quarta-feira, 11 de agosto de 2010

As Razões do Iluminismo

Marcos Simão

Introdução
O discurso de Rouanet trata de diferentes aspectos entre as interações da cultura e sociedade. Ensaios sobre as facetas da crise cultural manifestada; contra a RAZÃO, A MODERNIDADE e A ILUSTRAÇÃO, numa cronologia histórica e o resgate crítico do Conceito de Razão do Projeto de modernidade e do Legado da Ilustração.
A Crise da Razão
Desta vez a razão é repudiada por estar comprometida com o poder e não por negar as realidades transcendentais (Pátria, Religião e família), Por outro lado o novo irracionalismo crítica e considera este relacionamento Razão/Poder hostil a vida e como principal agente de repressão e não o órgão da liberdade
O autor entende que somente a razão é crítica e sustenta que o irracionalismo somente mudou de face mas não de natureza. Porém admite que o novo irracionalismo tem em seu núcleo algo de verdadeiro. O conceito de razão necessita ser revisto. Principalmente porque após de: Marx e Freud, não se admite a razão soberana, livre de condicionamentos materiais e psíquicos; Weber, não se ignora as diferenças entre a Razão substantiva (capaz de pensar fins e valores) e a Razão instrumental (esgotamento de competências, dos meios aos fins); Adorno, escamoteamento da Razão repressiva – A astúcia imemorial (Poder) o do Projeto de dominação da natureza e sobre o homem e Foucault, entrelaçamento do saber e do poder.
Racionalismo novo e nova razão. Razão, capaz de crítica e autocrítica. Sendo que:
A Crítica reconhece sua competência para lidar com o mundo normativo desafiando assim o Positivismo que a condenava ao mundo dos fatos e submete-se ao reino dos valores e avalia a maior ou menor racionalidade das normas. Denuncia a desrazão num modelo fornecido por Marx, mostrando a presença da razão oficial e de uma relação de poder infiltrada e decifra o desejo nos interstício do discurso manifestado por Freud.
A Autocrítica reconhece a sua vulnerabilidade ao irracional, proveniente da falsa consciência (incapacidade socialmente condicionada de conhecer) e Reconhece o irracional sedimentado no inconsciente e sua tentativa contínua de sabotar a objetividade do pensamento.
O autor então vale-se do argumento de que “a verdadeira razão é consciente dos seus limites, percebe o espaço irracional em que se move e pode, portanto, libertar-se do irracional”, discursando sobre Erasmo – Iluminista (Razão louca x razão sábia) a Habermas (Razão negativa e Razão comunicativa). Sendo que está ultima somente foi possível com o advento do modernismo.
Argumenta que para Habermas houve uma ruptura uma mudança de Paradigma – A razão cognitiva e o abandono da relação sujeito-objeto. A racionalidade adere-se aos procedimentos de um processo e ao entendimento último em três contextos distintos de mundo: o de objetivo das coisas; o de social das normas; e o de subjetivo das vivências e emoções. Trata-o como um conceito processual de razão – validadas num processo argumentativo sem deformações ou resultantes da falsa consciência.
A Modernidade e a Racionalidade comunicativa, segundo discorre o autor tornou possível a emancipação do homem do julgo da tradição e da autoridade pela força do melhor argumento na tríplice dimensão da verdade: Mundo objetivo; Mundo Social; Mundo Subjetivo
A modernidade e sua esfera sistêmica abrangendo a do Estado e a da economia, gerou outro processo de racionalização, regida pela razão instrumental de proposição weberiana. Porém, impôs aos indivíduos uma coordenação automática, produzindo uma crescente perda de liberdade. Mas o mundo vivido continua reivindicar. A intersubjetividade comunicativa continua vigorosa, e enquanto ela não desaparecer, não desaparecerá a razão.
Baseado no pensamento crítico de Foucault e Adorno o autor afirma que Habermas acredita fundar o Racionalismo novo com o conceito de razão comunicativa. Critica a repressão social advinda da ação instrumental das esferas sistêmicas (weberianas) sem julgar a extinção da razão crítica (Adorno) pois a Razão vive nas estruturas da intersubjetividade lingüística (Argumentar é criticar) e nem afirmar que são mascaras do poder (Foulcault). Está razão monológica evadiu-se início da modernidade.
Para Rouanet o caso brasileiro do irracionalismo, erradicado na esfera sistêmica – a razão do Estado e a razão econômica – durante os 20 anos do regime autoritário, não sendo possível contestá-lo senão contestando a própria Razão.
Findo o bloqueio a sociedade civil, falta a vontade de conduzir a argumentação, pois a razão havia se identificado com o poder deposto e este irracionalismo provoca uma sensação confusa de pesadelo pois parecia novo, após um período de latência (Freud – amnésia parcial), retomando teorias não evoluídas e com realidades diferentes as dos anos 60, não havendo a sofisticação teórica com que haviam sido abordadas na origem, transformando-se pela recordação  imperfeita, numa tese empirista ingênua e antidialética. Repetimos velhos protótipos na ilusão triunfal de estarmos desbravando novos continentes.
A crise da modernidade
Adorno prega morte da Modernidade, seu atestado de óbito, a pós-modernidade, enterrando a rigidez cadavérica do modernismo. A modernidade econômica, política e cultural estão mortas. A ciência moderna legitimava-se no discurso Iluminista da emancipação pela revolução do saber e a pós-modernidade pela paralogia (silogismo não intencional), permeando todos os gêneros estéticos.
O autor (Rouanet) então questiona a denominação (auticassificatória ou designada pelos críticos e teóricos) da pós-modernidade. Entende Rouanet que o termo sugere uma ruptura com a modernidade e seus conceitos, o que o autor acredita não haver ocorrido. Primeiro porque o capitalismo pelo ponto de vista do autor já nasceu pós-moderno, imanente da própria lógica do sistema, e na política, entende não haver surgido novos atores ou movimentos, e sim realização de tendências básicas do liberalismo moderno.
A posição epistemológica sobre o pós-modernismo, baseia-se, segundo o autor, num mal-entendido fundamental. Mostra como a relação ambígua entre os temos não representa a ruptura e por essa perspectiva, identifica-a como neomodernista.
A crise da Ilustração.
Para representar o conceito de ilustração o autor sugere reservar o termo apenas para a corrente de idéias surgidas no século XVIII. e desvincula a Iluminismo de qualquer época em específico, ou seja transcendente à própria história e argumenta que se o Iluminismo ainda existe hoje, ele não possui identidade conceitual própria, mas partindo do conceito da Ilustração, se confronta com ela, critica-a, salva-a em seus momentos positivos e considera-se madura a partir da autoconsciência. Retifica e atualiza o legado da Ilustração.
Partindo desse princípio, afirma existir ainda hoje pensadores iluministas, que, mesmo não se considerando assim, prossegue no trabalho do Iluminismo, argumentando que a crítica Iluminista assume, assim, a perspectiva conceituada como neomoderna, não idealizando nem rejeitando a modernidade, mas sempre que necessário utiliza-se das grandes teorias desenvolvidas pela própria modernidade.
Foucault e a Modernidade
Na expectativa de convencer sobre sua teoria o autor percorre o discurso de Foucault com a nítida intenção de desqualifica-lo como pensador pós-modernista e argumenta que não encontra provas da pós-modernidade (fundamentada na atitude com reação a modernidade cultural). Rouanet por fim faz uma inquisição sobre onde estão as provas do divisor de águas entre o modernismo e o pós-modernismo. (No Iluminismo? Na denúncia da ciência?, da razão? na recusa do progresso? etc.), tudo isto para justificar o conceito de neomodernismo, base de sua teoria.
Conclusão
A critica à modernidade e pós-modernidade a partir da crítica e da razão, parece carecer de fundamentações que não sejam excludentes, ou seja, atribuir o rótulo de modernistas, iluministas aos pensadores do pós-modernismo para justificar argumentos de um conceito neomodernista e propor um resgate crítico do conceito de razão, do projeto de modernidade e da “Ilustração”, tem qualquer coisa de (para usar palavras do próprio autor) paralogia.

A hipótese de pós-modernidade de Lyotard

Walter José Maria Filho
A Condição Pós-Moderna fez do francês Jean-François Lyotard uma celebridade no panorama estreito da filosofia atual. Obra analisada, atacada e estudada apaixonadamente tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, fez do seu autor um pensador incontornável, referência importante quando o assunto é o “pós-moderno”: um conceito complexo, obscuro e controvertido.
A Condição Pós-Moderna foi lançado na França em 1979 pela Les Éditions Minuit, a mesma legendária editora de Gilles Deleuze, Pierre Clastres, Jacques Derrida, e Georges Bataille, time que causa calafrios na mentalidade norte-americana, ciosa da sua curta tradição filosófica. No Brasil a obra apareceu apenas em 1986 , traduzida com o título impreciso de O Pós-Moderno, que foi mantido até a quarta edição.
Nesta quinta edição a editora José Olímpio dá à obra um tratamento digno de sua importância. Além da correção do título, foi adicionado um pósfácio escrito pelo escritor e crítico Silviano Santiago, que, juntamente com o bom prefácio de Wilmar do Valle Barbosa e as orelhas escritas por Ítalo Moriconi, dá ao leitor uma boa base para a compreensão do livro.
Esses textos esclarecem o contexto histórico do livro e a importância de seu autor para o pensamento contemporâneo.
Ser atual e contemporâneo parece ter sido uma das grandes preocupações do eclético Lyotard ao longo dos seus 73 anos de vida (ele morreu em abril de 98).
Nos anos 60, o autor participou das correntes revolucionárias e libertárias do pensamento francês, fazendo parte do grupo de redatores da revista Socialismo e Barbárie ao lado de Claude Leford e C. Castoriadis. Nos anos 70, Lyotard dirige seu pensamento no sentido de investigar a relação entre Marx e Freud. Dessa época são as obras Dérive à partir de Marx et Freud (73) e Économie Libidinale (74). Nelas o filósofo radicaliza seus pontos de vista, mostrando o que há de passional na economia política e o que há de político na paixão.
Lyotard é influenciado por Georges Bataille, Gilles Deleuze e Pierre Klossovsky – filósofos-literatos e livre-pensadores, defensores do desejo contra a solidez dos sistemas filosóficos rígidos –, grupo do qual passa a fazer parte e que dá a ele bússolas de orientação para o seu pensamento.
A Condição Pós-Moderna marca uma mudança metodológica ou uma troca de paradigma, já que o seu autor saí aparentemente do âmbito do pensamento francês na linha Foucault e Deleuze (por exemplo), para entrar de cabeça na área do pragmatismo americano e da filosofia da linguagem que se encaminha na linha de Wittgenstein.
O tema do livro é também a mudança de paradigma filosófico, motivada pelos novos tempos, já que parte da hipótese (ele usa esta palavra) de que o saber muda de estatuto à medida em que “as sociedades entram na idade pós-industrial e as culturas na idade pós-moderna”. (pag.3)
Lyotard parte da constatação de que o discurso do saber científico sofre uma grande e irresistível mudança graças à informática e a tudo que se relaciona a ela. O que afeta principalmente a transmissão dos conhecimentos científicos e a pesquisa.
Paralelo a isto, corre o fato de que a eterna importância da ciência na disputa pelo poder entre os países tecnologicamente avançados faz também do saber científico uma mera mercadoria. Esta é a condição pós-moderna. Condição pós-moderna que pede, segundo Lyotard, uma filosofia bem mais de acordo com esta nova era, reduzindo a atividade filosófica ao trabalho rotineiro de legitimar a ciência. É um processo que faz com que um determinado enunciado seja considerado científico por uma comunidade de cientistas, no qual a decisão entre o verdadeiro e o falso passa pela discussão entre os indivíduos . Ele afasta as iniciativas filosóficas do passado que legitimavam a ciência através de metadiscursos, que refletiam, por exemplo, sobre o Espírito Absoluto (Hegel) e emancipação do sujeito (Escola de Frankfurt) .
Legitimação em A Condição Pós-Moderna é o abandono destes metadiscursos, que transcendem as relações sociais, e o discurso científico, em prol do vínculo social . O que não significa legitimação através do consenso como quer Jürgen Habermas em Teoria do Agir Comunicativo.
Lyotard recusa este caminho, pois a posição habermasiana vê a sociedade como um todo unificado e sistematizado, onde as regras consensuais são iguais para todos. Ele vê a sociedade adotando o conceito de jogo de linguagem do segundo Wittgenstein, como um espaço entrópico onde convivem vários e diversos jogos de linguagem, determinantes para o vínculo social entre os homens. Eles dão conta da riqueza das práticas discursivas e pragmáticas da linguagem, sendo a informática e a arte um exemplo entre elas.
Esta posição faz com que o autor seja visto quase como um anarquista por alguns americanos, que se esforçam muito para entender seu pensamento, em certos momentos ligado ainda sutilmente às idéias da dupla Deleuze e Guattari de Mille Plateaux. Mas, por outro lado, Lyotard emerge no mesmo horizonte onde se movimentam pensadores como Richard Rorty, Jürgen Habermas e um vasto elenco que adota cacoetes neopragmáticos, usando expressões como: consenso, jogos de linguagem, pragmática científica, legitimação e critérios de validade.
A Condição Pós-Moderna colocou Jean-François Lyotard no centro das atenções, por ser primeiramente um livro que aponta para várias direções, tentando enquadrar a Filosofia na irremediável novidade dos tempos atuais, cheios de mudanças e acontecimentos desconcertantes, ao mesmo tempo em se abre para a polêmica, a discussão e o diálogo. Com isso, cumpre perfeitamente a função que o seu autor traçou para ele.

A aventura da modernidade

Marshall Bermann reabriu o debate sobre a questão da modernidade em um obra que provocou polêmica nos meios intelectuais. Tomando como pressuposto um conjunto de transformações econômico-sociais pertinentes à emergência do sistema capitalista a que chama de modernização Berman busca resgatar a modernidade como experiência vital e histórica utilizando-se do pensamento de autores que classifica como modernistas.
