônicos das residências.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O trabalho remunerado, com o início da imigração européia, também contribuiu para que se aperfeiçoassem as técnicas construtivas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O que realmente mudou a vida das pessoas e das casas foi a implantação dos serviços de água e esgoto no interior das moradias. No início bem precários, contudo, dispensavam o uso dos serviços dos escravos, era o progresso tecnológico. Todo construído à base de produtos importados, canos, latrinas, torneiras, banheiras. Aperfeiçoar os hábitos higiênicos era meta de todos, apesar do esforço econômico e de mudanças de hábitos para acompanhar as inovações tecnológicas permanentes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">E um dos grandes benefícios dessas inovações foi a invenção do banheiro. O banheiro como existe hoje, com aparelho sanitário e box para tomar banho foi introduzido nas casas já ao final do século XIX, o "banheiro dotado de um sólido ferrolho, onde o corpo nu pode começar a experimentar sua mobilidade a salvo de qualquer intromissão. Este espaço... transforma-se no templo ‘clean and decent’... da contemplação de si próprio".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A casa embeleza-se. Valorizam-se os interiores com enfeites e mobiliários importados. Bibelôs, jarros, pratos, escarradeiras. Janelas e portas construídas para o exterior. Quartos claros e ventilados. Bandeiras de ferro em cima das portas, enfim, "A Revolução Industrial clareou tudo. As casas passaram a ser iluminadas, com muita luz do sol".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O vidro plano e transparente passou a ser um dos elementos mais usados das janelas e os balcões de ferro fundido, nas varandas. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O gosto era o Ecletismo e havia de tudo, tudo o que fosse moderno e importado da Europa, sobretudo da França, de onde vinham os enfeites, para os ricos senhores do café.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><strong><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A casa do Final do século XX e início do século XXI -<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Minha casa, meu trabalho</span></strong></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Uma tendência que, em verdade, está deixando de ser apenas uma tendência e para se tornar uma realidade. Uma reportagem da Veja (09/05/2001) deixa isso bem claro, a revolução no interior das casas brasileiras, que deixam de ser apenas moradias para se tornarem também local de trabalho. Segundo a reportagem, antes, bastavam uma mesa, uma cadeira, um abajur e prateleiras. Estava pronto o escritório doméstico, encaixado num canto qualquer do quarto ou da sala. Com a valorização do trabalho em casa nos últimos anos, esse espaço conquistou vida própria e já atende pela pomposa alcunha de home office. Aos poucos, deixa de ser um luxo reservado a profissionais endinheirados para se transformar em presença quase obrigatória nos projetos arquitetônicos de casas e apartamentos destinados à classe média. Especialistas da área imobiliária estimam que em breve ele será tão essencial quanto o banheiro e os quartos – muitos prédios já estão saindo da planta com espaço para o escritório. Pode-se atribuir a mudança a uma série de fatores: a separação entre a atividade na empresa e a vida familiar não é tão rigorosa quanto antes, as tecnologias de comunicação incentivam o trabalho a distância e os computadores se incorporaram de vez à rotina das residências. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Na esteira dessa tendência, os profissionais da prancheta vêm recebendo um número crescente de encomendas para projetar e acompanhar a instalação de home offices, um lugar que deve ser funcional, mas acima de tudo agradável e confortável, com a virtude adicional de ocupar área reduzida. "O fundamental é que não lembre nem um pouco os escritórios convencionais, aonde você é obrigado a ir todos os dias", define a arquiteta e decoradora Brunete Fraccaroli, uma das mais requisitadas de São Paulo, ela própria uma adepta da alternativa desde que a filha de 16 anos era recém-nascida. Segundo Brunete, não é nem mesmo necessário reservar um cômodo inteiro para instalá-lo, exceto para profissionais que trabalham o tempo todo na residência, o que exige privacidade para receber clientes e distância da balbúrdia familiar. Ainda assim, a decoração deve ser bem mais descontraída que a encontrada nas empresas, já que levar para casa aqueles móveis quadrados, frios e sem graça é uma alternativa impensável. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A tendência de derrubar as paredes, fundindo vários ambientes em um só, permite que o escritório seja compartilhado com a sala de estar, o quarto ou até mesmo a cozinha. "Falta de espaço deixou de ser desculpa para não ter um escritório em casa"(...).</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Por força das mudanças comportamentais adivindas da era da informação, o arquiteto carioca Maurício Nóbrega batizou o cômodo formado pela fusão do escritório com outras partes da casa de "sala da família", área ideal para o convívio dos pais com os filhos. "Esse lugar assume o papel de ponto de encontro das gerações, que durante muito tempo foi da sala onde ficava a televisão". O novo conceito de escritório doméstico pressupõe a democratização desse espaço, tido até então como o lugar em que o chefe de família se refugiava quando tinha problemas sérios a resolver. O moderno home office é ocupado tanto pelo marido quanto pela mulher e filhos, cada um envolvido em seus afazeres. "Essa mudança se deve à popularização do computador, um equipamento que é compartilhado por todos e faz com que o local em que está instalado também seja dividido", (...)</span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: center; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f"><stroke joinstyle="miter"></stroke><formulas><f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0"></f><f eqn="sum @0 1 0"></f><f eqn="sum 0 0 @1"></f><f eqn="prod @2 1 2"></f><f eqn="prod @3 21600 pixelWidth"></f><f eqn="prod @3 21600 pixelHeight"></f><f eqn="sum @0 0 1"></f><f eqn="prod @6 1 2"></f><f eqn="prod @7 21600 pixelWidth"></f><f eqn="sum @8 21600 0"></f><f eqn="prod @7 21600 pixelHeight"></f><f eqn="sum @10 21600 0"></f></formulas><path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f"></path><lock aspectratio="t" v:ext="edit"></lock></shapetype><shape fillcolor="window" id="_x0000_i1025" style="height: 219pt; width: 435pt;" type="#_x0000_t75"><imagedata o:title="guia5" src="file:///C:\DOCUME~1\MARCOS~1\CONFIG~1\Temp\msohtml1\01\clip_image001.gif"></imagedata></shape></span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 12pt 42.5pt 0pt 0cm; text-align: right; text-indent: 2cm;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgq0wNb1IINwuhlC0F_rK_SIjKLd7F_-BJ4QEwsPXRzM5jdLAcTfhnTaCerQICfaEwIWVnCX8xT8u5ozhrroodWguMQue6AlrgznaQae6C_4rnwfXPNJmSr_Wq-5j5W8Q8wdyVWUxqjecMt/s1600/quadro+a+casa+brasileita.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="201" rw="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgq0wNb1IINwuhlC0F_rK_SIjKLd7F_-BJ4QEwsPXRzM5jdLAcTfhnTaCerQICfaEwIWVnCX8xT8u5ozhrroodWguMQue6AlrgznaQae6C_4rnwfXPNJmSr_Wq-5j5W8Q8wdyVWUxqjecMt/s400/quadro+a+casa+brasileita.jpg" width="400" /></a></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Fonte: Revista Veja - <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Edição 1699</b> - 9 de maio de 2001</span></i></div></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">É fácil perceber que a casa (a nossa casa) jamais será como foi compreendida até então, os novos rumos da sociedade pós-moderna, provocaram, também, uma ruptura no conceito de viver, morar, trabalhar e se divertir. Alguns acreditam que num futuro bem próximo não será mais necessário sair de casa para nada. Na verdade isso já ocorre em parte.