Walter José Maria Filho
A Condição Pós-Moderna fez do francês Jean-François Lyotard uma celebridade no panorama estreito da filosofia atual. Obra analisada, atacada e estudada apaixonadamente tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, fez do seu autor um pensador incontornável, referência importante quando o assunto é o “pós-moderno”: um conceito complexo, obscuro e controvertido.
A Condição Pós-Moderna foi lançado na França em 1979 pela Les Éditions Minuit, a mesma legendária editora de Gilles Deleuze, Pierre Clastres, Jacques Derrida, e Georges Bataille, time que causa calafrios na mentalidade norte-americana, ciosa da sua curta tradição filosófica. No Brasil a obra apareceu apenas em 1986 , traduzida com o título impreciso de O Pós-Moderno, que foi mantido até a quarta edição.
Nesta quinta edição a editora José Olímpio dá à obra um tratamento digno de sua importância. Além da correção do título, foi adicionado um pósfácio escrito pelo escritor e crítico Silviano Santiago, que, juntamente com o bom prefácio de Wilmar do Valle Barbosa e as orelhas escritas por Ítalo Moriconi, dá ao leitor uma boa base para a compreensão do livro.
Esses textos esclarecem o contexto histórico do livro e a importância de seu autor para o pensamento contemporâneo.
Ser atual e contemporâneo parece ter sido uma das grandes preocupações do eclético Lyotard ao longo dos seus 73 anos de vida (ele morreu em abril de 98).
Nos anos 60, o autor participou das correntes revolucionárias e libertárias do pensamento francês, fazendo parte do grupo de redatores da revista Socialismo e Barbárie ao lado de Claude Leford e C. Castoriadis. Nos anos 70, Lyotard dirige seu pensamento no sentido de investigar a relação entre Marx e Freud. Dessa época são as obras Dérive à partir de Marx et Freud (73) e Économie Libidinale (74). Nelas o filósofo radicaliza seus pontos de vista, mostrando o que há de passional na economia política e o que há de político na paixão.
Lyotard é influenciado por Georges Bataille, Gilles Deleuze e Pierre Klossovsky – filósofos-literatos e livre-pensadores, defensores do desejo contra a solidez dos sistemas filosóficos rígidos –, grupo do qual passa a fazer parte e que dá a ele bússolas de orientação para o seu pensamento.
A Condição Pós-Moderna marca uma mudança metodológica ou uma troca de paradigma, já que o seu autor saí aparentemente do âmbito do pensamento francês na linha Foucault e Deleuze (por exemplo), para entrar de cabeça na área do pragmatismo americano e da filosofia da linguagem que se encaminha na linha de Wittgenstein.
O tema do livro é também a mudança de paradigma filosófico, motivada pelos novos tempos, já que parte da hipótese (ele usa esta palavra) de que o saber muda de estatuto à medida em que “as sociedades entram na idade pós-industrial e as culturas na idade pós-moderna”. (pag.3)
Lyotard parte da constatação de que o discurso do saber científico sofre uma grande e irresistível mudança graças à informática e a tudo que se relaciona a ela. O que afeta principalmente a transmissão dos conhecimentos científicos e a pesquisa.
Paralelo a isto, corre o fato de que a eterna importância da ciência na disputa pelo poder entre os países tecnologicamente avançados faz também do saber científico uma mera mercadoria. Esta é a condição pós-moderna. Condição pós-moderna que pede, segundo Lyotard, uma filosofia bem mais de acordo com esta nova era, reduzindo a atividade filosófica ao trabalho rotineiro de legitimar a ciência. É um processo que faz com que um determinado enunciado seja considerado científico por uma comunidade de cientistas, no qual a decisão entre o verdadeiro e o falso passa pela discussão entre os indivíduos . Ele afasta as iniciativas filosóficas do passado que legitimavam a ciência através de metadiscursos, que refletiam, por exemplo, sobre o Espírito Absoluto (Hegel) e emancipação do sujeito (Escola de Frankfurt) .
Legitimação em A Condição Pós-Moderna é o abandono destes metadiscursos, que transcendem as relações sociais, e o discurso científico, em prol do vínculo social . O que não significa legitimação através do consenso como quer Jürgen Habermas em Teoria do Agir Comunicativo.
Lyotard recusa este caminho, pois a posição habermasiana vê a sociedade como um todo unificado e sistematizado, onde as regras consensuais são iguais para todos. Ele vê a sociedade adotando o conceito de jogo de linguagem do segundo Wittgenstein, como um espaço entrópico onde convivem vários e diversos jogos de linguagem, determinantes para o vínculo social entre os homens. Eles dão conta da riqueza das práticas discursivas e pragmáticas da linguagem, sendo a informática e a arte um exemplo entre elas.
Esta posição faz com que o autor seja visto quase como um anarquista por alguns americanos, que se esforçam muito para entender seu pensamento, em certos momentos ligado ainda sutilmente às idéias da dupla Deleuze e Guattari de Mille Plateaux. Mas, por outro lado, Lyotard emerge no mesmo horizonte onde se movimentam pensadores como Richard Rorty, Jürgen Habermas e um vasto elenco que adota cacoetes neopragmáticos, usando expressões como: consenso, jogos de linguagem, pragmática científica, legitimação e critérios de validade.
A Condição Pós-Moderna colocou Jean-François Lyotard no centro das atenções, por ser primeiramente um livro que aponta para várias direções, tentando enquadrar a Filosofia na irremediável novidade dos tempos atuais, cheios de mudanças e acontecimentos desconcertantes, ao mesmo tempo em se abre para a polêmica, a discussão e o diálogo. Com isso, cumpre perfeitamente a função que o seu autor traçou para ele.
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