Berman surpreenderia a modernidade em tais pensadores pela constância de determinados princípios básicos, tais como o impulso criador/inovador, a percepção da totalidade e o princípio dialético, pelo qual se experimentaria a sensação de ganho e de perda, de fascínio e de repúdio diante das transformações que se desencadeiam em turbilhão. A riqueza do pensamento de Berman remonta à retomada de autores como Marx, Baudelaire, Benjamin, ou, ainda, dos escritores russos do século XIX, como Gogol e Dostoiévski.
Centralizando sua crítica na precariedade da dimensão espaço-temporal da análise de Berman (e na falta de historicidade do conceito de modernidade), como na radical discordância da idéia de revolução subjacente, Perry Anderson ressalta que o capitalismo é descontínuo no seu processo de realização ao longo do tempo e que mesmo no século XIX ele não se encontra difundido de maneira uniforme.
Dessa forma, ao identificar a modernidade como experiência histórica desde o século XIX, Berman estaria usando um conceito deslocado de sua temporalidade histórica. Da mesma forma, ao visualizar a modernidade dentro de um período tão dilatado, Berman incorreria também num tipo de análise não classista. O resultado final é uma crítica cabal ao próprio marxismo, uma vez que sua visão, na opinião de Anderson, seria não-histórica, não-classista, não-dialética e não-revolucionária.
A resposta de Berman prende-se mais às discussões teóricas da crítica de Anderson do que às dúvidas históricas assinaladas. Assim, Berman sustenta que as respostas não são encontráveis na teoria pronta, mas sim nas condições concretas objetivas do cotidiano; da mesma forma, a revolução coletiva passa pela pessoal e os "sinais pela rua" apontam as mudanças, mas para quem está aberto para percebê-Ias. Restaria, contudo, a discussão central da não-historicidade e da ausência de dimensão classista do conceito.
Remontando à obra de Berman, não parece que ele "descole" o conceito das condições históricas objetivas que lhe dão suporte (a saber, o processo de formação e afirmação do capitalismo). É evidente, contudo, que Berman não centraliza sua análise neste processo de transformações econômico-sociais (a modernização) ou na ação classista da burguesia, mas os toma como pressupostos do seu ponto central de análise, que é o resgate da modernidade como experiência vital no pensamento de autores modernistas.
Argumentando ainda a favor da historicidade do conceito, pode-se perceber que a maior parte dos autores citados por Berman como portadores de modernidade são do século XIX, o que sem dúvida remete a este recorte temporal como o epicentro do fenômeno. Nesse sentido, é possível fazer confluir, dentro de um mesmo processo de desenvolvimento capitalista, a emergência do sistema de fábrica como forma acabada e vitoriosa e a modernidade como experiência histórica e vital.
Tomando a modernidade como vivência e traduzida em formas de ação, sentir e pensar, considera-se ser o sistema de fábrica o núcleo central que proporcionou todas estas transformações. Ele seria como o "coração" do capitalismo, ao passo que a modernidade compareceria como a expressão da "alma" daquele processo.
O que, contudo, se considera como fundamental na análise de Berman é justamente o aspecto dialético da vivência da modernidade: "[..] ser moderno é viver uma vida de paradoxo e contradição [.:] é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, tudo que é sólido desmancha no ar"'
Este processo desencadeado com o chamado "turbilhão de mudanças", que acompanharia o capitalismo desde o seu surgimento, atingiria no século XIX um ponto clímax, dando aos indivíduos a sensação de viver em dois mundos, um que se insinua e se impõe com rapidez e um que, aparentemente sólido, é superado rapidamente pelo novo.
Na posição de Berman, a contradição estaria presente na base deste mundo moderno revolucionado pelo sistema capitalista em construção. Não se trata apenas de restaurar a dialética como motor da história, mas sim de resgatar a dialética como postura vital dos indivíduos diante das transformações em cadeia.
Crê-se ser justamente esta identificação de uma postura de atração-repúdio, celebração-combate, fascínio-temor os elementos que fazem Berman retomar a leitura de Marx, Baudelaire e Benjamin. Com aguda percepção, Berman surpreende em pensadores do século XIX esta atitude de desejo de mudança mesclada com a nostalgia de um mundo que se desagregava, perante a espiral do progresso e o impacto da técnica: "[...] sentiram a modernidade como um todo, um momento em que apenas uma pequena parte do mundo era verdadeiramente moderna".
Em Marx, Berman identificaria a postura-símbolo da modernidade, uma vez que o maior crítico da burguesia experimentaria ao mesmo tempo uma admiração pelas forças que o capitalismo era capaz de desencadear. Se, por um lado, a ordem burguesa, no seu afã de destruir barreiras, daria margem ao desenvolvimento de tendências críticas ao próprio sistema, por outro lado o capitalismo seria capaz de auferir forças de suas próprias crises internas. Qual fênix em contínuo renascer das próprias cinzas, este fenômeno seria para Marx um instrumento de tensão entre a sua capacidade crítica e o seu sonho mais radical, configurando aquela postura que Gramsci definiria como o conflito entre "o pessimismo do intelecto e o otimismo da vontade".
Trata-se, sem dúvida, de uma outra leitura de Marx, mas que, a rigor, não se opõe ao Marx que disseca e desvela os mecanismos da dominação burguesa e do sistema de fábrica. Crítica e repúdio, mas também admiração, magia e fascínio pelo vigor de um sistema em construção.
Postura similar poderia ser encontrada em Baudelaire, que oscila entre a celebração da burguesia como classe e a denúncia do caráter arrasador do processo técnico trazido pela modernidade. Assim, Baudelaire tem momentos nos quais legitima a propriedade, como fonte de poder e sinônimo de força, consagrando o direito de mando da burguesia como justo.
No seu texto sobre o "Salão de 1846", dedicado aos burgueses, Baudelaire afirmava: “Vós sois a maioria numerosa e inteligente; portanto vós sois a força que é a justiça”. "Uns sábios, outros proprietários; um dia radioso virá em que os sábios serão proprietários, e os proprietários sábios. Então vosso poderio será completo, e ninguém protestará contra ele. Esperando esta harmonia suprema, é justo que aqueles que não são senão proprietários aspirem a tornar-se sábios; porque a ciência é um gozo não menor que a propriedade".
Flui do texto o indicativo de que o saber e a cultura devem ter o apoio, o mecenato e a predileção da classe burguesa, complementos necessários a uma situação de predomínio sobre a sociedade que se apoiava sobre a riqueza. A ambigüidade, contudo, permanece uma constante em Baudelaire. Ora o poema das Flores do Mal aparece como o porta-voz da burguesia, como no já citado caso do Salão de 1846, ora se volta contra ela. Tome-se o caso da figura do dandy, que ocupa um lugar central na sua obra.
Ao inverso da burguesia, este não tem uma função claramente assinalada. O dandy é um diletante, um vagabundo, um boêmio, que não procura atingir outro fim senão o de celebrar por tudo e sempre a glorificação das aparências, da beleza e das sensações. Note-se a dialética que preside a personagem: é antieconômico e, como tal, antiburguês; não faz nada, tal como o antigo aristocrata, mas ao mesmo tempo é a imagem de um homem revoltado por excelência.
Tal como o artista, é produto de sua época, mas contra ela se volta, na busca de um ideal estético livre da mercantilização da vida. Por outro lado, esta mesma ordem burguesa, que fora capaz de desencadear um surto de desenvolvimento tecnológico que dotara o mundo de novos inventos, é encarada pelo escritor como catastrófica e destruidora da verdadeira arte e do belo.
Para Baudelaire, o progresso, sendo o domínio progressivo da matéria pelo homem, era, ao mesmo tempo, uma invenção da filosofia do seu tempo: "[...] idéia grotesca que floresceu sobre o terreno da fatuidade moderna, desincumbiu cada um do seu dever; livrou toda a alma de sua responsabilidade, libertou a vontade de todos os laços que lhe impunham o amor ao belo" .
Para o senso comum do homem francês, o progresso era o vapor, a eletricidade e o gás, numa evidência da superioridade industrial que lhe fazia perder a noção das diferenças que caracterizam os fenômenos do mundo físico e do mundo moral, do material e do espiritual. Nesse sentido, ao caracterizar o progresso como "moderna lanterna que jogava sombra sobre todos os objetos do conhecimento", intuía que nesta idéia mestra dos novos tempos se encontrava um elemento velador da realidade.
Extrapolando seu domínio da ordem material para a ordem da imaginação, o progresso cegava e obliterava os sentidos e o senso crítico. Mesmo admitindo que, na ordem material, se procedia um progresso incontestável, Baudelaire se perguntava qual a garantia do progresso para o amanhã, em que o futuro se apresentava como uma conquista assegurada, por meio de uma série indeterminada quanto a seus fins: "[...] o progresso indefinido não será sua mais engenhosa e sua mais cruel tortura; se, procedendo por uma opiniática negação de si mesmo, ele não será um modo de suicídio incessantemente renovado e se, fechado no círculo de fogo da lógica divina, ela não se assemelharia ao escorpião que se volta contra si mesmo com a sua terrível cauda, este eterno 'desideratum' que faz seu eterno desespero".
Resgata-se, portanto, em Baudelaire, assim como em Marx, uma atitude de ambigüidade, perante a evidência do triunfo burguês e o reconhecimento de sua capacidade transformadora da natureza e da relação entre os homens, por um lado, e as conseqüências deste processo, por outro. O alastramento do capitalismo, tendo por arauto a figura da máquina, materialização do progresso, do avanço da técnica e do engenho humano, instalaria na sociedade a crescente fascinação pelo novo, pela recente descoberta, pelo invento atraente, pelo engenho fantástico, insuspeitado até então pelos homens de outras épocas.
O século XIX foi, por excelência, um momento de transformação em múltipla escala. A população aumentara, as cidades cresceram e colocaram aos governantes toda uma sorte de exigências, desde a reordenação espacial, redesenhando as ambiências, até o cumprimento dos serviços públicos demandados pelo "viver em cidades".
Produtos novos e máquinas desconhecidas atestavam que a ciência aplicada à tecnologia era capaz de tudo ou, pelo menos, quase tudo. O valor dominante era o do progresso, caro às elites que dele faziam o esteio de uma visão de mundo triunfante e otimista e tem por corolário a confiança no homem, no indivíduo autor e motor das mudanças que cada um pode constatar na sua proximidade imediata tais como a implementação, depois a extensão da rede da estrada de ferro que são percebidas como as benfeitorias às quais o 'trabalho' ou a 'instrução' poderão permitir de participar plenamente.
O indivíduo tem então um papel a desempenhar na história coletiva, a do progresso da humanidade. Esta noção de progresso é desenvolvida com a idéia de um mundo melhor para todos. Entretanto, no quadro das transformações capitalistas também se geraram as condições miseráveis de existência e trabalho dos operários fabris e deram margem a movimentos associativos e de resistência da classe trabalhadora. Pensadores como Proudhon, Fourier e Marx opunham ao individualismo uma visão do social que solidificava o sentimento classista dos subalternos.
Em suma, a homogeneização do mundo, pretendida pelo capitalismo, tinha um verso e um reverso, que daria aos contemporâneos a sensação aludida por Berman da espiral de transformação, da postura vital de atração e repúdio, do "isto" e do "aquilo". Neste contexto, a modernidade, como sentimento, sensação, postura estética e mentalidade, traduz-se pela noção de exigência: é preciso "ser do seu tempo", "acompanhar o ritmo da história", "captar a mudança e mudar com ela", como ação e pensamento.
Como diria Baudelaire: "a modernidade é o transitório, o fugitivo, o contingente; a metade da arte, da qual a outra metade é o eterno e o imutável". Ou seja, o sistema de fábrica era capaz de, com velocidade crescente, oferecer à sociedade a última moda e a mais recente mercadoria que, contudo, já estava ameaçada de ser suplantada a cada instante pelo novo fruto da aplicação da ciência à tecnologia.
As coisas deixavam assim de ter a sua perenidade, a sua permanência, para que se privilegiasse o efêmero e o transitório. Não é por acaso, pois, que Baudelaire opusesse à modernidade-mudança uma visão da arte como o eterno e o imutável. Talvez por ser espectador e ator da "vida moderna" que ele buscou captar, Baudelaire enfatiza nesta afirmação a modernidade como o transitório, na qual se evocam os componentes mais característicos do seu tempo: a moda, a novidade, o progresso.
Há, contudo, uma outra leitura do mesmo Baudelaire, na qual ele focaliza a modernidade como um todo, sendo o eterno e o transitório seus dois componentes. Nesta outra definição, Baudelaire estaria resgatando a historicidade do conceito, que supõe a faculdade de passar de uma época a outra e de ser reconhecido como tal. Assim, a modernidade não seria só o novo, a curta temporal idade de uma época naquilo que ela tivesse de mais passageiro, como a moda.
Dessa maneira, Baudelaire apontaria para a modernidade como o "sentido da vida presente", que se renova e se historiciza em cada contexto, em cada sujeito, em cada objeto. Mais ainda, dilataria a modernidade para além da sua época, como aquilo que toca mais ao sujeito no seu tempo.
Neste ponto, há uma ambivalência no tocante à concepção do tempo e aos padrões clássicos da Antigüidade na sua confrontação com o novo e o moderno. De certa forma, o presente dos homens até então estivera sempre reorientado pelo passado, tanto no que diz respeito a uma concepção de história edificante ou mesmo da vida quanto a uma eterna e inevitável comparação com a produção artística da Antigüidade, considerada insuperável.
Com a modernidade, o presente, até aí carregado de todo o passado, se volta para o futuro. Esta sensibilidade nova para o futuro; sustentada pela idéia do progresso, arrasta uma consciência alargada sobre o tempo. Em contrapartida, o passado não estando mais fixado nem limitado numa tradição dada, o artista vai procurar vieses além da antigüidade ou do classicismo. [...] O tempo da modernidade é o presente, distinto do passado e do futuro, e simultaneamente portador dos dois. Esta nova concepção do tempo conduz o homem a conferir um valor específico à época na qual ele vive".
Não se pode, contudo, pensar que a Antigüidade pudesse estar esquecida ao longo do século XIX. Pelo contrário, ela sempre esteve presente e viva e, embora na busca de inspiração e padrões novos, adequados aos também novos tempos, Baudelaire almejava para a modernidade um status de arte antiga. Ou seja, mesmo na sua busca de superação, é ainda o padrão clássico o que prevalece como cânone.