</span></div></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><strong><span style="font-family: Georgia; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Bibliografia</span></strong></div></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">KIDDER</span></b><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">, D. P.; FLETCHER, J. C. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Brasil e os brasileiros; esboço histórico e descritivo</i>. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1941, v.2. Biblioteca Pedagógica Brasileira, Série 5ª, v. 205-A</span></div></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">LIMA</span></b><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">, Herman.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> Roteiro da Bahia</i>. Rio de Janeiro, Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Saúde, 1953. Os Cadernos de Cultura</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">RIEDEL</span></b><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">, Diaulas (org.). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Histórias e paisagens do Brasil; o sertão, o boi e a seca</i>. 2ª ed. Editora Cultrix</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">LUBATTI</span></b><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">, Maria Rita da Silva. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O folclore na vivência atual de Açu, Marreca e Quixaba, Campos</i>. Escola do Folclore, Editorial Livramento, 1979</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">VEJA</span></b><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">, Revista Edição 1699 - 9 de maio de 2001</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">Neufert</span></b><span style="font-family: Georgia; font-size: 10pt;">, Ernest, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Arte de Projetar em arquitetura</i>, 2ª edição - Tradução da 21ª<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>edição Alemã, Editora Gustavo Gili do Brasil, São Paulo-SP.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><br />
</div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-84586899507316592732010-07-03T06:37:00.003-07:002010-07-03T06:37:52.568-07:00A aventura da modernidade<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: right; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><em>Marcos Simão</em></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Marshall Bermann reabriu o debate sobre a questão da modernidade em um obra que provocou polêmica nos meios intelectuais. Tomando como pressuposto um conjunto de transformações econômico-sociais pertinentes à emergência do sistema capitalista a que chama de modernização Berman busca resgatar a modernidade como experiência vital e histórica utilizando-se do pensamento de autores que classifica como modernistas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Berman surpreenderia a modernidade em tais pensadores pela constância de determinados princípios básicos, tais como o impulso criador/inovador, a percepção da totalidade e o princípio dialético, pelo qual se experimentaria a sensação de ganho e de perda, de fascínio e de repúdio diante das transformações que se desencadeiam <personname productid="em turbilh ̄o. A" w:st="on">em turbilhão. A</personname> riqueza do pensamento de Berman remonta à retomada de autores como Marx, Baudelaire, Benjamin, ou, ainda, dos escritores russos do século XIX, como Gogol e Dostoiévski.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Centralizando sua crítica na precariedade da dimensão espaço-temporal da análise de Berman (e na falta de historicidade do conceito de modernidade), como na radical discordância da idéia de revolução subjacente, Perry Anderson ressalta que o capitalismo é descontínuo no seu processo de realização ao longo do tempo e que mesmo no século XIX ele não se encontra difundido de maneira uniforme. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Dessa forma, ao identificar a modernidade como experiência histórica desde o século XIX, Berman estaria usando um conceito deslocado de sua temporalidade histórica. Da mesma forma, ao visualizar a modernidade dentro de um período tão dilatado, Berman incorreria também num tipo de análise não classista. O resultado final é uma crítica cabal ao próprio marxismo, uma vez que sua visão, na opinião de Anderson, seria não-histórica, não-classista, não-dialética e não-revolucionária.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A resposta de Berman prende-se mais às discussões teóricas da crítica de Anderson do que às dúvidas históricas assinaladas. Assim, Berman sustenta que as respostas não são encontráveis na teoria pronta, mas sim nas condições concretas objetivas do cotidiano; da mesma forma, a revolução coletiva passa pela pessoal e os "sinais pela rua" apontam as mudanças, mas para quem está aberto para percebê-Ias. Restaria, contudo, a discussão central da não-historicidade e da ausência de dimensão classista do conceito. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Remontando à obra de Berman, não parece que ele "descole" o conceito das condições históricas objetivas que lhe dão suporte (a saber, o processo de formação e afirmação do capitalismo). É evidente, contudo, que Berman não centraliza sua análise neste processo de transformações econômico-sociais (a modernização) ou na ação classista da burguesia, mas os toma como pressupostos do seu ponto central de análise, que é o resgate da modernidade como experiência vital no pensamento de autores modernistas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Argumentando ainda a favor da historicidade do conceito, pode-se perceber que a maior parte dos autores citados por Berman como portadores de modernidade são do século XIX, o que sem dúvida remete a este recorte temporal como o epicentro do fenômeno. Nesse sentido, é possível fazer confluir, dentro de um mesmo processo de desenvolvimento capitalista, a emergência do sistema de fábrica como forma acabada e vitoriosa e a modernidade como experiência histórica e vital.