sábado, 22 de maio de 2010

Cartas – 7 O Jogo da sedução

Caro Amigo,
O que é SEDUÇÃO?
Poder de atração e de distração,
poder de absorção e de fascinação,
poder de destruição, não só do sexo, mas do real em seu conjunto,
poder de desafio,
um lance de graça e violência,
uma paixão instantânea a que o sexo pode chegar,
mas que também pode se esgotar em si mesma.
O que se pode dizer? A sedução desloca os sentidos, desloca os discursos e os desvia de sua verdade. Ser seduzido é ser subtraído de sua verdade na construção de um segredo que lhe escapa. É à força de um enigma a resolver, e você é o enigma e para seduzi-lo, é preciso me tornar, igualmente, em um enigma. Um duelo em que a sedução é a resolução sem que o segredo seja revelado.
Trata-se da qualidade sedutora, iniciática, o que não pode ser dito por que não tem sentido, daquilo que não é dito e que, apesar disso, paira no ar. Assim, eu sei o seu segredo, mas não o digo, e você sabe que eu sei, mas não o descortina. A intensidade entre o enigma e o segredo. Uma cumplicidade deslocada da informação oculta. Por outro lado, se quiséssemos revelar o segredo, não poderíamos, pois não há nada para dizer.
O certo é que não há ativo nem passivo na sedução, não há sujeito ou objeto, nem interior ou exterior; ela atua nas duas vertentes, e ninguém as limita ou separa. Ninguém, se não for seduzido, seduzirá. Ser seduzido é a melhor maneira de seduzir, porque a sedução nunca se detém à verdade dos signos, mas sim à dissimulação e ao segredo, um ritual, uma espécie de iniciação imediata que só obedece à regra de seu próprio jogo.
Para apreender a intensidade da forma ritual, rompemos com a idéia de que toda a felicidade vem da natureza, de que todo o gozo vem da satisfação de um desejo. O jogo nos revela o poder advindo de um cerimonial e não de um desejo.
Mas seduzir não é se produzir, porque tudo aquilo que se produz, recai no registro do poder masculino. Todo poder masculino é o poder de produzir. A sedução não é o terreno de jogos e astúcias sexuais, mas uma forma irônica e alternativa, que quebra a referência do sexo, espaço não de desejo, mas de jogo e desafio.
Mas, se tudo é sexualidade e aí se encontra uma espécie de jogo e de aventura, se todos os discursos são como que um comentário eterno de sexo e de desejo, podemos dizer que todos os discursos tornam-se discursos de sedução. Mas é uma sedução branda, cujo processo vem a ser sinônimo de tantos outros: manipulação, persuasão, gratificação, ambiente, estratégia do desejo... Uma sedução difusa, sem encanto, sem aposta, esse espectro de sedução que persegue nossos circuitos sem segredos, nossos fantasmas sem afetos, nossas redes sem contato. Não é a sedução-desafio, dual e antagônica, da aposta máxima, mesmo secreta, da sedução mítica, mas do fascínio e dos sortilégios mortais. Está em toda a parte.

Abraços.

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