Retomemos, contudo, o fio da meada. As transformações socioeconômicas traz idas pelo sistema de fábrica têm a sua contrapartida ou a sua outra face na modernidade, traduzida em experiências, sensações vitais e mentalidades, que  se configuraram de modo especial no século XIX. Uma destas manifestações da modernidade surpreendida nos pensadores do século passado é a atitude de ambigüidade, assinalada, como se viu, em Marx e Baudelaire.
A mesma percepção teria Benjamin, o notável pensador canhestro, que foi, se não insuperável, pelo menos brilhante no resgate de tais questões. Como refere Berman, "mesmo a mente crítica e lúcida do marxista se vê afetada pelo charme da sociedade burguesa".
Diante da fascinante Paris, Benjamin desvela as tramas da dominação do capital, mas "não tem pressa" de ser salvo. Segundo Flávio Kothe, Benjamin: "[...} adianta a caracterização da 'modernidade' pela relação que soube estabelecer, no processo de industrialização capitalista, entre desenvolvimento urbano, técnicas de reprodução e produção literária".
Mantendo ele próprio uma atitude ambivalente para com a sociedade burguesa, Benjamin, ao se debruçar sobre Baudelaire, resgata neste autor uma postura similar: "Amaldiçoa o progresso, abomina a indústria do século atual e, mesmo assim, compraz-se na atmosfera toda especial que esta indústria tem acarretado para a nossa vida de hoje".
Indo mais além na análise da ambivalência de Baudelaire, Benjamin aponta para o tema da multidão, caro aos escritores do século XIX. Para Engels e para Poe, a massa tem algo de ameaçador, mas em Baudelaire exerce uma sensação ora de repúdio, ora de atração. Ele é, ao mesmo tempo, cúmplice deste indivíduo sem rosto e sem nome e dele também busca diferenciar-se, recusando a massificação.
Foi interrogando-se sobre os conceitos baudelairianos que Benjamin articulou e amadureceu os seus, indo mais longe no seu processo de reflexão sobre a realidade. Na Paris do Segundo Império, época de Baudelaire, Benjamin procurou desvendar o processo mediante o qual se construiu o mundo material e o "espírito" do século XIX.
O crescimento da indústria, pela própria dinâmica da sua acumulação, obriga-se a aperfeiçoar constantemente os métodos produtivos, criando novas tecnologias e pondo à disposição dos consumidores nova gama de mercadorias. A concorrência capitalista que se instala é, ela própria, um poderoso estímulo na superação do novo pelo mais novo ainda, da técnica em uso por aquela que se intenta produzir.
Benjamin, todavia, não só fica na constatação do progresso naquilo que ele aparenta ser ou na forma tal como se mostra melhor qualidade, maior quantidade, maior rapidez, mas vai ao âmago daquilo que ele oculta. Não se trata apenas de colocar ao consumo das populações que se aglomeram nas cidades grande variedade de mercadorias, mas do processo mediante o qual palavras, pessoas e processos se tornam eles próprios mercadorias.
O sentido é, aqui, mais uma vez aquele empregado por Marx, fetichista e alienador, pelo qual as coisas passam a exprimir algo que não é explícito, ou se travestem de umá aparência que encobre uma essência. Daí, o recurso de Benjamin ao processo de pensar a realidade por meio de alegorias, imagens condicionadas pelo fetiche da mercadoria. Ora, o procedimento de pensar por meio de alegorias é dado quando se recorre a uma imagem sabendo que ela tem um outro significado.
A alegoria é, pois, a representação concreta de uma idéia abstrata, ou ainda o processo de "exposição de um pensamento sob forma figurada em que se representa algo para indicar outra coisa". Segundo Benjamin, é a mercantilização da vida trazida pelo capitalismo de uma forma total e globalizante que faz com que as coisas sejam apreendidas na sua aparência, quando a essência, ou o processo real que Ihes dá nascimento, é encoberta.
Segundo Rouanet: "A intenção de Benjamin era derivar do fetichismo das mercadorias todas as 'fantasmagorias' do século XIX: a da própria mercadoria, cujo valor de troca esconde seu valor de uso; a do processo capitalista em seu conjunto, em que as criações humanas assumem uma objetividade espectral em relação a seus criadores; a da cultura, cuja autonomia aparente apagou os traços de sua gênese, e a das formas de percepção espaço-temporal as fantasmagorias do tempo, ilustradas pelo jogador e pelo colecionadol; ou as do espaço, ilustrada pelos flâneurs".
Inspirado, pois, no conceito do fetichismo da mercadoria, Benjamin recorre às alegorias imagens de representação simbólica do real que assumem forma fantasmagórica da realidade. Ou seja, ainda citando Rouanet, "a fantasmagoria não é uma forma de apreensão do real, mas o próprio real". Ou seja, é a mercantilização capitalista que produz a assimilação da fantasmagoria à própria vivência dos indivíduos, que não apenas sentem e sonham as fantasmagorias como realidade, mas as convertem na sua própria realidade.
Dessa forma, entende-se que tanto a aparência quanto a essência ou o inexprimível são partes integrantes da mesma realidade.
Na sua obra inacabada As Passagens Walter Benjamin pretenderia realizar uma arqueologia da superestrutura cultural do século XIX, tendo como categoria central de análise o conceito marxista do fetichismo da mercadoria. Benjamin, todavia, foi introduzido neste conceito pela obra de Lukács, particularmente nas partes referentes à reificação e à consciência de classe.
Lukács havia retraduzido, em linguagem filosófica, a análise econômica que Marx fizera do fetichismo da mercadoria, e Benjamin pretendeu fazer o mesmo com a cultura na fase do capitalismo triunfante. Foi justamente este aspecto de autonomia que a mercadoria adquiriu em relação ao seu produtor e ao seu comprador o que mais seduziu Benjamin na análise de Marx sobre o modo de produção capitalista. Como refere Tiedmann, interpretando Benjamin: "O destino da cultura do século XIX residia precisamente neste caráter de mercadoria que, segundo Walter Benjamin, se manifestaria nos bens culturais como fantasmagoria”.
A mercadoria, ela mesma, é uma fantasmagoria,quer dizer, uma ilusão, um engano, na medida em que o valor de troca ou forma-valor recobre o valor de uso; o processo de produção capitalista em geral é uma fantasmagoria na medida em que ele aparece como um poder natural dos homens que asseguram a sua realização. Aquilo que as fantasmagorias culturais exprimem, segundo Walter Benjamin, quer dizer, a ambigüidade que se liga às relações e às produções sociais desta época, define o mundo econômico do capitalismo em Marx. É uma ambigüidade que aparece muito claramente com as máquinas que ampliam a exploração em lugar de aliviar a sorte dos homens.
Dessa forma, Benjamin pensa o século XX valendo-se do espetáculo oferecido por Paris naquilo que a modernização tem de mais concreto as passagens, os panoramas, as exposições, as remodelações urbanas, as exposições universais, as novas técnicas e inventos , mas também daquilo que se encontra encoberto e não dito: a dominação do capital sobre o trabalho, os silêncios produzidos na história pela ordem burguesa, as relações sociais subjacentes ao sistema de fábrica, a expulsão dos pobres dos centros das cidades, a defesa da propriedade em nome da ordem, o progresso do capital entendido como o progresso do social, etc., etc.
Nesse sentido, em sua proposta de fabricação-ocultação da realidade, o sistema produz as suas utopias, por meio das quais uma época é capaz de pensar i o seu futuro. Se o progresso foi uma utopia que embalou os sonhos do século XIX, os novos inventos, fruto da aplicação da ciência à tecnologia, adquiriram aos olhos da multidão o status de fantasmagorias, surgidas no mundo moderno para encantar a humanidade.
As "passagens", particularmente, representariam para Benjamin a própria alegoria do século XIX no seu mais puro espírito burguês: galerias cobertas de ferro e vidro, povoadas de lojas, "ruas inteiras" para o transeunte ver as novidades e ser visto, elas se apresentam como uma sociedade burguesa em miniatura, tal como ela gostaria de ser admirada.
O que aparece e se revela é o mundo da circulação, do comércio, da troca; o que se oculta e se retrai para a sombra é o espaço da produção onde, no "silêncio" da fábrica, se realiza a exploração do trabalho pelo capital. Ora, a função da fantasmagoria-fetiche é a transfiguração da realidade, daí o seu caráter ilusório.
Há, contudo, uma ambivalência no julgamento de Benjamin a respeito destas ilusões e imagens enganadoras que a sociedade burguesa se fabrica. "De um lado, é certo que Benjamin sublima na fantasmagoria sua função de transfiguração e de engodo. Mas, de outro lado, ele Ihes encontra igualmente e ao mesmo tempo aspectos positivos: elas são também imagens sonhos da coletividade, elas encerram as demandas utópicas daquelas que as desenvolvem. De certa forma, cada época produz os seus sonhos, mas é na sociedade dominada pelas relações capitalistas e, portanto, pela mercantilização da vida que a dimensão onírica assumiria um papel preponderante.
A história seria, sem dúvida alguma, realizada pelos homens, mas sem plano ou consciência, como se fosse num sonho, em virtude da fetichização. Portanto, as fantasmagorias, categorias benjaminianas que se equivalem ao fetiche da mercadoria de Marx, como imagens produzidas socialmente, funcionam como imagens de desejo coletivo.
Este inconsciente coletivo corresponderia a um correlato, na ordem da imaginação, da reificação no sistema de mercadorias. Nesse sentido, ao analisar a construção do imaginário social do século XIX, há que registrar, para além da dimensão racional ou intencional do engodo e da ocultação fetichizada do processo real vivido, uma outra dimensão: a da projeção do desejo coletivo, das utopias proporcionadas pela própria vivência dos indivíduos na sociedade burguesa em construção. O "efeito-maravilha" da máquina e dos novos inventos leva as pessoas a construírem seus sonhos sobre a realidade, tendo por base aquilo que se quer, que se gostaria que acontecesse e que se espera que um dia possa tornar-se real.
Esta forma de pensar, servindo-se das fantasmagorias, provém de uma percepção mítica do mundo. Refere Rolfjanz que, por uma amarga ironia, o século XIX, herdeiro do século das luzes, da razão e da ciência, que revelou o crescente domínio do homem sobre a natureza, favoreceu e reabilitou formas de representações míticas sobre a realidade. Entende o autor que o pensamento mítico não informa concretamente senão sobre a superfície das coisas e constrói uma interpretação fatalista e inexorável da realidade, como, por exemplo, com as idéias sobre o progresso ou sobre o "eterno retorno", de Nietzsche.
Se o caminho do progresso é a trilha fadada a percorrer por uma humanidade arrastada pelo turbilhão do capitalismo, o mito do "eterno retorno", ou a experiência da "eterna repetição", é recordado por Benjamin pela figura do trabalhador na usina. Condenado a repetir mecanicamente os mesmos gestos e a nunca ver a tarefa encerrada (uma vez que a produção é contínua e o trabalho parcelado, distanciando o operário do produto final), sua personagem é comparada à de Sísifo, também ele condenado a uma tarefa inglória e destinada a não ter fim.
Se tal associação mítica já fora colocada por Engels, a novidade de Benjamin constitui em supor uma similitude entre a situação das classes altas e a das baixas classes sociais. Nessa medida, "[...] a experiência da 'eterna repetição' [...] não fica restrita ao único domínio do trabalho do proletariado. Ela marca igualmente a burguesia e com ela o 'dandy' e o 'flâneur".
Trata-se, sem dúvida, de uma correlação original, estabelecendo que a monotonia do trabalho na usina é comparável ao enfado trazido pela ociosidade. Dessa forma, o sentimento de vazio da existência e o aborrecimento com uma vida sem perspectivas, verdadeira "epidemia" observada na sociedade européia da segunda metade do século XIX, fariam suas vítimas nos dois extremos sociais.
Entende-se que esta percepção benjaminiana de correlacionar os dois pólos da vida social como pacientes de um mesmo processo advém da sua concepção da realidade, vista como um todo global, interligado e, fundamentalmente, perpassado pela idéia-mestra da fantasmagoria encarado sob uma perspectiva dialética. Por outro lado, com o mito da eterna repetição, Benjamin retoma Baudelaire por meio da dialética do novo e do eternamente igual.
É ainda Rouanet que, com propriedade, explica esta ambigüidade: "sua fonte é a mercadoria-fetiche, no duplo sentido de que os artigos produzidos em massa são infinitamente idênticos e de que o seu substrato, o valor de troca, é um agente de homogeneização que permite a infinita intercambialidade dos valores equivalentes, por mais diferentes que sejam os seus valores de uso" .
Benjamin via justamente no acelerado envelhecimento das invenções e novidades brotadas do capitalismo a marca da modernidade. A moda, condenada a se renovar sem cessar, figura como o eterno retorno do novo ao ponto de ser: igualmente, a paródia desta novidade.
Neste sentido, contribui Fabrizio Desideri: "Mas o fundo contra o qual palpita o novo e o fundo do sempre-igual: o tempo vazio onde se constitui a dominação fetichista da forma-mercadoria como espectralidade: auto-envelopante que captura todas as formas do desenho metropolitano. A máscara deste espectro é a fantasmagoria. A modernidade, dominada pela fantasmagoria, tem a imagem do sonho: sua aparência histórica significa aparência onírica".
No seu intento de realizar uma arqueologia da modernidade valendo-se da análise do século XIX, Benjamin se propõe a desvelar o mundo das imagens da burguesia. É claro que essa aguda percepção de conseguir ver o sempre-igual como ilusório e resgatar o novo dos escombros do tempo passado não é tarefa para o comum dos mortais.
Decifrar o mundo burguês implica desvelar a ex-nominação burguesa. Remontando a Barthes, a burguesia se define como a classe social que não quer ser nomeada como tal. Ou seja, como fato econômico, o capital ou o capitalismo são atores explícitos responsáveis pelo progresso e pela sociedade do bem-estar.