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Tomando a modernidade como vivência e traduzida em formas de ação, sentir e pensar, considera-se ser o sistema de fábrica o núcleo central que proporcionou todas estas transformações. Ele seria como o "coração" do capitalismo, ao passo que a modernidade compareceria como a expressão da "alma" daquele processo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O que, contudo, se considera como fundamental na análise de Berman é justamente o aspecto dialético da vivência da modernidade: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">[..] ser moderno é viver uma vida de paradoxo e contradição [.:] é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, tudo que é sólido desmancha no ar</i>"' </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Este processo desencadeado com o chamado "turbilhão de mudanças", que acompanharia o capitalismo desde o seu surgimento, atingiria no século XIX um ponto clímax, dando aos indivíduos a sensação de viver em dois mundos, um que se insinua e se impõe com rapidez e um que, aparentemente sólido, é superado rapidamente pelo novo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Na posição de Berman, a contradição estaria presente na base deste mundo moderno revolucionado pelo sistema capitalista <personname productid="em constru ̄o. N ̄o" w:st="on">em construção. Não</personname> se trata apenas de restaurar a dialética como motor da história, mas sim de resgatar a dialética como postura vital dos indivíduos diante das transformações em cadeia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Crê-se ser justamente esta identificação de uma postura de atração-repúdio, celebração-combate, fascínio-temor os elementos que fazem Berman retomar a leitura de Marx, Baudelaire e Benjamin. Com aguda percepção, Berman surpreende em pensadores do século XIX esta atitude de desejo de mudança mesclada com a nostalgia de um mundo que se desagregava, perante a espiral do progresso e o impacto da técnica: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">[...] sentiram a modernidade como um todo, um momento em que apenas uma pequena parte do mundo era verdadeiramente moderna</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Em Marx, Berman identificaria a postura-símbolo da modernidade, uma vez que o maior crítico da burguesia experimentaria ao mesmo tempo uma admiração pelas forças que o capitalismo era capaz de desencadear. Se, por um lado, a ordem burguesa, no seu afã de destruir barreiras, daria margem ao desenvolvimento de tendências críticas ao próprio sistema, por outro lado o capitalismo seria capaz de auferir forças de suas próprias crises internas. Qual fênix em contínuo renascer das próprias cinzas, este fenômeno seria para Marx um instrumento de tensão entre a sua capacidade crítica e o seu sonho mais radical, configurando aquela postura que Gramsci definiria como o conflito entre "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">o pessimismo do intelecto e o otimismo da vontade</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Trata-se, sem dúvida, de uma outra leitura de Marx, mas que, a rigor, não se opõe ao Marx que disseca e desvela os mecanismos da dominação burguesa e do sistema de fábrica. Crítica e repúdio, mas também admiração, magia e fascínio pelo vigor de um sistema em construção.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Postura similar poderia ser encontrada em Baudelaire, que oscila entre a celebração da burguesia como classe e a denúncia do caráter arrasador do processo técnico trazido pela modernidade. Assim, Baudelaire tem momentos nos quais legitima a propriedade, como fonte de poder e sinônimo de força, consagrando o direito de mando da burguesia como justo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">No seu texto sobre o "Salão de 1846", dedicado aos burgueses, Baudelaire afirmava: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vós sois a maioria numerosa e inteligente; portanto vós sois a força que é a justiça</i>”. "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Uns sábios, outros proprietários; um dia radioso virá em que os sábios serão proprietários, e os proprietários sábios. Então vosso poderio será completo, e ninguém protestará contra ele. Esperando esta harmonia suprema, é justo que aqueles que não são senão proprietários aspirem a tornar-se sábios; porque a ciência é um gozo não menor que a propriedade</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Flui do texto o indicativo de que o saber e a cultura devem ter o apoio, o mecenato e a predileção da classe burguesa, complementos necessários a uma situação de predomínio sobre a sociedade que se apoiava sobre a riqueza. A ambigüidade, contudo, permanece uma constante <personname productid="em Baudelaire. Ora" w:st="on">em Baudelaire. Ora</personname> o poema das Flores do Mal aparece como o porta-voz da burguesia, como no já citado caso do Salão de 1846, ora se volta contra ela. Tome-se o caso da figura do dandy, que ocupa um lugar central na sua obra. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Ao inverso da burguesia, este não tem uma função claramente assinalada. O dandy é um diletante, um vagabundo, um boêmio, que não procura atingir outro fim senão o de celebrar por tudo e sempre a glorificação das aparências, da beleza e das sensações. Note-se a dialética que preside a personagem: é antieconômico e, como tal, antiburguês; não faz nada, tal como o antigo aristocrata, mas ao mesmo tempo é a imagem de um homem revoltado por excelência.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Tal como o artista, é produto de sua época, mas contra ela se volta, na busca de um ideal estético livre da mercantilização da vida. Por outro lado, esta mesma ordem burguesa, que fora capaz de desencadear um surto de desenvolvimento tecnológico que dotara o mundo de novos inventos, é encarada pelo escritor como catastrófica e destruidora da verdadeira arte e do belo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Para Baudelaire, o progresso, sendo o domínio progressivo da matéria pelo homem, era, ao mesmo tempo, uma invenção da filosofia do seu tempo: "[...] i<i style="mso-bidi-font-style: normal;">déia grotesca que floresceu sobre o terreno da fatuidade moderna, desincumbiu cada um do seu dever; livrou toda a alma de sua responsabilidade, libertou a vontade de todos os laços que lhe impunham o amor ao belo</i>" .</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Para o senso comum do homem francês, o progresso era o vapor, a eletricidade e o gás, numa evidência da superioridade industrial que lhe fazia perder a noção das diferenças que caracterizam os fenômenos do mundo físico e do mundo moral, do material e do espiritual. Nesse sentido, ao caracterizar o progresso como "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">moderna lanterna que jogava sombra sobre todos os objetos do conhecimento</i>", intuía que nesta idéia mestra dos novos tempos se encontrava um elemento velador da realidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Extrapolando seu domínio da ordem material para a ordem da imaginação, o progresso cegava e obliterava os sentidos e o senso crítico. Mesmo admitindo que, na ordem material, se procedia um progresso incontestável, Baudelaire se perguntava qual a garantia do progresso para o amanhã, em que o futuro se apresentava como uma conquista assegurada, por meio de uma série indeterminada quanto a seus fins: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">[...] o progresso indefinido não será sua mais engenhosa e sua mais cruel tortura; se, procedendo por uma opiniática negação de si mesmo, ele não será um modo de suicídio incessantemente renovado e se, fechado no círculo de fogo da lógica divina, ela não se assemelharia ao escorpião que se volta contra si mesmo com a sua terrível cauda, este eterno 'desideratum' que faz seu eterno desesper</i>o".