sábado, 22 de maio de 2010

Cartas – 6 O homem é um ser metereológico

Caro Amigo,

Curiosamente, a chuva tem o poder de despertar melancolia. Nossas emoções ficam aguçadas, receptivas, tensas e mais intensas, mais prolongadas e mais profundas, o que facilita a introspecção e traz reminiscências mais vivas, mais presentes e mais abundantes. O homem é, portanto, um ser meteorológico.
Durante a chuva, palavras, frases, sentenças e períodos alinham-se com maior facilidade e coerência. Mas prefiro, mesmo, o calor e a familiaridade do aconchego interior. Tenho um carinho especial por minha privacidade, que considero o maior tesouro que possuo. Contudo, aprecio muito, também, meus sonhos, cada um com seu valor e sua história sentimental. Nestes momentos rememoro alguns poemas e canções inspirados pela chuva.
Ocasionalmente visito o poema de Fernando Gregh, tradução de Guilherme de Almeida. Sinta.
Chove.
A vidraça chora.
O vento põe no parque um soluço de Outono.
Range uma porta e bate.
E parece que implora
numa voz de abandono.
Chove.
Dir-se-ia que milhões de alfinetes
acertam nos vidros frios
e se espetam.
Chove.
A vidraça chora.
O céu esconde a última nesga azul, que existe,
sob um manto cinzento e móvel.
Chove.
A vida é triste --- que importa!
Ulule o vento,
bata a porta
e tombe a chuva!
Que importa!
Tenho nos olhos
um clarão que nada turva.
Tenho na vida
um céu azul e imóvel.
Tenho na alma
um jardim ondulante
de palmas balançado em pleno anil
por brisas calmas: e eu penso nela!
Chove... --- a vida é bela!
Fernando Gregh -Tradução de Guilherme de Almeida.

Abraços.

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