Já como fenômeno ideológico, ela não se assume como classe e passa do real à sua representação. Ao universalizar os seus valores para a nação, para a coletividade, a burguesia se ex-nomina e se encobre na "socialização" imposta. Como já foi visto, a coletividade sonha, e ao sonhar acredita como real a imagem que lhe é posta diante dos olhos pelo sistema. A tarefa de despertar compete ao historiador materialista que, apoiado na dialética, é capaz de desfazer o charme do sonho e fazer a humanidade despertar.
A idéia-mestra do progresso, que atravessa o século e oferece aos homens de sua época a crença de que o futuro é uma conquista assegurada, é desta forma posta em discussão por Benjamin, despida do seu caráter mágico de ilusão e revelada em sua ambigüidade. Pensando de forma alegórica, é o vento do progresso que obriga o "anjo da história" a andar voltado para a frente, quando ela tende a voltar-se para trás, resgatando do passado outras propostas, vencidas e não reveladas.
Trata-se, sem dúvida, de uma nova dimensão do tempo que Benjamin inaugura, postulando "escovar a história a contrapelo", segundo a perspectiva dos I vencidos. Mas, ao fazê-loredimindo assim do passado "aquilo que não foi" em razão das forças da dominação, Benjamin desvela os mecanismos do : poder do capital. A fábrica coloca na sociedade não apenas mercadorias produzidas pelo progresso técnico, mas elabora imagens de sonho e desejo que adquirem força de realidade. Dessa forma, Benjamin, de forma alegórica, remonta ao Angelus Novus de Klee para confiar esta missão de decifrar imagens e sonhos ao materialista, histórico, capaz de desvelar a essência da ilusória imutabilidade das aparências.
Da mesma forma, Rouanet coloca nos artistas mais representativos do século  XIX a capacidade de reconhecer "a natureza alegórica da realidade enquanto condicionada pelo fetiche da mercadoria". Uma coisa, contudo, é resgatar o senso crítico presente nas mentes iluminadas dos pensadores que, de uma forma dialética, perceberam as transformações materiais e as social idades do seu tempo e cujo pensamento chegou até nós. Outra é perceber que, de forma acrítica e não consciente, aquele turbilhão de mudanças influiu nos atores sociais anônimos do processo sob a forma de senso comum, de representações mentais e de um imaginário social. Dessa forma, a modernidade do século XIX, tal como eclodiu como percepção aguda por intermédio de seus pensadores mais representativos, ocorreu também como vivência socializada pelo homem comum, que foi portador também destas ambigüidades, perplexidades e percepção de mudança.
Um ponto merece ainda ser ressaltado nas análises de Benjamin sobre a modernidade. No seu "Exposé de 1939" sobre a Paris do século XIX, Benjamin afirma que "Entretanto, este brilho e este esplendor do qual se cercava assim a socieI dade produtora de mercadorias e o sentimento ilusório de sua segurança não estão ao abrigo das ameaças". Benjamin tinha em mente tanto a débâcledo Segundo Império quanto a Comuna de Paris, com o que desfaz a aparente estabilidade da sociedade burguesa.
Nesta medida, Philippe Ivernel distingue dois fios na narrativa de Benjamin nas "Passages": a Paris da burguesia, da moda, da fantasmagoria, das forças míticas da mercadoria, e a Paris das revoltas e das revoluções, "que põe a história na hora da política tanto quanto a política na hora da história".
Este elemento de tensão, presente nas polarizações da riqueza e da pobreza e que já consta da obra de Baudelaire, é o elemento que precisa ser revelado e ser trazido à tona pelo historiador que à semelhança do trapeiro, vai recolhendo fragmentos e cacos do passado. Para Benjamin, não há mais diferença entre este "despertar" produzido pelo historiador e a ação política. A esta altura da análise, o leitor estará se perguntando se a modernidade se resumiria à interpretação ou à leitura que lhe deu Benjamin.
Certamente não. Neste ponto, poderia ser agregada ao princípio dialético presente na experiência histórica da modernidade a idéia da racional idade ocidental. Remontando a Max Weber, mas sobretudo a Hegel, Habermas acentua a íntima relação entre modernidade e racionalidade.
Na sua análise sobre o fenômeno da modernidade, Habermas distingue uma dimensão cultural, marcada pela dessacralização das visões do mundo tradicionais, e uma dimensão social, identificada por complexos de ação autonomizados (o Estado e a economia), que escapam crescentemente ao controle consciente dos indivíduos através de mecanismos anônimos e transindividuais (processo de burocratização). Embora empenhado em estabelecer uma teoria crítica sobre a sociedade, Habermas não sucumbe ao peso da identificação castradora da modernidade social sobre a modernidade cultural. Acredita na possibilidade de uma racionalidade comunicativa que, vinculando o mundo objetivo dos fatos, o mundo social das normas e o mundo subjetivo dos sentimentos, restaura as potencialidades libertadoras da modernidade como experiência histórica não acabada ou falida. Nesse sentido a modernidade é marcada pela consciência da aceleração do presente e a expectativa da heterogeneidade do futuro, o que aproxima as suas idéias às noções já levantadas de uma expectativa de mudança e sensação individual e coletiva de viver num mundo em transformação.
Por outro lado, sob uma outra perspectiva, Habermas também pensa o moderno como uma nova temporalidade, marcada pelo primado da razão, ao admitir que a modernidade "não pode nem quer tomar seus critérios de orientação de modelos de outras épocas, tendo de extrair sua normatividade de si mesma".
Na aventura da modernidade e os contraditórios caminhos do progresso, a modernidade tem sido tratada por vários autores, que lhe atribuíram diferentes tempos e sentidos.
Para Heidegger, ela teria iniciado com Descartes, na sua busca de um saber totalizante, absoluto; para Habermas, com Kant; para Sartre, com a geração literária de 1850. Em relação às artes, o seu início teria sido o Romantismo, como apontou Baudelaire, os impressionistas das décadas de 70 e 89, ou ainda ela teria seu ponto de partida no início do novo século, com as Demoiselles d'Avignon, de Picasso. Múltipla, polifacetada, contraditória, descontínua, como experiência vital, ela pressupõe mais de um olhar.
Resguardado o direito de opção e de busca de articulação entre as dimensões culturais com as condições concretas de existência, o fio condutor desta análise é o que situa a modernidade na senda da constituição do capitalismo. Assim, a base teórica desta análise é a que vai de Marx a Benjamin, ou, em outras palavras, a que trabalha com a fetichização do mundo e a transfiguração alegórica da realidade. A produção de um imaginário coletivo, traduzido em idéias-imagens da sociedade global, pode ter ou não correspondência com o que se poderia chamar de verdade social, uma vez que ele comporta utopias e, em condições capitalistas da existência, liga-se ao princípio de mercantilização da vida.
Este processo tende a configurar-se de forma sensível no século XIX, tomando-se: por base a Europa Ocidental, no momento em que triunfava o sistema de fábrica como a forma histórica mais adequada à realização da mais-valia, da elevação da produtividade, da consolidação, da dominação burguesa, do adestramento operário à disciplina do trabalho. E ainda o advento do capitalismo o elemento que possibilita o desenvolvimento do pensamento racional que, por sua vez, é responsável também pelo avanço da ciência e de sua aplicação à técnica. Nesse contexto, a modernidade é um fenômeno do domínio da cultura, da expressão do pensamento, das sensações, das mentalidades e da ideologia. Sua base nascedoura é a transformação burguesa do mundo, que dá margem a um novo sentir e agir. Neste mundo dominado pela fantasmagoria, o espetáculo da modernidade armaria o próprio palco para demonstrar a exemplaridade do sistema: as exposições universais.

Sociedade em Rede

A Revolução da Tecnologia da Informação, que revolução? No final do século XX estamos vivemos um intervalo cuja característica é a transformação de nossa "cultura material" pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organizou em torno da tecnologia da informação.
O processo de transformação tecnológica expandiu-se exponencialmente em razão de sua capacidade de criar uma interface entre campos tecnológicos mediante uma linguagem digital comum na qual a informação é gerada, armazenada, recuperada, processada e transmitida. Vivemos em um mundo que se tornou digital.
Esse é um evento histórico da mesma importância da revolução industrial do século XVIII induzindo um padrão de descontinuidade nas bases materiais da economia, sociedade e cultura. Diferentemente de qualquer outra revolução, o cerne da transformação que estamos vivendo na revolução atual refere-se às tecnologias da informação, processamento e comunicação.
O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para geração de conhecimentos e de dispositivos e de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativa entre a inovação e seu uso. Os usos das novas tecnologias de telecomunicações nas duas últimas décadas passaram por três estágios distintos: a automação de tarefas, as experiências de usos e a reconfiguração das aplicações. Nos dois primeiros estágios, o progresso da inovação tecnológica baseou-se em aprender usando. No terceiro estágio, os usuários aprenderam à tecnologia fazendo, o que acabou resultando na reconfiguração das redes e na descoberta de novas aplicações. O ciclo de realimentação entre a introdução de uma nova tecnologia, seus usos e seus desenvolvimentos em novos domínios torna-se muito mais rápido ao novo paradigma tecnológico. Consequentemente, a difusão da tecnologia amplifica seu poder de forma infinita, “à medida que os usuários apropriam-se dela e a redefinem”. Dessa forma, os usuários podem assumir o controle da tecnologia como no caso da Internet. Pela primeira vez na história, a mente humana é uma forca direta de produção, não apenas um elemento decisivo no sistema produtivo.
As novas tecnologias da informação difundiram-se pelo globo com a velocidade da luz em menos de duas décadas, entre meados dos anos 70 e 90, por meio de uma lógica que é a característica dessa revolução tecnológica: a aplicação imediata no próprio desenvolvimento da tecnologia gerada, conectando o mundo através da tecnologia da informação. Na verdade, há grandes áreas do mundo e consideráveis segmentos da população que estão desconectados do novo sistema tecnológico. As áreas desconectadas são cultural e espacialmente descontínuas.
A seqüência histórica da Revolução da Tecnologia da Informação.
A breve, porem intensa, historia da revolução da tecnologia da informação foi contada tantas vezes nos últimos anos que é desnecessário relata-la completamente. Todavia, é útil para analise nos lembrarmos dos principais eixos da transformação tecnológica em geração/processamento/transmissão da informação, colocando-os na seqüência que se deslocou rumo à formação de um novo paradigma sociotécnico.
Macromudancas da microengenharia: eletrônica e informação. Foi durante a Segunda Guerra Mundial e no período seguinte que se deram as principais descobertas tecnológicas em eletrônica, o primeiro computador programável e o transistor, fonte da microeletrônica, o verdadeiro cerne da revolução da tecnologia da informação no século XX. Porem defende-se que só na década de 70 as novas tecnologias da informação difundiram-se amplamente, acelerando seu desenvolvimento sinérgico e convergindo em um novo paradigma.
O divisor tecnológico dos anos 70. Esse sistema tecnológico, em que estivemos totalmente imersos nos anos 90, surgiu nos anos 70. As descobertas básicas nas tecnologias da informação têm algo de essencial em comum: embora baseadas principalmente nos conhecimentos já existentes e desenvolvidas como uma extensão das tecnologias mais importantes, essas tecnologias representaram um salto qualitativo na difusão maciça da tecnologia em aplicações comerciais e civis, devido a sua acessibilidade e custo cada vez menor, com qualidade cada vez maior. Podemos dizer q a Revolução da Tecnologia da Informação propriamente dita nasceu na década de 70, principalmente se nela incluirmos o surgimento e a difusão paralela da engenharia genética mais ou menos nas mesmas datas e locais. A tecnologias da vida, no inicio da década de 70, a combinação genética e a recombinação do DNA, base tecnológica da engenharia genética, possibilitaram a aplicação de conhecimentos cumulativos.
Daí para frente, houve uma corrida para a abertura de empresas comerciais. Entretanto, dificuldades científicas, problemas técnicos e obstáculos legais, oriundos de justificadas preocupações éticas e de segurança, retardaram a louvada revolução biotecnológica durante a década de 80. Um considerável valor em investimentos de capital de risco foi perdido e algumas das empresas mais inovadoras foram absorvidas por gigantes farmacêuticos.
Porém, no final da década de 80 e durante os anos 90, um grande impulso científico e uma nova geração de cientistas ousados e empreendedores revitalizaram a biotecnologia com um enfoque decisivo em engenharia genética, a tecnologia da vida verdadeiramente revolucionaria nesse campo.
Devido a sua especificidade científica e social, a difusão da engenharia genética progrediu de forma mais lenta que a eletrônica entre as décadas de 70 e90. Mas, nos anos 90, mercados mais abertos e maiores recursos educacionais e de pesquisas em todo o mundo estão acelerando a revolução biotecnológica. Todas as indicações apontam para uma explosão de aplicações na virada do milênio, que desencadeará um debate fundamental na fronteira, atualmente obscura, entre a natureza e a sociedade.
O contexto social e a dinâmica da transformação tecnológica. Os caminhos seguidos pela indústria, economia e tecnologia são, apesar de relacionados, lentos e de interação descompassada. A emergência de um novo sistema tecnológico na década de 70 deve ser atribuída à dinâmica autônoma da descoberta e difusão tecnológica, inclusive aos efeitos sinérgicos entre todas as várias principais tecnologias.
O forte impulso tecnológico dos anos 60 promovido pelo setor militar preparou a tecnologia norte-americana para o grande avanço. A primeira Revolução em. Tecnologia da Informação concentrou-se nos Estados Unidos, e até certo ponto, na. Califórnia nos anos 70, baseando-se nos progressos alcançados nas duas décadas anteriores e sob a influencia de vários fatores institucionais, econômicos e culturais. Mas não se originou de qualquer necessidade preestabelecida Foi mais o resultado de indução tecnológica que de determinação pessoal.
Ate certo ponto, a disponibilidade de novas tecnologias constituídas como um sistema na década de 70 foi uma base fundamental para o processo de reestruturação socioeconômica dos anos 80. E a utilização dessas tecnologias na década de 80 condicionou, em grande parte, seus usos e trajetórias na década de90. O surgimento da sociedade em rede não pode ser entendido sem a interação entre essas duas tendências relativamente autônomas: o desenvolvimento de novas tecnologias da informação e a tentativa da antiga sociedade de reaparelhar-se com o uso do poder da tecnologia para servir a tecnologia do poder. Sem necessidade de render-se ao relativismo histórico, pode-se dizer que a Revolução da Tecnologia da Informação dependeu cultural, histórica e espacialmente de um conjunto de circunstâncias muito especificas cujas características determinaram sua futura evolução.