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Resgata-se, portanto, em Baudelaire, assim como em Marx, uma atitude de ambigüidade, perante a evidência do triunfo burguês e o reconhecimento de sua capacidade transformadora da natureza e da relação entre os homens, por um lado, e as conseqüências deste processo, por outro. O alastramento do capitalismo, tendo por arauto a figura da máquina, materialização do progresso, do avanço da técnica e do engenho humano, instalaria na sociedade a crescente fascinação pelo novo, pela recente descoberta, pelo invento atraente, pelo engenho fantástico, insuspeitado até então pelos homens de outras épocas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O século XIX foi, por excelência, um momento de transformação em múltipla escala. A população aumentara, as cidades cresceram e colocaram aos governantes toda uma sorte de exigências, desde a reordenação espacial, redesenhando as ambiências, até o cumprimento dos serviços públicos demandados pelo "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">viver em cidades</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Produtos novos e máquinas desconhecidas atestavam que a ciência aplicada à tecnologia era capaz de tudo ou, pelo menos, quase tudo. O valor dominante era o do progresso, caro às elites que dele faziam o esteio de uma visão de mundo triunfante e otimista e tem por corolário a confiança no homem, no indivíduo autor e motor das mudanças que cada um pode constatar na sua proximidade imediata tais como a implementação, depois a extensão da rede da estrada de ferro que são percebidas como as benfeitorias às quais o 'trabalho' ou a 'instrução' poderão permitir de participar plenamente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O indivíduo tem então um papel a desempenhar na história coletiva, a do progresso da humanidade. Esta noção de progresso é desenvolvida com a idéia de um mundo melhor para todos. Entretanto, no quadro das transformações capitalistas também se geraram as condições miseráveis de existência e trabalho dos operários fabris e deram margem a movimentos associativos e de resistência da classe trabalhadora. Pensadores como Proudhon, Fourier e Marx opunham ao individualismo uma visão do social que solidificava o sentimento classista dos subalternos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Em suma, a homogeneização do mundo, pretendida pelo capitalismo, tinha um verso e um reverso, que daria aos contemporâneos a sensação aludida por Berman da espiral de transformação, da postura vital de atração e repúdio, do "isto" e do "aquilo". Neste contexto, a modernidade, como sentimento, sensação, postura estética e mentalidade, traduz-se pela noção de exigência: é preciso "ser do seu tempo", "acompanhar o ritmo da história", "captar a mudança e mudar com ela", como ação e pensamento.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Como diria Baudelaire: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">a modernidade é o transitório, o fugitivo, o contingente; a metade da arte, da qual a outra metade é o eterno e o imutável</i>". Ou seja, o sistema de fábrica era capaz de, com velocidade crescente, oferecer à sociedade a última moda e a mais recente mercadoria que, contudo, já estava ameaçada de ser suplantada a cada instante pelo novo fruto da aplicação da ciência à tecnologia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">As coisas deixavam assim de ter a sua perenidade, a sua permanência, para que se privilegiasse o efêmero e o transitório. Não é por acaso, pois, que Baudelaire opusesse à modernidade-mudança uma visão da arte como o eterno e o imutável. Talvez por ser espectador e ator da "vida moderna" que ele buscou captar, Baudelaire enfatiza nesta afirmação a modernidade como o transitório, na qual se evocam os componentes mais característicos do seu tempo: a moda, a novidade, o progresso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Há, contudo, uma outra leitura do mesmo Baudelaire, na qual ele focaliza a modernidade como um todo, sendo o eterno e o transitório seus dois componentes. Nesta outra definição, Baudelaire estaria resgatando a historicidade do conceito, que supõe a faculdade de passar de uma época a outra e de ser reconhecido como tal. Assim, a modernidade não seria só o novo, a curta temporal idade de uma época naquilo que ela tivesse de mais passageiro, como a moda.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Dessa maneira, Baudelaire apontaria para a modernidade como o "sentido da vida presente", que se renova e se historiciza em cada contexto, em cada sujeito, em cada objeto. Mais ainda, dilataria a modernidade para além da sua época, como aquilo que toca mais ao sujeito no seu tempo. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Neste ponto, há uma ambivalência no tocante à concepção do tempo e aos padrões clássicos da Antigüidade na sua confrontação com o novo e o moderno. De certa forma, o presente dos homens até então estivera sempre reorientado pelo passado, tanto no que diz respeito a uma concepção de história edificante ou mesmo da vida quanto a uma eterna e inevitável comparação com a produção artística da Antigüidade, considerada insuperável.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Com a modernidade, o presente, até aí carregado de todo o passado, se volta para o futuro. Esta sensibilidade nova para o futuro; sustentada pela idéia do progresso, arrasta uma consciência alargada sobre o tempo. Em contrapartida, o passado não estando mais fixado nem limitado numa tradição dada, o artista vai procurar vieses além da antigüidade ou do classicismo. [...] <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O tempo da modernidade é o presente, distinto do passado e do futuro, e simultaneamente portador dos dois. Esta nova concepção do tempo conduz o homem a conferir um valor específico à época na qual ele vive</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Não se pode, contudo, pensar que a Antigüidade pudesse estar esquecida ao longo do século XIX. Pelo contrário, ela sempre esteve presente e viva e, embora na busca de inspiração e padrões novos, adequados aos também novos tempos, Baudelaire almejava para a modernidade um status de arte antiga. Ou seja, mesmo na sua busca de superação, é ainda o padrão clássico o que prevalece como cânone.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Retomemos, contudo, o fio da meada. As transformações socioeconômicas traz idas pelo sistema de fábrica têm a sua contrapartida ou a sua outra face na modernidade, traduzida em experiências, sensações vitais e mentalidades, que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se configuraram de modo especial no século XIX. Uma destas manifestações da modernidade surpreendida nos pensadores do século passado é a atitude de ambigüidade, assinalada, como se viu, em Marx e Baudelaire.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A mesma percepção teria Benjamin, o notável pensador canhestro, que foi, se não insuperável, pelo menos brilhante no resgate de tais questões. Como refere Berman, "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">mesmo a mente crítica e lúcida do marxista se vê afetada pelo charme da sociedade burguesa</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Diante da fascinante Paris, Benjamin desvela as tramas da dominação do capital, mas "não tem pressa" de ser salvo. Segundo Flávio Kothe, Benjamin: "[...} <i style="mso-bidi-font-style: normal;">adianta a caracterização da 'modernidade' pela relação que soube estabelecer, no processo de industrialização capitalista, entre desenvolvimento urbano, técnicas de reprodução e produção literária</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Mantendo ele próprio uma atitude ambivalente para com a sociedade burguesa, Benjamin, ao se debruçar sobre Baudelaire, resgata neste autor uma postura similar: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Amaldiçoa o progresso, abomina a indústria do século atual e, mesmo assim, compraz-se na atmosfera toda especial que esta indústria tem acarretado para a nossa vida de hoj</i>e".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Indo mais além na análise da ambivalência de Baudelaire, Benjamin aponta para o tema da multidão, caro aos escritores do século XIX. Para Engels e para Poe, a massa tem algo de ameaçador, mas em Baudelaire exerce uma sensação ora de repúdio, ora de atração. Ele é, ao mesmo tempo, cúmplice deste indivíduo sem rosto e sem nome e dele também busca diferenciar-se, recusando a massificação.