quarta-feira, 11 de agosto de 2010

As Razões do Iluminismo

Marcos Simão

Introdução
O discurso de Rouanet trata de diferentes aspectos entre as interações da cultura e sociedade. Ensaios sobre as facetas da crise cultural manifestada; contra a RAZÃO, A MODERNIDADE e A ILUSTRAÇÃO, numa cronologia histórica e o resgate crítico do Conceito de Razão do Projeto de modernidade e do Legado da Ilustração.
A Crise da Razão
Desta vez a razão é repudiada por estar comprometida com o poder e não por negar as realidades transcendentais (Pátria, Religião e família), Por outro lado o novo irracionalismo crítica e considera este relacionamento Razão/Poder hostil a vida e como principal agente de repressão e não o órgão da liberdade
O autor entende que somente a razão é crítica e sustenta que o irracionalismo somente mudou de face mas não de natureza. Porém admite que o novo irracionalismo tem em seu núcleo algo de verdadeiro. O conceito de razão necessita ser revisto. Principalmente porque após de: Marx e Freud, não se admite a razão soberana, livre de condicionamentos materiais e psíquicos; Weber, não se ignora as diferenças entre a Razão substantiva (capaz de pensar fins e valores) e a Razão instrumental (esgotamento de competências, dos meios aos fins); Adorno, escamoteamento da Razão repressiva – A astúcia imemorial (Poder) o do Projeto de dominação da natureza e sobre o homem e Foucault, entrelaçamento do saber e do poder.
Racionalismo novo e nova razão. Razão, capaz de crítica e autocrítica. Sendo que:
A Crítica reconhece sua competência para lidar com o mundo normativo desafiando assim o Positivismo que a condenava ao mundo dos fatos e submete-se ao reino dos valores e avalia a maior ou menor racionalidade das normas. Denuncia a desrazão num modelo fornecido por Marx, mostrando a presença da razão oficial e de uma relação de poder infiltrada e decifra o desejo nos interstício do discurso manifestado por Freud.
A Autocrítica reconhece a sua vulnerabilidade ao irracional, proveniente da falsa consciência (incapacidade socialmente condicionada de conhecer) e Reconhece o irracional sedimentado no inconsciente e sua tentativa contínua de sabotar a objetividade do pensamento.
O autor então vale-se do argumento de que “a verdadeira razão é consciente dos seus limites, percebe o espaço irracional em que se move e pode, portanto, libertar-se do irracional”, discursando sobre Erasmo – Iluminista (Razão louca x razão sábia) a Habermas (Razão negativa e Razão comunicativa). Sendo que está ultima somente foi possível com o advento do modernismo.
Argumenta que para Habermas houve uma ruptura uma mudança de Paradigma – A razão cognitiva e o abandono da relação sujeito-objeto. A racionalidade adere-se aos procedimentos de um processo e ao entendimento último em três contextos distintos de mundo: o de objetivo das coisas; o de social das normas; e o de subjetivo das vivências e emoções. Trata-o como um conceito processual de razão – validadas num processo argumentativo sem deformações ou resultantes da falsa consciência.
A Modernidade e a Racionalidade comunicativa, segundo discorre o autor tornou possível a emancipação do homem do julgo da tradição e da autoridade pela força do melhor argumento na tríplice dimensão da verdade: Mundo objetivo; Mundo Social; Mundo Subjetivo
A modernidade e sua esfera sistêmica abrangendo a do Estado e a da economia, gerou outro processo de racionalização, regida pela razão instrumental de proposição weberiana. Porém, impôs aos indivíduos uma coordenação automática, produzindo uma crescente perda de liberdade. Mas o mundo vivido continua reivindicar. A intersubjetividade comunicativa continua vigorosa, e enquanto ela não desaparecer, não desaparecerá a razão.
Baseado no pensamento crítico de Foucault e Adorno o autor afirma que Habermas acredita fundar o Racionalismo novo com o conceito de razão comunicativa. Critica a repressão social advinda da ação instrumental das esferas sistêmicas (weberianas) sem julgar a extinção da razão crítica (Adorno) pois a Razão vive nas estruturas da intersubjetividade lingüística (Argumentar é criticar) e nem afirmar que são mascaras do poder (Foulcault). Está razão monológica evadiu-se início da modernidade.
