terça-feira, 13 de julho de 2010

Ancorar e dormir ou alçar velas?

Navegar é alcançar um porto seguro após velejar por águas revoltas ou por águas calmas. Nos portos os homens se encontram e se cada um estiver carregando um pão, podem trocar os pães, mas cada homem sai com apenas um. Entretanto, se dois homens se encontram e cada um carrega uma idéia, também podem trocar as idéias, e cada um volta a velejar com duas.

Chegar e partir são, assim, comuns aos veleiros como também à vida. Alçamos as velas e nos lançamos ao desconhecido com a certeza que não estamos aqui para ficarmos inertes, pois o próximo porto nos aguarda cheios de novidades e nos traz à vida o sentido de pertencimento.

A sexualidade como as velas, quando neurotizada ou presas, podem trazer o estranhamento e o sentimento de não-pertencimento. As velas devem sempre ser alçadas, em contrário a impotência, imaturidade sexual e o não-controle do orgasmo perante a vida tornam-se presentes, e tenha certeza, o são, mais freqüentes do que imaginamos.

Um homem invisível não troca informações nem reconhece com facilidade seus pares e aprende, equivocadamente, que alçar velas é uma doença ao acreditar e incorporar aos seus sentimentos o senso comum dos portos estéreis. Sofre, então, um terrível quadro de baixa auto-estima, pois acredita que merece sofrer em silêncio, isolado, sem apoio, sem amigos.

Precisamos, pois, elaborar um discurso que exprima nossas idéias, que fortaleça nossa auto-estima. Afinal, alçar velas é apenas umas das inúmeras formas de expressão da afetividade humana. Se esse é o nosso porto, devemos desfrutá-lo da melhor maneira possível, sem nenhum estranhamento.

Nunca é demais refletir sobre os estereótipos solidamente arraigados na cultura, incorporados até na bagagem intelectual de homens mais esclarecidos, e sobre a criação de uma espécie de modelo clássico na identificação dos apaixonados pelas velas e que retrata, com variações que não invalidam a concepção original do porto seguro, o perfil do velejador assumidamente livre. Estes, no caso dos homens, seriam diferenciados pelo modo de pensar, de olhar, de se comunicar etc.

A manutenção da condição de velejadores livres, quer por alegada aversão ideológica ao compromisso, quer por suposta dificuldade de ordem cultural para contraí-lo, é uma crendice em descompasso com a realidade universal. Hoje, a maioria, a esmagadora maioria dos velejadores livres é comprometida e têm filhos, numa proporção estimada de quatro para cada grupo de cinco que adotam uma das inúmeras formas de expressão da afetividade humana alternativa. Fato suficiente para não excluir do texto a relação velejador-livre/compromisso. A própria história humana, aliás, incumbe-se de estabelecer esta relação.

Assim, um homem que desenvolve uma expressão de afetividade com outro homem não sacrifica necessariamente sua masculinidade, desde que desempenhe seu papel ativo e culturalmente entendido com maestria e masculinindade durante a relação afetiva e se comporte como um homem dentro da sociedade. Em contrário torna-se sujeito da mais severa estigmatização da sociedade. Não perca, portanto, seu espírito de velejador livre.

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