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Foi interrogando-se sobre os conceitos baudelairianos que Benjamin articulou e amadureceu os seus, indo mais longe no seu processo de reflexão sobre a realidade. Na Paris do Segundo Império, época de Baudelaire, Benjamin procurou desvendar o processo mediante o qual se construiu o mundo material e o "espírito" do século XIX.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O crescimento da indústria, pela própria dinâmica da sua acumulação, obriga-se a aperfeiçoar constantemente os métodos produtivos, criando novas tecnologias e pondo à disposição dos consumidores nova gama de mercadorias. A concorrência capitalista que se instala é, ela própria, um poderoso estímulo na superação do novo pelo mais novo ainda, da técnica em uso por aquela que se intenta produzir.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Benjamin, todavia, não só fica na constatação do progresso naquilo que ele aparenta ser ou na forma tal como se mostra melhor qualidade, maior quantidade, maior rapidez, mas vai ao âmago daquilo que ele oculta. Não se trata apenas de colocar ao consumo das populações que se aglomeram nas cidades grande variedade de mercadorias, mas do processo mediante o qual palavras, pessoas e processos se tornam eles próprios mercadorias.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O sentido é, aqui, mais uma vez aquele empregado por Marx, fetichista e alienador, pelo qual as coisas passam a exprimir algo que não é explícito, ou se travestem de umá aparência que encobre uma essência. Daí, o recurso de Benjamin ao processo de pensar a realidade por meio de alegorias, imagens condicionadas pelo fetiche da mercadoria. Ora, o procedimento de pensar por meio de alegorias é dado quando se recorre a uma imagem sabendo que ela tem um outro significado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A alegoria é, pois, a representação concreta de uma idéia abstrata, ou ainda o processo de "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">exposição de um pensamento sob forma figurada em que se representa algo para indicar outra coisa</i>". Segundo Benjamin, é a mercantilização da vida trazida pelo capitalismo de uma forma total e globalizante que faz com que as coisas sejam apreendidas na sua aparência, quando a essência, ou o processo real que Ihes dá nascimento, é encoberta.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Segundo Rouanet: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A intenção de Benjamin era derivar do fetichismo das mercadorias todas as 'fantasmagorias' do século XIX: a da própria mercadoria, cujo valor de troca esconde seu valor de uso; a do processo capitalista em seu conjunto, em que as criações humanas assumem uma objetividade espectral em relação a seus criadores; a da cultura, cuja autonomia aparente apagou os traços de sua gênese, e a das formas de percepção espaço-temporal as fantasmagorias do tempo, ilustradas pelo jogador e pelo colecionadol; ou as do espaço, ilustrada pelos flâneurs</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Inspirado, pois, no conceito do fetichismo da mercadoria, Benjamin recorre às alegorias imagens de representação simbólica do real que assumem forma fantasmagórica da realidade. Ou seja, ainda citando Rouanet, "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">a fantasmagoria não é uma forma de apreensão do real, mas o próprio rea</i>l". Ou seja, é a mercantilização capitalista que produz a assimilação da fantasmagoria à própria vivência dos indivíduos, que não apenas sentem e sonham as fantasmagorias como realidade, mas as convertem na sua própria realidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Dessa forma, entende-se que tanto a aparência quanto a essência ou o inexprimível são partes integrantes da mesma realidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Na sua obra inacabada <i style="mso-bidi-font-style: normal;">As</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Passagens</i> Walter Benjamin pretenderia realizar uma arqueologia da superestrutura cultural do século XIX, tendo como categoria central de análise o conceito marxista do fetichismo da mercadoria. Benjamin, todavia, foi introduzido neste conceito pela obra de Lukács, particularmente nas partes referentes à reificação e à consciência de classe.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Lukács havia retraduzido, em linguagem filosófica, a análise econômica que Marx fizera do fetichismo da mercadoria, e Benjamin pretendeu fazer o mesmo com a cultura na fase do capitalismo triunfante. Foi justamente este aspecto de autonomia que a mercadoria adquiriu em relação ao seu produtor e ao seu comprador o que mais seduziu Benjamin na análise de Marx sobre o modo de produção capitalista. Como refere Tiedmann, interpretando Benjamin: "O<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> destino da cultura do século XIX residia precisamente neste caráter de mercadoria que, segundo Walter Benjamin, se manifestaria nos bens culturais como fantasmagoria</i>”.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A mercadoria, ela mesma, é uma fantasmagoria,quer dizer, uma ilusão, um engano, na medida em que o valor de troca ou forma-valor recobre o valor de uso; o processo de produção capitalista em geral é uma fantasmagoria na medida em que ele aparece como um poder natural dos homens que asseguram a sua realização. Aquilo que as fantasmagorias culturais exprimem, segundo Walter Benjamin, quer dizer, a ambigüidade que se liga às relações e às produções sociais desta época, define o mundo econômico do capitalismo em Marx. É uma ambigüidade que aparece muito claramente com as máquinas que ampliam a exploração em lugar de aliviar a sorte dos homens.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Dessa forma, Benjamin pensa o século XX valendo-se do espetáculo oferecido por Paris naquilo que a modernização tem de mais concreto as passagens, os panoramas, as exposições, as remodelações urbanas, as exposições universais, as novas técnicas e inventos , mas também daquilo que se encontra encoberto e não dito: a dominação do capital sobre o trabalho, os silêncios produzidos na história pela ordem burguesa, as relações sociais subjacentes ao sistema de fábrica, a expulsão dos pobres dos centros das cidades, a defesa da propriedade em nome da ordem, o progresso do capital entendido como o progresso do social, etc., etc.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Nesse sentido, em sua proposta de fabricação-ocultação da realidade, o sistema produz as suas utopias, por meio das quais uma época é capaz de pensar i o seu futuro. Se o progresso foi uma utopia que embalou os sonhos do século XIX, os novos inventos, fruto da aplicação da ciência à tecnologia, adquiriram aos olhos da multidão o status de fantasmagorias, surgidas no mundo moderno para encantar a humanidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">As "passagens", particularmente, representariam para Benjamin a própria alegoria do século XIX no seu mais puro espírito burguês: galerias cobertas de ferro e vidro, povoadas de lojas, "ruas inteiras" para o transeunte ver as novidades e ser visto, elas se apresentam como uma sociedade burguesa em miniatura, tal como ela gostaria de ser admirada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">O que aparece e se revela é o mundo da circulação, do comércio, da troca; o que se oculta e se retrai para a sombra é o espaço da produção onde, no "silêncio" da fábrica, se realiza a exploração do trabalho pelo capital. Ora, a função da fantasmagoria-fetiche é a transfiguração da realidade, daí o seu caráter ilusório.