Modelos, atores e locais da Revolução da Tecnologia da Informação. Se a primeira Revolução Industrial foi britânica, a primeira Revolução da Tecnologia da Informação foi norte-americana, com tendência californiana. Nos dois casos, cientistas e industriais de outros países tiveram um papel muito importante tanto na descoberta como na difusão das novas tecnologias.
A França e a Alemanha foram fontes importantes de talentos e aplicações da Revolução Industrial. As descobertas cientificas originadas na Inglaterra, França, Alemanha e Itália constituíram a base das novas tecnologias de eletrônica e biologia, A capacidade das empresas japonesas foi decisiva para a melhoria do processo de fabricação com base em eletrônica e para a penetração das tecnologias da informação na vida cotidiana mundial. O setor como um todo evoluiu rumo à interpenetração, alianças estratégicas e formação de redes entre empresas de diferentes países. As empresas, instituições e inovadores norte americanos não só participaram do inicio da revolução da década de 70 como também continuaram a representar um papel de liderança na sua expansão, posição que provavelmente se sustentara ao entrarmos no século XXI. Mas, sem duvida, testemunharemos uma presença cada vez maior de empresas japonesas, chinesas, indianas e coreanas, assim como contribuições significativas da Europa em biotecnologia e telecomunicações.
O desenvolvimento da Revolução da Tecnologia da Informação contribuiu para a formação dos meios de inovação onde as descobertas e as aplicações interagiam e eram testadas em um repetido processo de tentativa e erro: aprendia-se fazendo. Esses ambientes exigiam concentração espacial de centros de pesquisa, instituições de educação superior, empresas de tecnologia avançada, uma rede auxiliar de fornecedores, provendo bens e serviços e redes de empresas com capital de risco para financiar novos empreendimentos. Uma vez que um meio esteja consolidado, como o Vale do Silício na década de 70, ele tende a gerar sua própria dinâmica e atrair conhecimentos, investimentos e talentos de todas as partes do mundo.
Será que esse padrão social, cultural e espacial de inovação pode ser estendido para o mundo inteiro? Nossas conclusões confirmam o papel decisivo desempenhado pelos meios de inovação no desenvolvimento da Revolução da Tecnologia da Informação: concentração de conhecimentos científicos/tecnológicos, instituições, empresas e mão de obra qualificada são as forjas da inovação da Era da Informação. Porém, esses meios não precisam reproduzir o padrão cultural, espacial, institucional e espacial do Vale do Silício ou de outros centros norte-americanos de inovação tecnológica, como o sul da Califórnia, Boston, Seattle ou Austin.
Foi o Estado, e não o empreendedor de inovações em garagens, que iniciou a Revolução da Tecnologia da Informação tanto nos EUA como em todo o mundo. Porém, sem esses empresários inovadores, como os que deram inicio ao Vale do Silício ou aos clones de PCs em Taiwan, a Revolução da Tecnologia da Informação teria adquirido características muito diferentes e é improvável que tivesse evoluído para a forma de dispositivos tecnológicos flexíveis e descentralizados que estão se difundindo por todas as esferas da atividade humana. Na realidade, é mediante essa interface entre os programas de macro pesquisa e grandes mercados desenvolvidos pelos governos, por um lado, e a inovação descentralizada estimulada por uma cultura de criatividade tecnológica e por modelos de sucesso pessoais rápidos, por outro, que as novas tecnologias da informação prosperam. No processo, essas tecnologias agruparam-se em torno de redes de empresas, organizações e instituições para formar um novo paradigma sócio técnico.
O paradigma da tecnologia da informação. A primeira característica do novo paradigma é que a informação é sua matéria prima: são tecnologias para agir sobre a informação, não apenas informação para agir sobre a tecnologia, como foi o caso das revoluções tecnológicas anteriores. O segundo aspecto refere-se à penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias. Como a informação é uma parte integral de toda atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e coletiva são diretamente moldados (embora, com certeza, não determinados) pelo novo meio tecnológico. A terceira característica refere-se à lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações, usando essas novas tecnologias da informação. Em quarto lugar, referente aos sistemas de redes, mas sendo um aspecto claramente distinto, o paradigma da tecnologia da informação é baseado na flexibilidade. Não apenas os processos são reversíveis, nas organizações e instituições podem ser modificadas, e ate mesmo fundamentalmente alterada, pela reorganização de seus componentes. Uma quinta característica dessa revolução tecnológica é a crescente convergência de tecnologias especificas para um sistema altamente integrado, no qual trajetórias tecnológicas antigas ficam literalmente impossíveis de se distinguir em separado.
A dimensão social da Revolução da Tecnologia da Informação parece destinada a cumprir a lei sobre a relação entre a tecnologia e a sociedade proposta de algum tempo atrás por Melvin Kranzberg: "A primeira lei de Kranzberg diz: A tecnologia não é nem boa, nem ruim, e também não é neutra." É uma força que provavelmente está, mais do que nunca, sob o atual paradigma tecnológico que penetra no âmago da vida e da mente. Mas seu verdadeiro uso na esfera da adição social consciente e complexa matriz de interação entre as forcas tecnológicas liberadas por nossa espécie e a espécie em si não questões mais de investigação que de destino.
A economia e o processo de globalização introduziram uma nova economia, informacional e global, surgiu nas duas últimas décadas. É informacional, porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes nessa economia dependem basicamente da sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente à informação baseada em conhecimentos. É global porque as principais atividades produtivas estão organizadas em escala global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre agentes econômicos. É informacional e global porque a produtividade é gerada e a concorrência é feita em uma rede global de interação.
Produtividade, competitividade e a economia informal o enigma da produtividade.
Foi por meio do aumento da produção por unidade de insumo no tempo que a raça humana conseguiu comandar as forças da Natureza. Os caminhos específicos do aumento da produtividade definem a estrutura e a dinâmica de um determinado sistema econômico. Se houver uma nova economia informacional, deveremos identificar as fontes de produtividade que distinguem essa economia.
O aumento da produção por hora de trabalho não era resultado de adição de mão-de-obra e apenas ligeiramente de adição de capital, mas vinha de outra fonte, expressa como um residual estatístico em sua equação da função de produção. Economistas, sociólogos e historiadores econômicos não hesitaram em interpretar o "residual" como sendo correspondente a transformações tecnológicas. Nas elaborações mais precisas, "ciência e tecnologia" eram compreendidas em sentido amplo: a tecnologia voltada para o gerenciamento foi considerada tão importante quanto o gerenciamento da tecnologia. Afirmar que a produtividade gera crescimento econômico e que ela é uma função da transformação tecnológica equivale a dizer que as características da sociedade são os fatores cruciais subjacentes ao crescimento econômico, por seu impacto na inovação tecnológica.
A produtividade baseada em conhecimentos é específica da economia informacional?Demonstrou-se o papel fundamental desempenhado pela tecnologia no crescimento da economia, via aumento da produtividade, durante toda a história e especialmente na era industrial. A hipótese do papel decisivo da tecnologia como fonte da produtividade nas economias avançadas também parece conseguir abranger a maior parte da experiência passada de crescimento econômico, permeando diferentes tradições intelectuais em teoria econômica.
Houve uma proporção significativa da desaceleração da produtividade, que é resultado da crescente inadequação de estatísticas econômicas ao captarem os movimentos da nova economia informacional, exatamente devido ao amplo escopo de suas transformações sob o impacto da tecnologia da informação e das mudanças organizacionais conexas.
Pode ser que a produtividade não esteja desaparecendo, e sim aumentando por vias parcialmente obscuras em círculos em expansão. A tecnologia e o gerenciamento da tecnologia poderiam estar se difundindo a partir da produção da tecnologia da informação, telecomunicações e serviços financeiros, alcançando em grande parte a atividade industrial e depois os serviços empresariais. Mas o quadro ainda é confuso, pois no momento os dados são insuficientes para estabelecer uma tendência. Estes podem servir de base para a compreensão da economia informacional, mas não conseguem informar a história real.
Informacionalismo e capitalismo, produtividade e lucratividade a longo prazo, a produtividade é a fonte da riqueza das nações. E a tecnologia é o principal fator que induz a produtividade. Mas esta não é um objeto em si. E o investimento em tecnologia também não é feito por causa da inovação tecnológica.
Empresas e nações são os verdadeiros agentes do crescimento econômico.
Comportam-se em um determinado contexto histórico, conforme as regras de um sistema econômico. Assim, as empresas estão motivadas não pela produtividade, e sim pela lucratividade. E as instituições políticas estarão voltadas para a maximização da competitividade de suas economias, A lucratividade e a competitividade são os verdadeiros determinantes da inovação tecnológica e do crescimento da produtividade.
O processo de globalização realimenta o crescimento da produtividade, visto que as empresas melhoram seu desempenho quando encaram maior concorrência mundial. A via que conecta a tecnologia da informação, as mudanças organizacionais e o crescimento da produtividade passam pela concorrência global.
Foi desse modo que a busca da lucratividade pelas empresas e a mobilização das nações a favor da competitividade induziram arranjos variáveis na nova equação histórica entre a tecnologia e a produtividade. No processo, foi criada e moldada uma nova economia global que pode ser considerada o traço mais típico e importante do capitalismo informacional.
A repolitização do capitalismo informacional os interesses políticos específicos do Estado ficam diretamente ligados ao destino da concorrência econômica das empresas. A nova forma de intervenção estatal na economia une a competitividade, a produtividade e a tecnologia. Apolítica e a produtividade ficam interligadas, tornando-se instrumentos fundamentais para a competitividade.
Por causa da interdependência e abertura da economia internacional, os Estados devem empenhar-se em promover o desenvolvimento de estratégias em nome de seu empresariado.
A economia informacional global é uma economia muito politizada, e a grande concorrência de mercado em escala global ocorre sob condições de comércio administrado. A nova economia, baseada em reestruturação sócio-econômica e revolução tecnológica será moldada, até certo ponto, de acordo com os processos políticos desenvolvidos no e pelo Estado.
A economia global: gênese, estrutura e dinâmica uma economia global é uma economia com capacidade de funcionar como uma unidade em tempo real, em escala planetária. No final do século XX a economia mundial conseguiu tornar-se verdadeiramente global com base na nova infra-estrutura, propiciada pelas tecnologias da informação e comunicação. Essa globalidade envolve os principais processos e elementos do sistema econômico.
As novas tecnologias permitem que o capital seja transportado de um lado para o outro entre economias em curtíssimo prazo, de forma que o capital está interconectado em todo o mundo. Os fluxos de capital tornam-se globais, e ao mesmo tempo, cada vez mais autônomos vis-à-vis o desempenho real das economias.
A mais importante transformação subjacente ao surgimento da economia global diz respeito ao gerenciamento da produção e distribuição e ao próprio processo produtivo. O que é fundamental nessa estrutura industrial é que ela está disseminada pelos territórios em todo o globo e sua geometria muda constantemente no todo e em cada unidade individual. O mais importante elemento para uma estratégia administrativa bem sucedida é posicionar a empresa na rede, de modo a ganhar vantagem competitiva para sua posição relativa.
A mais nova divisão internacional do trabalho a economia global resultante da produção e concorrência com base informacional caracteriza-se por sua interdependência, assimetria, regionalização, crescente diversificação dentro de cada região, inclusão seletiva, segmentação excludente e, em conseqüência de todos esses fatores, por uma geometria extraordinariamente variável que tende a desintegrar a geografia econômica e histórica.
A arquitetura e a geometria da economia informacional/global a estrutura dessa economia caracteriza-se pela combinação de uma estrutura permanente e uma geometria variável. A arquitetura da economia global apresenta um mundo assimétrico interdependente, organizado em trono de três regiões econômicas principais (Europa, América do Norte e região do Pacífico asiático) e cada vez mais polarizado ao longo de um eixo de oposição , entre as áreas prósperas produtivas e ricas em informação e as áreas empobrecidas, sem valor econômico, e atingidas pela exclusão social. A interligação dos processos econômicos entre as três regiões torna seu destino praticamente inseparável.
A mais nova divisão internacional do trabalho está disposta em quatro posições diferentes na economia informacional/global: produtores de alto valor com base no trabalho informacional; produtores de grande volume baseado no trabalho demais baixo custo; produtores de matérias-primas que se baseiam em recursos naturais; e os produtores redundantes, reduzidos ao trabalho desvalorizado. A questão crucial é que essas posições diferentes não coincidem com países. São organizadas em redes e fluxos, utilizando a infra-estrutura tecnológica da economia informacional.
A posição da divisão internacional do trabalho depende das características de sua mão-de-obra e de sua inserção na economia global. A mais nova divisão internacional do trabalho está organizada com base em trabalho e tecnologia, mas é implementada e modificada por governos e empreendedores.
A empresa em rede: A cultura, As instituições, E as organizações de economia informal a economia informal é caracterizada por cultura instituições especificas, onde tal cultura necessária para o desenvolvimento e constituição de um sistema econômico é realizada nas lógicas organizacionais, de acordo com o conceito de Nicole Biggart: "... por lógicas organizacionais, refiro-me a um principio legitimador elaborado em uma série de praticas sociais derivativas. Em outras palavras, lógicas organizacionais são as bases ide acionais para as relações das autoridades institucionalizadas.” Minha tese então parte do principio que a economia informacional surge do desenvolvimento de uma lógica organizacional e da atual transformação tecnológica. A respeito disso podemos citar a trajetória do industrialismo para o informacionalismo na reestruturação econômica dos anos 80, causada pela crise de lucratividade do processo de acumulação de capital da década de 70. Como principais pontos dessa reestruturação: divisão na organização da produção e dos mercados na economia global;as transformações organizacionais interagiram com a difusão da tecnologia de informação, mesmo sendo independentes uma da outra;Essas transformações organizacionais visavam lidar com a incerteza causada pelas velozes mudanças no ambiente econômico, institucional, tecnológico da empresa;Introdução do modelo de "produção enxuta", visando economizar mão-de-obra, eliminar tarefas e suprimir camadas administrativas, mediante automação.
