sábado, 22 de maio de 2010

Cartas – 3 Dialética da inveja

Caro Amigo,

Um pequeno bate papo de boteco, ou seja filosofia de boteco. O assunto!
A inveja, o mais dissimulado e desprezível dos sentimentos humanos. Conflito entre a aversão a si e ao anseio de auto-valorização Divide a alma ao falar para fora com a voz do orgulho e para dentro, com a do desprezo e, jamais evidencia a sinceridade.
Confessos somente O Sobrinho de Rameau, de Diderot, e O Homem do Subterrâneo de Dostoievski. Nós, mortais, confessamos o ódio, o medo, o ciúme, a humilhação etc., nunca a inveja, pois admitida se anularia e se transmutaria para competição ou desistência. A inveja se alimenta na auto-ocultação.
O invejoso nasce da desistência do bem cobiçado, em verdade, o que dói não é a falta do bem cobiçado, mas do mérito. Daí o apelo depreciativo e a substituição por miseráveis simulacros, os quais defendem ser mais valiosos que os bens autênticos, pois é na dissimulação que a inveja se revela.
Mas a inveja essencial objetiva os bens espirituais, mais abstratos e impalpáveis, e, mais propícios a despertar o sentimento de exclusão, que leva o indivíduo ao inferno em vida. A matéria não é incompreensível como dom do gênio criador, que humilha os medíocres, mesmo bem sucedidos econômica e socialmente. Mas é o drama interior da inveja essencial que prove o discurso hipnótico de intensidade emocional, porém desprovido de sentimento autêntico. Se expressa, assim, com o furor da encenação histérica.

Abra

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