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Há, contudo, uma ambivalência no julgamento de Benjamin a respeito destas ilusões e imagens enganadoras que a sociedade burguesa se fabrica. "De um lado, é certo que Benjamin sublima na fantasmagoria sua função de transfiguração e de engodo. Mas, de outro lado, ele Ihes encontra igualmente e ao mesmo tempo aspectos positivos: elas são também imagens sonhos da coletividade, elas encerram as demandas utópicas daquelas que as desenvolvem. De certa forma, cada época produz os seus sonhos, mas é na sociedade dominada pelas relações capitalistas e, portanto, pela mercantilização da vida que a dimensão onírica assumiria um papel preponderante.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A história seria, sem dúvida alguma, realizada pelos homens, mas sem plano ou consciência, como se fosse num sonho, em virtude da fetichização. Portanto, as fantasmagorias, categorias benjaminianas que se equivalem ao fetiche da mercadoria de Marx, como imagens produzidas socialmente, funcionam como imagens de desejo coletivo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Este inconsciente coletivo corresponderia a um correlato, na ordem da imaginação, da reificação no sistema de mercadorias. Nesse sentido, ao analisar a construção do imaginário social do século XIX, há que registrar, para além da dimensão racional ou intencional do engodo e da ocultação fetichizada do processo real vivido, uma outra dimensão: a da projeção do desejo coletivo, das utopias proporcionadas pela própria vivência dos indivíduos na sociedade burguesa <personname productid="em constru ̄o. O" w:st="on">em construção. O</personname> "efeito-maravilha" da máquina e dos novos inventos leva as pessoas a construírem seus sonhos sobre a realidade, tendo por base aquilo que se quer, que se gostaria que acontecesse e que se espera que um dia possa tornar-se real.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Esta forma de pensar, servindo-se das fantasmagorias, provém de uma percepção mítica do mundo. Refere Rolfjanz que, por uma amarga ironia, o século XIX, herdeiro do século das luzes, da razão e da ciência, que revelou o crescente domínio do homem sobre a natureza, favoreceu e reabilitou formas de representações míticas sobre a realidade. Entende o autor que o pensamento mítico não informa concretamente senão sobre a superfície das coisas e constrói uma interpretação fatalista e inexorável da realidade, como, por exemplo, com as idéias sobre o progresso ou sobre o "eterno retorno", de Nietzsche.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Se o caminho do progresso é a trilha fadada a percorrer por uma humanidade arrastada pelo turbilhão do capitalismo, o mito do "eterno retorno", ou a experiência da "eterna repetição", é recordado por Benjamin pela figura do trabalhador na usina. Condenado a repetir mecanicamente os mesmos gestos e a nunca ver a tarefa encerrada (uma vez que a produção é contínua e o trabalho parcelado, distanciando o operário do produto final), sua personagem é comparada à de Sísifo, também ele condenado a uma tarefa inglória e destinada a não ter fim.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Se tal associação mítica já fora colocada por Engels, a novidade de Benjamin constitui em supor uma similitude entre a situação das classes altas e a das baixas classes sociais. Nessa medida, "[...] <i style="mso-bidi-font-style: normal;">a experiência da 'eterna repetição' [...] não fica restrita ao único domínio do trabalho do proletariado. Ela marca igualmente a burguesia e com ela o 'dandy' e o 'flâneur</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Trata-se, sem dúvida, de uma correlação original, estabelecendo que a monotonia do trabalho na usina é comparável ao enfado trazido pela ociosidade. Dessa forma, o sentimento de vazio da existência e o aborrecimento com uma vida sem perspectivas, verdadeira "epidemia" observada na sociedade européia da segunda metade do século XIX, fariam suas vítimas nos dois extremos sociais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Entende-se que esta percepção benjaminiana de correlacionar os dois pólos da vida social como pacientes de um mesmo processo advém da sua concepção da realidade, vista como um todo global, interligado e, fundamentalmente, perpassado pela idéia-mestra da fantasmagoria encarado sob uma perspectiva dialética. Por outro lado, com o mito da eterna repetição, Benjamin retoma Baudelaire por meio da dialética do novo e do eternamente igual.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">É ainda Rouanet que, com propriedade, explica esta ambigüidade: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">sua fonte é a mercadoria-fetiche, no duplo sentido de que os artigos produzidos em massa são infinitamente idênticos e de que o seu substrato, o valor de troca, é um agente de homogeneização que permite a infinita intercambialidade dos valores equivalentes, por mais diferentes que sejam os seus valores de uso</i>" .</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Benjamin via justamente no acelerado envelhecimento das invenções e novidades brotadas do capitalismo a marca da modernidade. A moda, condenada a se renovar sem cessar, figura como o eterno retorno do novo ao ponto de ser: igualmente, a paródia desta novidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Neste sentido, contribui Fabrizio Desideri: "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mas o fundo contra o qual palpita o novo e o fundo do sempre-igual: o tempo vazio onde se constitui a dominação fetichista da forma-mercadoria como espectralidade: auto-envelopante que captura todas as formas do desenho metropolitano. A máscara deste espectro é a fantasmagoria. A modernidade, dominada pela fantasmagoria, tem a imagem do sonho: sua aparência histórica significa aparência onírica</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">No seu intento de realizar uma arqueologia da modernidade valendo-se da análise do século XIX, Benjamin se propõe a desvelar o mundo das imagens da burguesia. É claro que essa aguda percepção de conseguir ver o sempre-igual como ilusório e resgatar o novo dos escombros do tempo passado não é tarefa para o comum dos mortais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Decifrar o mundo burguês implica desvelar a ex-nominação burguesa. Remontando a Barthes, a burguesia se define como a classe social que não quer ser nomeada como tal. Ou seja, como fato econômico, o capital ou o capitalismo são atores explícitos responsáveis pelo progresso e pela sociedade do bem-estar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Já como fenômeno ideológico, ela não se assume como classe e passa do real à sua representação. Ao universalizar os seus valores para a nação, para a coletividade, a burguesia se ex-nomina e se encobre na "socialização" imposta. Como já foi visto, a coletividade sonha, e ao sonhar acredita como real a imagem que lhe é posta diante dos olhos pelo sistema. A tarefa de despertar compete ao historiador materialista que, apoiado na dialética, é capaz de desfazer o charme do sonho e fazer a humanidade despertar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A idéia-mestra do progresso, que atravessa o século e oferece aos homens de sua época a crença de que o futuro é uma conquista assegurada, é desta forma posta em discussão por Benjamin, despida do seu caráter mágico de ilusão e revelada em sua ambigüidade. Pensando de forma alegórica, é o vento do progresso que obriga o "anjo da história" a andar voltado para a frente, quando ela tende a voltar-se para trás, resgatando do passado outras propostas, vencidas e não reveladas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Trata-se, sem dúvida, de uma nova dimensão do tempo que Benjamin inaugura, postulando "escovar a história a contrapelo", segundo a perspectiva dos I vencidos. Mas, ao fazê-loredimindo assim do passado "aquilo que não foi" em razão das forças da dominação, Benjamin desvela os mecanismos do : poder do capital. A fábrica coloca na sociedade não apenas mercadorias produzidas pelo progresso técnico, mas elabora imagens de sonho e desejo que adquirem força de realidade. Dessa forma, Benjamin, de forma alegórica, remonta ao Angelus Novus de Klee para confiar esta missão de decifrar imagens e sonhos ao materialista, histórico, capaz de desvelar a essência da ilusória imutabilidade das aparências.