Muitas foram às transformações organizacionais, cada uma seguindo uma certa tendência que ao todo deram impulso para a reestruturação do capitalismo vigente nos anos 70. Uma das principais tendências da evolução organizacional foi à passagem da produção em massa; norteada pela integração vertical, seguido da divisão social e técnica de trabalho; para a produção flexível a qual se adequava melhor a imprevisível demanda do mercado, qualitativa ou quantitativa, ou ainda as transformações tecnológicas e as diversificações dos mercados. Portanto essa flexibilidade na produção traz consigo a idéia de adequação ao mercado (flexibilidade do produto) e transformação tecnológica (flexibilidade do processo).
Como Segunda tendência a ser estudada, temos vigente aumento do poder econômico das pequenas e médias empresas, bem compatíveis com o processo de produção flexível. Mesmo estando ainda sob o controle tecnológico e financeiro das grandes empresas estão dando essas ultimas o dinamismo necessário na nova conjuntura econômica global. A terceira tendência diz respeito aos novos métodos de gerenciamento empresarial, o "toyotismo" , adaptado à economia global e à produção flexível.
Suas bases são: sistema de fornecimento "Kan-Kan" (just in time), no qual os estoques são eliminados ou reduzidos substancialmente no exato momento da solicitação e com características especificas do comprador;controle de qualidade total ao longo do processo produtivo;envolvimento dos trabalhadores no processo produtivo;mão-de-obra multifuncional, sem especialização em uma única função;prêmios por trabalho e poucos símbolos de status na vida da empresa.
Dessa forma caracterizamos o "toyotismo" como um sistema de gerenciamento que mais reduz as incertezas do que estimula a adaptabilidade, um "pós-fordismo” baseado nos "5 zeros" (zero defeitos de peças, zero danos nas maquinas, estoque zero, danos zero e burocracia zero).
Citaremos também a formação de redes entre pequenas empresas com gerenciamento das grandes empresas e as alianças entre empresas de grande porte em relação aparte do mercado. Sendo essas duas tendências resultado da interação entre as mudanças organizacionais e a tecnologia da informação (digitalização das telecomunicações, transmissão em banda larga e melhoria nos computadores em rede), uma mistura que gerou a "empresa em rede", que processa e gera informações para melhor adaptação para o mercado mundial.
Sabendo que a organização econômica baseia-se na cultura, história e nas instituições; a economia fundada na "empresa em rede" encaixa-se como "uma luva” nos moldes asiáticos ao ponto de distinguirmos três tipos de rede no leste asiático:a rede japonesa: grandes empresas que são donas umas das outras, onde as empresas principais são dirigidas por administradores;a rede coreana baseada nas "zaibatsus" japonesas, onde as empresas são controladas por uma holding financiada por bancos e companhias trading governamentais, pertencentes a uma pessoa ou família;a rede chinesa: empresas familiares, rede de empresas de diversos setores onde o lema é "família cresce empresa cresce” A diferença básica entre esses modelos de empresas em rede esta fundamentalmente no papel do Estado na economia. Por exemplo: no Japão o Estado foi responsável pelo inicio da industrialização (zaibatsus de origem feudal) e hoje da um suporte a essa indústria através da facilitação de empréstimos bancários, política de apoio fiscal e acordos internacionais, sendo o Japão o grande influenciador de Coréia e Taiwan; já na China o Estado sempre teve um papel inconstante, onde ora requisitava a indústria ora impelia á elas rigorosos impostos, dando pouco incentivos às indústrias e fazendo essas últimas voltarem separa as famílias, apesar de muitos progressos atuais serem devidos a planos econômicos governamentais.
Mas até que ponto as empresas em rede modificaram a economia global, e as multinacionais? A resposta é simples, hoje as multinacionais fugiram do seu antigo modelo vertical, e apresentam-se ou como a principal dentre outras empresas em rede, ou formam alianças de cooperação entre elas, o que mesmo assim não mais lhe dão o titulo de centro da economia global, pois o mercado voltou a ser imprevisível movido por estratégias e descobertas redirecionadas por redes globais de informação.
Portanto podemos definir que o atual estágio do capitalismo é definido por alterações causadas pelo informacionalismo, surgido a partir das mesmas necessidades que norteiam até hoje a vida do capitalismo: espírito empresarial de acumulação, e o constante apelo ao consumismo, e tudo isso acompanhado pela evolução tecnológica, seja nas telecomunicações ou nos softwares; concorrência global de mercado, grau de intervenção estatal; características das 3 ultimas que regem o coração da atual economia mundial, "“ empresa em rede “4 - A transformação do trabalho e do mercado de trabalho: trabalhadores ativos na rede, desempregados e trabalhadores com jornada flexível”.
A evolução histórica da estrutura ocupacional e do emprego nos paises capitalistas avançados o G7 De 1920 A 2005. Para o autor em qualquer processo de transição histórica, uma das expressões de mudança e a transformação da estrutura ocupacional, ou seja, a transformação das categorias ocupacionais e do emprego. O próprio pos-industrialismo detecta o aparecimento de uma nova estrutura social a partir da mudança de produtos para serviços, pelo surgimento de profissões administrativas e especializadas, pelo fim do emprego rural e industrial e pelo aumento do conteúdo de informação no trabalho das economias mais avançadas. Porem para o autor o problema e que essas formulações trazem uma espécie de lei natural das economias e sociedades que devem seguir um único caminho na trajetória da modernidade lideradas pela sociedade norte-americana. O autor traz uma abordagem diferente já que ele enxerga uma variação histórica de modelos de mercado de trabalho segundo as instituições, a cultura e os ambientes políticos específicos de cada pais. Para isto ele examinou a evolução do mercado de trabalho dos paises do G-7 entre 1920e 1990. Todos eles estão num estagio avançado de transição a sociedade informacional logo podem ser vistos com o surgimento de novos modelos de mercado de trabalho; ao mesmo tempo possui cultura e sistemas institucionais muito diferentes o que nos permite, segundo o autor, verificar a dita variação histórica. A partir desta analise o autor conduz a sua pesquisa no sentido demonstrar que outras sociedades em outros níveis de desenvolvimento não necessariamente teriam que seguir a trajetória dos países do G-7.
O pos-industrialismo, a economia de serviços e a sociedade informacional o autor analisa e faz ressalvas a três afirmações da teoria clássica do posindustrialismo: (a) A fonte de produtividade reside na geração de conhecimento mediante o processamento de informação (b) a atividade econômica mudaria de produção de bens pra prestação de serviços.
Quanto mais avançada a economia, mais seu mercado de trabalho e sua produção seriam concentrados em serviços.
(c) A nova economia aumentaria sobremaneira a importância de profissões com grande conteúdo de informação: Administrativas, especializadas e técnicas.
Para o autor a distinção entre as economias dentro do processo histórico deve ser visto não como a distinção entre uma economia industrial e uma pós-industrial, mas entre duas formas de produção industrial, rural e de serviços baseadas em conhecimentos. Em outras palavras o conhecimento sempre foi e será imprescindível na evolução das economias o que acontece e que o seu uso em diferentes épocas gera diferentes processos econômicos.
Já a segunda afirmação (b), o autor rebate com o fato de que muitos serviços dependem de conexão direta com a indústria e também com a importância da atividade industrial no PNB dos países ricos.
Alem disso pra ele o conceito de serviços e ambíguo se não errôneo já que este conceito abarca tudo o que não é agricultura, mineração, construção, empresas de serviços publico ou indústria. Alem do que muitos processos cruciais da era da informação não permitem a distinção entre "bens" e "serviços agregados" como, por exemplo, softwares, agropecuária com base em biotecnologia dentre outros.
O terceiro prognostico pós-industrialista requer segundo o livro alguma restrição na medida em que simultâneo a esta tendência há também o crescimento das profissões em serviços mais simples e menos qualificados, profissões que teriam um crescimento mais lento, mas continuo.
Para Manuel Castells e preciso se fazer um exame mais aprofundado no conteúdo real destas classificações antes de caracterizar o nosso futuro como uma república da elite instruída.
No entanto o argumento mais importante contra esta versão simplista do pos-industrialismo e a critica a suposição de que as três características examinadas se unem na evolução histórica e que essa evolução leva a um modelo único da sociedade informacional. E preciso separar o que pertence à estrutura da sociedade informacional daquilo que é especifico a trajetória histórica de determinado pais. Trabalhando nesta direção o autor compila diversos dados do setor de serviços dos paises ricos na tentativa de diferenciá-los.
A transformação na estrutura do emprego - 1920-70 e 1970-90De 1920-70 e 1970-90 podemos ter uma distinção analítica entre os dois períodos durante o primeiro período as sociedades em exame tornaram-se pós-rurais, enquanto no segundo período elas tornaram-se pós-industriais. Ou seja, houve queda do emprego rural no primeiro caso e queda do emprego industrial no segundo.
Em seguida o autor faz uma analise na evolução histórica do setor de serviços nesses paises do G-7, essencial pra entendermos todo este processo. Serviços relacionados à produção: São considerados estratégicos dentro da nova economia fornecem informação e suporte para o aumento da produção, portanto, sua expansão devera seguir de mãos dadas com o aumento da sofisticação e produtividade da economia. E de fato nos dois períodos (1920-70 e 1970-90), observamos uma expansão significativa do emprego nestas atividades em todos os paises considerados.
Serviços sociais: Além de caracterizar as sociedades pós-industriais representa entre 1/5 e ¼ do total de empregos dos paises do G-7. Mas a sua expansão esta mais relacionada ao impacto dos movimentos sociais do que ao advento do pos-industrialismo, principalmente nos anos 60. No geral, podemos dizer que, embora o alto nível de expansão do emprego em serviços sociais seja uma característica de todas as sociedades avançadas, o ritmo dessa expansão parece depender mais diretamente da relação entre o Estado e a sociedade do que do estágio de desenvolvimento da economia.
Serviços de distribuição: combinam transportes e comunicações – atividades relacionadas de todas as economias avançadas - com o comercio no atacado e a varejo, atividades supostamente típicas do setor de serviços das sociedades menos industrializadas. Igualmente ao serviços sociais, os serviços de distribuição representam entre 1/5 e ¼ do total de empregos.
Serviços pessoais: Ao enfocar os empregos ligados a "bares, restaurantes e similares", encontramos uma expansão significativa desses postos de trabalho nos últimos vinte anos. A principal observação a ser feita sobre o mercado de trabalho do setor de serviços pessoais e que esses empregos não estão desaparecendo nas economias avançadas. Portanto, e possível afirmar que as mudanças da estrutura social/econômica dizem respeito mais ao tipo de serviços e ao tipo de emprego do que as atividades em si.
Em resumo, para Manuel Castells, o que acontece com o pos-industrialismo e uma diversidade cada vez maior de atividades que torna obsoletas as categorias de emprego. Mas não parece que grande produtividade, estabilidade social e competitividade internacional estejam diretamente associadas ao mais alto nível de emprego em serviços ou processamento de informação. Desse modo, quando as sociedades decretam o fim do emprego industrial ao invés da modernização das industrias, não e porque necessariamente são mais avançadas, mas porque seguem políticas e estratégias específicas baseadas em seu pano de fundo cultural, social e político.
A nova estrutura ocupacional, o autor ressalta alguns pontos importantes da nova estrutura ocupacional dentre eles a diversidade do emprego, dentro deste fator uma ressalva importante e a variação da proporção da mão-de-obra semi qualificada no setor de serviços principalmente nos EUA, Canadá e na Alemanha, bem menor no Japão, Franca e Itália, países que de certa forma preservam mais as atividades tradicionais como a rural e comercial. Isso se deve ao fato do modelo norte-americano caminhar para o informacionalismo mediante a substituição das antigas profissões pelas novas. O modelo japonês também caminha para o informacionalismo, mas segue uma rota diferente: aumenta o número de novas profissões, mas as antigas são redefinidas; já os países europeus seguem um misto das duas tendências.
Por falar em tendência uma, certamente, aponta para o aumento do peso relativo das profissões mais claramente informacionais (administradores, profissionais especializados e técnicos), bem como das profissões ligadas a serviços de escritório em geral (inclusive funcionários administrativos e de vendas).
Tendo primeiro falado da diversidade, Manuel Castells também aponta uma outra tendência que é a maior presença de conteúdo informacional na estrutura ocupacional das sociedades avançadas, apesar de seus sistemas culturais/sociais. Dessa forma o perfil profissional das sociedades informacionais, de acordo com sua emergência histórica, será muito mais diverso que o imaginado pela visão seminaturalista das teorias pós-industrialistas, direcionadas por um etnocentrismo norte-americano que não representa toda a experiência dos Estados Unidos. O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o século XXIO autor analisou os EUA e o Japão em termos de suas projeções de emprego e para os EUA a estrutura futura do mercado de trabalho combina intimamente com o projeto original da sociedade informacional: o emprego rural está sendo eliminado pouco a pouco, o emprego industrial continuara a declinar, embora em ritmo mais lento, sendo reduzido aos elementos principais da categoria de artífices e trabalhadores do setor de engenharia. A maior parte do impacto da produção industrial sobre o emprego será transferida aos serviços voltados para a indústria. Os serviços relacionados à produção, bem como à saúde e educação lideram o crescimento do emprego em termos percentuais, também se tornando cada vez mais importantes em termos de números absolutos; os empregos dos setores varejista e de serviços continuam a engrossar as fileiras de atividades de baixa qualificação na nova economia. Já no caso do Japão, projeta-se um aumento impressionante no setor de serviços, revelando o crescente papel das atividades que fazem uso intensivo de informação na economia japonesa. Os dados também parecem indicar o aumento crescente da profissionalização dos trabalhadores de nível médio e a especialização das tarefas relativas ao processamento da informação e a geração de conhecimentos. Pelas projeções as categorias de operadores e artífices declinarão, mas ainda representarão mais de ¼ da forca de trabalho em 2005. Dessa forma as projeções do mercado de trabalho nos EUA e no Japão parecem continuaras tendências observadas para o período de 1970-90. São nitidamente duas diferentes estruturas ocupacionais e do emprego correspondentes a duas sociedades que podem ser igualmente rotuladas de informacionais, mas com crescimentos bem distintos no crescimento da produtividade, na competitividade econômica e na coesão social.