Para Rouanet o caso brasileiro do irracionalismo, erradicado na esfera sistêmica – a razão do Estado e a razão econômica – durante os 20 anos do regime autoritário, não sendo possível contestá-lo senão contestando a própria Razão.
Findo o bloqueio a sociedade civil, falta a vontade de conduzir a argumentação, pois a razão havia se identificado com o poder deposto e este irracionalismo provoca uma sensação confusa de pesadelo pois parecia novo, após um período de latência (Freud – amnésia parcial), retomando teorias não evoluídas e com realidades diferentes as dos anos 60, não havendo a sofisticação teórica com que haviam sido abordadas na origem, transformando-se pela recordação  imperfeita, numa tese empirista ingênua e antidialética. Repetimos velhos protótipos na ilusão triunfal de estarmos desbravando novos continentes.
A crise da modernidade
Adorno prega morte da Modernidade, seu atestado de óbito, a pós-modernidade, enterrando a rigidez cadavérica do modernismo. A modernidade econômica, política e cultural estão mortas. A ciência moderna legitimava-se no discurso Iluminista da emancipação pela revolução do saber e a pós-modernidade pela paralogia (silogismo não intencional), permeando todos os gêneros estéticos.
O autor (Rouanet) então questiona a denominação (auticassificatória ou designada pelos críticos e teóricos) da pós-modernidade. Entende Rouanet que o termo sugere uma ruptura com a modernidade e seus conceitos, o que o autor acredita não haver ocorrido. Primeiro porque o capitalismo pelo ponto de vista do autor já nasceu pós-moderno, imanente da própria lógica do sistema, e na política, entende não haver surgido novos atores ou movimentos, e sim realização de tendências básicas do liberalismo moderno.
A posição epistemológica sobre o pós-modernismo, baseia-se, segundo o autor, num mal-entendido fundamental. Mostra como a relação ambígua entre os temos não representa a ruptura e por essa perspectiva, identifica-a como neomodernista.
A crise da Ilustração.
Para representar o conceito de ilustração o autor sugere reservar o termo apenas para a corrente de idéias surgidas no século XVIII. e desvincula a Iluminismo de qualquer época em específico, ou seja transcendente à própria história e argumenta que se o Iluminismo ainda existe hoje, ele não possui identidade conceitual própria, mas partindo do conceito da Ilustração, se confronta com ela, critica-a, salva-a em seus momentos positivos e considera-se madura a partir da autoconsciência. Retifica e atualiza o legado da Ilustração.
Partindo desse princípio, afirma existir ainda hoje pensadores iluministas, que, mesmo não se considerando assim, prossegue no trabalho do Iluminismo, argumentando que a crítica Iluminista assume, assim, a perspectiva conceituada como neomoderna, não idealizando nem rejeitando a modernidade, mas sempre que necessário utiliza-se das grandes teorias desenvolvidas pela própria modernidade.
Foucault e a Modernidade
Na expectativa de convencer sobre sua teoria o autor percorre o discurso de Foucault com a nítida intenção de desqualifica-lo como pensador pós-modernista e argumenta que não encontra provas da pós-modernidade (fundamentada na atitude com reação a modernidade cultural). Rouanet por fim faz uma inquisição sobre onde estão as provas do divisor de águas entre o modernismo e o pós-modernismo. (No Iluminismo? Na denúncia da ciência?, da razão? na recusa do progresso? etc.), tudo isto para justificar o conceito de neomodernismo, base de sua teoria.
Conclusão
A critica à modernidade e pós-modernidade a partir da crítica e da razão, parece carecer de fundamentações que não sejam excludentes, ou seja, atribuir o rótulo de modernistas, iluministas aos pensadores do pós-modernismo para justificar argumentos de um conceito neomodernista e propor um resgate crítico do conceito de razão, do projeto de modernidade e da “Ilustração”, tem qualquer coisa de (para usar palavras do próprio autor) paralogia.

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