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Da mesma forma, Rouanet coloca nos artistas mais representativos do século<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>XIX a capacidade de reconhecer "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">a natureza alegórica da realidade enquanto condicionada pelo fetiche da mercadoria</i>". Uma coisa, contudo, é resgatar o senso crítico presente nas mentes iluminadas dos pensadores que, de uma forma dialética, perceberam as transformações materiais e as social idades do seu tempo e cujo pensamento chegou até nós. Outra é perceber que, de forma acrítica e não consciente, aquele turbilhão de mudanças influiu nos atores sociais anônimos do processo sob a forma de senso comum, de representações mentais e de um imaginário social. Dessa forma, a modernidade do século XIX, tal como eclodiu como percepção aguda por intermédio de seus pensadores mais representativos, ocorreu também como vivência socializada pelo homem comum, que foi portador também destas ambigüidades, perplexidades e percepção de mudança.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Um ponto merece ainda ser ressaltado nas análises de Benjamin sobre a modernidade. No seu "Exposé de 1939" sobre a Paris do século XIX, Benjamin afirma que "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Entretanto, este brilho e este esplendor do qual se cercava assim a socieI dade produtora de mercadorias e o sentimento ilusório de sua segurança não estão ao abrigo das ameaças</i>". Benjamin tinha em mente tanto a débâcledo Segundo Império quanto a Comuna de Paris, com o que desfaz a aparente estabilidade da sociedade burguesa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Nesta medida, Philippe Ivernel distingue dois fios na narrativa de Benjamin nas "Passages": a Paris da burguesia, da moda, da fantasmagoria, das forças míticas da mercadoria, e a Paris das revoltas e das revoluções, "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">que põe a história na hora da política tanto quanto a política na hora da história</i>". </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Este elemento de tensão, presente nas polarizações da riqueza e da pobreza e que já consta da obra de Baudelaire, é o elemento que precisa ser revelado e ser trazido à tona pelo historiador que à semelhança do trapeiro, vai recolhendo fragmentos e cacos do passado. Para Benjamin, não há mais diferença entre este "despertar" produzido pelo historiador e a ação política. A esta altura da análise, o leitor estará se perguntando se a modernidade se resumiria à interpretação ou à leitura que lhe deu Benjamin.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Certamente não. Neste ponto, poderia ser agregada ao princípio dialético presente na experiência histórica da modernidade a idéia da racional idade ocidental. Remontando a Max Weber, mas sobretudo a Hegel, Habermas acentua a íntima relação entre modernidade e racionalidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Na sua análise sobre o fenômeno da modernidade, Habermas distingue uma dimensão cultural, marcada pela dessacralização das visões do mundo tradicionais, e uma dimensão social, identificada por complexos de ação autonomizados (o Estado e a economia), que escapam crescentemente ao controle consciente dos indivíduos através de mecanismos anônimos e transindividuais (processo de burocratização). Embora empenhado em estabelecer uma teoria crítica sobre a sociedade, Habermas não sucumbe ao peso da identificação castradora da modernidade social sobre a modernidade cultural. Acredita na possibilidade de uma racionalidade comunicativa que, vinculando o mundo objetivo dos fatos, o mundo social das normas e o mundo subjetivo dos sentimentos, restaura as potencialidades libertadoras da modernidade como experiência histórica não acabada ou falida. Nesse sentido a modernidade é marcada pela consciência da aceleração do presente e a expectativa da heterogeneidade do futuro, o que aproxima as suas idéias às noções já levantadas de uma expectativa de mudança e sensação individual e coletiva de viver num mundo em transformação.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Por outro lado, sob uma outra perspectiva, Habermas também pensa o moderno como uma nova temporalidade, marcada pelo primado da razão, ao admitir que a modernidade "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">não pode nem quer tomar seus critérios de orientação de modelos de outras épocas, tendo de extrair sua normatividade de si mesma</i>".</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Na aventura da modernidade e os contraditórios caminhos do progresso, a modernidade tem sido tratada por vários autores, que lhe atribuíram diferentes tempos e sentidos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Para Heidegger, ela teria iniciado com Descartes, na sua busca de um saber totalizante, absoluto; para Habermas, com Kant; para Sartre, com a geração literária de 1850. Em relação às artes, o seu início teria sido o Romantismo, como apontou Baudelaire, os impressionistas das décadas de 70 e 89, ou ainda ela teria seu ponto de partida no início do novo século, com as Demoiselles d'Avignon, de Picasso. Múltipla, polifacetada, contraditória, descontínua, como experiência vital, ela pressupõe mais de um olhar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Resguardado o direito de opção e de busca de articulação entre as dimensões culturais com as condições concretas de existência, o fio condutor desta análise é o que situa a modernidade na senda da constituição do capitalismo. Assim, a base teórica desta análise é a que vai de Marx a Benjamin, ou, em outras palavras, a que trabalha com a fetichização do mundo e a transfiguração alegórica da realidade. A produção de um imaginário coletivo, traduzido em idéias-imagens da sociedade global, pode ter ou não correspondência com o que se poderia chamar de verdade social, uma vez que ele comporta utopias e, em condições capitalistas da existência, liga-se ao princípio de mercantilização da vida.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Este processo tende a configurar-se de forma sensível no século XIX, tomando-se: por base a Europa Ocidental, no momento em que triunfava o sistema de fábrica como a forma histórica mais adequada à realização da mais-valia, da elevação da produtividade, da consolidação, da dominação burguesa, do adestramento operário à disciplina do trabalho. E ainda o advento do capitalismo o elemento que possibilita o desenvolvimento do pensamento racional que, por sua vez, é responsável também pelo avanço da ciência e de sua aplicação à técnica. Nesse contexto, a modernidade é um fenômeno do domínio da cultura, da expressão do pensamento, das sensações, das mentalidades e da ideologia. Sua base nascedoura é a transformação burguesa do mundo, que dá margem a um novo sentir e agir. Neste mundo dominado pela fantasmagoria, o espetáculo da modernidade armaria o próprio palco para demonstrar a exemplaridade do sistema: as exposições universais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-indent: 2cm;"><br />