Em termos gerais, a hipótese genérica de trajetos diversos para o paradigma informacional dentro de um padrão comum de mercado de trabalho parece ser confirmada pelo teste restrito das projeções apresentadas. Há uma forca de trabalho global? Para o autor embora o capital flua com liberdade, o mesmo não acontece com a força de trabalho mesmo havendo um mercado globalizado isto de deve muitas vezes a fatores como xenofobia, cultura, política, dentre outros aspectos. Afirma ainda que no ano de 1993, por exemplo, apenas 1, 5% da força de trabalho global atuaram fora de seu país que deste total, metade estava na África subsaariana e no Oriente Médio.
Segundo o livro, há de fato, um mercado global para uma fração minúscula da força de trabalho composta por profissionais com a mais alta especialização. No texto o autor apresenta diversos dados em diferentes paises e épocas mostrando que embora haja problemas de imigração em diversos paises ricos, não significa que exista uma globalização da forca de trabalho. Contudo, afirma o autor, há uma tendência histórica para acrescente interdependência da forca de trabalho em escala global por intermédio de três mecanismos: emprego global nas empresas multinacionais; impactos da concorrência tanto no Norte quanto no Sul;. e os efeitos dessa concorrência global e do novo método de gerenciamento flexível sobre a força de trabalho de cada pais.
Em cada caso o papel exercido pela tecnologia da informação e o meio indispensável para as conexões entre os diferentes segmentos da força de trabalho nas fronteiras nacionais. Em cada um dos casos acima o autor traça as conseqüências sobre a mão-de-obra global dos investimentos de multinacionais e de capital em outros países. Assim, embora não haja um mercado de trabalho global unificado, há na verdade, interdependência global da forca de trabalho na economia informacional.
O processo de trabalho no paradigma informacional na década de 90. Vários fatores aceleraram a transformação do processo de trabalho: a tecnologia da computação e suas aplicações, progredindo a passos gigantescos, tornaram-se cada vez mais dispendiosas e melhores, com isso possibilitando sua aquisição e utilização em larga escala; a concorrência global promoveu uma corrida tecnológica e administrativa entre as empresas em todo o mundo; as organizações evoluíram e adotaram novas formas quase sempre baseadas em flexibilidade e atuação em redes; os administradores e seus consultores finalmente entenderam o potencial da nova tecnologia e como usa-la, embora, com muita frequência, restrinjam esse potencial dentro dos limites do antigo conjunto de objetivos organizacionais(como aumento a curto prazo de lucros calculados em base trimestral). Assim, o livro afirma que no novo paradigma informacional de trabalho e mão-de-obra não é um modelo simples, mas uma colcha confusa, tecida pela iteração histórica entre transformação tecnológica, política das relações industriais e ação social conflituosa.
Os efeitos da tecnologia da informação sobre o mercado de trabalho: rumo a uma sociedade sem empregos? O autor começa questionando a possibilidade de a difusão da tecnologia da informação em fabricas, escritórios e serviços estarem substituindo trabalhadores por maquinas.
Durante o capítulo ele mostra diversas pesquisas relatando esta situação, no caso específico do setor automobilístico no Brasil, não foram encontrados efeitos da tecnologia da informação sob o nível de emprego. Já nos EUA, Japão e Sudeste Asiático as pesquisas mostraram a destruição de empregos e a criação de milhares de outros tendo um saldo positivo; enquanto que na União Européia a tendência não seja tão positiva assim, os efeitos variam de país pra país. No Reino Unido, por exemplo, o efeito é desprezível.
Em resumo como tendência geral, não há relação estrutural sistemática entre a difusão das tecnologias da informação e a evolução dos níveis de emprego na economia como um todo. Empregos estão sendo extintos e novos empregos estão sendo criados, mas a relação quantitativa entre as perdas e os ganhos varia entre empresas, indústrias, setores, regiões e países em função da competitividade, estratégias empresariais, políticas governamentais, ambientes institucionais e posição relativa na economia global. Manuel Castells conclui que o resultado específico da interação entre a tecnologia da informação e o emprego depende amplamente de fatores macroeconômicos, estratégias econômicas e contextos sociopolíticos.
O trabalho e a divisão informacional: trabalhadores de jornada flexível às novas tecnologias da informação possibilitaram, ao mesmo tempo, a descentralização das tarefas e sua coordenação em uma rede interativa de comunicação em tempo real, seja entre continentes, seja entre os andares de um mesmo edifício. O surgimento dos métodos de produção enxuta segue de mãos dadas com as práticas empresariais reinantes de subcontratação, terceirização, estabelecimento de negócio no exterior, consultoria, redução do quadro funcional e produção sob encomenda.
É neste contexto que o autor vê a atual divisão internacional do trabalho, contexto em que as instituições e organizações sociais de trabalho parecem desempenhar um papel mais importante, (apesar de não parecer), que a tecnologia na causação da criação ou destruição do emprego. O autor mostra dados de países do G-7 onde aponta pra uma maior flexibilidade no atual cenário informacional, flexibilidade em termos de jornada de trabalho, crescimento do trabalho autônomo, mobilidade geográfica, situação profissional, segurança contratual e desempenho de tarefas. E chega a uma conclusão importante que de modo geral há uma transformação do trabalho, dos trabalhadores e das organizações de nossas sociedades e que certamente a forma tradicional de trabalho com base em emprego de horário integral, projetos profissionais bem delineados e um padrão de carreira ao longo da vida estão sendo extintos de forma lenta, mas indiscutível.
A tecnologia da informação e a reestruturação das relações capital trabalho: dualismo social ou sociedades fragmentadas? O autor faz uma introdução dizendo que o crescimento dos investimentos globais não parece ser o causador destruidor de empregos no Norte, ao mesmo tempo em que contribui para a criação de milhões de empregos nos países recém industrializados. Todavia, o processo de transição histórica para uma sociedade informacional e uma economia global é caracterizada pela deterioração generalizada das condições de trabalho e de vida para os trabalhadores. Essa deterioração assume formas diferentes nos diferentes contextos: aumento do desemprego estrutural na Europa; queda dos salários reais; aumento da desigualdade, a instabilidade no emprego nos Estados Unidos; subemprego e maior concentração de força de trabalho no Japão; "informalização" e desvalorização da mão-de-obra urbana recém-incorporada nos países em desenvolvimento; e crescente marginalização da força de trabalho rural nas economias subdesenvolvidas e estagnadas. Para Castells essas tendências são resultado da reestruturação atual das relações capital-trabalho, com a ajuda das poderosas ferramentas oferecidas pelas novas tecnologias da informação e facilitadas por uma nova forma organizacional: a empresa em rede.
E estas mesmas tendências apontam para uma maior desigualdade social onde ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres assim estamos vivendo numa sociedade dualizada com uma grande camada superior e também uma grande camada inferior, crescendo em ambas as extremidades da estrutura ocupacional, portanto encolhendo no meio, em ritmo e proporção que dependem da posição de cada país na divisão do trabalho e de seu clima político. Mas, sem dúvida nenhuma - conclui o autor -, o trabalho informacional desencadeou um processo mais fundamental: a desagregação do trabalho, introduzindo a sociedade em rede.
A cultura da virtualidade real: a integração da comunicação eletrônica, o fim da audiência de massa e o surgimento de redes interativas. O autor compara a importância do surgimento do alfabeto com o surgimento de um supertexto e uma Metalinguagem onde pela primeira vez na historia, integra no mesmo sistema as modalidades escrita, oral e audiovisual de comunicação humana. A chamada Infovia.
O autor se propõe a analisar as conseqüências em nossas culturas que essa realidade virtual pode trazer. Da galáxia de Gutenberg a galáxia de McLuhan: o surgimento da cultura da mídia de massa, o autor começa se perguntando de o porquê de a televisão ter tido uma aceitação tão grande a ponto de tudo girar em torno dela, e ai utiliza teorias de vários estudiosos como McLuhan segundo o qual a televisão criou uma nova Galáxia de comunicação. Para o autor a lei do mínimo esforço parece ser plausível pra explicar o motivo de tanta aceitação por parte da televisão, ou seja, as pessoas diante da tv não precisam pensarem pra assimilar o que ela transmite.
O impacto social da televisão funciona no modo binário: estar ou não estar. Desde que uma mensagem esteja na televisão, ela poderá ser modificada, transformada ou mesmo subvertida. Mas em uma sociedade organizada em torno da grande mídia, a existência de mensagens fora da mídia fica restrita a redes interpessoais, portanto desaparecendo do inconsciente coletivo. Ainda para o autor, a mídia e um sistema de feedbacks: a mídia e a expressão de nossa cultura, e nossa cultura funciona principalmente por intermédio dos materiais propiciados pela mídia.
A nova mídia e a diversificação da audiência de massa, o autor traça a evolução da mídia principalmente a televisão no decorrer dos anos 80 e 90 e diz que em resumo a nova mídia determina uma audiência segmentada, diferenciada que, embora maciça em termos de números, já não e uma audiência de massa em termos de simultaneidade e uniformidade da mensagem recebida. Devido à multiplicidade de mensagens e fontes, a própria audiência torna-se seletiva. A concorrência fez com que a televisão se tornasse mais comercializada do que nunca e cada vez mais oligopolista no âmbito global.
Comunicação mediada por computadores, controle institucional, redes sociais e comunidades virtuais. O autor compara o surgimento da internet com a minitel. A internet: iniciativa norte-americana de âmbito mundial contando no seus primórdios com o apoio militar americano, com empresas de informática financiadas pelo governo americano, a internet liga uma infinidade de topologias de redes diferentes, já na Minitel que consiste num sistema francês liga centros de servidores através de simples terminais, e que ate agora nunca ultrapassou os limites do território francês. Trata-se de um sistema organizado que possui uma estrutura homogênea tanto do ponto de vista tarifário e lucros como do ponto de vista da redes de computadores.
A analise comparativa do desenvolvimento desses dois sistemas em relação a seus ambientes sociais e institucionais ajuda a elucidar as características do sistema de comunicação interativo emergente.
A historia do Minitel Castells diz o porquê do Minitel ter feito tanto sucesso. Atrás do sucesso do Minitel havia duas razoes fundamentais: a primeira era o comprometimento do governo francês com o experimento. A segunda era a simplicidade de uso e a objetividade do sistema de faturamento bem-organizado que o tornaram acessível e confiável ao cidadão comum.
Os serviços oferecidos pelo Minitel eram os mesmos que estavam disponíveis na comunicação telefônica tradicional: lista telefônica, previsões do tempo, informações e reservas de transportes, compra antecipada de entradas para eventos culturais e de entretenimento etc. A partir dai começaram a surgir milhares de anúncios publicitários no Minitel. Depois feio as linhas eróticas usados no minitel o que vez o mercado crescer bastante.
Depois de toda essa evolução o sistema começa a cair devido às limitações naturais como meio de comunicação. Sob o aspecto tecnológico o Minitel contava com uma tecnologia de transmissão e vídeo muito antiga, cuja revisão poria um fim a seu apelo básico como um dispositivo eletrônico gratuito. Alem disso não se baseava em computadores pessoais, mas em terminais burros, dessa forma limitando substancialmente a capacidade autônoma de processamento de informação. Sob o aspecto institucional, sua arquitetura, organizada em torno de uma hierarquia de redes de servidores, com pouca capacidade de comunicação horizontal, era muito inflexível para uma sociedade culturalmente sofisticada como a francesa, visto que havia novas esferas de comunicações alem da Minitel. A solução obvia adotada pelo sistema francês foi oferecer a opção paga de ligar-se a internet em âmbito mundial. Com isso, o Minitel ficou dividido internamente entre um serviço de burocrático de informação, um sistema de serviços empresariais em rede e uma entrada subsidiaria para o vasto sistema de comunicação da constelação da internet.
A constelação da Internet Manuel Castells começa o tópico falando do crescimento acelerado da internet desde a sua concepção ate os dias de hoje podendo chegar algum dia a marca de 600milhoes de usuários conectados em todo o mundo.
Fala da criação e desenvolvimento da internet que no começo tinha funções exclusivamente militares e com o tempo foi tendo utilizações das mais diversas chegando ao ponto tal qual a conhecemos hoje em dia. Cita ainda diversas etapas da grande teia mundial, passando pela MILNET, ARPANET e finalmente a INTERNET.
Com a criação do UNIX e a conseqüente adaptação do protocolo TCP/IP a este sistema, os computadores puderam não apenas comunicar, mas também codificar e decodificar pacotes de dados que viajavam em alta velocidade pela rede da internet. O autor enumera ainda os produtos tecnológicos oriundos nessa nova cultura que ele chama de contracultura como o surgimento do modem, correio eletrônico e por ai vai! Vale a pena ressaltar a contribuição dada por muitos e muitos pesquisadores e estudantes universitários de universidades americanas e européias.
A sociedade interativa o autor tenta traçar o perfil do internauta com base em pesquisas feitas nos Estados Unidos e Europa e segundo estas pesquisas o usuários são pessoas bem instruídas e de maior poder aquisitivo dos paises mais instruídos e mais ricos e, frequentemente nas áreas metropolitanas e maiores e mais sofisticadas.
Embora a internet pareça ser menos penetrante do que a grande mídia, tudo tem leva a crer que a sua expansão se dará rapidamente e não só na elite como em todas as classes sociais.
E importante ressaltar o uso da internet tanto em atividades relacionadas ao trabalho como a questões pessoais como consultas a banco, televendas, dentro outros fins. Castells analisa ainda o impacto que essas mudanças trazem para a nossa cultura como o fato da pessoa se sentir mais a vontade mandando um e-mail anônimo do que conversar pessoalmente com uma pessoa.
A grande fusão: a multimídia como ambiente simbólico Multimídia, estende o âmbito da comunicação eletrônica para todo o domínio da vida: de casa a trabalho, de escolas a hospitais, de entretenimento a viagens. Ressalta a corrida que os paises ricos tiveram em meados da década de 90 no sentido de modernizarem-se no aspecto de novas tecnologias relacionadas a conteúdos multimídia, mas a grande resposta mesmo veio da iniciativa privada que impulsionou o desenvolvimento de novas tecnologias e permitiu que o seu acesso fosse se multiplicando. Para o autor não se trata de dizer se um sistema multimídia vai ser analisado ou não (será), mas quando, como e sob quais condições nos diferentes paises, porque o significado cultural do sistema será profundamente modificado pelas características do momento e pela forma da trajetória tecnológica.