</div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8376230182226369865.post-18844613745518007082010-06-19T15:01:00.001-07:002010-06-19T15:01:23.350-07:00A narrativa das Cartas<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span lang="PT" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT;"><span style="font-family: Arial;">O objeto musical fica entre a palavra e o silêncio, entre o exterior e o interior, entre o significado da representação e o sentido do corpo vivido. São espaços de criação e de experimentação estética, a música é, das diferentes criações artísticas, aquela que se encontra mais presente em todas as dimensões e extratos sociais e a qual ligamos de modo mais direto ao puro afeto. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span lang="PT" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT;"><span style="font-family: Arial;">A música comove-nos sem sabermos porquê, parece que nela encontramos sentimentos e emoções que espelham o nosso estado de espírito, lançando-nos num movimento onírico de fantasia e imaginação. Esta moção musical e o modo como intervém no individual é o objeto de intensifica a busca sobre a narrativa enquanto fenômeno da experiência humana e, provavelmente, encontra resposta nas teorias psicanalíticas. Esta abordagem toca temas como a insensibilidade e o modo como influencia e limita os contributos posteriores da apreesão sensitiva. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span lang="PT" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT;"><span style="font-family: Arial;">A exemplo da importância das trocas sonoras no seio da relação mãe-criança na sua dupla dimensão; relacional e de promoção da aquisição da linguagem - a relação da música com a linguagem e o problema do significado musical, assim como a sua ligação com os fenômenos não-verbais e a dimensão silenciosa do “eu”. É provável que estejamos falando da sintese de diversas disciplinas ao oferecer uma outra perspectiva sobre uma atividade artística e cultural humana que nunca está ausente na vida e nos acasos do cotidiano.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span lang="PT" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT;"><span style="font-family: Arial;">A linguagem comum, por seu turno, só se transforma em linguagem literária quando renuncia ao seu sentido puramente lingüístico de comunicação, expressão narrativa e se refugia no silêncio. Silêncio que se converte em expressão de si mesmo, que cinge suas próprias regras, sua lógica, que inventa o seu código de valores estéticos, enfim, a sua retórica.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 54.25pt 0pt 2cm; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT;"><span style="font-family: Arial;">Quando mais cedo escurecia, tanto mais freqüentemente pedíamos as tesouras. Então ficávamos, nós também, horas seguindo com o olhar a agulha, da qual pendia indolente um grosso fio da lã. Pois sem dizê-lo, cada um de nós tomara de suas coisas que pudessem ser forradas – pratos de papel, limpa-penas, capas – e nelas alinhavávamos flores segundo o desenho. E à medida que o papel abria caminho à agulha com um leve estalo, eu cedia à tentação de me apaixonar pelo reticulado do avesso que ia ficando mais confuso a cada ponto dado, com o qual, no direito, me aproximava da meta.</span></span></i></div><div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 12pt 54.25pt 0pt 2cm; text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT;"><span style="font-family: Arial;">Evaldo e Beth</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span lang="PT" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT;"><span style="font-family: Arial;">Tomemos as <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cartas</i> como o efeito de um trabalho diante de um campo de intensidade pulsional que fornece um ritmo, uma cadência estranha, perpassada por ruídos e silêncios. Quer dizer, a partir da escuta de um território insólito, da aventura especulativa, como tentativa de definir aquilo que excede os limites da própria narrativa. Mas por quais meios esse resultado pode obtido? Sei que não será fácil achar a resposta.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span lang="PT" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT;"><span style="font-family: Arial;">A tensão e a pulsão que se estabeleceu entre as argumentações das <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cartas</i> e as que se seguiram a elas na tentativa de apreender seus sentídos, parecem ser portadoras da própria complexidade das narrativas, indicando uma convergência que toca o ponto do irredutível pulsional e de suas relações com o corpo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span lang="PT" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT;"><span style="font-family: Arial;">A pulsão decorrida entre a palavra e o silêncio tornou-se um recurso, na medida em que indicava aquilo que insiste em se apresentar e, ao mesmo tempo, que resiste a uma total inclusão na cadeia simbólica. O trabalho é o de narrar e argumentar. Desse modo, toma-se o texto como um lugar de batalha, campo de intensidades, efeito do trabalho narrativo e argumentativo, mas também o espaço para outras interpretações.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span lang="PT" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT;"><span style="font-family: Arial;">Há um resto que resiste ao entendimento e que marca o corpo como o lugar dos enigmas que foram inscritos nas primeiras narrativas e resistente a todo trabalho da narração. O fato da narrativa das <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cartas</i> serem uma operação simbólica não garante que sua completude simbólica seja atingida ao final. A forma exigida pela argumentação indica que restam sempre alguns traços que não sofrendo uma metábole completa, são agora transpostos para uma forma que guarda a sua intensidade identitária.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span lang="PT" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT;"><span style="font-family: Arial;">Na leitura das <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cartas</i> faz percebe-se a presença de uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">poiesis</i> e revela o trabalho de transposição em que a forma criada indica a presença do corpo no seu aspecto pulsional e silencioso. O que resta, então? O que fazer com o que resta da pulsão? O que fazer com o silêncio e com o impossível que se revela depois de todas as tentativas de entendimento? Esta é a experiência que descreve as mesmas palavras silenciosas. Esta é a experiência que mostra a exigência de criação de uma forma, de uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">poiesis</i>, diante de um gozo inapreensível, pois <i style="mso-bidi-font-style: normal;">o silêncio é para os ouvidos o que a noite é para os olhos</i>.</span></span></div>Marcos Simão - Arquitetohttp://www.blogger.com/profile/09346090705073024595noreply@blogger.com0