Finalmente, talvez a característica mais importante da multimídia seja que ela capta em seu domínio a maioria das expressões culturais em toda a sua diversidade. Seu advento e equivalente ao fim da separação e ate da distinção entre mídia audiovisual e mídia impressa, cultura popular e cultura erudita, entretenimento e informação, educação e persuasão. Todas as expressões culturais, da pior a melhor, da mais elitista a mais popular, vem juntas nesse universo digital que liga em um supertexto histórico gigantesco, as manifestações, passadas e futuras da mente comunicativa. Com isso, elas constroem um novo ambiente simbólico. Fazem da virtualidade nossa realidade.
A cultura da virtualidade real, o autor usa ate da definição do dicionário das palavras real e virtual pra mostrar que na verdade não existe muita diferença entre real e virtual e a influencia de um sobre o outro e um verdadeiro binômio tal que a televisão e a nossa realidade. O que caracteriza o novo sistema de comunicação, baseado na integração em rede digitalizada de múltiplos modos de comunicação, e sua capacidade de inclusão e abrangência de todas as expressões culturais.
O novo sistema de comunicação transforma radicalmente o espaço e o tempo, as dimensões fundamentais da vida humana. Localidades ficam despojadas de seu sentido cultural, histórico e geográfico e reitegram-se em redes funcionais ou em colagens de imagens, ocasionando um espaço de fluxos que substitui o espaço de lugares. O tempo e apagado no novo sistema de comunicação já que passado, presente e futuro podem ser programados para interagir entre si na mesma mensagem. O espaço de fluxos e o tempo intemporal são as bases principais de uma nova cultura, que transcende e inclui a diversidade dos sistemas de representação historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, onde o faz-de-conta vai se tornando realidade.
6O espaço de fluxos Introdução Espaço e Tempo são as principais dimensões materiais da vida humana. Vamos analisar o espaço e o tempo não sob o aspecto físico, mas o significado social do espaço e do tempo.
Serviços avançados, fluxos da informação e a cidade global.
Serviços avançados são finanças, seguros, bens imobiliários, consultorias, relações publicas, marketing, segurança, coleta de informações, gerenciamento de sistemas de informação, P&D, inovação cientifica dentre outros.
Os estudos mostram uma concentração e ao mesmo tempo uma dispersão de serviços avançados pelo globo. Esses serviços têm contribuído substancialmente para o aumento do PNB da maioria dos paises, e estão localizados em toda a geografia do planeta e dentre dos paises localizados em áreas nodais.
A cidade global e um processo que conecta serviços avançados, centros produtores e mercados em uma rede global com intensidade diferente e em diferente escala, dependendo da relativa importância das atividades localizadas em cada área vis-à-vis a rede global. Em todos os pais a arquitetura de formação de redes reproduz-se em centros locais e regionais, de forma que o sistema todo fique interconectado em âmbito global.
O autor analisa o fluxo de capital e de serviços avançados por diversas regiões e paises, mostrando como tem ocorrido essa descentralização, concluindo então que a dita cidade global não se trata de um lugar mas um processo. Um processo por meio do qual os centros produtivos e de consumo de serviços avançados e suas sociedades auxiliares locais estão conectados em uma rede global embora, ao mesmo tempo, diminuam a importância das conexões com suas hinterlandias, com base em fluxos de informação.
O novo espaço industrial, o autor relata a organização do novo espaço industrial com o advento da indústria de alta tecnologia. Esse espaço caracteriza-se pela capacidade organizacional e tecnológica de separar o processo produtivo em diferentes localizações, ao mesmo tempo em que reintegra sua unidade por meio de conexões de telecomunicações e da flexibilidade e precisão resultante da microeletrônica na fabricação de componentes, desta forma podemos apontar o seguinte aspecto: P&D, inovação e fabricação de protótipos foram concentrados em centros industriais altamente inovadores. Fabricação qualificada em filiais geralmente do mesmo país.
Montagem semi-qualificada em larga escala e testes em áreas de paises subdesenvolvidos e que de preferência ofereçam baixo custo de mão-de-obra e vantagens como pouca cobrança relacionada ao meio ambiente por exemplo.
Adequação de centros pós-vendas em diversas partes do globo.
No geral as empresas americanas foram as pioneiras neste tipo de organização espacial, logo depois seguida pela Europa e Japão apesar das ressalvas e diferenças entre estes últimos e os EUA.
O cotidiano do domicilio eletrônico: o fim das cidades?Manuel Catells faz uma analise do impacto do desenvolvimento da comunicação eletrônica e dos sistemas de informação no trabalho cotidiano das pessoas e de acordo com diversas pesquisas recentes fica constatado que será nítido o aumento de teletrabalho mas sob uma forma mais especifica que seria o trabalho do escritório convencional sendo complementado pelo trabalho em casa.
Mas como esta nova ordem afetará as cidades? Dados dispersos parecem indicar que os problemas de transporte, em vez de melhorar, piorara o porque o aumento das atividades e a compressão temporal possibilitados pela nova organização em rede transforma-se em maior concentração de mercados em certas áreas e em maior mobilidade física de uma forca de trabalho, antes confinada a seus locais de trabalho durante o expediente.
Desta forma a comunicação mediada por computadores esta se difundindo pelo mundo todo, embora apresente uma geografia extremamente irregular, assim, alguns segmentos das sociedades de todo o globo, invariavelmente concentrados nos estratos superiores das sociedades, interagem entre si, reforçando a dimensão global do espaço de fluxos.
Cada vez mais as pessoas trabalham e administram serviços de suas casas; a"centralidade da casa" e uma tendência importante da nova sociedade. Porem não significa que o fim da cidade, pois locais de trabalho, escolas, hospitais, escolas, complexos médicos, postos de atendimento ao consumidor, áreas recreativas, ruas comerciais, shopping centers, estádios de esportes continuarão a existir. E as pessoas deslocar-se-ao entre todos estes lugares na medida em que possuem mais tempo disponível e cada vez mais com mobilidade crescente.
Contudo não há duvida de que o layout da forma urbana passa por grande transformação. Mas esta transformação não segue um padrão único, universal:apresenta variação considerável que depende das características dos contextos históricos, territoriais e institucionais.
A transformação da forma urbana: a cidade informacional. Assim como a cidade industrial não foi uma copia de Manchester, a cidade informacional não será uma copia do Vale do Silício, apesar disso algumas características transculturais predominam entre as cidades, o autor defende que a cidade informacional não e uma forma, mas um processo, um processo caracterizado pelo predomínio estrutural do espaço de fluxos.
A ultima fronteira suburbana dos Estados Unidos o autor faz um relato de como tem surgido cidades bastantes peculiares nos Estados Unidos devido a era da informação são cidades com: muito espaço pra aluguel de escritórios, tenha mais empregos do que dormitórios, seja percebido pela população como um lugar, não parecesse com uma cidade trinta anos atrás. E o que Joel Garreau captou em áreas ao redor de Boston, Nova York, Detroit, Atlanta, Phoenix, Texas sul da Califórnia e chamou de Edge City.
O charme das cidades européias traça as diferenças entre o espaço das cidades européias das americanas de maneira geral a primeira se mostra mais conservadora em relação a mudanças apresentando um centro urbano que conserva a sua historia, por outro lado têm surgido novas áreas de uma população mais jovem que não consegue dinheiro pra entrar mo espaço mais urbano e acabam vivendo em periferias bem diferentes das americanas e verdade. O subúrbio europeu por incrível que pareça ainda representa o local tanto da produção industrial tradicional como das novas indústrias de alta tecnologia.
O fator decisivo dos novos processos urbanos, na Europa e em outros lugares, e o fato de o espaço urbano ser cada vez mais diferenciado em termos sociais, embora esteja funcionalmente interrelacionando alem da proximidade física.
Urbanização do terceiro milênio: megacidades. Megacidades são aglomerações populacionais de mais de 10milhoes de habitantes sendo em numero de 13 (classificação da ONU em 1993) sendo que 4 tem projeções de ultrapassar 20 milhões em 2010. Mas alem de tamanho elas possuem algumas características de qualidades definidoras como: são os nos da economia global, e concentram funções superiores direcionais, produtivas, e administrativas de todo o planeta; o controle da mídia, a verdadeira política do poder; e a capacidade simbólica de criar e difundir mensagens.
As megacidades concentram o que há de melhor e de pior tanto temos pessoas importantes para o sistema como pessoas que querem justamente aproveitar a notoriedade dessas megacidades pra mostrar a condição de abandono em que se encontram. No entanto, o que e mais significativo sobre as megacidades e que elas estão conectadas externamente a redes globais e a segmentos de seus paises embora internamente desconectadas das populações locais. E esta característica distinta de estarem física e socialmente conectadas com o globo e desconectadas do local que torna as megacidades uma nova forma urbana.
As megacidades são os pontos nodais de conexão as redes globais. Portanto, o futuro da humanidade e do pais de cada megacidade depende fundamentalmente da evolução e gerenciamento dessas áreas. As megacidades são os pontos nodais e os centros de poder da nova forma/processo espacial da era da informação: o espaço de fluxos.
A teoria social de espaço e a teoria do espaço de fluxos Espaço e a expressão da sociedade. Uma vez que nossas sociedades estão passando por transformações estruturais, e razoável sugerir que atualmente estão surgindo novas formas e processos espaciais.
Do ponto de vista da teoria social, espaço e o suporte material de praticas sociais de tempo compartilhado. O autor define ainda espaço de fluxos como sendo a organização material das praticas sociais de tempo compartilhado que funcionam por meio de fluxo.
Este e um capítulo bastante teórico senão confuso e de não fácil assimilação, para o autor o espaço de fluxos pode ser descrito pela combinação de três camadas que juntas constituem o espaço de fluxos são elas: A primeira camada e constituída por um circuito de impulsos eletrônicos. A segunda e constituída por seus nos(centros de importantes funções estratégicas) e centros de comunicação. A terceira e ultima refere-se à organização espacial das elites gerenciais dominantes (e não das classes) que exercem as funções direcionais segundo as quais este espaço e articulado.
A arquitetura do fim da historia se o espaço de fluxo realmente for à forma espacial predominante da sociedade em rede, nos próximos anos a arquitetura ;e o design provavelmente serão redefinidos em sua forma, função, processo e valor.
O autor analisa a arquitetura sob o ponto de vista do espaço de fluxos e chega e mostra alguns casos particulares onde esta relação esta muito minimamente ligada como a restauração de uma estação de metro na Espanha ou a construção de um aeroporto também neste pais onde passageiros tem a impressão de estarem sozinhos dada o design do local sozinhos quer dizer: nas mãos unicamente da companhia aérea.
7O limiar do eterno: Tempo intemporal o tempo passou no contexto histórico, desde um simples marcador de datas comemorativas ou simbolizador de tipos no horóscopo babilônico, para o principal motivador da alta produtividade, já que cada segundo perdido pode custar milhões no mercado global.
É comum observarmos hoje que programas cada vez mais sofisticado comandam as tomadas de decisões econômicas, sendo alinhadas com fusos horários diferentes para possibilitarem em tempo real, seja qual for à parte do mundo, o ganho da empresa. Nesse contexto é que a "empresa em rede" vivência o tempo não como uma maneira cronológica de produção em massa, mas sim como algo a ser processado e utilizado como termômetro de suas inovações. Exemplos: o ajuste das empresas às novas necessidades do mercado em um curto intervalo de tempo; a contratação de profissionais cada vez mais flexíveis, ou seja, capazes de direcionar bem suas horas de trabalho, e ainda a diminuição no tempo de serviço dos funcionários, bem como a contratação de mais mão-de-obra para distribuição das horas de produção diária.
O aspecto do ritmo biológico ou ciclo biológico foi quebrado pela "“ sociedade em rede “" que desde já muda a fisionomia do meio em que vive; seja fazendo mudar o tempo de serviço, criando uma nova camada da terceira idade contendo velhos não só cronologicamente, mas pessoas ditas impossibilitadas de se flexibilizarem em relação ao mercado; transformando a reprodução como algo possível em qualquer idade, mediante as modernas técnicas de fertilização; ou ainda pelo grande avanço da medicina, tentando colocar a morte como algo controlável e distante, uma luta baseada na prevenção e na esperança.
No ponto de vista das guerras, conforme os aparatos bélicos foram evoluindo com armas nucleares e demais meios de destruição em massa, mais difícil se tornou o confronto armado entre as nações desenvolvidas que passaram a ver as guerras do seguinte ponto de vista: menor numero possível de mortos, utilização somente de um exército profissional, um conflito rápido, longe dos olhos da mídia e com o menor gasto possível. Para a sociedade informacional que visa o lucro, as guerras a muito deixaram de ser lucrativas, a não ser quando as potências exploro conflitos menores, dentro de nações menos desenvolvidas, funcionando agora como fornecedores, sem perdas humanas e com muitos ganhos financeiros.
Portanto desde as transações de capitais realizadas em segundos, indeterminado ciclo de vida, busca da eternidade pela negação à morte até guerras instantâneas, são todos fatos que acabam por caracterizar a "sociedade em rede” como a responsável pela mistura do tempo, através da simultaneidade de fatos e a intemporalidade da informação.
Conclusão: A sociedade em rede como tendência histórica, as funções e os processos dominantes na era da informação estão cada vez mais organizados em torno de redes. Redes constituem a nova morfologia social de nossa sociedade e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Tudo isso porque elas são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetos de desempenho).
Nesse contexto é que a rede é um instrumento apropriado para a economia capitalista voltada para a inovação, globalização e concentração descentralizada; para o trabalho, trabalhadores e empresas voltadas para a flexibilidade e adaptabilidade; para uma cultura de descontrução e reconstrução contínuas; para uma política destinada ao processamento instantâneo de novos valores e humores públicos; e para uma organização social que vise à suplantação do espaço e invalidação do tempo.